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Texto co-escrito por danny gabriel pérez nanclares, elisa abrão, luciana mizutani e nicole blach duarte sobre o processo de criação de duas cartas inspiradas no jogo surrealista 'cadáver esquisito' e no conceito de rizoma de deleuze e guattari. O texto discute a importância da relação entre os participantes e a dissolução das individualidades.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de aula
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Não perca as partes importantes!
O presente texto apresenta o processo de escrita de duas cartas redigidas a quatro mãos, elaboradas a partir do jogo surrealista “cadáver esquisito” e inspiradas no conceito de rizoma de Deleuze e Guattari (1996). Em seguida compartilhamos as duas cartas: “Afetos” e “Carta para nunca ser lida”.
Palavras-chave: cadáver esquisito; rizoma; potência; cartas.
O presente texto surge de uma provocação: o deslocamento de uma ontologia identitária e funcional, para uma perspectiva relacional, com base nas concepções de Espinosa (2008), Deleuze e Guattari (1996), debatidas na matéria: “Seminário de Pesquisa em Artes: Ontologia, Epistemologia e Metodologia no Território da Pesquisa em Artes”, ministrada pelo Prof. Dr. Renato Ferracini.
Tendo como substrato o conceito de rizoma em Deleuze e Guattari (1996) e as reflexões sobre suas reverberações nos processos de criação, compartilhamos aqui um recorte da gestação de um projeto, escrito a quatro mãos, inspirado no jogo “Cadáver Esquisito”. Apresentaremos duas cartas intituladas “Afetos” e “Carta para nunca ser lida”, nas quais faremos uso da segunda pessoa do plural, tentando transpor nessa autópsia o reforço da noção de corpo formado com a consequente dissolução das individualidades de Elisa, Gabriel, Luciana e Nicole. Buscamos nos compreender e pesquisar artisticamente enquanto um corpo rizomático, um corpo outro, percebendo os afetos. Notamos em nossos encontros, de maneira geral, uma maior potência de sermos e agirmos no mundo. Reforçando esse conceito, acreditamos ser impossível creditar de forma estruturada e hierarquizada, a autoria do processo, uma vez que nós estávamos inseridos em um contexto relacional, temporal e espacial, cujas etapas foram sendo desenhadas e construídas durante o processo.
Durante o século XX, os surrealistas realizavam adaptações de jogos infantis nos quais exercitavam o automatismo, a fim de descobrir elementos comuns dos seus participantes, revelando o inconsciente, estimulando a imaginação e aflorando o universo onírico. Dentre esses jogos o Cadáver Esquisito apresentava a contínua relação entre o poético e o pictórico. Assim, essa técnica foi desenvolvida para explorar a livre associação de ideias, exercitar a imaginação e desvelar o inconsciente, tentando livrar-se do controle da razão (cf. PIANOWSKI, 2007).
Pianowski explica as regras do jogo:
O procedimento para se jogar era muito simples, segundo Tristan Tzara (1948), a receita para o cadavre exquis escrito era: pegar uma folha de papel dobrada o número de vezes correspondente ao número de participantes, na qual cada um escreveria o que passava por sua cabeça sem ver o que tinham feito anteriormente seus companheiros. Cabe salientar que havia uma seqüência rígida a ser respeitada: substantivo-adjetivo/advérbio-verbo-substantivo, com o objetivo de obter o mínimo de coerência no resultado que ao final seria lido para todos, pois os resultados totalmente absurdos e incoerentes acabavam, de acordo com Collinet (1948), parando no lixo. (PIANOSWI, 2007, p. 2).
O nome do jogo é derivado de uma frase que surgiu quando foi jogado pela primeira vez em francês: “ Le cadavre - exquis - boira - le vin - nouveau ” (O cadáver delicioso beberá o vinho novo).
Tendo em vista os princípios do jogo, o adaptamos para uma perspectiva de aproximadamente um mês de duração. Acordamos algumas regras a priori e outras surgiram no decorrer do processo. As diretrizes eram: escrever duas cartas a quatro mãos; as cartas seriam escritas em papel, ou seja, precisaríamos promover alguns encontros do grupo para a troca de cartas; e cada pessoa só poderia ler o que fosse “deixado” pelo jogador anterior (uma frase, uma palavra).
Para que a apreciação do texto não ficasse truncada, fizemos pequenas adaptações, simplificações, correções gramaticais e sintáticas. Nas duas cartas: “Afetos” e “Carta para nunca ser lida”, foram evidenciadas as frases e/ou palavras deixadas para que o leitor possa saber o ponto de partida de cada jogador. Tentamos transpor espacialmente a grafia das cartas originais. Seguem abaixo as cartas.
Domingo, 23 de abril de 2017
Querido Juan Gabriel:
Quando a gente quer saber algo procura pela informação, pergunta esperando respostas. O procedimento é muito simples, não é nada complicado, vou te mostrar.
