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Este artigo explora as redes dinâmicas no ensino superior e pesquisa no Brasil, analisando os padrões de interação e a tipologia dual no formato hélice tripla tradicional e no formato hélice tripla pública-social. Discute diferentes enfoques internacionais para explicar o desenvolvimento institucional e a inovação através de redes de atores. No Brasil, o sistema nacional de inovação é descrito como um mito, com atividades concentradas nos institutos públicos de pesquisa e no sistema público de pesquisa e ensino superior. As transformações no sistema público levaram à aceleração de formatos estratégicos de articulação entre a universidade e seu entorno, resultando em redes de inovação econômica e social. Aponta duas tendências para superar a crise: modernização via transdução de padrões internacionais e ativismo científico e tecnológico para inclusão social.
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Tipologia: Resumos
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Liinc em Revista, v.4, n.1, março 2008, Rio de Janeiro, p. 138 - 153 http://www.ibict.br/liinc
Elói Martins Senhoras
Resumo O artigo estuda as mais dinâmicas redes que têm sido articuladas dentro do sistema
público de ensino superior e pesquisa brasileiro, findando, por um lado, desenvolver uma análise
dos padrões de interação e, e por outro lado, avaliar a tipologia dual existente de interação
reticular no formato hélice tripla tradicional (universidade-empresa-governo) e no formato
hélice tripla público-social (universidade-governo-sociedade). Com essa discussão pretende-se
fornecer os subsídios para a garantia de pluralidade e o aprofundamento do debate sobre os
atores e forças que moldam a arquitetura das redes do desenvolvimento econômico e social no
ensino superior brasileiro.
Palavras chaves agências de inovação, empresas juniores, incubadoras, redes, tripla hélice.
Economic and social development networks in the Brazilian higher education system
Abstract This article focus the most dynamic networks that have been articulated in the
Brazilian public system of higher education and research in order to make an overview analysis
of the interaction patterns and to evaluate the dual typology of the traditional triple helix
(university-company-government) and the public-social triple helix (university-government-
society). Throughout this discussion assistance is supplied to warranty plurality and depth for the
debate about the actors and the driven forces that shape the architecture of the networks of the
economic and social development in the Brazilian higher education system.
Keywords incubators, innovation agencies, junior enterprises, networks, triple helix.
Introdução
A noção de rede tem sido avaliada de uma maneira plural por diferentes interpretações que
envolvem desde a compreensão de uma representação espacial até a identificação de um
conjunto articulado de atores.
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); visiting scholar na University of Texas at Austin (UT), na
Universidad de Buenos Aires (UBA) e na National Defense University (NDU); visiting researcher na University of
British Columbia (UBC) e na University of California, Los Angeles (UCLA). Contato: Universidade Estadual de
Campinas, Instituto de Geociências (IG), Rua Pandiá Calógeras, 51 Campinas, SP. CEP. 13080-970, telefone (19)
3296 - 4781 e e-mail eloi@ige.unicamp.br
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As redes podem ser interpretadas pela imagem de uma teia, que estruturalmente é composta por
nós , que representam espaços fixos ou atores, e que estão conectados por um conjunto de linhas ,
que correspondem aos espaços de fluxos e aos laços entre os atores. Apesar da ausência de uma
visão única ou consensual, observa-se nas interpretações sobre as redes que uma característica
geralmente comum é presença de uma fluidez reticular que pode ser embasada em uma conexão
de espaços ou de atores.
Pensar a sociedade de redes é atentar para a polissemia de diferentes perspectivas dinâmicas
conectadas entre espaços e atores que dão o suporte real à circulação e à comunicação, uma vez
que as redes são variáveis relacionais de meios e fins às articulações espaciais e sociais.
Neste sentido, o estudo das redes tem grande importância como ferramenta para análise e
compreensão da dinâmica relacional entre espaços e entre atores, pois elas são, ao mesmo tempo,
um híbrido de artefatos técnicos, implantados em determinados espaços com a função de exercer
um poder de conexão, e de relações entre atores , que articulam artefatos técnicos segundo
determinados objetivos específicos. As redes de atores têm sido cada vez mais reconhecidas e
crescentemente participam dos mais importantes processos decisórios uma vez que elas suscitam
mudanças nas formas de estruturação organizacional, nos estilos de gestão e de relacionamento.
