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Publicação sobre Puberdade Precoce: Diagnóstico, Tratamento e Impacto na Estatura Final, Notas de estudo de Diagnóstico

Este documento discute a puberdade precoce, sua definição, diagnóstico e tratamento. Além disso, analisa os efeitos da puberdade precoce na estatura final, o papel dos exames hormonais e a importância de considerar a velocidade de progressão dos sinais puberais e da idade óssea. O texto também aborda a necessidade de revisar a definição de puberdade precoce e os casos duvidosos.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Abelardo15
Abelardo15 🇧🇷

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321Arq Bras Endocrinol Metabvol 45 nº 4 Agosto 2001
RESUMO
Novos critérios para o diagnóstico e tratamento da puberdade precoce
(PP) central (GnRH-dependente) têm sido propostos. Frente a uma meni-
na com desenvolvimento sexual precoce o médico deve considerar: 1) O
que é o desenvolvimento puberal normal e quando ele se inicia? O início
puberal em meninas normais aparentemente tem ocorrido cada vez mais
cedo. A idade limite para o desenvolvimento puberal normal é de 9 anos
nos meninos e 8 anos nas meninas. Entre 6 e 8 anos, muitas meninas apre-
sentam sinais puberais isolados, associados apenas a discreto avanço da
velocidade de crescimento (VC) e da idade óssea (IO). O quadro repre-
senta uma aceleração constitucional do crescimento e puberdade e
não necessita tratamento. A puberdade precoce GnRH-dependente
patológica cursa com progressão dos caracteres puberais, aumento sig-
nificante da VC e avanço desproporcional da IO, determinando redução
da estatura final prevista. 2) Quais os valores normais de LH e FSH? Com o
advento de novas técnicas os valores do normal devem ser cuidadosa-
mente interpretados. 3) Por que devemos tratar a PP? Devido à perda
estatural e comprometimento psicossocial. 4) Todas as crianças com PP
necessitam tratamento? Quem deve ser tratado? Apenas as crianças
com PP que apresentam avanço significante da IO e da VC com pre-
visão de perda da estatura final e resposta puberal do LH. A etiologia do
processo é investigada com a RM de crânio. Deve ser tratada com ago-
nistas hiperativos do GnRH. Pode-se utilizar leuprolide ou triptorelina, na
dose de 3,75mg IM, uma vez a cada 4 semanas. Habitualmente, obtem-
se bom controle dos caracteres puberais. 5) Quais são os resultados do
tratamento? Os resultados sobre a estatura final dependem do diagnósti-
co e tratamento precoces, preferencialmente antes dos 6 anos, e prati-
camente não existem efeitos colaterais importantes. 6) Quando associar
o GH? Durante o tratamento com GnRHa, parte dos pacientes apresen-
ta grande redução da VC e intenso comprometimento da previsão esta-
tural. Nesta situação, a associação com GH pode ser considerada.(Arq
Bras Endocrinol Metab 2001;45/4:321-328)
Unitermos:Puberdade precoce; Diagnóstico e tratamento; GnRH ago-
nistas.
ABSTRACT
New criteria have been proposed for the diagnosis and treatment of
patients with central precocious puberty (PP) (GnRH-dependent). In girls,
breast and pubic hair development are occurring significantly earlier than
previously suggested. Usually, the age limit to consider puberty as normal is
9 years for boys and 8 years for girls. Between ages 6 and 8 years, some girls
show isolated telarche or pubarche with absent or slightly elevated growth
velocity (GV) and bone age (BA). This represents a constitutional accelera-
tion of growth and puberty, and when compared to familial target, it pre-
sents no influence on predicted final height. Long-term clinical follow-up is
recommended, but usually no treatment is required. On the other hand,
pathologic GnRH-dependent PP is associated to progressive pubertal man-
ifestation, increased GV and accelerated bone maturation, with conse-
quent negative impact on the final height. The age of clinical manifestation
atualização
Puberdade Precoce: Dilemas no Diagnóstico
e Tratamento
Osmar Monte
Carlos Alberto Longui
Luis Eduardo P. Calliari
Unidade de Endocrinologia Pediátrica,
Departamento de Pediatria,
Irmandade da Santa Casa de
Misericórdia de São Paulo,
São Paulo, SP.
Recebido em 13/03/01
Aceito em 20/03/01
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RESUMO

