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Bicho de Sete Cabeças é um filme de ficção inspirado na obra “Canto dos Malditos”, de Austregésilo Carrano Bueno, publicado nos anos 1970. O livro-depoimento ...
Tipologia: Resumos
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Elaborado pelo Coletivo Janela Aberta
A atriz Cássia Kiss Magro que interpreta a mãe de Neto em Bicho de Sete Cabeças (2001) Foto: Divulgação Disponível: nas plataformas Youtube e Now Gênero: Ficção/Drama Direção: Laís Bodanzky Roteiro: Luiz Bolognesi Elenco: Rodrigo Santoro (Neto) / Othon Bastos (seu Wilson) / Cássia Kiss Magro (mãe de Neto) / Jairo Mattos (enfermeiro Ivan)/ Caco Ciocler (Rogério) / Luís Miranda (enfermeiro Marcelo) / Altair Lima (Dr. Cintra Araújo) / Linneu Dias (interno, jornalista) / Gero Camilo (Ceará)/ Marcos Cesana (interno Bil) / Valéria Alencar (Leninha) / Talita Castro (Bel) / Gustavo Machado (Lobo) País e ano de produção: Brasil/ Duração: 88 min Classificação Indicativa: 14 anos Trilha Sonora: André Abujamra Canções: Arnaldo Antunes Direção de Fotografia: Hugo Kovensky Direção de Arte: Marcos Pedroso Preparação de Elenco: Sérgio Penna Câmera: Mauro Martins Montagem: Jacopo Quadri e Letizia Caudullo Produção executiva: Maria Ionescu e Fabiano Gullane Designer de produção: Caio Gullane
Elaborado pelo Coletivo Janela Aberta
Bicho de Sete Cabeças é um filme de ficção inspirado na obra “Canto dos Malditos”, de Austregésilo Carrano Bueno, publicado nos anos 1970. O livro-depoimento relata a experiência de diversas internações (sendo a primeira vez aos 17 anos, por fumar maconha) e do tratamento cruel e desumano dos manicômios. O autor, falecido em 2008, foi figura-chave na luta anti-manicomial no Brasil e em defesa dos direitos humanos nos tratamentos de saúde mental. O filme entrelaça dois temas bem fortes: a falta de diálogo entre pais e filhos e a denúncia sobre a situação dramática do sistema manicomial brasileiro. A partir desses temas, muitos são os caminhos possíveis de reflexão, mas dois são bastante interessantes para se discutir no ambiente escolar: juventude e loucura. Neto é um garoto comum, morador de um bairro paulistano de classe média baixa, habilidoso no skate, sem grandes paixões pela escola e sem saber muito o que quer da vida. Segue sua turma de amigos, picha muros, vive aventuras na praia e fuma um baseado. O diálogo com os pais se resume a pequenas falas do cotidiano ou, no máximo, na ida ao campo de futebol. Trata-se de uma família que a priori sente preocupação e afeto, mas não sabe demonstrar isso e a falta de compreensão é nítida de parte a parte. O Sr. Wilson, pai de Neto, é um homem autoritário e controlador, que se irrita, por exemplo, com o brinco do filho. Entra em pânico quando encontra um cigarro de maconha em sua jaqueta. Na aflição de “salvar o filho do vício”, e aconselhado pela filha mais velha, toma uma atitude extremada: interna-o à força num hospital psiquiátrico, transformando a vida de Neto em um verdadeiro inferno. Neto amadurece pelo sofrimento e pela exclusão. No hospital, conhecerá as várias facetas do sofrimento mental e do poder de controle institucional sobre as pessoas mais frágeis da sociedade. O filme nos leva do cotidiano “normal” de uma família de classe média (realidade muito conhecida por todos nós) ao cotidiano absurdo de um manicômio (realidade tão velada e obscura). Neto representa não apenas os adolescentes não compreendidos por seus pais, e acaba por encontrar personagens que representam, em certa medida, todas as pessoas da sociedade consideradas loucas, desequilibradas, inadequadas, frágeis, dependentes. Não é preciso muito esforço para identificarmos os mesmos mecanismos de controle social na família, na escola, no hospital psiquiátrico, no sistema público de saúde, na atuação da polícia. E, se estivermos dispostos a olhar para os nossos preconceitos, identificaremos em discursos banais a raiz da exclusão.
