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Redes Dinâmicas no Ensino Superior e Pesquisa: Hélice Tripla Tradicional e Pública-Social, Resumos de Economia

Este artigo explora as redes dinâmicas no ensino superior e pesquisa no Brasil, analisando os padrões de interação e a tipologia dual no formato hélice tripla tradicional e no formato hélice tripla pública-social. Discute diferentes enfoques internacionais para explicar o desenvolvimento institucional e a inovação através de redes de atores. No Brasil, o sistema nacional de inovação é descrito como um mito, com atividades concentradas nos institutos públicos de pesquisa e no sistema público de pesquisa e ensino superior. As transformações no sistema público levaram à aceleração de formatos estratégicos de articulação entre a universidade e seu entorno, resultando em redes de inovação econômica e social. Aponta duas tendências para superar a crise: modernização via transdução de padrões internacionais e ativismo científico e tecnológico para inclusão social.

O que você vai aprender

  • Quais são os dois formatos de hélice tripla discutidos no artigo?
  • Qual é a análise feita neste artigo sobre as redes dinâmicas no sistema brasileiro de ensino superior e pesquisa?

Tipologia: Resumos

2020

Compartilhado em 30/06/2020

leandrowdiniz
leandrowdiniz 🇧🇷

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Liinc em Revista, v.4, n.1, março 2008, Rio de Janeiro, p.138-153 http://www.ibict.br/liinc 138
As redes do desenvolvimento econômico e social no sistema de
ensino superior brasileiro
Elói Martins Senhoras*
Resumo O artigo estuda as mais dinâmicas redes que têm sido articuladas dentro do sistema
público de ensino superior e pesquisa brasileiro, findando, por um lado, desenvolver uma análise
dos padrões de interação e, e por outro lado, avaliar a tipologia dual existente de interação
reticular no formato hélice tripla tradicional (universidade-empresa-governo) e no formato
hélice tripla público-social (universidade-governo-sociedade). Com essa discussão pretende-se
fornecer os subsídios para a garantia de pluralidade e o aprofundamento do debate sobre os
atores e forças que moldam a arquitetura das redes do desenvolvimento econômico e social no
ensino superior brasileiro.
Palavras chaves agências de inovação, empresas juniores, incubadoras, redes, tripla hélice.
Economic and social development networks in the Brazilian higher education system
Abstract This article focus the most dynamic networks that have been articulated in the
Brazilian public system of higher education and research in order to make an overview analysis
of the interaction patterns and to evaluate the dual typology of the traditional triple helix
(university-company-government) and the public-social triple helix (university-government-
society). Throughout this discussion assistance is supplied to warranty plurality and depth for the
debate about the actors and the driven forces that shape the architecture of the networks of the
economic and social development in the Brazilian higher education system.
Keywords incubators, innovation agencies, junior enterprises, networks, triple helix.
Introdução
A noção de rede tem sido avaliada de uma maneira plural por diferentes interpretações que
envolvem desde a compreensão de uma representação espacial até a identificação de um
conjunto articulado de atores.
* Economista, cientista político e especialista posgraduado em Administração - gestão estratégica de empresas pela
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); visiting scholar na University of Texas at Austin (UT), na
Universidad de Buenos Aires (UBA) e na National Defense University (NDU); visiting researcher na University of
British Columbia (UBC) e na University of California, Los Angeles (UCLA). Contato: Universidade Estadual de
Campinas, Instituto de Geociências (IG), Rua Pandiá Calógeras, 51 Campinas, SP. CEP. 13080-970, telefone (19)
3296-4781 e e-mail eloi@ige.unicamp.br
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Liinc em Revista, v.4, n.1, março 2008, Rio de Janeiro, p. 138 - 153 http://www.ibict.br/liinc

As redes do desenvolvimento econômico e social no sistema de

ensino superior brasileiro

Elói Martins Senhoras


Resumo O artigo estuda as mais dinâmicas redes que têm sido articuladas dentro do sistema

público de ensino superior e pesquisa brasileiro, findando, por um lado, desenvolver uma análise

dos padrões de interação e, e por outro lado, avaliar a tipologia dual existente de interação

reticular no formato hélice tripla tradicional (universidade-empresa-governo) e no formato

hélice tripla público-social (universidade-governo-sociedade). Com essa discussão pretende-se

fornecer os subsídios para a garantia de pluralidade e o aprofundamento do debate sobre os

atores e forças que moldam a arquitetura das redes do desenvolvimento econômico e social no

ensino superior brasileiro.

