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Análise do Conceito de Auto-Realização na Psicologia Humanista, Notas de estudo de Psicologia

Este documento analisa o conceito de auto-realização na psicologia humanista, concentrando-se em sua definição, funções, necessidade existencial e características de uma pessoa em processo de auto-realização. Além disso, explora as ideias de psicólogos como maslow, rogers e nuttin sobre o tema.

O que você vai aprender

  • Quais são as características de uma pessoa em processo de auto-realização?
  • Por que a auto-realização é considerada uma necessidade existencial?
  • Como é definida a auto-realização na psicologia humanista?
  • Quais são as funções da auto-realização na psicologia humanista?
  • Como os psicólogos humanistas como Maslow, Rogers e Nuttin conceituam a auto-realização?

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Vinicius20
Vinicius20 🇧🇷

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AUTO-REALIZAÇÃO:
UMA NECESSIDADE EXISTENCIAL
EVILASIO
A.
RAMOS
Professor Assistente na UECE e na U. F. C.
1. UM POSTULADO
Para início de análise, a auto-realização
é
definida, aqui, de
maneira bastante simplificada, como uma necessidade existen-
cial. .~ tida pela maioria dos. psicólogos humanistas como o
postulado básico do desenvolvimento psicológico da pessoa
humana. Como postulado, claro está, não
é
imune a críticas e
contestações.. Mas as Ciências ISociais, diga-se de passagem,
são contestáveis justamente porque se baseiam em postulados
teóricos, muitas. vezes não suficientemente comprovados pela
experiência empírica. A auto-realização
é
um desses postulados.
Embora não seja gratuitamente privilegiada pela Psicologia
Humanista-Existencial - pois evidências científicas em seu
favor (Coíer-Appley 1972, p. 642-675) - precisa contudo de
mais comprovação para ter maior acolhida. Isso não invalida o
esforço de se explorar seu conteúdo conceitual. '~ isso que
pretendo fazer aqui - analisar o conceito de auto-realização
tal como
é
concebido pelos psicólogos humanistas, sem me
preocupar com suas implicações fora da psicologia do desen-
volvimento da personalidade. Ela certamente tem relevantes
conseqüências úteis
à
educação, por exemplo, mas. não me
ocuparei disso neste momento.
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AUTO-REALIZAÇÃO:

UMA NECESSIDADE EXISTENCIAL

EVILASIO A. RAMOS

Professor Assistente na UECE e na U. F. C.

1. UM POSTULADO

Para início de análise, a auto-realização é definida, aqui, de maneira bastante simplificada, como uma necessidade existen- cial. .~ tida pela maioria dos. psicólogos humanistas como o postulado básico do desenvolvimento psicológico da pessoa humana. Como postulado, claro está, não é imune a críticas e contestações.. Mas as Ciências ISociais, diga-se de passagem, são contestáveis justamente porque se baseiam em postulados teóricos, muitas. vezes não suficientemente comprovados pela experiência empírica. A auto-realização é um desses postulados. Embora não seja gratuitamente privilegiada pela Psicologia Humanista-Existencial - pois há evidências científicas em seu favor (Coíer-Appley 1972, p. 642-675) - precisa contudo de mais comprovação para ter maior acolhida. Isso não invalida o esforço de se explorar seu conteúdo conceitual. '~ isso que pretendo fazer aqui - analisar o conceito de auto-realização tal como é concebido pelos psicólogos humanistas, sem me preocupar com suas implicações fora da psicologia do desen- volvimento da personalidade. Ela certamente tem relevantes conseqüências úteis à educação, por exemplo, mas. não me ocuparei disso neste momento.

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Neste momento minha análise ficará restrita aos seguin- tes itens: a auto-realização como necessidade, como necessi- dade existencial, sua definição e as características de uma pes- soa em processo de auto-realização.