Segundo Moraes (2004) uma rede de atores incorpora uma geometria variável e híbrida de uma
série de agentes conectados por meio de alianças dinâmicas que são capazes de produzir uma
estrutura altamente diferenciada e de gerir e transformar seus componentes, identidades e
relações mútuas.
Os atores passam a se relacionar por meio de redes institucionalizadas em função do potencial de
geração de uma série de externalidades positivas causadas pelo adensamento social. Isto porque
a ação reticular integrada e interdependente dos atores cria brechas dinâmicas de escala e escopo
para o surgimento de inovações sociais e econômicas e para a diminuição de custos em razão da
complementaridade de competências e de especialização.
Independentemente dos graus de formalização ou dos padrões de relacionamento vertical ou
horizontal, as redes de atores representam uma resposta eficaz a situações complexas e de grande
incerteza, pois elas promovem uma oportunidade para a troca de conhecimento e cooperação
entre seus participantes (DÉTRIE, 1999).
Em diferentes países e em diferentes tempos, surgiram diversos enfoques que têm tratado de
explicar o fenômeno do desenvolvimento institucional e da inovação por meio de redes de atores,
tais como o denominado Sistema Nacional de Inovação , que transfere às organizações
empresariais o papel preponderante no desenho de governança; o modelo do Triângulo de
Sábato , no qual o Estado ocupa lugar privilegiado; ou os estudos de Hélice Tripla Tradicional
que falam de universidades empreendedoras protagonizando a arquitetura do desenvolvimento.
Tradicionalmente, nos países avançados, os principais atores que compõem um sistema nacional
de geração e apropriação de conhecimento e de inovação são as empresas, as universidades e o
governo, com forte destaque para os dois primeiros elos de inter-relação. No Brasil, como o
sistema nacional de inovação é muito mais um mito do que uma forma sistêmica e articulada, as
atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico concentraram-se, fundamentalmente, nos
institutos públicos de pesquisa e no sistema público de pesquisa e de ensino superior (SPPES) ,
através de um forte apoio estatal, mas com pouca articulação com os demais atores.
Com a reforma do Estado ao longo da década de 90, que criou uma série de mudanças estruturais
na lógica de funcionamento da sociedade brasileira diante das mudanças do bloco no poder, do
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segmentos da sociedade nacional suas estruturas, finalidades e conteúdos para a superação dos
problemas.
No caso brasileiro, em particular, um fator desmoralizante da atuação acadêmica tem sido as
estratégias de luta do movimento estudantil e dos professores, há muito tempo convergentes em
seus objetivos e agora ineficazes pela gama de diferentes efeitos da globalização em nível
mundial. Até recentes tempos, as lutas eram convergentes na medida em que a ditadura militar
oferecia um alvo comum para as diferentes demandas sociais. Redefinido esse problema
conjuntural com o processo de “redemocratização” do país, cada segmento teve que buscar sua
identidade, encarcerando-se em suas próprias transitoriedades enquanto categorias sociais.
Os principais caminhos de superação da crise apontaram para duas tendências seletivas que se
manifestaram enquanto discursos divergentes, mas que se efetivaram através de um padrão
bifurcado de redes: a) em primeiro lugar, com um viés de modernização via transdução de
padrões internacionais, propondo um esquema de interação no formato de hélice tripla
tradicional; e b) em segundo lugar, com um viés crítico de ativismo científico e tecnológico para
funcionalidade da inclusão social no formato de uma hélice tripla público social.
O padrão bifurcado de redes universitárias vem de encontro ao modelo dinâmico de relações no
formato de hélices tríplices gêmeas, que é formado por uma tripla hélice sustentável
(universidade-público-governo) complementar à tripla hélice da inovação (universidade-
indústria-governo) segunda a proposição de Etzkowitz e Zhou (2006).
As diferenças entre as hélices, mais do que empecilhos, representam dois lados de uma mesma
moeda, complementos de uma relação concorrente yin-yang, que se estrutura por meio de redes
de atores com diferentes interesses.