Palavras chaves agências de inovação, empresas juniores, incubadoras, redes, tripla hélice.

Economic and social development networks in the Brazilian higher education system

Abstract This article focus the most dynamic networks that have been articulated in the

Brazilian public system of higher education and research in order to make an overview analysis

of the interaction patterns and to evaluate the dual typology of the traditional triple helix

(university-company-government) and the public-social triple helix (university-government-

society). Throughout this discussion assistance is supplied to warranty plurality and depth for the

debate about the actors and the driven forces that shape the architecture of the networks of the

economic and social development in the Brazilian higher education system.

Keywords incubators, innovation agencies, junior enterprises, networks, triple helix.

Introdução

A noção de rede tem sido avaliada de uma maneira plural por diferentes interpretações que

envolvem desde a compreensão de uma representação espacial até a identificação de um

conjunto articulado de atores.

  • Economista, cientista político e especialista posgraduado em Administração - gestão estratégica de empresas pela

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); visiting scholar na University of Texas at Austin (UT), na

Universidad de Buenos Aires (UBA) e na National Defense University (NDU); visiting researcher na University of

British Columbia (UBC) e na University of California, Los Angeles (UCLA). Contato: Universidade Estadual de

Campinas, Instituto de Geociências (IG), Rua Pandiá Calógeras, 51 Campinas, SP. CEP. 13080-970, telefone (19)

3296 - 4781 e e-mail eloi@ige.unicamp.br

Liinc em Revista, v.4, n.1, março 2008, Rio de Janeiro, p. 138 - 153 http://www.ibict.br/liinc

As redes podem ser interpretadas pela imagem de uma teia, que estruturalmente é composta por

nós , que representam espaços fixos ou atores, e que estão conectados por um conjunto de linhas ,

que correspondem aos espaços de fluxos e aos laços entre os atores. Apesar da ausência de uma

visão única ou consensual, observa-se nas interpretações sobre as redes que uma característica

geralmente comum é presença de uma fluidez reticular que pode ser embasada em uma conexão

de espaços ou de atores.

Pensar a sociedade de redes é atentar para a polissemia de diferentes perspectivas dinâmicas

conectadas entre espaços e atores que dão o suporte real à circulação e à comunicação, uma vez

que as redes são variáveis relacionais de meios e fins às articulações espaciais e sociais.

Neste sentido, o estudo das redes tem grande importância como ferramenta para análise e

compreensão da dinâmica relacional entre espaços e entre atores, pois elas são, ao mesmo tempo,

um híbrido de artefatos técnicos, implantados em determinados espaços com a função de exercer

um poder de conexão, e de relações entre atores , que articulam artefatos técnicos segundo

determinados objetivos específicos. As redes de atores têm sido cada vez mais reconhecidas e

crescentemente participam dos mais importantes processos decisórios uma vez que elas suscitam

mudanças nas formas de estruturação organizacional, nos estilos de gestão e de relacionamento.

Segundo Moraes (2004) uma rede de atores incorpora uma geometria variável e híbrida de uma

série de agentes conectados por meio de alianças dinâmicas que são capazes de produzir uma

estrutura altamente diferenciada e de gerir e transformar seus componentes, identidades e

relações mútuas.

Os atores passam a se relacionar por meio de redes institucionalizadas em função do potencial de

geração de uma série de externalidades positivas causadas pelo adensamento social. Isto porque

a ação reticular integrada e interdependente dos atores cria brechas dinâmicas de escala e escopo

para o surgimento de inovações sociais e econômicas e para a diminuição de custos em razão da

complementaridade de competências e de especialização.

Independentemente dos graus de formalização ou dos padrões de relacionamento vertical ou

horizontal, as redes de atores representam uma resposta eficaz a situações complexas e de grande

incerteza, pois elas promovem uma oportunidade para a troca de conhecimento e cooperação

entre seus participantes (DÉTRIE, 1999).