  1. ~ UMA NECESSIDADE

FRICK sintetizou o pensamento de numerosos psicólogos humanistas-existenciais ao escrever que "o organismo humano é guiado, energizado e integrado por uma necessidade ou mo- tivo soberano, o de auto-realização" (Frick 1975, p. 164>' Essa tríplice função - guiar, energizar e integrar - se exercerá no sentido de a pessoa tornar-se uma personalidade madura e sadia. Trata-se de uma necessidade soberana e não única. ~ soberana porque inclui a satisfação de todas as outras neces- sidades básicas do homem. Abrange "a multidão de motivos idiossincrásicos" que- as. pessoas possam ter (Maslow s/d., p. 55, 60). -~ como se existisse um único valor basilar para todos os homens, um objetivo comum a ser alcançado (Maslow, ibid. p. 185). Objetivo esse que es á inserido na na- tureza humana, não é inventado mas descoberto. ROGERS é da mesma opinião (Rogers 1975, p. 475; 1978, p. 225-237; Ro- gers-Kinget 1975, 1975, p. 159). Ele chama a auto-realização de "uma fonte central de energia no organismo humano" (Frick 1975, p. 181). Dizer que a auto-realização é uma necessidade básica sig- nifica que é uma tendência natural do organismo humano. As necessidades básicas ou tendências na urais fazem parte da "natureza interna essencial" do homem ( aslow s/d., p. 224). São a motivação intrínseca das condutas humanas. Isso nos leva a natureza mesma das necessidades fundamentais. Estas constituem, com efeito, as motivações mais profun- das que levam as pessoas a se comportarem de maneiras as mais variadas. Os comportamentos são formas concretas de as pessoas estabelecerem relações existenciais com seu meio. De fato, é da essência da pessoa estar inserida ativa e progres- sivamente no mundo, como logo mais veremos. Graças a essa inserção, a pessoa mantém contatos e interações significativos

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s/d., capo 3) - amor, afeição, segurança, sexo etc. - mesmo essas não são puramente homeostáticas. Mesmo essas não visam só a reduzir tensões e readquirir o equilíbrio perdido. Também essas têm caráter dinamogênico, promovem o desen- volvimento psicológico, já que todas as necessidades, sem ex- ceção, são uma busca ativa e construtiva de relações significa- tivas do organismo psicofísico que é o homem com seu meio ambiente. Por isso todas. as necessidades, sejam biológicas, sejam cognitivas, afetivas, sociais e espirituais, são básicas, ou primá- rias. Afeição, cultura, estima ou segurança, por exemplo, são tão necessárias ao homem quanto o alimento, o líquido ou o sexo. Em certas circunstâncias especiais, podem até ser mais imperativas. Quem não experimentou já momentos na vida em que ficou tão assenhoreado por uma idéia ou projeto que não tenha colocado em segundo plano alimento e sexo? Outra observação decorrente do conceito de necessidade aqui exposto é que parece se' excluírem as necessidades aprendidas. De fato, as necessidades fundamentais são dina- mismos inatos, não aprendidos, comuns a todos os homens. O que se aprende, muda e se diversifica, segundo as circunstân- cias sócio-culturais, é a forma concreta ou comportamental de satisfazer as necessidades. Ou, onde é a mesma coisa, o que se aprende, muda e se diversifica é a orientação peculiar e pessoal que se dá à conduta. Ninguém aprende a ter fome, a necessitar de sexo, amor, estima, segurança. O que aprende- mos, isso sim, é ter preferência por certos alimentos e como encontrá-I os, fazer sexo dessa ou daquela maneira, a buscar cultura, etc. Isso não significa que o meio onde' vive a pessoa é indiferente às necessidades. Não é indiferente. As pessoas, com efeito, existem situadas, imersas num ambiente concreto, do qual são parte constituinte. Quer dizer, os estímulos do meio ambiente despertam as necessidades. Contudo, podemos falar de necessidades aprendidas. Chamo de necessidades aprendidas as, relacionadas com o "eu-ideal". As necessidades ingênitas pertencem ao "eu-real". As aquiridas ao "eu-ideal" .. ~ sobejamente consabido que as pessoas em geral, e' as crianças e adolescentes em especial,

