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Uma análise da modernidade escrita por marshall berman no final dos anos 70 e publicada em 1982. O livro é descrito como um monumento à cultura moderna e uma defesa da modernidade, revelando a comunidade moderna e as possibilidades e perigos da vida contemporânea. Berman enfatiza a importância da modernidade para compreender, sentir e pensar o mundo atual, e sua perspectiva põe ênfase na contradição e na tragédia de todas as formas de empreendimento e criatividade humanos.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de estudo
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1-RF.SENHA
BERMAN, Marshal (1986). TUDO QUE É SÓLIDO DESMANCHA NO AR
APROXIMAÇÕES Á PERSPECTIVA TEÓRICO-METODOLÓGICA DO TEXTO
O livro que se apresenta à nossa reflexão, escrito no final da década de 1970/início da de 1980, publicado cm 1982 na cidade de Nova Iorque pelo americano-judeu Marshal Bcrman do Brome Nova Iorquino e baduzido no Brasil cm 1986, é, sem sombra de dúvidas, um monumento à cultura moderna cm defesa da modernidade que se tece na dialética das modcmi:zaçõcs com os modernismos.
A obra se torna um libelo conba o dualismo modcmi:zação vs. modernismo que expressa a dicotomia matéria vs. espírito, ser vs. consciência, ação vs. reflexão. Compõe-se de seis ensaios, relativamente autônomos, por certo escritos cm momen- tos diferentes, mas que se integram num todo que dá força à lese ccnbal do autor. Além de ser subsídio psecioso para uma história da modernidade sobretudo dos intelectuais e da cme~ncia da mulher/homem na cena sócio-política e de revelar a comunidade moderna onde nossos "julgamentos e esperanças podem ser compar- tilhados" (p. 16).
Bcrman é um crente das amplas possibilidades da idéia de modernidade para compreender/viver, sentir/pensar o mundo contemporinco e a entende como um humanismo-realista-trágico. Hardman, consultor da edição. brasileira da obra, faz um juím com o qual compartilho. Aí, segundo ele, está construído "um painel vertiginoso e lúcido dos tempos modernos, combinando coni maestria a melhor badição da crítica literária com um desvendamcnto histórico preciso da sociedade e da cultura nos séculos XIX
A tese ccnbal do autor é que se a modernidade não veio para permanecer terá, no entanto, uma longérrima sobrevida.
•Aqueles que estão à espera do final da era moderna deverão aguardar um tempo interminável" (p. 330). A modernidade estendeu seu vigor, suas energias a todo o mundo de tal maneira que "a experiência de espaço e tempo, de si mesmo e dos outros, das possibilidades e perigos da vida" (p. 15) é compartilhada por mulheres e homens cm todos os quadrantes da tem. É que a modernidade cm suas ambigüi- dades, conbadiçõcs, possibilidades e vigor dialético, vai construindo/destruindo/re- construindo simultaneamente, numa capacidade incrível de resposta aos contextos
76 • Tóp. Educ., Recife, v. 10 n. 1/2, p. 76-81, 1992
João Francisco de Souza
mais diversificados, o desenvolvimento/autodesenvolvimento. "C.Omo a economia moderna tem uma infinita capacidade para a renovação e transformação, a imaginação moderna também precisa se orientar e se renovar repetidamente ... e gerar visões afirmativas de vidas modernas alternativas" (p. 297) que restaurem "o vigor espiritual da cultura modernista para o homem e a mulher do dia-a-dia" (p. 14).