Em diferentes países e em diferentes tempos, surgiram diversos enfoques que têm tratado de

explicar o fenômeno do desenvolvimento institucional e da inovação por meio de redes de atores,

tais como o denominado Sistema Nacional de Inovação , que transfere às organizações

empresariais o papel preponderante no desenho de governança; o modelo do Triângulo de

Sábato , no qual o Estado ocupa lugar privilegiado; ou os estudos de Hélice Tripla Tradicional

que falam de universidades empreendedoras protagonizando a arquitetura do desenvolvimento.

Tradicionalmente, nos países avançados, os principais atores que compõem um sistema nacional

de geração e apropriação de conhecimento e de inovação são as empresas, as universidades e o

governo, com forte destaque para os dois primeiros elos de inter-relação. No Brasil, como o

sistema nacional de inovação é muito mais um mito do que uma forma sistêmica e articulada, as

atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico concentraram-se, fundamentalmente, nos

institutos públicos de pesquisa e no sistema público de pesquisa e de ensino superior (SPPES) ,

através de um forte apoio estatal, mas com pouca articulação com os demais atores.

Com a reforma do Estado ao longo da década de 90, que criou uma série de mudanças estruturais

na lógica de funcionamento da sociedade brasileira diante das mudanças do bloco no poder, do

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segmentos da sociedade nacional suas estruturas, finalidades e conteúdos para a superação dos

problemas.

No caso brasileiro, em particular, um fator desmoralizante da atuação acadêmica tem sido as

estratégias de luta do movimento estudantil e dos professores, há muito tempo convergentes em

seus objetivos e agora ineficazes pela gama de diferentes efeitos da globalização em nível

mundial. Até recentes tempos, as lutas eram convergentes na medida em que a ditadura militar

oferecia um alvo comum para as diferentes demandas sociais. Redefinido esse problema

conjuntural com o processo de “redemocratização” do país, cada segmento teve que buscar sua

identidade, encarcerando-se em suas próprias transitoriedades enquanto categorias sociais.

Os principais caminhos de superação da crise apontaram para duas tendências seletivas que se

manifestaram enquanto discursos divergentes, mas que se efetivaram através de um padrão

bifurcado de redes: a) em primeiro lugar, com um viés de modernização via transdução de

padrões internacionais, propondo um esquema de interação no formato de hélice tripla

tradicional; e b) em segundo lugar, com um viés crítico de ativismo científico e tecnológico para

funcionalidade da inclusão social no formato de uma hélice tripla público social.

O padrão bifurcado de redes universitárias vem de encontro ao modelo dinâmico de relações no

formato de hélices tríplices gêmeas, que é formado por uma tripla hélice sustentável

(universidade-público-governo) complementar à tripla hélice da inovação (universidade-

indústria-governo) segunda a proposição de Etzkowitz e Zhou (2006).

As diferenças entre as hélices, mais do que empecilhos, representam dois lados de uma mesma

moeda, complementos de uma relação concorrente yin-yang, que se estrutura por meio de redes

de atores com diferentes interesses.

Figura 1 - Dinâmica de Institucionalização do

Conhecimento e do Desenvolvimento Tecnológico no SPPES

Fonte: Elaboração Própria

No primeiro caminho, o formato estratégico de gestão do conhecimento e da inovação no

SPPES, a partir do modelo reticular de Hélice Tripla Tradicional , está alicerçado na suposição

Hélice Tripla

Tradicional

Desenvolvimento

Institucional no

SPPES

Hélice Tripla

Público-Social

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de que, através da introdução de certos aperfeiçoamentos e inovações nas instituições de ensino

superior, estas possam se aproximar do padrão de qualidade de serviços em C&T dos países

avançados. Mantém-se, assim, a agenda de C&T autônoma à política, mas permeável aos

reflexos da comunidade científica internacional.

Segundo Fujino (2005), na tese da hélice tríplice tradicional a interação hierarquizada

universidade–indústria–governo é a chave para melhorar as condições para inovação em uma

sociedade baseada no conhecimento, pois se trata de uma forma de cooperação que busca o

compartilhamento do mesmo por meio da interação e cooperação de atores, visando,

principalmente, a inovação tecnológica e a capacidade de difusão e incorporação de tecnologias.