17:10.
No salão Stilo cortando o meu cabelo.
Sim, vamos.
É assim, simples. Muitas vezes as coisas são mais tranquilas do que parecem, muitas vezes um “sim” ou um “não” fazem mais efeito que uma grande conversa que na metade já tinha perdido o sentido, tornando-se incoerente.
Essa mania de organização absurda. A ordem é absurda. Cada passo tensiona a coerência. Quais são seus passos de coerência? Quais os caminhos para o absurdo? Lembro daquele seu passo pisado lento tentando tatear o absurdo, aquele passo que pretendia marcar sua trajetória. De repente você acelerou e te perdi de vista. Conte-me... o que você encontrou?
Nada, absolutamente nada. Não havia nada lá. O que acontece é isso, quanto mais fundo se cava menos coisas você encontra. Sabe aquela questão de vazio que conversamos aquela noite? Então! Se trata disso! É um vazio tão profundo que te coloca cara a cara com o espaço. Sabe isso do espaço? Na medida que as coisas vão perdendo esse valor, essa importância que damos, essa energia que projetamos, outra “cara” começa a “surgir”, começa a aparecer o vazio e com ele ganhamos espaço. Possibilidades de ser, experimentar, tentar observar... centro força! Aquela sensação maluca de estou presente, pulsante porém sem deslocar... É muito louco. Mas é isso! É isso meu bem. Não existe nada mesmo, só possibilidades... Precisamos criar... O que vamos escolher?
Interagir? Ultrapassar? Se nós estamos relaxados vai ser mais fácil construir coisas, com certeza tudo fluirá mais tranquilamente em tanto criamos um ambiente, um terreno... e isso demora um tempo, uma diluição de si exige uma vibração sutil que permite o cheio e o vazio simultaneamente. Algo semelhante a sentir/olhar as raízes e galhos das árvores como veias que permitem o sol circular entre a terra e o ar. Algo que não separa mas flui. Algo que simplesmente é. A simplicidade de existir e sentir. Algo para comer seria bem bom pra variar. Indo na casa de nossa amiga (que não devemos nomear), nunca há nada para fazer. É uma eterna busca de assuntos que nunca dão em nada. Trazer algo gostoso seria uma boa dica. É como quando você vai até a casa dos seus avós, gente que você vê 2 ou 3 tardes no ano e não tem nenhuma afinidade além do sangue... acho que é por isso que tem tantas avós que cozinham tão bem. Se especializam em cobrir os silêncios com carboidratos, açucares e gorduras insaturadas. É um ótimo dialogo:
Tem mais cuscuz?
Quer chá?
Vou repetir mais uma vez!
A salvação de nossa espécie será pela barriga!
Quando retornarmos a perceber com nossas vísceras o que está a nossa volta, cuidaremos não só do que nos alimentamos, mas também do que vomitamos. Poderemos digerir o mundo com o estômago e o olhar com o paladar. Quando o gigante, o maior, deixar de consumir a maior parte de tudo que existe sairemos e tocaremos as doze cordas vocais das girafas que tem tartarugas de água aos seus pés que tem grandes corações. Tartarugas tem casas que moramos que caem pelo ar e as pessoas que vivem respiram esse ar. Cheio de répteis flutuantes que tomam pinga em mesas de teatro originarias. Ai, qual a diferença entre girafas, tartarugas e corações?
¿Cuál? ¡Respóndame! Me vale verga su respuesta la verdad, estoy mamado de que me digan como tengo que ser o comportarme, no quiero seguir reglas solamente porque son reglas, sino tienen sentido o eco en mi entonces no las sigo. Un gato se puede enamorar de una golondrina, yo puedo amar a quien yo quiera amar, el hombre no tiene que ser fuerte ni la mujer delicada... ¡ Me vale verga!
Onde guardas o teu valor? Como poderei compreender suas instâncias? Onde leio você? Quanto mais te olho menos te vejo. Quem és tu que me rouba a sensação de estar sozinha no mundo? Você não está aqui, mas sinto você aqui. Como isso é possível? Como isso acontece? Não consigo compreender o que se passa... Que passa? Tudo o que me ocorre são impermanências. Observo o momento dos dias, cenários, pessoas, palavras, fico ali... Continuo no meio do caminho, sem entender nada do que está acontecendo. Não fique bravo querido, vamos errar sempre, vai dar errado muitas vezes e vai ficar ruim também. Vamos apenas rir? E seguir?