são sumamente sensíveis às expectativas que a família, a es- cola e a sociedade nutrem a respeito deles. Isso leva muita gente a incorporar tais expectativas ao próprio psiquismo de forma tal que as confunde com as necessidades do "eu-real". Essas expectativas, não se nega, podem criar necessidades positivas, dinamogênicas. O mais das vezes, porém, criam ne- cessidades complicadoras da vida, neurogênicas (K. Horney 1974). Até agora falamos das necessidades humanas. manifestas na execução de atividades externas. Elas também se exprimem na elaboração, a nível cognitivo, de planos e projetos daquilo que a pessoa deseja fazer. Projetar e planejar é propor-se a construir algo de uma maneira bem determinada. NUTTIN (1978) relata experiências de BUHLER e HERTZER com crian- ças, onde estudaram esse problema. Aos 4 anos, a criança diz o que debuxou depois de ter concluído sua atividade. Mas aos 5 anos, 80% elaboraram antes um plano de debuxo. Aos 6 anos, todas elaboraram antes seu plano. Conclui-se então que o ser humano atua não só a nível da ação executiva, mas tam- bém a nível de representação cognitiva. ~ capaz de condutas de "antecipação, dado que essa maneira cognitiva de estabe- lecer relações com o mundo cumpre, amiúde, um rol prepara- tório ou antecipatório de relações a respeito da ação executi- va" (Nuttin ibid. p. 141). Isso, é evidente, se refere ao homem normal. Numa personalidade patológica a capacidade planeja- tória pode ser anulada. Como no caso dos afásicos. Ora, a auto-realização é uma necessidade básica no exato sentido que acabamos de expor. Mas a análise de seu conteú- do cenceitual não se esgota aqui. Disse a princípio que a auto- realização é uma necessidade existencial. Precisar o sentido de existencial oferece oportunidade de se aprofundar, um pouco mais, o exame do conceito de auto-realização.

3 NECESSIDADE EXISTENCIAL

DON E. HAMACHEK (1979) escreve, com muito acerto, que uma pessoa, para atingir a maturidade (auto-realização), precisa encontrar resposta satlstatórla a estas três questões:

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b) Para onde vou? A pessoa não só pode realizar suas potencialidades (contando, é claro, com certas condições), mas realizá-Ias é uma necessidade intrínseca à sua própria natu- reza. Ou seja, realizar suas potencial idades é o objetivo má- ximo do homem como pessoa. Pois, desenvolver-se segundo as próprias estruturas e capacidades, é uma lei geral dos se- res vivos, inclusive o homem. Neste é observável o diuturno esforço para crescer, quando não em todos, pelo menos em alguns setores - econômico, profissional ou cultural... Ou, como se expressa MASLOW, o ser humano possui dentro de si "uma pressão" para realizar aquilo que julga poder ser (Maslow 1954, p. 91, 199s; a/d , p. 187). Numa palavra, o objetivo mais profundo do homem é realizar-se como pessoa e isso é possível pela atualização de suas potencial idades hu- manas. c) Que caminho devo tomar? O animal tem seu caminho

  • sua vida - rigidamente traçado e programado pela natu- reza instintiva. O homem, não. Este, graças à sua consciência e à sua inteligência, à sua liberdade e às suas experiências, traça sua própria existência, em que pese aos condicionamen- tos encontráveis. Ao fazê-Io, consulta sua interioridade, sua ob- jetividade, suas potencialidades internas e externas. Pois é de sua essência interagir com o meio. Nesse processo construtivo da existência ele implica inteligência, consciência, liberdade, afetividade e experiências, dentro porém do quadro de suas possibilidades.

Efetua tudo isso através dum esforço consciente e pessoal. Esforço esse condicionado pelas percepções que tem de si mesmo e do mundo circundante e pelas condições ambientais. Apesar dessas limitações, o tipo de vida que pretende levar é uma escolha livre sua. Cada indivíduo é capaz de consciente- mente escolher seu "estilo de vida", seu modo peculiar de exis- tir, a maneira especial de realizar suas potencial idades (Fadi- man e Frager 1979, p. 76; Hamachek 1979, p. 53; Fromm 1974, p. 25). Razões sociais, econômicas, políticas ou de qualquer outra espécie podem forçar uma pessoa a optar por um sistema de vida que não desejaria ter. Mas essa pessoa ja-

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mais será feliz como o seria se tivesse eleito livremente um estilo de vida conforme as potencialidades do seu "eu-real". A essas razões externas acrescente-se que no interior do indiví- duo também pode haver forças antagônicas pressionando na direção de escolhas de estilo de vida divergentes. Por isso a escolha do estilo de vida é um processo cheio de tensões e conflitos (Nuttin 1967, p. 250ss.). Em resumo, a auto-realização é uma necessidade existen- cial porque o homem só pode existir como pessoa atualizando suas potencialidades. A pessoa é existente ou ser potencial, cujo objetivo mais profundo é realizar suas potencialidades. Este objetivo se concretiza, especificamente, num estilo de vida consciente e livremente preferido, dentro do quadro de possibilidades internas e externas de cada um. Mas todo esse processo, por incluir escolhas livres, efetua-se com tensões, conflitos, renúncias e sofrimentos.

