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ATRAVESSANDO AS COLUNAS | No Esquadro, Resumos de Construção

As Colunas Jachin2 (ou Jaquim) e Boaz (ou Booz3) estão presentes na ... de iluminação pública não necessariamente condena um significado mais nobre:.

Tipologia: Resumos

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Maracana85
Maracana85 🇧🇷

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ATRAVESSANDO AS COLUNAS
Kennyo Ismail1
1. Introdução
As Colunas Jachin2 (ou Jaquim) e Boaz (ou Booz3) estão presentes na decoração de
praticamente todos os templos e salas de loja4 maçônica do mundo, seja fisicamente ou, pelo
menos, em ilustração (e.g.: Rito de Schröder)5.
Apresentadas de diferentes formas e em diferentes lugares, os significados dos
elementos que as compõem e as razões de suas apresentações, de certo modo distintas das
descrições bíblicas, costumam gerar dúvidas a muitos maçons.
Sendo, junto de outros como o esquadro e o compasso, a pedra bruta e a polida, o
pavimento mosaico e a estrela flamígera, um dos elementos simbólicos mais comuns à
Maçonaria Universal, é de fundamental importância que seu estudo seja estimulado, de forma
que o entendimento a respeito ultrapasse o conhecimento raso de apenas saber seus nomes e
lugares em loja.
2. Origem
O que todo mundo sabe é que as colunas Jaquim e Boaz estão relacionadas ao Templo
do Rei Salomão. Mas o que pouco se menciona é que duas colunas eram presentes na
tradição judaica desde o Êxodoi: "E o Senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem
para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo para os iluminar, para que
caminhassem de dia e de noite. Nunca tirou de diante do povo a coluna de nuvem, de dia, nem
a coluna de fogo, de noite" (Êxodo 13: 21,22).ii
1 Kennyo Ismail é escritor, revisor técnico, editor, palestrante, professor e pesquisador. Na Maçonaria
Simbólica, é VM da Loja de Pesquisas "Dom Bosco #33" - GLMDF (2019-2021).
2 Grafia comum em língua inglesa, mas cuja pronúncia é similar à grafia em português: Jaquim.
3 Booz é uma transliteração equivocada, baseada na Vulgata.
4 Sala de Loja (em inglês, Lodge Room) é termo comum na Maçonaria Anglosaxônica para se referir ao
local de reuniões das lojas maçônicas. Peço licença aos leitores para, a partir daqui, utilizar apenas o
termo "templo" neste artigo, por ser mais comum no Brasil e assim facilitar a escrita e a leitura.
5 Sim, Rito "de" Schröder, porque a língua portuguesa não comporta apenas " Rito Schröder" como
alguns preferem. É necessária a preposição "de", com a função de ligação entre substantivos ou
equivalentes. Outra opção gramaticalmente correta seria chamar de "Rito Schröderiano".
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ATRAVESSANDO AS COLUNAS

Kennyo Ismail^1

1. Introdução

As Colunas Jachin^2 (ou Jaquim) e Boaz (ou Booz^3 ) estão presentes na decoração de praticamente todos os templos e salas de loja^4 maçônica do mundo, seja fisicamente ou, pelo menos, em ilustração (e.g.: Rito de Schröder)^5.

Apresentadas de diferentes formas e em diferentes lugares, os significados dos elementos que as compõem e as razões de suas apresentações, de certo modo distintas das descrições bíblicas, costumam gerar dúvidas a muitos maçons.

Sendo, junto de outros como o esquadro e o compasso, a pedra bruta e a polida, o pavimento mosaico e a estrela flamígera, um dos elementos simbólicos mais comuns à Maçonaria Universal, é de fundamental importância que seu estudo seja estimulado, de forma que o entendimento a respeito ultrapasse o conhecimento raso de apenas saber seus nomes e lugares em loja.

2. Origem

O que todo mundo sabe é que as colunas Jaquim e Boaz estão relacionadas ao Templo do Rei Salomão. Mas o que pouco se menciona é que duas colunas já eram presentes na tradição judaica desde o Êxodoi: "E o Senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo para os iluminar, para que caminhassem de dia e de noite. Nunca tirou de diante do povo a coluna de nuvem, de dia, nem a coluna de fogo, de noite" (Êxodo 13: 21,22).ii

