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Diário de Campo: Visita à Vila Nova Jaguaré, Notas de aula de Psicologia

Este trabalho relata a experiência vivida durante a primeira visita à comunidade de vila nova jaguaré, localizada na zona oeste de são paulo. Através de um relato etnográfico no modelo de descrição densa, o autor descreve as impressões, observações e interações ocorridas durante a visita, fornecendo informações sobre a localização, história, paisagem urbana, divisões sociais e aspectos culturais da comunidade.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

usuário desconhecido
usuário desconhecido 🇧🇷

4.6

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AS FRONTEIRAS IMAGINÁRIAS: DIÁRIO DE CAMPO DO ESTÁGIO DE
PSICOLOGIA SOCIAL REALIZADO NO BAIRRO DE VILA NOVA
JAGUARÉ
Rodolfo Luis Almeida Maia
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
O presente trabalho busca realizar um diário de campo contendo as informações acerca
da primeira visita realizada na comunidade de Vila Nova Jaguaré, situada na zona oeste
da cidade de São Paulo. O objetivo principal desta ida a campo é fazer com que os
alunos tomem contato com um território considerado irregular para relacionar a
experiência vivida com os conceitos de direito à cidade, estudados em aula. Além disto,
esta é uma experiência que possa preparar os alunos para o trabalho nos setores como a
assistência social e a saúde pública, nos quais as visitas domiciliares são parte
fundamental do cotidiano de trabalho.
A primeira visita foi feita no dia 18 de dezembro de 2014. A segunda visita a ser
realizada após o contato com uma família do bairro está agendada para ser realizada na
próxima semana, entre os dias 18 e 25 de janeiro, aguardando a confirmação das
famílias.
Neste sentido, buscarei realizar um relato etnográfico, no modelo de descrição densa
proposto por Geertz (1989), da experiência vivida ao longo da primeira visita que
realizamos à comunidade. Antes de iniciar o relato propriamente dito, cabe realizar
algumas considerações acerca da história do bairro para o melhor entendimento do
contexto do local e sua relação com o objetivo do trabalho
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Vale ressaltar que as informações descritas nesta introdução foram colhidas após a ida a
campo, de forma a não influenciar o olhar sobre o campo.
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AS FRONTEIRAS IMAGINÁRIAS: DIÁRIO DE CAMPO DO ESTÁGIO DE

PSICOLOGIA SOCIAL REALIZADO NO BAIRRO DE VILA NOVA

JAGUARÉ

Rodolfo Luis Almeida Maia Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo

O presente trabalho busca realizar um diário de campo contendo as informações acerca da primeira visita realizada na comunidade de Vila Nova Jaguaré, situada na zona oeste da cidade de São Paulo. O objetivo principal desta ida a campo é fazer com que os alunos tomem contato com um território considerado irregular para relacionar a experiência vivida com os conceitos de direito à cidade, estudados em aula. Além disto, esta é uma experiência que possa preparar os alunos para o trabalho nos setores como a assistência social e a saúde pública, nos quais as visitas domiciliares são parte fundamental do cotidiano de trabalho.

A primeira visita foi feita no dia 18 de dezembro de 2014. A segunda visita a ser realizada após o contato com uma família do bairro está agendada para ser realizada na próxima semana, entre os dias 18 e 25 de janeiro, aguardando a confirmação das famílias.

Neste sentido, buscarei realizar um relato etnográfico, no modelo de descrição densa proposto por Geertz (1989), da experiência vivida ao longo da primeira visita que realizamos à comunidade. Antes de iniciar o relato propriamente dito, cabe realizar algumas considerações acerca da história do bairro para o melhor entendimento do contexto do local e sua relação com o objetivo do trabalho^1.

(^1) Vale ressaltar que as informações descritas nesta introdução foram colhidas após a ida a

campo, de forma a não influenciar o olhar sobre o campo.

