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A história da descoberta da fractura distal do rádio, sua distribuição estatística e as principais características anatómicas. A documentação remonta à descoberta inicial no século xix e aborda as questões relacionadas à incidência, tipos e causas dessas fracturas, especialmente em idosos.
Tipologia: Notas de aula
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BIOMECÂNICA DA
EXTREMIDADE DISTAL
DO RÁDIO E DA
FRACTURA DE COLLES
HL
BIOMECÂNICA DA
EXTREMIDADE DISTAL
DO RÁDIO E DA
FRACTURA DE COLLES
PREFÁCIO
(*) DOBSON, J.: «Pioneers of osteogeny: FREDERICK OLDFIELD WARD». J. Bone Jt. Surg., 3 IB: 596-599, 1949. (a ilustração foi retirada deste artigo).
O TRATAMENTO RESUMO LINHAS GERAIS DO TRATAMENTO Métodos de anestesia Métodos de redução Métodos de imobilização Selecção dos cuidados após a redução Complicações A FORMA E A FUNÇÃO Metade final do século XIX Primeira metade do século XX Segunda metade do século XX A década de oitenta ... O COLAPSO DA REDUÇÃO A fragmentação distai O efeito da osteoporose A ineficácia da contenção REFERÊNCIAS AO TEXTO CONCLUSÕES
129 131 131 132 132 134 135 139 140 142 143 146 147 148 149 150 159 167
I — BIOMECÂNICA DA EXTREMIDADE DISTAL DO RÁDIO
ASPECTOS GERAIS O rádio como coluna mecânica A lei de WOLFF e as diáfises O postulado de PAUWELS e as epífises. ANATOMIA FUNCIONAL E DESCRITIVA. Material e Método Resultados e Comentários — a superfície articular do rádio com o — a posição funcional da mão ... — a cortical palmar do rádio na zona epifisiometafisária distai
carpo 204 205
206
I
A FRACTURA DISTAL DO RÁDIO
A QUESTÃO DOS EPÓNIMOS
O INÍCIO
Durante séculos de História da Medicina, desde a Antiguidade até ao século XIX, a fractura da extremidade distai do rádio é completa mente desconhecida S1. A lesão traumática do punho é sempre interpretada como luxação ou entorse cujo nome varia com os termos em voga. No século XVIII, já próximo da época em que vai ser descoberta, chamase
subluxação ou diastase. O tratamento, esse, não variou: ligadura na fase
aguda, massagem depois "■a8.
Os critérios da Medicina Científica de há cento e cinquenta anos persistem na Medicina Popular dos nossos dias. Pelo menos neste ponto, deve ser entendida como uma medicina arcaica e não uma medicina «paralela». Foram aí vertidos por numerosas obras de divulgação científica cuja publi cação era muito comum no século XVIII por toda a Europa «das Luzes». Algumas foram traduzidas entre nós. O «Aviso ao Povo acerca da sua saúde, ou TRATADO DAS ENFERMIDADES», editado em Lisboa no ano de 1796 (dois volumes em pequeno formato), traduzido do francês por Manuel de de Paiva, é um exemplo 74. O tradutor acrescentou um terceiro volume da sua autoria e dedicado ao conde de Avintes em que descreve «com toda a clareza» algumas afecções não incluídas na obra traduzida, entre elas, as afecções traumáticas 56. Baseiase na sua experiência e nas «obras dos doutores Stork, Macbrid, Buchan, Plenck, Ducan, Webster e, sobretudo nas Instituições de Medicina Prática do doutor Cullen». Muito provavelmente tratase da lista dos mais conhecidos divulgadores de então pois Paiva, dirigindose ao público leigo a que destina o tomo declara que «o Leitor que tiver o trabalho de comparar esta Obra com as daqueles Sábios Médicos conhecerá bem onde me valeu o próprio cabedal».
I — A FRACTURA DISTAL DO RÁDIO (Enquadramento Histórico)
No Capítulo XXXII, «Das Deslocações», informa que a «deslocação da munheca se reduz jazendo huma extensão em diversas direcções e pondo a cabeça do osso em seu lugar. Feita esta operação cumpre applicar panos molhados em vinagre ou em agua ardente alcanforada e conservalla em descanço; pois que da omissão disto resultão algumas consequências péssimas e então não he de admirar que (a articulação) fique para sempre fraca e sensível»^56.
Claude Pouteau (1725-1775), cirurgião em Lyon, foi «dos mais distintos médicos de província franceses» 01 , clarividente precursor da assepsia: defendia a lavagem cuidadosa das mãos antes de iniciar a cirurgia e reprovava o hábito de as ir limpando do sangue aos panos para esse fim sempre presentes nas salas de operações — tinha-os substituído por papéis de utili- zação única. Tinha-se apercebido de que algo causal relacionava a sépsis puerperal e a cirúrgica, um século antes da maioria dos cirurgiões e l^. Fez «uma excelente descrição da fractura distai do rádio com desvio dorsal, distinguindo-a bem das entorses e luxações com que era confundida» 52 , que só foi publicada oito anos depois da sua morte. Também neste campo estava quase um século à frente dos seus congéneres.
I — A FRACTURA DISTAL DO RÁDIO (Enquadramento Histórico)
palmar, à fractura do tornozelo e do punho. Esta última, descreveu-a impe- cavelmente em uma das famosas Leçons Orales de Clinique Chirugicale, publicada em 1833. Aí afirma a raridade da luxação do punho, nunca por si vista em trinta anos de prática, e faz uma das primeiras referências à fractura na criança (*).