(^1) Kennyo Ismail é escritor, revisor técnico, editor, palestrante, professor e pesquisador. Na Maçonaria Simbólica, é VM da Loja de Pesquisas "Dom Bosco #33" - GLMDF (2019-2021). 2 3 Grafia comum em língua inglesa, mas cuja pronúncia é similar à grafia em português: Jaquim. 4 Booz é uma transliteração equivocada, baseada na Vulgata. Sala de Loja (em inglês, Lodge Room ) é termo comum na Maçonaria Anglosaxônica para se referir ao local de reuniões das lojas maçônicas. Peço licença aos leitores para, a partir daqui, utilizar apenas o termo "templo" neste artigo, por ser mais comum no Brasil e assim facilitar a escrita e a leitura. 5 Sim, Rito " de" Schröder, porque a língua portuguesa não comporta apenas " Rito Schröder" como alguns preferem. É necessária a preposição "de", com a função de ligação entre substantivos ou equivalentes. Outra opção gramaticalmente correta seria chamar de "Rito Schröderiano".

Essa pode ter sido, de fato, a inspiração para as colunas Jaquim e Boaz na construção do Templo,iii^ visto que o Templo viria a se tornar o triunfo do êxodo, substituindo o tabernáculo, que servia de morada temporária durante a longa jornada. Assim, como Deus havia utilizado as colunas para guiar o povo até a terra prometida, e nunca tiraria diante do povo essas colunas, elas precisavam, de algum modo, repousar junto ao templo, casa definitiva do Senhor e seu povo.

O fato é que, ao que tudo indica, as duas colunas não tinham a finalidade de sustentação, mas de ornamentação, tanto pelas descrições bíblicas a respeito, que mencionam seus capitéis como se não houvesse qualquer suporte horizontal sobre elas, como pelo material com que foram feitas, bem como por serem dotadas de nomes.

Ainda, acadêmicos que estudam o tema sugerem que a ideia de inclusão das duas colunas à frente do Templo, e mesmo de seus detalhes, pode ter partido de Hiram Abiff, responsável por sua produção e natural de Tiro, onde havia um templo com pilares similares, dedicado a Hércules.iv

Contudo, existe a possibilidade de que essa ornamentação também tinha uma utilidade. Smith foi um dos defensores da teoria de que as colunas também serviam de bases para grandes braseiros, de forma a iluminar a fachada do Templo de noite, indicando sua localização.v^ Apesar de alguns religiosos se apressarem em rechaçar essa teoria, essa finalidade de iluminação pública não necessariamente condena um significado mais nobre: partindo da ideia de representação das colunas da Nuvem (dia) e Fogo (noite), do Êxodo, os braseiros ofereciam Fogo pela noite e, pela manhã, a grande nuvem de fumaça indicaria a posição do Templo aos que estivessem até a quilômetros de distância.

3. Posição

É importante ressaltar que essa presença, física ou ilustrativa, é universalmente no interior do templo maçônico, apesar de uma interpretação literal das sagradas escrituras terem levado a alguns ritualistas brasileiros de um rito específico em determinada potência a retirar as colunas de seus templos, posicionando-as no átrio.

Há que se levar em consideração o fato de que o templo maçônico não é uma cópia do Templo de Salomão, mas alegoricamente o representa, de diferentes formas, nos diferentes graus. Há muitos elementos contidos no Templo de Salomão, conforme as Sagradas Escrituras, que não se fazem presentes em um templo maçônico: dez castiçais, mesa de ouro

existente até então, para que não se perdesse para sempre. Essa lenda chegaria até as chamadas "Old Charges"^7 da Maçonaria, como as registradas no Manuscrito de Cooke, em que se tem as duas Colunas, mas como feitas pelos filhos de Lameque.

Em uma das versões das Old Charges , chamada Versão Original Padrão, tem-se no capítulo 5, "As duas colunas":

Vou dizer como começou esta nobre ciência. Antes do dilúvio de Noé, havia um home, Lameque, com duas esposas, Ada e Sella. E tinha três filhos e uma filha, que iniciaram todas as artes do mundo. O filho mais velho, Jabel, fundou a arte da Geometria. Outro, Jubal, fundou a arte da Música. O terceiro, Tubalcaim, a arte de trabalhar com metais. E sua irmã a arte da tecelagem. E escreveram suas ciências em duas colunas de pedra, para reencontrá-las após o dilúvio.vii

4. Forma

Há duas formas mais comuns de apresentação das colunas Jaquim e Boaz na Maçonaria. Aquela hegemônica nos ritos e rituais anglosaxônicos é de colunas encimadas por globos, sendo um o globo terrestre e o outro o globo celeste. Já as versões latinas costumam apresentar as colunas encimadas por romãs, sendo originalmente taças com romãs e, habitualmente, três grandes romãs em posição triangular.