Novos critérios para o diagnóstico e tratamento da puberdade precoce (PP) central (GnRH-dependente) têm sido propostos. Frente a uma meni- na com desenvolvimento sexual precoce o médico deve considerar: 1) O que é o desenvolvimento puberal normal e quando ele se inicia? O início puberal em meninas normais aparentemente tem ocorrido cada vez mais cedo. A idade limite para o desenvolvimento puberal normal é de 9 anos nos meninos e 8 anos nas meninas. Entre 6 e 8 anos, muitas meninas apre- sentam sinais puberais isolados, associados apenas a discreto avanço da velocidade de crescimento (VC) e da idade óssea (IO). O quadro repre- senta uma aceleração constitucional do crescimento e puberdade e não necessita tratamento. A puberdade precoce GnRH-dependente patológica cursa com progressão dos caracteres puberais, aumento sig- nificante da VC e avanço desproporcional da IO, determinando redução da estatura final prevista. 2) Quais os valores normais de LH e FSH? Com o advento de novas técnicas os valores do normal devem ser cuidadosa- mente interpretados. 3) Por que devemos tratar a PP? Devido à perda estatural e comprometimento psicossocial. 4) Todas as crianças com PP necessitam tratamento? Quem deve ser tratado? Apenas as crianças com PP que apresentam avanço significante da IO e da VC com pre- visão de perda da estatura final e resposta puberal do LH. A etiologia do processo é investigada com a RM de crânio. Deve ser tratada com ago- nistas hiperativos do GnRH. Pode-se utilizar leuprolide ou triptorelina, na dose de 3,75mg IM, uma vez a cada 4 semanas. Habitualmente, obtem- se bom controle dos caracteres puberais. 5) Quais são os resultados do tratamento? Os resultados sobre a estatura final dependem do diagnósti- co e tratamento precoces, preferencialmente antes dos 6 anos, e prati- camente não existem efeitos colaterais importantes. 6) Quando associar o GH? Durante o tratamento com GnRHa, parte dos pacientes apresen- ta grande redução da VC e intenso comprometimento da previsão esta- tural. Nesta situação, a associação com GH pode ser considerada. (Arq Bras Endocrinol Metab 2001;45/4:321-328)

Unitermos: Puberdade precoce; Diagnóstico e tratamento; GnRH ago- nistas.

ABSTRACT

New criteria have been proposed for the diagnosis and treatment of patients with central precocious puberty (PP) (GnRH-dependent). In girls, breast and pubic hair development are occurring significantly earlier than previously suggested. Usually, the age limit to consider puberty as normal is 9 years for boys and 8 years for girls. Between ages 6 and 8 years, some girls show isolated telarche or pubarche with absent or slightly elevated growth velocity (GV) and bone age (BA). This represents a constitutional accelera- tion of growth and puberty, and when compared to familial target, it pre- sents no influence on predicted final height. Long-term clinical follow-up is recommended, but usually no treatment is required. On the other hand, pathologic GnRH-dependent PP is associated to progressive pubertal man- ifestation, increased GV and accelerated bone maturation, with conse- quent negative impact on the final height. The age of clinical manifestation

atualização

Puberdade Precoce: Dilemas no Diagnóstico

e Tratamento

Osmar Monte

Carlos Alberto Longui

Luis Eduardo P. Calliari

Unidade de Endocrinologia Pediátrica, Departamento de Pediatria, Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP.

Recebido em 13/03/ Aceito em 20/03/

Monte, Longui & Calliari

is variable, and in part dependent on the etiology. When starting between the ages 6 and 8 the puberty is rapidly progressive. The cause for early hypothalamic- pituitary activation should be investigated by cranial MR. GnRH-dependent PP is best treated with slow- release GnRH analogues (leuprolide or tryptorelin). The initial recommended dose is 3.75mg IM, every four weeks. With this schedule, pubertal characteristics are efficiently controlled. The results on final height are influ- enced by the age of diagnosis and therapy, and the best outcome is observed when treatment begins before the age of 6. During GnRHa therapy, some patients show intense decrease in GV and substantial reduction in predicted final height. In this condition, additional use of growth hormone should be consid- ered. (Arq Bras Endocrinol Metab 2001;45/4:321-328)

Keywords: Precocious puberty; Diagnosis and treat- ment; GnRH agonists.