Defende a tese de um impulso dialético interno à própria modernidade capaz de renová-la reconstruindo-a continuamente até esgotar todas as suas possibilida- des. Sua perspectiva "põe ênfase na contradição e na tragédia de todas as formas de empreendimento e criatividade" (p. 49 nota) humanos numa veemente rejeição de todas e quaisquer formas de dogmatismos. A modernização e o modernismo, enfim a modernidade pode e tem eercorrido, nesses últimos duzentos anos, vários e diferentes caminhos (p. 121). "E a cultura modernista que mantem vivos o pensamento critico e a livre imaginação em grande parte do mundo não-ocidental, hoje. Os governantes não gostam disso, mas é de supor que, a longo prazo, não poderão fazer nada a respeito. Na medida em que são obrigados a um esforço desesperado para acumular capital, obrigados a desenvol- ver-se ou desintegrar-se, - ou antes, como geralmente acontece, desenvolver-se e desintegrar-se -, na medida em que, como diz Octavio Paz, estão condenados à modernidade, serão forçados a produzir ou a permitir que se produza urna cultura que mostrará o que eles estão fazendo e o que eles são. AMim, capturado o terceiro Mundo na dinâmica da modernização, o modernismo, longe de se exaurir, estará apenas começando a chegar às suas dimensões plenas•. E como ainda argumenta o mesmo Octavio Paz, ~r Berman citado, "é que o Terceiro Mundo necessita desesperadamente da energia imaginativa e critica do modernismo. Sem ela, a revolta do Terceiro Mundo ( ...) degenerou em diferentes variedades de cesarismo fienâico, ou definhou sob a força opressora de burocracias ao mesmo tempo cínicas e inconsistentes" (p. 121/2).
A construção teórica de Berman toma como objeto empírico a realidade histórica contemporânea em três de suas dimensões (a força da idéia de mundo moderno/a degradação que, simultânea e contraditoriamente, ela tem produzido/a luta de milhares de homens e mulheres contra essa degradação) constatadas na litentura, nos cientistas sociais, na arquitetura e nos conflitos/contradições indivi- duais e sociais.
A força da idéia de mundo moderno, hoje mais relevante e poderosa que nunca, em meio ao caos, à promessa e ao mistério da vida pessoal e política (p. 254), criação do Ocidente, é o anelo mais profundo de todos os povos (p. 255). Mas, "desejo de progresso humano infinito não só na economia, mas universalmente nas esferas da polftica e da cultura" (p.132). A hipótese de Berman, para essa construção, é que os primeiros escritores e pensadores que se dedicaram à modernidade perceberam instintivamente a interde- pendência enbe modernização e modernismo tendo, por isso, conferido "a suas visões uma riqueza e uma profundidade que faltam aos pensadores contemporâ-
T6p. Educ., Reclf9, v.10 n. 1/2, p. 76-81, 1992-n
João Francisco de Souza
do estruturalismo" e na "mística do pós-modernismo" que "risca do mapa a questão da módernidadc e de todas as questões a respeito da autoidentidade e da história", o primeiro; e, "se esforça para cultivar a ignorância da história e da cultura moderna e se manifesta como se todos os sentimentos humanos, toda a expressividade, atividade, sexualidade e senso de comunidade acabassem de ser inventados - pelos pós-modernistas - e fossem desconhecidos, ou mesmo inconcebíveis, até a semana passada" (p32). Nesse contexto, os cientistas sociais constrangidos pelos ataques aos seus modelos tecnopastorais, abdicaram de sua tentativa de construir um modelo even- tualmente mais verdadeiro para a vida moderna. Em vez disso, retalharam a modernidade cm uma série de componentes isolados - industrialismos, construção, urbanização, desenvolvimento de mercados, fonnação de elites - e resistem a quaisquer tentativas de integrá-los em um todo. Isso libertou-os de generalizações extravagantes e vagas totalidades - mas também do pensamento que poderia conduzir ao engajimcnto de seu trabalho e suas vidas e à determinação do seu lugar na história. O eclipse do problema da modernidade dos anos 70 significou a destruição de uma forma vital de espaço público. Acelerou a desintegração do nosso mundo em um aglomerado de grupos de interesse privado, material e espiritual, vivendo emmônadas sem janelas, ainda mais isolados do precisamos ser" (p. 32/33). No entanto, no seio da tendência ao ibandono do conceito de modernidade, cujas expressões exemplares são Huntington e Eisenstadt, emerge também a ten- dência ao seu aprofundamento e precisão sobretudo com a obra de Braudcl e outros cientistas sociais como Markowitz e Wallerstein (p. 333 nota 25). Mas de fato, "o sentimento de passividade e desesperança tomou conta de muitos intelectuais" (p33/34). Pois, foram fmstradas as esperanças de que de todas as lutas dos anos 1960, "brotaria um dia uma nova síntese, um novo modo de modernidade através do qual todos nós poderíamos harmoniosamente nos mover e no qual nos sentiría- mos em casa• (p. 313).