As fronteiras Imaginárias: Diário de Campo da visita à Vila Nova Jaguaré

INTRODUÇÃO: SOBRE O BAIRRO VILA NOVA JAGUARÉ:

Localizada entre a Marginal Pinheiros e a Avenida Jaguaré, a comunidade da Vila Nova Jaguaré possui atualmente cerca de 12 mil habitantes e quatro mil domicílios cadastrados (Galeão-Silva; Gonzales e Alves, 2012). Pertencente ao Subdistrito da Lapa, a comunidade nasceu na década de 60 atrelada ao desenvolvimento da região, que naquela época era ocupada por fábricas.

Imagem 1: Localização territorial da Vila Nova Jaguaré (Jaguaré Caminhos, 2013)

O espaço que hoje pertence à comunidade estaria destinado, naquela época à construção de um Parque e ficou vazio durante um longo período. Após as primeiras ocupações, a região passou por um processo de crescimento demográfico, porém somente na década de 80 uma parte do local passou a receber abastecimento de água e energia elétrica. (Jaguaré Caminhos, 2013)

Apenas em 2005 a prefeitura iniciou o processo de cadastramento das famílias e regularização das moradias presentes no local. Dentro deste contexto se deu nossa visita, que contou com a ajuda do monitor José Fernando e do líder comunitário Chico.

As fronteiras Imaginárias: Diário de Campo da visita à Vila Nova Jaguaré

A PRIMEIRA IMPRESSÃO

Após nos encontrarmos com o Chico, entramos na comunidade. Logo na entrada havia um bar no qual havia cerca de seis pessoas, todos homens. O Chico os cumprimentou, evidenciando que os conhecia e então entramos em uma rua onde havia alguns prédios de um programa habitacional financiado pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). Demos a volta neste prédio. Passamos atrás do estacionamento do prédio, onde havia vários carros que pareciam ser bem novos e bonitos. Havia também uma escada enorme que pode ser utilizada para se chegar ao topo da comunidade. Quase no topo da escada havia um grupo de adolescentes, eu pude contar quatro, sendo que todos eles eram homens. Chico então explicou que a comunidade está localizada em cima de um morro e que há dois caminhos para se subir. Ou utilizando esta escada, ou dando uma volta que fazia a subida ser muito menos íngreme. Este foi o caminho que fizemos. Demos a volta no conjunto habitacional e saímos novamente na rua onde estávamos. Na esquina havia um outro grupo de cerca de oito adolescentes, todos homens, que aparentavam ter entre 16 e 20 anos.

Do outro lado da rua havia muitas lojas. Andamos um pouco e as casas passaram a ficar um pouco menores até que chegamos a uma rua mais estreita na qual haviam casas d um lado e um imenso muro de uma outra fábrica do lado. Apesar do muro da fábrica ser muito alto, pude perceber uma movimentação dentro do prédio da fábrica, parecia que estávamos olhando para o fundo da fábrica cuja frente deveria ser na Marginal Pinheiros. Chico então nos mostrou as etiquetas coladas pela prefeitura nas casas daquela rua e disse: “Viram? Esta é a etiqueta que a prefeitura cola depois de fazer o cadastramento das casas. Depois disto aqui, pronto! Ninguém mais pode tirar a gente daqui!”.

Demos uma volta no quarteirão e chegamos a um prédio com os portões amarelos. Após batermos na porta, uma senhora apareceu, Chico nos apresentou como sendo sua esposa. Ela nos convidou para entrar e então apresentou o local, que era o Centro para Crianças e Adolescentes.

As fronteiras Imaginárias: Diário de Campo da visita à Vila Nova Jaguaré

O CCA

Entramos então no prédio do CCA. A esposa do Chico, que também conhecia o José Fernando, foi extremamente solícita e nos apresentou o salão principal do CCA. Nele, havia um quadro feito pelas crianças com várias mãos. Ela então nos disse que as crianças estavam de férias naquele momento, mas que o CCA só tem um mês de férias ao longo de todo ano que é utilizado para se fazer o planejamento anual. Ela disse que, ao todo não atendidas 120 crianças na faixa etária entre os 6 e 14 anos. As crianças ficam no CCA sempre no contra-turno da escola e dedicam a atividades culturais e recebem uma refeição.