Figura 1 - Dinâmica de Institucionalização do
Conhecimento e do Desenvolvimento Tecnológico no SPPES
Fonte: Elaboração Própria
No primeiro caminho, o formato estratégico de gestão do conhecimento e da inovação no
SPPES, a partir do modelo reticular de Hélice Tripla Tradicional , está alicerçado na suposição
Hélice Tripla
Tradicional
Desenvolvimento
Institucional no
SPPES
Hélice Tripla
Público-Social
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de que, através da introdução de certos aperfeiçoamentos e inovações nas instituições de ensino
superior, estas possam se aproximar do padrão de qualidade de serviços em C&T dos países
avançados. Mantém-se, assim, a agenda de C&T autônoma à política, mas permeável aos
reflexos da comunidade científica internacional.
Segundo Fujino (2005), na tese da hélice tríplice tradicional a interação hierarquizada
universidade–indústria–governo é a chave para melhorar as condições para inovação em uma
sociedade baseada no conhecimento, pois se trata de uma forma de cooperação que busca o
compartilhamento do mesmo por meio da interação e cooperação de atores, visando,
principalmente, a inovação tecnológica e a capacidade de difusão e incorporação de tecnologias.
No segundo caminho, o formato estratégico está alicerçado no modelo reticular de Hélice Tripla
Público-Social , que pressupõe que o SPPES deve responder às necessidades sociais específicas
de forma ativa, com preocupação e comprometimento da agenda de ensino, pesquisa e extensão
para a solução de problemas locais, regionais e nacionais de inclusão social.
A partir destas redes público-sociais de interação de hélice tripla entre a universidade, o governo
(em níveis descentralizados) e a sociedade (através de movimentos sociais), apreende-se o
SPPES como espaço institucional privilegiado de diálogo com os outros dois atores e propulsor
de iniciativas de geração e difusão de idéias e projetos de fim social.
A despeito das diferenças registradas entre os caminhos bifurcados de estratégias adotadas pelas
universidades, observa-se que a arquitetura em redes de hélices triplas representa a elaboração de
um novo contrato social entre o SPPES, o Estado, a economia e a sociedade, com o surgimento
de novas interações, funções e responsabilidades.
A abordagem de um caminho bifurcado de hélices tríplices situa a dinâmica da inovação em um
contexto em evolução, onde novas e complexas relações se estabelecem entre as esferas
institucionais ou hélices que são a universidade, a indústria, a sociedade e o governo.
Hélice Tripla
Tradicional
Está alicerçada na suposição de que, através da introdução de certos
aperfeiçoamentos e inovações nas IES, elas possam aproximar-se ao padrão de
qualidade de serviços em C&T dos países avançados, mantendo a agenda de
C&T autônoma à política, mas permeável aos reflexos da comunidade científica
internacional. Na tese da hélice tríplice tradicional, a interação hierarquizada
universidade–indústria–governo se apóia na teoria da inovação, segundo a qual a
inovação ocorre na empresa, sendo os demais agentes (universidade e governo)
fatores determinantes para a competitividade.
Hélice Tripla
Público-Social
Pressupõe que o SPPES deve responder às necessidades sociais específicas de
forma ativa, com preocupação e comprometimento da agenda de ensino, pesquisa
e extensão para a solução de problemas locais, regionais e nacionais de inclusão
social. Nessas redes de interação de hélice tripla entre a universidade, o governo
(em níveis descentralizados) e a sociedade (através de movimentos sociais),
apreende-se o SPPES como espaço institucional privilegiado de diálogo com os
outros dois atores e propulsor de iniciativas de geração e difusão de idéias e
projetos de fim social.
Quadro 1 - As Políticas de baixo para cima nos formatos de Hélice Tripla
Fonte: Elaboração própria. Baseada em Senhoras (2005).
As relações dentro destas redes são derivadas de transformações internas em cada hélice, das
influências de cada hélice sobre as demais, da criação de novas redes surgidas da interação entre
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Gráfico 1 – Principais fóruns de incubação no Brasil
Fonte: Anprotec (2002).
Uma incubadora é constituída por uma entidade coordenadora e algumas empresas incubadas. As
incubadoras, ao oferecerem infra-estrutura, apoio técnico, administrativo e de serviços,
simultaneamente diminuem os riscos de fracasso do empreendedor e criam um ambiente
encorajador, com custos e impostos minimizados, facilitador do desenvolvimento inicial da
empresa.
No período recente, verifica-se um maior interesse das Universidades juntamente com outras
instituições e com os governos estaduais nos projetos de implantação de incubadoras, como
forma de fornecer infra-estrutura para as microempresas começarem a funcionar.