Nesse contexto e na perspectiva anteriormente assinalada é escrito "Tudo que é sólido desmancha no ar• com o qual Bennan quer ajudar as pessoas do tempo atual •a criar uma modernidade do futuro que será mais plena e livre que as vidas modernas que até hoje conhecemos• (p. 328). Busca então explicitar o impulso dialético da modernidade ao longo dos dois últimos séculos explorando e traçando as tradições próprias que a modernidade desenvolveu (p.15, 25-31, 273). Além de tentar compreender como essa variedade pode •nutrir e enriquecer nossa própria modernidade" e/ou •empobrecer ou obscurecer o nosso senso do que seja ou possa ser a modernidade" p. 15). Aqui se refere ao pós-modernismo.
Do ponto de vista metodológico procede através de noções e não de conceitos. Certamente para fugir da tendência imperialista, dogmática e totalitária da pretensa precisão conceituai. As noções, na medida cm que não seguem a lógica da identi- dade, do terceiro excluso e da não-contradição, indicam os seus possíveis elementos caracterizadores permitindo a identificação rigorosa dos fenômenos em estudo e tparantindo maior liberdade e riqueza à reflexão.
T6p. Educ., Reclf8, v. 1 O n. 1/2, p. 78-81, 1992 - 79
Identifico como noção principal utilizada pelo autor a modernidade inclusive porque é para o seu aprofundamento, precisão e renovação que quer ele contribuir. Parte de uma noção provisória de modernidade de inspiração rousscauniana (p. 17). Nela inclui como suas du~s características centrais, indissociáveis, a modernização cujo núcleo fundamental é a noção de desenvolvimento econômico e político e o modernismo cujo núcleo é a noção de autodesenvolvimento ou crescimento do indivíduo, sua conformação espiritual e sentimental.
Nesse sentido, a modernidade para Bcrman é antes de mais nada uma experiên- cia assentada na objetividade e na subjetividade.
E s6 como uma cultura ela ganha densidade e significado. Uma cultura específica que se configura na experiência de espaço/tempo, de si/dos outros, da vida como possibilidade/perigo.
Navegando na trilha da melhor tradição da crítica literiria e do resgate histórico, Berman faz uma leitura modernista de Marx e uma leitura marxista do modernismo (p. 117) incorporando as questões atuais do feminismo e da ecologia. Não consegue, no entanto, tratar bem a negritude e a latino-americanidade identificando, em seu texto, muitos transtornos com negritude ou latinidade.
Procede através da análise do discurso à recuperação do dinâmico e dialético modernismo do século XIX (p. 34) buscando desvendar IS sombras da modernidade a partir de suas visões luminosas (p. 273). De fato, desde IS noções chaves e perspectiva analíticas assumidas, realiza um exame minucioso e metódico de textos, ambientes espaciais sobretudo do espaço urbano, sua divinização/rejeição, e dos ambientes sociais/pessoais no saber da ironia Kierkegaardiana.
Podemos afirmar que consegue produzir uma "weltaunschaung" que "Uônica e contraditória, polifônica e dialética, ... denuncia a vida moderna em nome dos valores que a própria modernidade criou, na esperança - não raro desesperançada - de que as modernidades do amanhã e do dia depois da amanhã possam curar os ferimentos que afligem o homem e a mulher modernos de hoje" (p. 22123). Nos seus seis ensaios a obra é de uma coerência interna, mesmo com alguns senões, muito grande além de belamente formulada. Analisando Petersburgo ou Nova Iorque, ligando o presente ao futuro e ao passado, consegue um sabor de fim em aberto (muito pós-modernamente). Resgata a modernidade como a grande utopia permanente de nosso tempo porque ainda não esgotou suas possibilidades e é o grande aneio dos inachos e fêmeas, jovens, crianças, adultos e velhos da espécie humana em todos os quadrantes da terra, desafiando-nos em todas IS ideologias, sistemas, religiões e situações. Acena com um papel para os intelectuais em confronto com mulheres e homens comuns na tentativa de construir uma modernidade possível, mais ampla que permita a humanização de todos.
"Ser moderno ... é experimentar a existência pessoal e social como um turbilhão, ver o mundo e a si próprio em perpétua desintegração e renovação, agitação e angústia, ambigüidade e contradição: é ser parte de um universo em que tudo o que
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