Nós então subimos um andar e nos deparamos com um corredor e cerca de quatro salas de aula. Entramos em uma delas onde havia uma professora que estava realizando algumas anotações. Não havia nenhuma criança na sala, mas havia muitos jogos de tabuleiro que estavam empilhados. As carteiras possuíam um formato de semi-círculos e eram próprias para formar rodas entre os alunos. Além dos jogos, havia alguns livros e um quadro no qual estavam expostas as atividades de pintura realizadas pelos alunos. Pude identificar que uma delas se tratava sobre liberdade e tráfico de pessoas. Nele, haviam algumas mãos desenhadas e no meio de cada mão, as crianças escreveram algumas mensagens sobre o que elas pensavam acerca da questão. Notei a grande presença de discursos religiosos nas mensagens escritas pelas crianças pois Muitas delas mencionavam Deus. Um pouco antes de sairmos da sala, a professora nos parou e perguntou se o Instituto de Psicologia da USP possuía algum tipo de atendimento do qual ela pudesse participar. Segundo ela, um de seus filhos possuía “alguns problemas” e ela estava sendo atendida na clínica de uma outra faculdade, “mas é só um semestre, então já acabou.” O que mais me surpreendeu não foi o pedido da professora, mas o fato de, dentre oito alunos da psicologia, sete deles da graduação e um do mestrado, que é o monitor, nenhum deles saber sequer como funcionava o atendimento na Clínica Escola do Instituto em que eles estudam. O monitor afirmou que havia uma clínica no Instituto, e que “eles atendem sim. Eles têm que atender porque é um lugar público!”, mas nenhum dos presentes soube passar informações concretas para ela. Eu falei para ela

As fronteiras Imaginárias: Diário de Campo da visita à Vila Nova Jaguaré

O CINGAPURA E A FRONTEIRA IMAGINÁRIA

Ao chegarmos na Marginal, Chico começou a falar sobre o Cingapura e disse que foi um dos piores projetos habitacionais que ocorreram no local. Segundo ele, Não teve negociação nenhuma: “Um belo dia os tratores chegaram aqui, removeram as famílias e construíram esse três prediozinhos aí virados pra marginal só pra tampar a comunidade!” Segundo ele, aqueles prédios não ajudaram a população da Vila Nova Jaguaré por conta devido ao baixíssimo número de habitações. Neste momento nós estávamos subindo uma rampa que passava atrás dos prédios do Cingapura Ao subir a rampa, ele começou a falar de como ele se sentia seguro dentro da comunidade. “Quando eu desço do ônibus, lá do lado de fora eu fico com medo de acontecer alguma coisa, mas depois que eu piso aqui dentro eu me sinto tranquilo.” Neste momento, uma das alunas virou para mim e disse. “Não sei você, mas eu também me sinto muito mais em casa aqui do que na USP.” Eu concordei com ela.

Algumas crianças estavam empinando pipa naquele local. Então paramos para olhar a vista, já que estávamos em um dos pontos mais altos do bairro. Foi então que eu disse ao Chico que trabalhei em um local próximo da estação de trem Presidente Altino, nos entornos de uma comunidade que se localiza bem perto dali. O Chico então disse. “Ah, mas lá já não tem nada a ver com a gente! Lá tem outra história!” Esta fala me levantou muitas questões acerca do modo como a comunidade dialoga com os seus vizinhos. Será que o fortalecimento dos laços com a comunidade vizinha não os ajudaria manter e a aumentar as conquistas da Vila Nova Jaguaré?