Nesse novo paradigma de novas responsabilidades e posicionamentos das universidades
brasileiras públicas e privadas, as incubadoras tornaram-se o principal instrumento para facilitar
o caminho que deve ser seguido entre a idéia do empreendedor e a sua efetivação, portanto
através de postura mais pró-ativa.
Como na universidade as incubadoras também se mostram como sendo um núcleo aglutinador,
de onde saem e partem vetores da integração universidade-empresa, para o sucesso da incubação
faz-se necessária a participação e cooperação, não somente das empresas interessadas, dos
órgãos de apoio e das instituições públicas e privadas, mas também se faz mister a constante
evolução e malheabilidade deste modelo de incubação universitária, como evidenciado
timidamente no caso brasileiro, que embora demonstre ser tripartite, tende a se projetar para um
modelo superior, devido às especificidades e complexidades de cada universidade.
O segundo formato institucional bem sucedido de hélice tripla tradicional nas universidades tem
sido as Empresas Juniores (EJs), por conseguirem um adequado “casamento” entre teoria e
prática. As empresas juniores, ao agirem como um articulador na integração entre a universidade
e as empresas, através do oferecimento de ferramentas de pesquisa e a realização de projetos,
colaboram para o aumento das chances de sobrevivência no mercado, principalmente daquelas
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pequenas e médias empresas que não possuem recursos para o investimento em Pesquisa &
Desenvolvimento (P&D).
As EJs se configuram como um núcleo central de onde são engendradas e para onde convergem
interações no plano da Universidade e no plano das Empresas. Os vetores de interação se
direcionam dentro da rede universitária para laboratórios, bibliotecas e aproximação científico-
tecnológica docente-aluno, e também exteriormente a ela, com a satisfação das demandas
empresariais e para a formação de redes empreendedoras.
Figura 2 - Vetores de Integração Empresa-Universidade através das EJs
Fonte: Elaboração própria
A integração entre a universidade e a empresa se dá mediante a troca de benefícios entre estes
dois participantes através da ponte estabelecida pelas EJs, criando oportunidades para os alunos
de graduação para a aplicação prática de seus conhecimentos técnicos, o que contribui para a
vivência prático-profissional como consultor júnior, desenvolvendo habilidades gerenciais e
visão empresarial. A partir desta experiência, o futuro profissional é estimulado no processo de
formação do caráter empreendedor, antecipando a realidade e preparando-os para a prática
profissional ou até a criação de suas próprias empresas.
As EJs são importantes mecanismos dinamizadores da relação empresa-universidade, onde
muitos dos alunos que participaram ativamente do movimento são estimulados no caráter
“empreendedor” e montam empresas próprias através das incubadoras. Desse modo, o
envolvimento de alunos nas EJs tanto favorece a formação social, cultural e tecnológica, como
estimula o caráter empreendedor do futuro profissional.
Como o trabalho de uma EJ está relacionado ao desenvolvimento de projetos e na ampliação das
potencialidades de empreendedorismo, diversos alunos ou grupos de alunos dos cursos de alta
Incubadoras
Tecnológicas
Bibliotecas
Docentes &
Pesquisadores
Laboratórios &
Infraestrutura
s
s Empresas Indústrias
Ex-alunos
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a) Programas de Pesquisa e Desenvolvimento Cooperativos,
b) Programas de Parcerias Estratégicas,
c) Programas de Treinamento e Educação Continuada,
d) Programa de Desenvolvimento e Implantação de Parques Científicos,
e) Programas de Estímulo à Criação de Empresas de Base Tecnológica, e
f) Programa de Propriedade Intelectual – Registro e Licenciamento.
Por meio das agências de inovação, a missão de desenvolver pesquisas na fronteira do
conhecimento, transferir tecnologias para os setores público e privado e promover o
patenteamento das pesquisas e das tecnologias produzidas torna-se em uma baliza estratégica
para alavancar um formato pro-ativo da universidade como elemento nacional articulador do
desenvolvimento local e regional.
Figura 3 – Esfera Púbica das Redes de Hélices Triplas
Fonte: Elaboração Própria.
Por outro caminho estratégico de institucionalização do planejamento e da gestão do
conhecimento e do desenvolvimento tecnológico, tem havido uma maior inserção das
universidades também nos problemas sociais relativos aos locais de sua atuação, de forma a
contemplar a práxis interdisciplinar docente e a complementação acadêmica discente através de
projetos em extensão social no formato de uma tripla hélice público-social.