A

PUBERDADE PRECOCE REPRESENTA um grupo de doenças que abrange desde as variantes normais do crescimento (adrenarca precoce e telarca precoce) até condições cujo rápido diagnóstico e tratamento podem ser fatores decisivos para a sobrevida da criança (tumor de células germinativas). A necessidade de uma revisão crítica sobre o dianóstico e tratamento da puberdade precoce (PP) é motivada por observações recentes de que a puberdade, considerada normal para a menina, pode ter início mais precoce do que antes suposto. Além disso, com a disponibilidade de ensaios laboratoriais mais sensíveis e o aparecimento de novos fármacos, alguns critérios de interpretação dos resultados dos exames laboratoriais usados para o diagnóstico de puberdade precoce, bem como o protocolo de tratamento, devem ser revistos. Na PP GnRH-dependente, também denomina- da PP-central ou PP-verdadeira, o aparecimento dos sinais puberais é secundário à ativação hipotalâmico- hipofisária, sendo o mais freqüente mecanismo desen- cadeador do desenvolvimento puberal precoce, tanto em condições normais quanto em situações patológi- cas. Em meninas, a reativação precoce dos pulsos de GnRH é idiopática em até 95% dos casos, enquanto, nos meninos, menos de 50% é de etiologia indetermi- nada. As anormalidades responsáveis pela puberdade GnRH-dependente incluem tumores hipotalâmicos (hamartomas, astrocitomas, neurofibromas), hidroce- falia, trauma crânio-encefálico, anóxia perinatal, qui- mioterapia e/ou radioterapia do SNC, síndromes con- vulsivas, infecções do SNC ou ainda maturação hipotalâmica secundária à exposição precoce aos este- róides sexuais endógenos ou exógenos.

Diversas características devem ser consideradas, tanto no diagnóstico diferencial das causas de precoci- dade puberal como na indicação do tratamento medicamentoso. Importantes revisões já foram publi- cadas abordando estes tópicos (1-3). Frente a uma menina com desenvolvimento sexual precoce, o médico deve considerar algumas questões.

O que é o desenvolvimento puberal normal? Como todo fenômeno biológico, o desenvolvimento puberal apresenta um espectro variável de início, bem como no seu ritmo evolutivo. Nos extremos do inter- valo de normalidade encontram-se a aceleração consti- tucional do crescimento e puberdade (ACCP) e o re- tardo constitucional do crescimento e puberdade (RCCP). As crianças e adolescentes com ACCP, RCCP ou aquelas representativas da média da popula- ção geral, nascem com estaturas semelhantes e atingem sua estatura final geneticamente determinada. Porém, o crescimento e o desenvolvimento puberal ocorrem em ritmos diferentes, o que se caracteriza como uma variação tanto da época de início quanto da duração do fenômeno puberal (figura 1). Critérios estabelecidos na década de 40 (4) e revisados na década de 60 (5) estabeleceram o limite de normalidade para o início puberal em 8 anos para as meninas e em 9 anos para os meninos. A idade definida como normal para o início da puberdade é baseada em 95% da população ou 2 desvios-padrão abaixo da idade média do início da pu- berdade em meninas normais. Portanto, existe 2,5% de meninas normais que iniciam a puberdade abaixo dos 8 anos de idade. Quando esta se instala entre 6 e 8 anos, deve ser considerada precoce ou estaria dentro da faixa da normalidade?