O Rito Escocês Antigo e Aceito no Brasil, de origem latina, até há alguns anos não fugia da regra. O ritual de 1874 do Grande Oriente do Brasil, na descrição do ornato do Templo, trazia a informação de que: "No Occid∴ estarão duas CCol∴ de bronze, de ordem coríntia, em cujos capitéis haverão três romãs entreabertas, no fuste das mesmas estarão gravadas as letras J na da direita e a letra B na da esquerda".

Similarmente, a 1ª edição do ritual de Mário Behring para o REAA, publicado em 1928, traz a seguinte informação:

De cada lado da entrada do Templo fica uma Coluna, de altura proporcional à porta. Estas Colunas são encimadas por capitéis, com sete ordens de malhas entrelaçadas. Rematando os capitéis, duas ordens de romãs ao redor das malhas. A Coluna da direita chama-se J∴ e a da esquerda B∴.viii

Já o ritual de Companheiro de Ofício da Grand Lodge of the State of New York - GLSNY, tomado aqui como exemplo de um ritual de origem anglosaxônica, apresenta as colunas encimadas pelos globos terrestre e celeste, justificando isso pela possibilidade de, ao

(^7) Também conhecidas como Constituições Góticas da Maçonaria.

contemplá-los, reverenciar a grande obra de Deus e se motivar ao estudo de ciências como astronomia, geografia e outras correlatas.ix

Entretanto, possivelmente por interpretação literal de uma versão bíblica específica de alguma das várias passagens que mencionam a ornamentação das duas colunas, não é incomum deparar-se com misturas dessas duas versões no Brasil, com colunas contendo em seu topo globos ladeados por romãs ou, ainda, uma coluna contendo globo e a outra contendo romãs. Outra provável influência para tais misturas são os painéis franceses do REAA, dos graus de Aprendiz e Companheiro, nos quais as Colunas são encimadas por romãs no painel do grau de Aprendiz e por globos no de Companheiro.

A existência dessas duas versões predominantes, de globos (anglosaxônica) e de romãs (latina), pode ser compreendida pelas diferentes traduções da Bíblia, cuja divergência sobrevive até nas edições mais atuais. Como exemplo, tomemos a popular edição "Almeida Corrigida Fiel": "Os capitéis, pois, sobre as duas colunas estavam também defronte, em cima da parte globular que estava junto à rede; e duzentas romãs, em fileiras em redor, estavam também sobre o outro capitel" (ACF, 1 Reis 7:20).x^ E agora, a mesma passagem, na edição da não menos popular "Nova Versão Internacional": "Nos capitéis das duas colunas, acima da parte que tinha formato de taça , perto do conjunto de correntes, havia duzentas romãs enfileiradas ao redor" (NVI, 1 Reis 7:20).xi

Assim, tem-se, em diversas bíblias, essa divergência de tradução do grego, em que as colunas são apresentadas com globos ou taças em seus ápices, o que leva alguns teóricos a defender a ideia de que eram vasos em forma de romãs, que são similares a globos, mas com uma espécie de abertura superior em forma de coroa, ideia essa comum aos defensores de que as colunas eram grandes tochas de fogo.

A predominância da versão das colunas encimadas com globos nos primeiros rituais maçônicos provavelmente teve influência da interpretação popularizada a partir da famosa Bíblia de Genebra (1560), rica em ilustrações, sendo que uma delas apresentava as duas colunas com globos em seus topos.xii^ Era a versão bíblica popularizada na Inglaterra e Escócia antes da Versão do Rei James, de 1611. E, após a publicação da autorizada pelo Rei James, permaneceu sendo vendida até meados de 1644, quando parou de ser publicada.

Apesar dos antigos gregos conhecerem o formato esférico da Terra e terem criado a visão do céu estrelado também como uma esfera,xiii^ as descrições bíblicas acerca das colunas Jaquim e Boaz tornam extremamente improvável essa herança e aplicação pelos judeus no

supostamente um sacerdote que servia de assistente do Sumo Sacerdote que conduziria a dedicação do Templo.

Assim, não há como interpretar uma coluna em separado da outra, visto que ambas são as duas metades de uma mesma mensagem, que pode muito bem ser resumida por outra passagem bíblica: "Mas es força i-vos, e não desfaleçam as vossas mãos; porque a vossa obra tem uma recompensa" (2 Crônicas 15:7). Em outras palavras, todo o esforço será recompensado. Outra passagem bíblica que explora o significado dos nomes Jaquim e Boaz é: "O Senhor dará força ao seu povo; o Senhor abençoará o seu povo com paz" (Salmos, 29: 11).xv

Essas mensagens estão diretamente relacionadas a trabalho, esforço, construção, e, principalmente, fé em Deus e Sua recompensa divina.