  1. DEFINiÇÃO DE AUTO-REALIZAÇÃO

Até aqui minha análise se concentrou na auto-realização como necessidade existencial. '~ hora de buscar uma definição mais específica e delimitada. Convém, antes de tudo, examinar como os autores a definem. Para KURT GOLDSTEIN, o primei- ro a se ocupar com este construto, o desenvolvimento da per- sonalidade tem como motivo profundo e único aquilo que ele apelidou de auto-realização (Fadiman e Frager 1979; Hall e Lindzey 1969). E definiu auto-realização como um impulso do- minante, inerente ao organismo humano, que impele o homem a realizar, por todos os meios, suas potencialidades inatas. As outras necessidades - fome, sede, sexo, curiosidade, etc. - são apenas manifestações do impulso auto-realizador. Este é uma detência criativa da natureza humana; princípio orienta- dor e gerador de desenvolvimento; um processo fundamental em todo organismo, mas pode ter efeitos negativos ou positi- vos. Em organismos doentios é mero alívio de tensões, mas em organismos sadios é formação de tensões que tornam possí- veis novas atividades organizadoras.

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um esforço pessoa', o desenvolvimento simples e espontâneo" ou biológico .. ~ uma "força interior geradora de progresso" (Nuttin 1967, p. 250). -~ um dinamismo estreitamente ligado à função cognitiva. r~ a tendência mais específica do próprio psiquismo humano. Por ela o homem se realiza, não apenas' no nível bioquímico, mas "em função de uma concepção dinâ- mica resultante de suas próprias forças criadoras. Essa reali- zação criadora é sua maneira de reagir ao meio" (Nuttin 1969, p. 205). A realização de si mesmo caracteriza-se por: - um dinamismo a ultrapassar-se a si mesmo ou desenvolver-se sempre,

  • uma intervenção consciente e pessoal,
    • uma manifestação diferenciada em cada indiví- duo, conforme cada cultura,
  • uma ligação à função cognitiva,
  • uma certa imagem ideal que o homem faz de si mesmo,
  • um estilo ou projeto de vida,
  • ser uma tendência construtiva,
  • atuar numa atmosfera de tensões e conflitos,
  • ser a necessidade mais específica da pessoa,
  • uma expressão da personalidade total.

Para CHARLOTTE BüHLER, igualmente, a auto-realização é uma busca de desenvolvimento de potencialidades. ~ uma tendência que difere de indivíduo para indivíduo por causa das inclinações e recursos de cada um. Consiste, segundo a psicóloga alemã, em a pessoa fazer tudo aquilo de que gosta e não s6 na satisfação das necessidades psicofísicas. O que mais contribui para ela é a atividade criadora. A pessoa auto- realizadora experimenta quatro tendências básicas: a satisfa- ção de necessidades, a adaptação autolimitadora, a expansão criadora e a manutenção da ordem interna (Greening 1975, p. 31-65l. Por fim, ROLLO MAY. Este psicólogo não utiliza explicita- mente o termo auto-realização. Tem, entretanto, de acordo com Cofer e Appley (p. 651), uma expressão equivalente - ser existencial. De fato, no seu livro O Homem à Procura de Si