O início da puberdade na menina antes dos 8 anos é uma definição apropriada para puber- dade precoce? Existem controvérsias quanto à idade normal para o início puberal, pois tem sido descrito um subgrupo de crianças normais que iniciam a puberdade mais cedo, e que progridem lentamente ou apresentam involução dos sinais puberais, sem repercussão sobre a idade da menarca ou sobre a estatura final (6). Recentemente, Herman-Giddnes e cols. (7) sugerem que o desenvolvimento puberal seja mais pre- coce que o anteriormente proposto. Nesse estudo, realizado em 65 clínicas localizadas nos subúrbios de vários estados norte-americanos, os autores avaliaram aproximadamente 17.000 meninas entre 3 e 12 anos. O estadiamento mamário foi realizado apenas por

Monte, Longui & Calliari

mais e aparentemente não tem se modificado no de- correr no tempo (figura 3). Essas controvérsias criam uma situação muitas vezes difícil, na qual o diagnóstico da puberdade pre- coce é realizado em crianças normais, ou pode desva- lorizar ou retardar a avaliação de crianças com puber- dade precoce verdadeira, que seriam beneficiadas pelo tratamento clínico. Portanto, é necessário que se considere, nas meninas, uma idade intermediária (entre 6 e 8 anos), na qual a necessidade de investi- gação e o uso de medicamentos deva estar na dependência não apenas do simples aparecimento das mamas, mas da velocidade de progressão da puber- dade e do potencial comprometimento da estatura final. A presença de sintomas específicos (doenças do SNC, doenças genéticas, etc), ou de repercussões psi- cossociais secundárias ao início puberal precoce, re- presentam aspectos importantes na decisão de inves- tigar ou tratar a paciente.

Qual a velocidade da maturação puberal? O ritmo evolutivo dos sinais puberais é um aspecto extremamente importante do desenvolvimento pube- ral. Em média, o intervalo entre dois estágios puberais é de 1 ano, sendo que intervalos inferiores a 6 meses devem ser considerados anormais e podem indicar que a menina esteja com puberdade patológica.

Figura 2. Porcentagem de meninas manifestando características puberais (mamas ou pêlos pubianos) de acordo com a idade cronológica e etnia. (valores percentuais médios referidos por Herman-Guiddens ME, et al [7]).

Figura 3. Idade cronológica de início das características puberais em 182 meninas em estados patológicos e em variantes normais de puberdade. (Dados de 1989 a 1999 da Unidade de Endocrinologia Pediátrica do Depto de Pediatria da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo).

Monte, Longui & Calliari

Quando comparadas às crianças com RCCP, as crianças com ACCP desenvolvem a puberdade num período de tempo mais longo e apresentam VC maior durante o estirão puberal (10). Estes dados compen- sam possível prejuízo sobre a estatura final determina- do pela antecipação constitucional da puberdade e avanço da idade óssea.

A maturação óssea compromete a estatura final? Na apresentação inicial, a estatura da menina com puberdade precoce geralmente está acima do padrão familiar. Na ACCP, a VC é superior à média da po- pulação antes mesmo do início puberal e, como já citado, a amplitude do estirão também é maior. Nesta situação existe avanço proporcional da IO, além de uma estatura projetada adequada em relação ao percentil esperado para o padrão familiar, signifi- cando previsão normal da estatura final. No acom- panhamento evolutivo da criança com ACCP, o avanço da IO permanece proporcional ao crescimen- to, com VC aumentada e manutenção da previsão de estatura final. Estes são os principais critérios para sua diferenciação com a puberdade precoce patoló- gica. Na PPC, o avanço da IO é desproporcional- mente maior que o aumento da VC, promovendo fechamento prematuro da cartilagem de crescimen- to, o que determina perda da estatura final. O método escolhido para a determinação da IO é de grande relevância. O método de Greulich-Pyle é simples e rápido, porém limitado por oferecer grande intervalo entre os padrões de idade. Este fato impossi- bilita a análise longitudinal comparativa entre a IC e o ritmo de progressão da IO. O método de escolha deve ser o de Tanner-Whitehouse (TW-20) para 20 núcleos das mãos e punhos (11,12). Em condições ideais de avaliação, duas radio- grafias com intervalo mínimo de 6 meses devem ser examinadas pelo mesmo observador.

O que define o início da puberdade? Mesmo tendo determinado a idade normal do início da puberdade, necessitamos definir qual o fator desen- cadeador do mesmo. As alterações físicas da puberdade estão sob o controle do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal, cuja atividade aumenta no início da puberdade, evi- denciada pelo aumento do número e amplitude dos pulsos espontâneos de secreção das gonadotrofinas (LH e FSH), e também pelo incremento do pico de liberação do LH e FSH em resposta à estimulação pelo GnRH (13).