Os projetos têm nascido da combinação das demandas das prefeituras municipais e dos governos
estaduais, de um lado, e da disponibilização do acúmulo teórico e técnico-metodológico
realizado pela universidade, através das Agências de Inovação , das Incubadoras Tecnológicas de
Estado
Economia
Universidade
EJs
Agências
Inovação
Sociedade
Iniciativas
de
Universida
de Aberta
Incubações
Empresas
Juniores
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Cooperativas Populares (ITCPS) e, marginalmente, do voluntarismo de professores e alunos,
através das Pró-reitorias de Extensão e Assuntos Comunitários.
As incubadoras populares, em especial, têm se tornado um importante referencial para discutir e
propor alternativas locais em um formato em que interagem a própria universidade (como
instituição provedora de educação e recursos de ciência e tecnologia), o governo (como órgão
local mediador e aparelho decisor) e a própria sociedade (como ator beneficiado e
implementador das políticas através dos movimentos sociais).
Figura 4 - Tripé de Parcerias na Incubação
Fonte: Elaboração Própria.
Da primeira parte, são colocadas as necessidades imperiosas e imediatas de formulação e
execução de políticas públicas eficazes de desenvolvimento local e de combate ao desemprego,
para a geração de postos de trabalho, combinando perenidade, geração e distribuição de renda,
autonomia dos agentes, bem como contribuição ao desenvolvimento local, através do estímulo
ao empreendedorismo e à autogestão. Da outra parte, é colocada a necessidade de pôr em prática
o compromisso acadêmico das universidades e centros de pesquisa, de socialização do
conhecimento científico por meio da transferência de know-how e de tecnologias.
A proposta das incubadoras tecnológicas de cooperativas sociais tem uma característica de
aprendizagem social que conduz ao entendimento de que a construção da agenda de pesquisa e
de estudos é feita em função da participação da universidade junto à sociedade e à mudança dos
processos ou tecnologias sociais. Os objetivos educacionais priorizam a formação ética e o
desenvolvimento de um pensamento crítico dos jovens.
Embora a Hélice Tripla Público-Social ainda esteja marginal na agenda da comunidade
científica, percebe-se que lentamente ela tem se institucionalizado devido ao empreendedorismo
e dedicação de alguns poucos professores, de diversos alunos e da adesão de prefeituras e
movimentos sociais, a despeito dos entraves de financiamento.
Tal como acontecera com os formatos de institucionalização de Hélice Tripla Tradicional, os
desenvolvimentos da Hélice Tripla Público-Social certamente vão percorrer um longo caminho
dentro do SPPES até ganhar respaldo e adesão na comunidade científica. No entanto, é possível
queimar etapas ao aprender como late-comer que o trabalho em rede com outros atores externos
(através da interação com os diversos níveis de governos, movimentos sociais e projetos de
instituições nacionais e multilaterais) e com atores internos às universidades (através das
Cooperativa popular
Ator do desenvolvimento
econômico local
Universidade
Instituição provedora de educação
e recursos de ciência e tecnologia
Poder local
Órgão mediador,
Aparelho decisor
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Por isso, pode-se demonstrar que a responsabilidade social universitária quanto ao impacto
externo pode ser expressa pela combinação de duas dimensões básicas. Uma diz respeito à
capacidade de geração de conhecimentos e a outra se refere à efetividade de transferência de
tecnologia; ambas estão relacionadas com a capacidade das redes de hélice tripla tradicional e
público-social em trabalharem complementarmente e de forma proativa.
Considerando a capacidade de geração de novos conhecimentos e a efetividade de transferência
como elementos essenciais do valor agregado de uma universidade, maior será a
responsabilidade social, quanto mais elevados forem os quadrantes de sua atuação.
Quadro 2 - A Responsabilidade Social Universitária:
Geração de Conhecimento vs Efetividade de Transferência
Ótica da Responsabilidade social diante do impacto externo.
Fonte : Elaboração Própria_._
Ao avaliar os interesses enraizados no SPPES, percebe-se que existe de um duplo desafio ao
esquema analítico de responsabilidade social : a) político da democratização na exploração da
fronteira científica e tecnológica - requerido para atender aos problemas e necessidades da
população – e, b) administrativo do planejamento estratégico - requerido para a implementação
de novos valores e uma nova lógica de funcionamento - , uma vez que as principais contribuições
da universidade não têm sido dirigidas a uma finalidade pública de desenvolvimento social, mas
direcionadas a problemas empresariais e a suas respectivas necessidades tecnológicas.