No segundo caminho, o formato estratégico está alicerçado no modelo reticular de Hélice Tripla

Público-Social , que pressupõe que o SPPES deve responder às necessidades sociais específicas

de forma ativa, com preocupação e comprometimento da agenda de ensino, pesquisa e extensão

para a solução de problemas locais, regionais e nacionais de inclusão social.

A partir destas redes público-sociais de interação de hélice tripla entre a universidade, o governo

(em níveis descentralizados) e a sociedade (através de movimentos sociais), apreende-se o

SPPES como espaço institucional privilegiado de diálogo com os outros dois atores e propulsor

de iniciativas de geração e difusão de idéias e projetos de fim social.

A despeito das diferenças registradas entre os caminhos bifurcados de estratégias adotadas pelas

universidades, observa-se que a arquitetura em redes de hélices triplas representa a elaboração de

um novo contrato social entre o SPPES, o Estado, a economia e a sociedade, com o surgimento

de novas interações, funções e responsabilidades.

A abordagem de um caminho bifurcado de hélices tríplices situa a dinâmica da inovação em um

contexto em evolução, onde novas e complexas relações se estabelecem entre as esferas

institucionais ou hélices que são a universidade, a indústria, a sociedade e o governo.

Hélice Tripla

Tradicional

Está alicerçada na suposição de que, através da introdução de certos

aperfeiçoamentos e inovações nas IES, elas possam aproximar-se ao padrão de

qualidade de serviços em C&T dos países avançados, mantendo a agenda de

C&T autônoma à política, mas permeável aos reflexos da comunidade científica

internacional. Na tese da hélice tríplice tradicional, a interação hierarquizada

universidade–indústria–governo se apóia na teoria da inovação, segundo a qual a

inovação ocorre na empresa, sendo os demais agentes (universidade e governo)

fatores determinantes para a competitividade.

Hélice Tripla

Público-Social

Pressupõe que o SPPES deve responder às necessidades sociais específicas de

forma ativa, com preocupação e comprometimento da agenda de ensino, pesquisa

e extensão para a solução de problemas locais, regionais e nacionais de inclusão

social. Nessas redes de interação de hélice tripla entre a universidade, o governo

(em níveis descentralizados) e a sociedade (através de movimentos sociais),

apreende-se o SPPES como espaço institucional privilegiado de diálogo com os

outros dois atores e propulsor de iniciativas de geração e difusão de idéias e

projetos de fim social.

Quadro 1 - As Políticas de baixo para cima nos formatos de Hélice Tripla

Fonte: Elaboração própria. Baseada em Senhoras (2005).

As relações dentro destas redes são derivadas de transformações internas em cada hélice, das

influências de cada hélice sobre as demais, da criação de novas redes surgidas da interação entre

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Gráfico 1 – Principais fóruns de incubação no Brasil

Fonte: Anprotec (2002).

Uma incubadora é constituída por uma entidade coordenadora e algumas empresas incubadas. As

incubadoras, ao oferecerem infra-estrutura, apoio técnico, administrativo e de serviços,

simultaneamente diminuem os riscos de fracasso do empreendedor e criam um ambiente

encorajador, com custos e impostos minimizados, facilitador do desenvolvimento inicial da

empresa.

No período recente, verifica-se um maior interesse das Universidades juntamente com outras

instituições e com os governos estaduais nos projetos de implantação de incubadoras, como

forma de fornecer infra-estrutura para as microempresas começarem a funcionar.

Nesse novo paradigma de novas responsabilidades e posicionamentos das universidades

brasileiras públicas e privadas, as incubadoras tornaram-se o principal instrumento para facilitar

o caminho que deve ser seguido entre a idéia do empreendedor e a sua efetivação, portanto

através de postura mais pró-ativa.