Quais as concentrações hormonais normais na pré-puberdade e na puberdade? Tanto em condições basais quanto após estímulo com GnRH nativo (75μg/m^2 , máximo de 100μg EV em bolo) as concentrações do LH e FSH são parcialmente superponíveis em crianças pré-púberes e púberes. Este fato limita a utilidade das determinações hormonais como método isolado a ser empregado no diagnóstico de puberdade precoce em um caso individual (2). Em- bora ineficazes no diagnóstico do início puberal, após o diagnóstico clínico de puberdade tais determinações hormonais são importantes no reconhecimento do me- canismo gerador do processo (central ou periférico). Desta forma, a elevação significante do LH (basal ou após GnRH) caracteriza a puberdade como de origem central ou GnRH-dependente, implicando que o eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal esteja ativado. Para que o aumento do LH seja considerado significante, deve-se verificar o tipo de ensaio utilizado na sua quantificação. Nos antigos radioimunoensaios (RIE), nos quais eram empregados anticorpos policlonais, apenas elevações do LH superiores a 25mU/mL eram consideradas como diagnósticas de eixo ativado. Nos ensaios imunorradiomé- tricos (IRME), tal limite foi estimado em 10mU/mL. Ensaios utilizando o método imunofluorimétrico (IFME) apresentam valores de corte ainda mais baixos e diferentes para os dois sexos, sendo de 9,6mU/mL nos meninos e de 6,9mU/mL nas meninas. Devido à sua especificidade e alta sensibilidade, o IFME parece ser capaz de reco- nhecer o início da puberdade mesmo com medidas em condições basais, onde se observam valores de LH > 0,6mU/mL (14). A relação LH/FSH > 1 também é mais freqüente em indivíduos púberes (15). Quanto aos esteróides sexuais, a elevação persis- tente da testosterona em meninos (IFME > 19ng/dL; RIE > 30ng/dL) é um dado adicional bastante útil e fre- qüentemente associado a volume testicular ≥ 3cm^3. Nas meninas, a quantificação do estradiol não identifica o iní- cio da puberdade. Algumas meninas apresentam concen- trações plasmáticas de estradiol em nível puperal e outras em concentrações abaixo do limite de detecção do méto- do. O DHEA-sulfato é um bom marcador do início da atividade adrenal, confirmando a adrenarca bioquímica e apresentando boa correlação com o início da pubarca, mas não possui qualquer valor preditivo sobre a matu- ração gonadal (gonadarca), não sendo, portanto, um exame útil na determinação do início puberal.

O que podemos esperar no diagnóstico por imagem? Em geral, os métodos de investigação por imagem são de pouca utilidade para o diagnóstico da puberdade,

Monte, Longui & Calliari

to devem ser instituídos o mais breve possível. Vários estudos correlacionam a eficiência terapêutica à menor idade de manifestação e de tratamento da puberdade precoce, em especial antes dos 5 a 6 anos de idade (20). O tratamento de meninas com puberdade rapidamente progressiva, porém de início entre 8 e 10 anos, não mostra qualquer benefício sobre a estatura final (21). Portanto devem ser tratadas as crianças com sinais de desenvolvimento puberal precoce, com sig- nificante avanço da IO e aumento da VC, com diminuição da previsão da estatura final e com respos- ta de secreção puberal do LH ao estímulo pelo GnRH.