Todas essas considerações corroboram para o entendimento do núcleo duro do SPPES, que,
através da comunidade docente e de pesquisa ( experts ), representa a construção social de uma
política de C&T, enquanto articuladora de uma malha de redes de diferentes atores (e interesses)
e institucionalizadora de estratégias que equilibram ou desequilibram os benefícios do trinômio
ciência-tecnologia-sociedade (EVANS & COLLINS, 2002; DAGNINO, 2004a).
+
- +
++
Efetividade de Transferência
(Ensino e Extensão)
Baixa Alta
Geração de Conhecimento (Cognitivo e Tecnológico)
Trajetória da Responsabilidade Social*
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Últimas Considerações
O desenvolvimento da gestão do conhecimento e do desenvolvimento tecnológico no SPPES é a
problemática que o texto se concentrou em analisar, a fim de melhor visualizar a dinâmica de
funcionamento das universidades através de uma rede de atores e interesses e os novos formatos
de suas institucionalizações.
Inicialmente, devido à natureza da análise da dinâmica de diferentes relações que variam entre as
redes de hélice tripla tradicional e público-social , este trabalho pretendeu utilizar uma
metodologia pluralística e interdisciplinar para absorver o que seria um entendimento
multifacetado sobre o tema. Esta escolha propôs uma abordagem que pode ser chamada
combinativa ou híbrida, que partiu da literatura e das contribuições analíticas da economia e da
sociologia da C&T e perpassou pela análise de políticas públicas , como alicerce interdisciplinar
para fazer uma da análise conjuntural das práticas de interação em redes do SPPES brasileiro.
Através do presente estudo foi possível identificar duplamente : a) as determinações relacionais
das redes de hélice tripla tradicional e público-social entre si e sobre o próprio funcionamento do
SPPES, e b) o funcionamento autopoético das tensões conflitivas e das articulações
complementares entre ambos processos estratégicos de articulação entre atores no SPPES e fora
dele com os atores da economia e da sociedade.
De fato, o texto propôs a adoção de um recorte relacional que priorizou a análise do SPPES, que
é dinâmico e está em constante transformação através dos movimentos inovadores e da
construção social (BIJKER, 1987).
A importância dessa abordagem sistêmica adotada reside na capacidade de fornecer uma visão à
aparente automaticidade de certos processos organizacionais no SPPES, os quais não se
explicam apenas por uma racionalidade intrinsecamente endógena ou por uma autonomia do
núcleo duro de pesquisas, mas são também o resultado do desenvolvimento do SPPES enquanto
uma construção socialmente influenciada por atores endógenos e exógenos.
Assim, determinadas estratégias reticulares no SPPES alcançaram um grau de diferenciação que
o tornou auto-referenciado através do desenvolvimento de instituições bem sucedidas, apesar da
adoção de caminhos e lógicas bifurcadas. Neste processo, que é um processo de emergência, a
regulação do SPPES deixa de ser apenas vertical e externa e passa a ser também uma função do
próprio funcionamento horizontal em redes, ganhando assim uma permeabilidade socialmente
construída condizente com uma governança descentralizada.
Por isso, as transformações institucionais do SPPES enquadram-se em um processo dinâmico
caracterizado pela agregação da função extensionista de desenvolvimento econômico e social às
já clássicas abordagens de ensino e pesquisa, através da formação de uma agenda bifurcada de
redes no formato de tripla hélice, com o surgimento de uma proposta intermediária entre o livre
mercado e o planejamento centralizado, que procura ultrapassar as limitações dos modelos
baseados em uma visão linear de desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia.
Essas transformações institucionais reticulares inserem, portanto, o entendimento da construção
social da C&T como um vetor de comunicação da universidade com o seu meio, possibilitando
sua realimentação face à problemática das necessidades da economia e da sociedade, e
propiciando uma reflexão crítica à revisão permanente de suas funções próprias de ensino,
pesquisa e extensão.
Liinc em Revista, v.4, n.1, março 2008, Rio de Janeiro, p. 138 - 153 http://www.ibict.br/liinc
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