Como na universidade as incubadoras também se mostram como sendo um núcleo aglutinador,

de onde saem e partem vetores da integração universidade-empresa, para o sucesso da incubação

faz-se necessária a participação e cooperação, não somente das empresas interessadas, dos

órgãos de apoio e das instituições públicas e privadas, mas também se faz mister a constante

evolução e malheabilidade deste modelo de incubação universitária, como evidenciado

timidamente no caso brasileiro, que embora demonstre ser tripartite, tende a se projetar para um

modelo superior, devido às especificidades e complexidades de cada universidade.

O segundo formato institucional bem sucedido de hélice tripla tradicional nas universidades tem

sido as Empresas Juniores (EJs), por conseguirem um adequado “casamento” entre teoria e

prática. As empresas juniores, ao agirem como um articulador na integração entre a universidade

e as empresas, através do oferecimento de ferramentas de pesquisa e a realização de projetos,

colaboram para o aumento das chances de sobrevivência no mercado, principalmente daquelas

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pequenas e médias empresas que não possuem recursos para o investimento em Pesquisa &

Desenvolvimento (P&D).

As EJs se configuram como um núcleo central de onde são engendradas e para onde convergem

interações no plano da Universidade e no plano das Empresas. Os vetores de interação se

direcionam dentro da rede universitária para laboratórios, bibliotecas e aproximação científico-

tecnológica docente-aluno, e também exteriormente a ela, com a satisfação das demandas

empresariais e para a formação de redes empreendedoras.

Figura 2 - Vetores de Integração Empresa-Universidade através das EJs

Fonte: Elaboração própria

A integração entre a universidade e a empresa se dá mediante a troca de benefícios entre estes

dois participantes através da ponte estabelecida pelas EJs, criando oportunidades para os alunos

de graduação para a aplicação prática de seus conhecimentos técnicos, o que contribui para a

vivência prático-profissional como consultor júnior, desenvolvendo habilidades gerenciais e

visão empresarial. A partir desta experiência, o futuro profissional é estimulado no processo de

formação do caráter empreendedor, antecipando a realidade e preparando-os para a prática

profissional ou até a criação de suas próprias empresas.

As EJs são importantes mecanismos dinamizadores da relação empresa-universidade, onde

muitos dos alunos que participaram ativamente do movimento são estimulados no caráter

“empreendedor” e montam empresas próprias através das incubadoras. Desse modo, o

envolvimento de alunos nas EJs tanto favorece a formação social, cultural e tecnológica, como

estimula o caráter empreendedor do futuro profissional.

Como o trabalho de uma EJ está relacionado ao desenvolvimento de projetos e na ampliação das

potencialidades de empreendedorismo, diversos alunos ou grupos de alunos dos cursos de alta

Incubadoras

Tecnológicas

Bibliotecas

Docentes &

Pesquisadores

Laboratórios &

Infraestrutura

E

E

J

J

s

s Empresas Indústrias

Ex-alunos

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a) Programas de Pesquisa e Desenvolvimento Cooperativos,

b) Programas de Parcerias Estratégicas,

c) Programas de Treinamento e Educação Continuada,

d) Programa de Desenvolvimento e Implantação de Parques Científicos,

e) Programas de Estímulo à Criação de Empresas de Base Tecnológica, e

f) Programa de Propriedade Intelectual – Registro e Licenciamento.

Por meio das agências de inovação, a missão de desenvolver pesquisas na fronteira do

conhecimento, transferir tecnologias para os setores público e privado e promover o

patenteamento das pesquisas e das tecnologias produzidas torna-se em uma baliza estratégica

para alavancar um formato pro-ativo da universidade como elemento nacional articulador do

desenvolvimento local e regional.

Figura 3 – Esfera Púbica das Redes de Hélices Triplas

Fonte: Elaboração Própria.

Por outro caminho estratégico de institucionalização do planejamento e da gestão do

conhecimento e do desenvolvimento tecnológico, tem havido uma maior inserção das

universidades também nos problemas sociais relativos aos locais de sua atuação, de forma a

contemplar a práxis interdisciplinar docente e a complementação acadêmica discente através de

projetos em extensão social no formato de uma tripla hélice público-social.