Qual é o melhor tratamento? O acetato de medroxiprogesterona e o acetato de ciproterona foram utilizados durante muitos anos no controle da progressão dos caracteres sexuais em pacientes com puberdade precoce. Porém, a presença de vários efeitos colaterais e a baixa efetividade em blo- quear ou recuperar a perda estatural fez com que estes fármacos não sejam mais empregados nesta situação. O tratamento de pacientes com puberdade pre- coce GnRH-dependente utiliza análogos agonistas hiperativos do GnRH (GnRHa). Estes fármacos causam estímulo inicial de poucos dias, seguido de supressão mantida da secreção de gonadotrofinas. Isto ocorre ini- cialmente por uma redução do número de receptores do GnRH ( down-regulation) nos gonadotrofos hipofisários, seguida da dessensibilização dos receptores por desacoplamento do sinal de transdução intracelular (22). A redução da atividade gonadotrófica se deve à menor produção da subunidade β do LH, que ocorre em con- comitância com a elevação da subunidade a do LH durante o tratamento com o GnRHa (23). Embora sejam disponíveis no mercado apresen- tações para uso nasal e subcutâneo diário, os GnRHa de liberação lenta ( depot ) para uso intramuscular ou implante subcutâneo podem ser aplicados a cada 4 semanas, permitindo maior adesão e efetividade ao tratamento. Devem ser empregados na dose inicial de

3,75mg, aplicada uma vez a cada 4 semanas. Em nossa experiência, raramente é necessário para a supressão da puberdade o uso do GnRHa com intervalo de apenas 3 semanas. Formulações contendo o triplo da dose têm sido usadas em aplicações a cada 3 meses no trata- mento do câncer de próstata e parecem ser eficazes nas crianças com puberdade precoce, com resultados semelhantes ao uso clássico mensal (24). A tabela 1 resume as principais características dos GnRHa depot disponíveis em nosso meio. O objetivo do tratamento tem sido o de manter completamente suprimida a liberação das gonadotrofi- nas. Isto pode ser confirmado pela realização do teste do GnRH precedendo a aplicação do GnRHa ou pela simples determinação das gonadotrofinas 2 horas após a aplicação GnRHa. Embora ainda haja certa discussão a respeito do impacto desta supressão excessiva sobre o crescimento estatural ou sobre o pico de massa óssea, os estudos não têm demonstrado qualquer repercussão negativa definitiva. O estímulo permanente dos ago- nistas sobre os gonadotrofos não parece exercer ação proliferativa sobre o tecido hipofisário, não estando habitualmente associado ao aparecimento de adeno- mas hipofisários. Uma vez estabelecido o diagnóstico de puber- dade precoce GnRH-dependente, o início do trata- mento deve ser imediato evitando-se assim maior perda ou mesmo permitindo a recuperação da estatura final. A recuperação ou certo ganho na estatura final das pacientes tratadas com GnRHa tem sido correla- cionada, entre vários fatores, à IO e estatura no momento da suspensão do tratamento. A maior parte dos autores sugere que os melhores resultados são obtidos com a suspensão do GnRHa entre os 12 e 12,5 anos de IO na menina (25) e entre os 13 e 13, anos de IO no menino (26).

Quais são os resultados com o uso de GnRHa? Existe um consenso de que os GnRHa determinam a parada da progressão ou mesmo a involução da maior

Tabela 1. Agonistas hiperativos do GnRH (GnRHa) de liberação lenta (depot). Lupron® Neo-decapeptyl® Zoladex® Características (leuprolide) (triptorelina) (gozerelina) Potência () 20 35 150 Afinidade ao receptor 12 10 Ligação protéica 20 27 Dose (μg/kg/mês) 150 - 300 60 Via de administração IM IM SC - implante Apresentações (mg/fr) 3,75 / 7,5 / 11,25 3,75 3, () Relativa ao GnRH nativo

Monte, Longui & Calliari

parte dos sinais puberais de pacientes com puberdade precoce. Porém, a experiência dos diversos grupos quanto à eficiência do tratamento na recuperação da perda estatural é bastante discrepante (27-32). Dife- renças nos resultados observados devem-se a variações das características de cada casuística, diferentes critérios de diagnóstico, idade de início e duração do tratamento, tipo de análogo empregado e variável critério para a suspensão do tratamento. Apenas parte dos estudos comparam a estatura final obtida com a estatura-alvo familiar. De forma geral, admite-se que o tratamento com GnRHa, indicado nos casos com aceleração desproporcional da IO e perda da estatura final pre- vista, seja capaz de impedir a progressão da perda e mesmo de produzir ganho na estatura final. Os me- lhores resultados foram obtidos em meninas com IC inferior a 6 anos, com maior avanço da IO e tratadas até que a IO tenha atingido por volta de 12 anos. A estatura final observada é geralmente 4 a 7cm maior que a estatura prevista no início do tratamento, porém 5 a 7cm abaixo do padrão familiar e usualmente abaixo da média normal para a população geral (33).