Elaborado pelo Coletivo Janela Aberta 2013), Ex-Pajé (prêmio especial do júri – Berlim/Panorama 2018) e do recente A última floresta (Panorama, Berlinale 2021). É também produtora do próximo filme de animação Perlimps , com direção de Alê Abreu, indicado ao Oscar por O Menino e o Mundo. Em 2019, Laís foi convidada para ser membra da The Academy (Academy of Motion Picture Arts and Sciences), votando nos filmes do Oscar. Em março de 2021, encerrou sua gestão de dois anos como presidente da Spcine (empresa da prefeitura de São Paulo) responsável por todo o setor audiovisual da cidade que representa 25% do setor no Brasil. Laís Bodanzky - Foto: Divulgação
Para contar essa forte história através do audiovisual, a cineasta Laís Bodanzky optou por uma linguagem quase documental, embora seja um filme de ficção. A agilidade da câmera (sempre na mão, sem uso de carrinhos ou gruas) buscou causar a sensação de que o espectador está flagrando um acontecimento cotidiano, banal, possível de estar acontecendo neste momento na sua própria rua. A opção da fotografia foi de não espetacularizar o filme ou o protagonista, mas, sim, contar uma história de alguém comum: um jovem simples, tímido, um anti-herói, que se sentia perdido em seu mundo. Mais estonteado ainda o protagonista se vê na segunda parte do filme, quando é internado no manicômio. Os recursos audiovisuais (câmera tremida) se intensificam, acompanhando o roteiro. Essa opção de linguagem nos faz “vestir a pele” do protagonista, intensificando a denúncia. O som do filme é fundamental na construção do clima de desavenças e de perda de identidade. Um exemplo para se prestar atenção à edição do som é a cena (no início) em que assistimos à mãe de Neto ouvindo a discussão entre pai e filho. A confusão sonora reflete a confusão de sentimentos familiares e o som percorre a casa toda até chegar ao cenário principal, onde a briga está efetivamente acontecendo. A trilha sonora de André Abujamra e as canções de Arnaldo Antunes também estão integradas à proposta do filme, transmitindo a confusão mental do personagem.
Elaborado pelo Coletivo Janela Aberta O preparador de elenco, Sérgio Penna, foi chamado justamente porque já tinha experiências de conduzir grupos de teatro com pacientes psiquiátricos, alguns dos quais, inclusive, fizeram pequenas pontas no filme. A direção e a produção optaram por preparar absolutamente todas as pessoas envolvidas nas filmagens, desde o elenco até a equipe técnica, na sensibilização acerca do tema da saúde mental e da desestigmatização das pessoas em sofrimento mental, para que houvesse um clima de respeito durante o processo de filmagens. Gero Camilo, Rodrigo Santoro e Caco Ciocler em cena de Bicho de Sete Cabeças (2001) Foto: Divulgação
A adolescência ou juventude é considerada uma fase de transição, definição de identidade e frequente sentimento de inadequação. O adolescente mais equilibrado do mundo nos surpreende com atitudes infantis e, ao mesmo tempo, busca - ou é cobrado a - assumir uma postura de adulto. Muitos adultos (incluindo professores e pais) esquecem da sua época de adolescência, cobrando coerência de filhos ou estudantes que não possuem recursos para isso. Mais complicado ainda é o fato de que nossa sociedade é autoritária e esquemática, oferecendo modelos “perfeitos” a serem seguidos. É preciso, a partir desse ponto de vista, gostar de estudar, ser amoroso (não muito, se for homem), ter certeza do que quer seguir profissionalmente, resistir a todas as tentações, andar com boas companhias, enfim, seguir o que se espera de um “cidadão de bem” e de um “profissional de sucesso”. Acredita-se, ainda, que quem trilhar esse caminho ganhará muito dinheiro e/ou ficará famoso - facetas do que se compreende por sucesso. Os filmes que retratam a juventude fornecem uma infinidade de possibilidades de abordagens pelos educadores, não apenas para sua própria reflexão sobre essa faixa etária, como para estudantes jovens.