Os projetos têm nascido da combinação das demandas das prefeituras municipais e dos governos

estaduais, de um lado, e da disponibilização do acúmulo teórico e técnico-metodológico

realizado pela universidade, através das Agências de Inovação , das Incubadoras Tecnológicas de

Estado

Economia

Universidade

EJs

Agências

Inovação

Sociedade

Iniciativas

de

Universida

de Aberta

Incubações

Empresas

Juniores

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Cooperativas Populares (ITCPS) e, marginalmente, do voluntarismo de professores e alunos,

através das Pró-reitorias de Extensão e Assuntos Comunitários.

As incubadoras populares, em especial, têm se tornado um importante referencial para discutir e

propor alternativas locais em um formato em que interagem a própria universidade (como

instituição provedora de educação e recursos de ciência e tecnologia), o governo (como órgão

local mediador e aparelho decisor) e a própria sociedade (como ator beneficiado e

implementador das políticas através dos movimentos sociais).

Figura 4 - Tripé de Parcerias na Incubação

Fonte: Elaboração Própria.

Da primeira parte, são colocadas as necessidades imperiosas e imediatas de formulação e

execução de políticas públicas eficazes de desenvolvimento local e de combate ao desemprego,

para a geração de postos de trabalho, combinando perenidade, geração e distribuição de renda,

autonomia dos agentes, bem como contribuição ao desenvolvimento local, através do estímulo

ao empreendedorismo e à autogestão. Da outra parte, é colocada a necessidade de pôr em prática

o compromisso acadêmico das universidades e centros de pesquisa, de socialização do

conhecimento científico por meio da transferência de know-how e de tecnologias.

A proposta das incubadoras tecnológicas de cooperativas sociais tem uma característica de

aprendizagem social que conduz ao entendimento de que a construção da agenda de pesquisa e

de estudos é feita em função da participação da universidade junto à sociedade e à mudança dos

processos ou tecnologias sociais. Os objetivos educacionais priorizam a formação ética e o

desenvolvimento de um pensamento crítico dos jovens.

Embora a Hélice Tripla Público-Social ainda esteja marginal na agenda da comunidade

científica, percebe-se que lentamente ela tem se institucionalizado devido ao empreendedorismo

e dedicação de alguns poucos professores, de diversos alunos e da adesão de prefeituras e

movimentos sociais, a despeito dos entraves de financiamento.

Tal como acontecera com os formatos de institucionalização de Hélice Tripla Tradicional, os

desenvolvimentos da Hélice Tripla Público-Social certamente vão percorrer um longo caminho

dentro do SPPES até ganhar respaldo e adesão na comunidade científica. No entanto, é possível

queimar etapas ao aprender como late-comer que o trabalho em rede com outros atores externos

(através da interação com os diversos níveis de governos, movimentos sociais e projetos de

instituições nacionais e multilaterais) e com atores internos às universidades (através das

Cooperativa popular

Ator do desenvolvimento

econômico local

Universidade

Instituição provedora de educação

e recursos de ciência e tecnologia

Poder local

Órgão mediador,

Aparelho decisor

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Por isso, pode-se demonstrar que a responsabilidade social universitária quanto ao impacto

externo pode ser expressa pela combinação de duas dimensões básicas. Uma diz respeito à

capacidade de geração de conhecimentos e a outra se refere à efetividade de transferência de

tecnologia; ambas estão relacionadas com a capacidade das redes de hélice tripla tradicional e

público-social em trabalharem complementarmente e de forma proativa.

Considerando a capacidade de geração de novos conhecimentos e a efetividade de transferência

como elementos essenciais do valor agregado de uma universidade, maior será a

responsabilidade social, quanto mais elevados forem os quadrantes de sua atuação.

Quadro 2 - A Responsabilidade Social Universitária:

Geração de Conhecimento vs Efetividade de Transferência

Ótica da Responsabilidade social diante do impacto externo.

Fonte : Elaboração Própria_._

Ao avaliar os interesses enraizados no SPPES, percebe-se que existe de um duplo desafio ao

esquema analítico de responsabilidade social : a) político da democratização na exploração da

fronteira científica e tecnológica - requerido para atender aos problemas e necessidades da

população – e, b) administrativo do planejamento estratégico - requerido para a implementação

de novos valores e uma nova lógica de funcionamento - , uma vez que as principais contribuições

da universidade não têm sido dirigidas a uma finalidade pública de desenvolvimento social, mas

direcionadas a problemas empresariais e a suas respectivas necessidades tecnológicas.