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Mesmo, a idéia de auto-realização está claramente presente. Diz, por exemplo, que nossa sociedade não precisa de novas idéias e invenções, mesmo que sejam importantes; nem de gê- nios e super-homens, "mas de pessoas que sejam, isto é, que possuam no íntimo uma fonte de vigor" (May 1973, p. 66). May quer dizer: sejam aquilo que podem ser. Mais adiante, acrescenta que o organismo possui "uma e apenas uma ne- cessidade central na vida - realizar suas potencialidades" (ibid. p. 77). Mas essa realização não é automática, mas pla- nejada e conscientemente escolhida. Caso o homem não rea- lize suas potencialidades como pessoa humana, torna-se limi- tado e doente, assim como as pernas se atrofiam se não an- darem. As potencialidades do homem são tanto para o bem, como para o mal. '~ o coexistir do Bem e do Mal que dá à vida seu significado trágico (May 1976, p. 161-162). Não é preciso notar que os autores citados não são os únicos a explicarem o desenvolvimento da personalidade pelo postulado da auto-realização (Cofer e Appley, p. 642-675). Todos eles, porém, dão a mesma definição - realização de potencialidades. Esta é a idéia nuclear de auto-realização. O termo "potencial idade" pode significar um mundo de coisas. Não é que cada pessoa, individualmente, tenha um ilimitado potencial. Mas a variedade de potencialidades entre as pessoas é quase infinita. Variam conforme as idiossincra- sias individuais e culturais. Podem significar, por exemplo, ta- lentos, inclinações, aptidões, vocação, criatividade, necessi- dade de amar e ser amado, de cultura, de relações sociais, de auto-afirmação, etc. etc. "What a man can be, he must be" (Maslow 1954, p. 91). Em suma, a auto-realização pode ser definida como uma necessidade existencial da pessoa que realizar ou atualizar suas potencialidades psicofísicas, de maneira criadora, autôno- ma, responsável e socializada. ~ a tendência fundamental que motiva o processo de contínuo vir-a-ser do indivíduo no sen- tido de sua plena realização como pessoa humana individual e social. ~ graças a ela, principalmente, que a pessoa sente uma pressão interior no rumo de uma personalidade madura e sadia.

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etc, o problema dos valores é um dado que não pode ser

esquecido na análise psicológica (não é no sentido clínico) do indivíduo, porque a pessoa; com grande freqüência, se vê fazendo ingentes sacrifícios na obtenção ou defesa de cer- tos valores. C) Relações humanas positivas. R. MAY escreve que o encontro é uma expressão do ser (May 1974, p. 19). Noutro passo é mais enfático: "em minha opinião, o cálido, subjetivo

e humano encontro de duas pessoas é mais eficaz para faci-

litar mudanças do que a mais precisa combinação de técni- cas provenientes da teoria do aprendizado ou do condicio- namento operante" (ibid. p. 106), May fala da situação tera- pêutica. Mas o sentido mais profundo de suas palavras é que relacionar-se com outras pessoas é uma necessidade existen- cial e, portanto, necessário à auto-realização. Isso me faz lembrar as palavras de outro psicólogo humanista: "uma pes- soa que se atualiza é também uma pessoa capaz de entrar em comunicação com outras pessoas e estabelecer sadias re- lações interpessoais" (St.-Arnaud, p. 69). Uma relação in- terpessoal é positiva quando é autônoma o mais possível, es- pontânea, aceitadora, preocupada com o bem do outro. Pode ter os mais variados nomes: amizade, amor, empatia, etc.

D) Necessidade de conhecer, compreender e criar? '~ si-

nal de auto-realização a curiosidade intelectual, a necessidade- de ter novos conhecimentos, de compreender o sentido das coisas, de criar. Criar no sentido de ter tendência artística. A pessoa em processo de auto-realização é sensível à ação es- timuladora do meio. E reage de fato a esses estímulos fazen- do alguma coisa - ler, estudar, interrogar alguém, interes- sar-se por programas culturais, etc.

E) Necessidade de trenscemiêncle. Há incontáveis formas

de auto-realização. Delas não podemos excluir as pessoas que optarem viver mais intensamente seus valores. religiosos. Quero dizer, esses valores constituem a tônica de suas vidas. São pessoas que buscam um sentido religioso mais profun- do para suas vidas. A maioria delas são sinceras e autênti- cas. Muitas vezes a forma concreta de viver esses valores é ingênua, imatura e grotesca. Mas a motivação pode ser ho-

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nesta. Neste caso, são pessoas felizes. Em última análise, é isto que a auto-realização traz: fazer as pessoas humanamente felizes.

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