5. Significado dos símbolos

As romãs ingressaram na decoração das colunas pela descrição bíblica (e.g.: 1 Reis 7: 18). São frutas comuns no Oriente Médio, assim como figos e uvas. Há diversas menções a romãs em outros livros do Antigo Testamento, como Êxodo, Números e Cânticos. E, especialmente em Êxodo, a figura da romã está presente na decoração do manto sacerdotal que compunha as vestes litúrgicas do Sumo Sacerdote dos judeus, provavelmente como símbolo de abundância, prosperidade, lembrando que se trata de uma fruta "coroada", pela forma de suas sépalas, que persistem no fruto.

Já os globos terrestre e celeste mantêm o significado das duas colunas originais, "da nuvem" (dia) e "do fogo" (noite). O Globo Terrestre é símbolo do dia, horário em que o homem trabalha, esforça-se (força, Boaz), e pode vislumbrar as coisas do homem sobre a Terra, mas nada além das nuvens). Já o Globo Celeste é símbolo da noite, quando o homem descansa de seu labor, contando apenas com a iluminação artificial (fogo), mas pode vislumbrar a obra do Grande Arquiteto do Universo (Jaquim) ao olhar para as incontáveis estrelas do céu, vistas de noite.

Essa visão dual de dia e noite coaduna com a apresentada numa obra clássica da literatura rabínica, Midrash Tadshe , publicada originalmente no Século II, na qual Jachin representa a Lua e Boaz representa o Sol.xvi

Ou seja, tem-se o Microcosmo e o Macrocosmo, o homem que constrói o templo e Deus que constrói o Universo, criatura e Criador; ao tempo em que se tem a dualidade envolta

nessas relações, de nuvem e fogo, sol e lua, dia e noite, trabalho e descanso, material e espiritual, física e filosófica, vida e morte.

6. Considerações finais Não se pretende, de forma alguma, apresentar uma visão positivista de que uma ou outra versão das duas colunas é a correta, nem mesmo a melhor. Afinal de contas, cada Grande Loja e Grande Oriente é soberano sobre os detalhes dos rituais adotados em sua jurisdição.

Assim, cabe aqui apenas fazer o alerta de que as colunas Jaquim e Boaz das lojas não são Salomônicas, mas Maçônicas, ou seja, são representações maçônicas daquelas do Primeiro Templo. E por essa razão, quando da construção ou reforma de um templo maçônico, o lugar adequado para consultar seus adornos é no Ritual e não na Bíblia.

A sugestão é que, se o ritual por vossa potência fornecido apresenta misturas de esferas, romãs e até cornucópias, lembre-se que nem toda mistura é ruim. Há quem goste de queijo com goiabada, de bolo de cenoura com chocolate, arroz com feijão, coca-cola com rum, etc. Gostar ou não de misturas é um juízo de valor que, no meio maçônico, deve sempre ser equilibrado com a tolerância.

O objetivo do artigo foi de proporcionar um pouco mais de conhecimento sobre esses símbolos monumentais, praticamente impossíveis de não serem vistos em uma reunião maçônica; compreendendo as mudanças que foram sofrendo ao longo da história maçônica e; principalmente, percebendo os significados e lições neles veladas. Daí a escolha do nome, "Atravessando as Colunas": atravessar significa "passar através", que também tem o sentido de conhecer, de vivenciar. E se precisamos atravessar essas colunas para ter acesso às bênçãos, conhecimentos, tesouros encerrados em nosso templo interior, que saibamos identificá-las em nossas vidas, ler suas mensagens e adentrar em seu pórtico na devida forma.

NOTAS: i (^) VOSS, C. L. The Universal Language of Freemasonry. Tese de Doutorado em Filosofia. Düsseldorf: Universidade Johannes Gutenberg, 2003. ii iiiBÍBLIA SAGRADA. Bíblia King James - 1611. Niterói: Bvbooks, 2018. COIL, H. W.; BROWN, W. M. Pillars and CColumns. In: Coil's Masonic Encyclopedia. New York: Macoy,

  1. iv ISSERLIN, B. S. Israelite Art During the Period of the Monarchy. In: Cecil Roth (Ed.), Jewish