Elaborado pelo Coletivo Janela Aberta sexualidade e os maiores riscos que essa faixa etária se expõe às doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada. No viés sociológico, a abordagem pode discutir as condições sociais da juventude e suas várias perspectivas de realização profissional. Do ponto de vista político, em contraponto às visões que enfatizaram demais os aspectos “naturais e biológicos” da adolescência, pode-se abordar a idealização da juventude como vanguarda das transformações sociais. Atualmente, acusa-se a juventude de alienação, como se ela não fizesse parte de um amplo processo político que abrange todas as faixas etárias e camadas sociais. Uma boa atividade para o Ensino Médio seria pesquisar se os movimentos significativos da História liderados por jovens eram realmente representativos de toda a juventude daquele lugar (exemplo: movimentos juvenis de 1968, em todo o mundo). Apesar das variáveis em relação às condições sócio-econômicas, existem algumas características que podem ser consideradas como da geração que se desenvolveu socialmente num determinado período histórico, portanto identifica-se com determinados códigos culturais, sente afinidade com membros da sua geração que compartilharam os mesmos momentos e espaços sociais e, normalmente, entram em choque com os desencontros e novos valores da geração seguinte. Ser integrante de uma determinada geração implica ter nascido e crescido num determinado período histórico, com sua específica configuração política, cultural e artística. Os códigos culturais orientam a diferentes percepções, gostos, valores e formas de apreciação do mundo. Com a velocidade do desenvolvimento tecnológico das últimas décadas, os códigos culturais foram alterados significativamente. As dificuldades encontradas pelos educadores, pais e professores, para falar a linguagem do jovem de hoje, compreender suas sensibilidades, criar empatia, tem sido um desafio maior do que para os educadores de outras épocas. Uma atividade possível é um levantamento das diferenças geracionais, a partir de estudos do cotidiano. A ruptura abrupta com o advento das novas tecnologias, que transformaram nossa forma de ver e estar no mundo, é facilmente identificável. Outra atividade possível é o levantamento/análise de filmes, séries ou programas de TV que tratam da violência urbana, propondo reflexões se o produto midiático encara a violência como um problema da juventude ou como um problema que atinge a juventude.
Bicho de Sete Cabeças também nos propõe uma reflexão sobre a loucura e a exclusão. Historicamente sempre se isolou a pessoa que era considerada inadequada. Poderia ser uma mulher que não aceitava a submissão que lhe era imposta, alguém que questionava o sistema vigente, alcoólatras ou dependentes de outro vício, pessoas muito sensíveis, poetas, músicos… e as instituições psiquiátricas que acolhiam essas pessoas funcionaram, por muito tempo, como depósitos, cárceres, onde praticavam-se as mais variadas formas de violências física e psicológica. A luta antimanicomial começou na Itália, e teve ressonância no Brasil principalmente a partir das décadas de 1970/80. Ela consiste na organização entre profissionais de saúde, pacientes e familiares que começaram a reivindicar mudanças drásticas na forma de
Elaborado pelo Coletivo Janela Aberta tratamento psiquiátrico, considerando o paciente como um indivíduo de direitos, e buscando promover um tratamento humanizado, tratamentos alternativos, terapêuticos e domiciliares. Em 18 de maio de 1987 houve a primeira reunião de grupos militantes do tema, na qual surgiu a ideia de promover uma reforma psiquiátrica no país. Por esse motivo, 18/ tornou-se o dia nacional da luta antimanicomial. De lá pra cá a luta teve grandes conquistas. O SUS foi capacitado de forma a contemplar esse novo entendimento de tratamento. Os CAPS (Centros de Apoio Psicossocial) foram criados em 1992, e são serviços públicos oferecidos em unidades regionais, que oferecem tratamentos intensivos, semi-intensivos e não intensivos. Em 2001 foi aprovada a lei que instaura a reforma psiquiátrica que, entre outros pontos, proíbe a internação compulsória do paciente. O filme Bicho de Sete Cabeças data do mesmo ano, não à toa. Ele foi inclusive exibido no Ministério da Saúde naquele ano, servindo como argumento contundente para a implementação da lei. Porém, nos últimos seis anos, houve retrocessos significativos nestas conquistas, ainda tão recentes. Há um movimento contínuo de repasse das clínicas psiquiátricas ao que se chama “comunidades terapêuticas”, que são, verdadeiramente, instituições religiosas que reproduzem violências físicas e simbólicas semelhantes às práticas que são condenadas pela luta antimanicomial. Rodrigo Santoro e Gero Camilo em cena de Bicho de Sete Cabeças - Foto: Divulgação
Assim como a questão da luta antimanicomial teve avanços e retrocessos desde o lançamento do filme, o debate público acerca da criminalização do uso de drogas também avançou. Embora no Brasil a chamada “guerra às drogas” ainda esteja a todo vapor, criminalizando, encarceirando e matando principalmente a população preta e pobre do país, as denúncias acerca dessa situação têm reverberado cada vez mais. Além disso, o uso