Todas essas considerações corroboram para o entendimento do núcleo duro do SPPES, que,

através da comunidade docente e de pesquisa ( experts ), representa a construção social de uma

política de C&T, enquanto articuladora de uma malha de redes de diferentes atores (e interesses)

e institucionalizadora de estratégias que equilibram ou desequilibram os benefícios do trinômio

ciência-tecnologia-sociedade (EVANS & COLLINS, 2002; DAGNINO, 2004a).

+

- +

++

Efetividade de Transferência

(Ensino e Extensão)

Baixa Alta

Geração de Conhecimento (Cognitivo e Tecnológico)

Trajetória da Responsabilidade Social*

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Últimas Considerações

O desenvolvimento da gestão do conhecimento e do desenvolvimento tecnológico no SPPES é a

problemática que o texto se concentrou em analisar, a fim de melhor visualizar a dinâmica de

funcionamento das universidades através de uma rede de atores e interesses e os novos formatos

de suas institucionalizações.

Inicialmente, devido à natureza da análise da dinâmica de diferentes relações que variam entre as

redes de hélice tripla tradicional e público-social , este trabalho pretendeu utilizar uma

metodologia pluralística e interdisciplinar para absorver o que seria um entendimento

multifacetado sobre o tema. Esta escolha propôs uma abordagem que pode ser chamada

combinativa ou híbrida, que partiu da literatura e das contribuições analíticas da economia e da

sociologia da C&T e perpassou pela análise de políticas públicas , como alicerce interdisciplinar

para fazer uma da análise conjuntural das práticas de interação em redes do SPPES brasileiro.

Através do presente estudo foi possível identificar duplamente : a) as determinações relacionais

das redes de hélice tripla tradicional e público-social entre si e sobre o próprio funcionamento do

SPPES, e b) o funcionamento autopoético das tensões conflitivas e das articulações

complementares entre ambos processos estratégicos de articulação entre atores no SPPES e fora

dele com os atores da economia e da sociedade.

De fato, o texto propôs a adoção de um recorte relacional que priorizou a análise do SPPES, que

é dinâmico e está em constante transformação através dos movimentos inovadores e da

construção social (BIJKER, 1987).

A importância dessa abordagem sistêmica adotada reside na capacidade de fornecer uma visão à

aparente automaticidade de certos processos organizacionais no SPPES, os quais não se

explicam apenas por uma racionalidade intrinsecamente endógena ou por uma autonomia do

núcleo duro de pesquisas, mas são também o resultado do desenvolvimento do SPPES enquanto

uma construção socialmente influenciada por atores endógenos e exógenos.

Assim, determinadas estratégias reticulares no SPPES alcançaram um grau de diferenciação que

o tornou auto-referenciado através do desenvolvimento de instituições bem sucedidas, apesar da

adoção de caminhos e lógicas bifurcadas. Neste processo, que é um processo de emergência, a

regulação do SPPES deixa de ser apenas vertical e externa e passa a ser também uma função do

próprio funcionamento horizontal em redes, ganhando assim uma permeabilidade socialmente

construída condizente com uma governança descentralizada.

Por isso, as transformações institucionais do SPPES enquadram-se em um processo dinâmico

caracterizado pela agregação da função extensionista de desenvolvimento econômico e social às

já clássicas abordagens de ensino e pesquisa, através da formação de uma agenda bifurcada de

redes no formato de tripla hélice, com o surgimento de uma proposta intermediária entre o livre

mercado e o planejamento centralizado, que procura ultrapassar as limitações dos modelos

baseados em uma visão linear de desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia.

Essas transformações institucionais reticulares inserem, portanto, o entendimento da construção

social da C&T como um vetor de comunicação da universidade com o seu meio, possibilitando

sua realimentação face à problemática das necessidades da economia e da sociedade, e

propiciando uma reflexão crítica à revisão permanente de suas funções próprias de ensino,

pesquisa e extensão.

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