Existem efeitos colaterais com o uso do GnRH a longo prazo? Estudos prospectivos avaliando pacientes com puber- dade precoce antes e ao término do tratamento, bem como ao final do crescimento, têm demonstrado não haver qualquer impacto significante da terapêutica sobre a proporção entre os segmentos inferior e supe- rior, assim como sobre o pico de massa óssea (34). Apesar disso, alguns autores encontraram uma tendên- cia à redução da densidade mineral óssea durante o tratamento com GnRH, a qual pode ser prevenida pela suplementação oral com 1g de gluconato e carbonato de cálcio (35). Não existem evidências de anormalidade evolu- tivas do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal após a suspensão do tratamento com GnRH. O aumento do volume ovariano foi observado em algumas pacientes com hamartoma hipotalâmico (36). A menstruação é reiniciada rapidamente (6 a 12 meses) em pacientes que já haviam tido a menarca antes do tratamento. Nos casos sem menarca prévia, o intervalo entre a sus- pensão do tratamento e o primeiro episódio menstru- al é extremamente variável. Não há descrição de efeitos negativos do GnRH sobre a fertilidade e nos poucos relatos disponíveis, o fármaco parece ser seguro aos descendentes das pacientes tratadas (37). Obesidade, definida como IMC > p95 para a idade e sexo, foi descrita em 22% das meninas ao final

do tratamento com GnRHa, sendo que 86% das mes- mas já eram obesas antes do início do tratamento. Nos meninos, a prevalência de obesidade foi de 31% ao final do tratamento, sendo 71% destes já obesos previ- amente. Não houve piora do grau de obesidade durante o uso do análogo (38). Outros autores su- gerem ganho predominante da massa gorda em relação à massa magra, quando os pacientes tratados com GnRHa são comparados a controles normais ajus- tados para o estágio puberal (39). São escassos os relatos sobre efeitos adversos durante o uso dos GnRHa (40). Podem ocorrer alte- rações locais como eritema, enduração e abscesso, provavelmente relacionados ao veículo contendo ácidos lático e glicólico, que acabam por interferir na absorção do medicamento. Efeitos sistêmicos transitórios também são observados e incluem cefaléia, ondas de calor e depressão (41), que podem ser devidos à redução brus- ca da concentração dos esteróides sexuais ou à elevação inicial das gonadotrofinas, de forma semelhante ao que ocorre próximo à menopausa. A presença de convulsões foi descrita com mais freqüência em pacientes com hamartomas tratados com GnRHa (36), porém não há outros relatos de que este seja um efeito direto da me- dicação, mas sim de que se deva à predisposição deste grupo de pacientes.

Quando associar o uso do GH? A diminuição da VC é um efeito esperado com o uso do GnRHa, porém o grau de redução pode ser muito intenso em alguns casos, impedindo a adequada recu- peração estatural durante o tratamento. A estatura final pode ainda ficar muito abaixo da estimada pois os métodos de previsão geralmente a superestimam, de forma que, após a suspensão do tratamento, existe rá- pida maturação óssea não acompanhada da correspon- dente aceleração da VC, o que distorce o padrão de crescimento inicialmente previsto. Têm sido descritas anormalidades da secreção do GH, IGF-1 e IGFBP-3 em pacientes com puberdade precoce, tanto antes quanto durante o tratamento com GnRHa (42,43). Durante o tratamento, crianças com VC < 4cm/ano apresentam menor secreção noturna do GH e reduzido pico de secreção durante testes farma- cológicos (44). A redução do IGF-1 e concomitante elevação da IGFBP-3 podem reduzir a fração biologica- mente ativa do IGF-1 e estar relacionado à baixa VC. Muito mais que a um efeito direto do tratamento com GnRHa, a redução da concentração de GH tem sido correlacionada ao aumento do IMC (45). Pacientes com VC lenta durante o uso do GnRHa podem ser tratados com a associação de GH

Monte, Longui & Calliari

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