Dupuytren não cita Colles, que provavelmente desconhecia, mas parece ignorar propositadamente o trabalho de Goyrand (1832), logo seguido do de Malgaigne. Pelo menos assim entende Goyrand que reage com acinte: «En 1833, les éditeurs des leçons orales de Dupuytren publièrent comme leçon du chirurgien de l'Hôtel-Dieu, une copie très exacte de mon mémoire et de celui de Malgaigne»^13.
Jean-Gaspar-Blaise Goyrand (1803-1866) formou-se em Paris e retornou a Marselha onde, como Pouteau em Lyon e Dupuytren em Paris, dirigiu o Hôtel-Dieu (Misericórdia) da sua cidade. Segundo Peltier, cientista e cirur- gião geral norte-americano, «um amante da história da Medicina com pro- fundo conhecimento do século XIX» 7r-, Goyrand foi um dos mais célebres cirurgiões do seu tempo 61.
Goyrand caracterizou o sentido do desvio, dorsal ou palmar, do fragmento distai da fractura e notou a concomitância, em algumas, da
(*) Os quatro Volumes das «Leçons Orales» foram publicados de 1830 a 1834; Dupuytren morreu no ano seguinte, 1835. Em Portugal, o período de 1830 a 1834 corresponde aos anos mais críticos da longa convulsão social provocada pela repulsão que o país tradicional (corpo- rizado no Miguelismo) faz das novas ideias trazidas pelos estrangeirados e que cativam os malhados (o Liberalismo). Nesta época de intolerância e extremismo, todas as ideias vindas do exterior, mesmo (ou sobretudo) as de carácter puramente científico, aparentemente não filiadas, eram suspeitas. Segundo Oliveira Martins (Portugal Contemporâneo, 3.a^ ed., 1894) «esse choque traduziu-se em um quarto de século (1826-1851) de guerras civis e revoluções»; o ano de 1833, data da publicação das «Leçons Orales» que abordam as fracturas do punho, «é o ano em que colapsa o forte exército da nação Miguelista (80 000 homens) frustrado pela mediocridade dos seus generais e batido de estupefacção perante o incrível sucesso da surtida das tropas liberais pelo Algarve, cercadas no Porto».
No Porto, em 1840, passado meio século sobre a obra «Aviso ao Povo» de Manuel Paiva (1796), um outro Paiva (António da Costa P., «doutor em Medicina pela Faculdade de Paris, bacharel em Filosofia pela Universidade de Coimbra, Lente de Botânica e Agricultura da Academia Politécnica do Porto») edita os «Aforismos de Medicina e Cirurgia Práticas». É uma obra completamente diferente da anterior. Esta não é endereçada aos leigos mas «aos médicos de Portugal e do
avulsão da apófise estiloide do cúbito. Relacionou a direcção do desvio com a posição da mão ao contactar o solo: dorsal quando a mão bate de palma, palmar quando bate de dorso. Foi mais longe que os seus contemporâneos na compreensão da fractura; a sua explicação global do mecanismo, conhecida como a Teoria do Esmagamento ou Penetração
■ Directa do Fragmento Superior no Inferior, acabou por ser preterida
em favor das elegantes especulações experimentais de Lecomte (1860), criador da Teoria da FracturaArrancamento (do topo distal sob a acção dos ligamentos rádiocárpicos tensos) que considera herdeira da linha estética da pretensa Teoria da Contracção Muscular que atribui a Pouteau*^4.
A Escola Francesa vai demonstrar um pendor irresistível pelas teorias elegantes sobre o mecanismo da fractura até ao fim do século. A teoria das tensões ligamentares rádiocárpicas, como causa indirecta de lesões do punho, ainda hoje sobrevive, com destaque ou mitigada, na explicação da fractura distai do rádio^13 e da pseudoartrose do escafoide 51. A apreciação da sua penetração na obra dos autores do século passado foi pedradetoque para os tratadistas seus compatriotas e contemporâneos e motivo de inflexões na atribuição da autoria da descoberta da fractura e suas variedades^52. °^4.
Brasil», privados «dos progressos do século», vítimas «do estado de decadência em que se acha esta Faculdade (de Medicina) na Universidade de Coimbra», o que «se pode em grande parte aplicar às Escolas Cirúrgicas de Lisboa e Porto». Costa Paiva é um estrangeirado (companheiro de exílio de Alexandre Herculano com quem publica a «Crónica de EIRei D. Sebastião de Fr. Bernardo da Cruz»), já fortsmente marcado pelo Positivismo. Formouse em Paris na década de trinta e frequentou o HôtelDieu onde assistiu às palestras do maior dos mestres, Dupuytren, mais tarde «Recueillies et Publiées par une Société de Medicine», publicação que lhe pareceu fidedigna («cumpreme todavia dizer que tendo eu assistido em Paris às lições orais... as vi fielmente transcritas e bem redigidas numa obra de Clínica Cirúrgica recentemente publicada»). Sobre as fracturas, Costa Paiva dispende tempo a distinguir a luxação do ombro da fractura do colo do úmero e menos, por já mais conhecido, a caracterizar «os sinais dife renciais da fractura do colo do fémur em referência às luxações da extremidade superior deste osso». Este assunto que considera momentoso, a distinção entre fractura e luxações, recolheuo em Dupuytren («tive ocasião de observar o tratamento que Dupuytren fazia às fracturas»). Nada recorda sobre as diferenças entre a luxação do punho e a fractura distai do rádio. Aparentemente Costa Paiva não ouviu de Dupuytren as referências sobre a fractura distai do rádio que depois aparecem escritas. É um testemunho indirecto em favor da alegação de Goyrand: Dupuytren só se apercebe da importância do assunto depois de 1er a sua publicação em 1832.