Se havia virado um costume te amar eu não sei. Pedaços do que escolhemos de almoço foram trocados de nossos pratos, pensamentos através de olhares foram trocados e os momentos extras de descanso foram trocados por mais uns minutos de conversa... Mas nunca trocamos palavras nesse sentido. Covardemente o silêncio permaneceria com a sua partida.
olhos percebo que as louças ainda estão na pia, ou seja, elas existem realmente. Então sem pensar duas vezes começo a lavar prato por prato. ( Parece sempre que você é segredo duas vezes)
Se você me olha eu já parti, já fui. Se disfarça, finge não estar e desavisadamente derruba um sorriso, então fico e balanço por dentro. O ato de tentar desvelar é o ato de mudar o que se passa. Não há como saber o segredo pois ao tentar desvendá-lo ele mesmo muda-se. Não se emprestam as sombras de árvores alheias.
Eu não sei desenhar, nunca aprendi e gostaria muito de poder fazer, acho grosso que você não queria me emprestar as sombras das suas árvores, compreendo sua negativa mas não deixa de me surpreender. Acha-me muito sensível? Não tem importância para mim. Quero me dar tempo de sentir o que eu tenho que sentir, eu carrego com os meus pesos é lógico, mas não vou continuar carregando os seus também. Vamos juntos, tá bem, assim você não me empreste coisas, mas agora cada um leva a mala própria até que cheguemos a outro momento. Beleza?
Surja, emerja, venha, atue sobre mim, permito-me ser transformada por sua ação. Ação que é minha, é sua é causa e consequência. Expanda, alargue-se, atinja, afete, eu cresço, corpo, toco, vibro, plaino, voo, aterro, deixo, sigo e retorno, Não sei mais quem sou, de onde vim. Apenas deixo seguir, ir, parece que o caminho aparece a cada passo. Ordinário, comum, apenas andar. Junto. Vem comigo.
Te quiero****.
No tato sob a minha pele a tua voz dentro dos meu pulmões. Quero decifrar-te e viver o que tu és. Quero confundir minhas certezas no seu corpo sem fim em mim. Uma dança de dois pra cá, e depois mais pra cá ainda. Pra que a única coisa que seja possível fazer depois é sonhar que dormi em paz e encontrei o meu lugar de poder no sonho. Aquele lugar que sempre imaginava que existia e me perguntava por que vou tão pouco lá. Há dois dias percebi que esse lugar só existe em meus sonhos. Um lugar segredo que posso alcançar após as pedras. Um lugar que o retornar sempre me exige. Onde você guarda o seu lugar segredo?
Não. Não tenho segredos mais. Contei tudo para a Joana. Ela prometeu escrever um livro. O livro da vida dos outros. Meu segredos estão lá, todinhos eles. Os mais impuros e os mais divinos. Com aquela aparição que me contou o que ia acontecer naquele dia e por isso salvei minha vida. Era segredo, poderiam me achar louca por ver, conversar com seres invisíveis… Para mim sempre forma muito reais. Também no livro falo daquelas experiências escabrosas da adolescência... rrrrrr... brurururur. Graças a deus tudo isso já passou. Mas enfim, se queres saber meus segredos, e o de outras pessoas também, compre o livro. Será lançado em breve. Apenas R$80,00.
¿90,00? No se realmente cuanto tengo en este momento, lo cierto es que es poco y que aún no tengo muy claro que voy a hacer cuando llegue a ceros. Afortunadamente han aparecido oportunidades, luces, tablas de salvación. Son como voces de aliento que me sussuran al oído que tengo que continuar, que ya no hay forma de volver atrás... porque no te lo puedo negar, desistir ha sido una de mis posibilidades, en medio de la crisis lo he contemplado****.
Disse isso e saiu acredita? Não entendi bosta nenhuma, era algo das possibilidades sendo completada. Quer dizer que ele conseguiu o que queria? Ou talvez completou as possibilidades dos outros? Fiquei em crise com tudo isso. No fim apenas fiquei olhando o nada achando que havia perdido algo muito importante. Era a resolução do pensamento e eu simplesmente perdi o final. É como não poder ler a última página de um livro.
É algo que nunca acontece comigo pois nunca sigo a ordem de leitura em um livro. Vou para o meio, o fim, deslizo entre os capítulos. Não respeito as regras. Isso me dificulta as vezes, mas também me dá muito prazer. Adoro perceber que consigo compreender algo sem seguir o protocolo indicado. Nada me faz mais feliz do que criar regras e quebrá-las.
É altamente excitante!
Referências
DELEUZE, Gilles, GUATTARI, Félix. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia. Trad. Aurélio Guerra Neto, Ana Lúcia de Oliveira, Lúcia Cláudia Leão e Suely Rolnik. Vol
PIANOSWKI, Fabiane. Surrealismo, cadaver exquisito – construção do imaginário surrealista através do jogo do cadavre exquis. Psikeba – revista de arte, Psicoanálisis y Estudios Culturales. Vol. 05, 2007. Disponível em: http://journaldatabase.info/ articles/construcao_imaginario_surrealista.html Acesso em: 05 jun. 2017.
SPINOZA, Benedictus. Ética. Trad. de Tomaz Tadeu. 2a^ ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008.