Quando estávamos passando por uma outra rua, o Chico nos disse que aquela era a divisa entre o Bairro do Jaguaré e a Comunidade da Vila Nova Jaguaré. De um lado da rua, o não pertencente à comunidade, as casas eram loteadas e eles pagavam IPTU e o dobro do valor da conta de água. Já do outro lado, pertencente à comunidade, eles não pagavam IPTU e tinham direito à tarifa popular para água e energia. Não havia, porém, nenhuma diferença, pelo menos a um primeiro contato, entre um lado e outro da rua. Esta é uma diferença entre o bairro Vila Nova Jaguaré e outras comunidades nas quais

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há uma divisão muito visível entre a comunidade e o entorno. A São Remo é um exemplo disto, no qual a Avenida Corifeu de Azevedo Marques divide dois mundos completamente diferentes. O bairro São Remo, em que as casas são menores, e o bairro do Rio Pequeno, com muitos prédios e casas grandes. O Chico explicou que isto se deu por conta da história do Bairro: “Durante muito tempo nós não tínhamos nem água e nem luz aqui! Agora que nós conseguimos tudo isto, as pessoas esquecem. Ninguém quer mais saber em lutar por mais nada!”. Neste momento, nós passávamos em frente a uma casa do lado loteado na qual havia uma senhora muito idosa em uma cadeira de rodas e uma mulher de cerca de 50 anos que aparentava ser cuidadora dela. Neste momento, eu pensei qual seria a relação daquela senhora com os equipamentos presentes na Comunidade da Vila Nova Jaguaré. Existe alguma diferença na oferta dos serviços entre os dois lados? Como a UBS, por exemplo, responsável por aquele território lida com esta fronteira, ainda que histórica?

A questão da fala de Chico acerca da não participação das pessoas também me fez remeter aos movimentos políticos e aos embates enfrentados pela Universidade no último ano. Uma das principais questões que foi discutida era justamente o esvaziamento dos movimentos sociais que pode ser reparado em diversas situações.

Ao descermos uma ladeira, nós passamos por um grupo de cerca de seis jovens que pareciam ter entre 20 e 25 anos. Eles estavam fumando algo que parecia ser um cigarro de maconha. Eles então o olharam e o cumprimentaram. Chico ficou visivelmente transtornado e disse: “Pois é, né! A gente que trabalha com comunidade tem que estar preparado para tudo!” Aos meus olhos, Chico ficou muito mais transtornado do que os alunos com aquela cena, o que me fez pensar sobre qual era a imagem que ele tinha de nós. Não somente ele, mas o que as pessoas, que nos viam andando pela comunidade quase como turistas, imaginavam sobre nós e sobre o que fazíamos lá. Era evidente que não éramos de lá, mas de que forma aquelas pessoas nos enxergavam?

Por fim, descemos uma rua e saímos próximos à casa do Chico. Devido ao calor muito forte ele nos convidou para entrarmos e tomarmos uma água.

As fronteiras Imaginárias: Diário de Campo da visita à Vila Nova Jaguaré

redor dela começaram as primeiras ocupações. Após um tempo a própria praça foi ocupada.” Ele então se despediu de nós. Todos nós agradecemos muito a receptividade e a atenção que ele nos deu e descemos a rua até a Avenida Kenkiti Simomoto, onde nos encontramos com ele.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do relato descrito acima, diversas questões emanam acerca das dinâmicas sociais lá presentes. Eu gostaria de levantar cinco deles que saltaram mais aos meus olhos no dia da visita, levando em consideração que, para o trabalho final, serão consideradas as demandas das famílias as quais visitaremos. Todavia estas questões podem ser usadas como horizonte para auxiliar na construção do trabalho final:

1- O impacto real das políticas públicas: A primeira questão que me foi levantada foi com relação ao impacto das políticas sociais na Vila Nova Jaguaré. No caso do CCA que visitamos, 120 crianças são atendidas por ele. Porém, este número limitado de vagas atende a toda a demanda da comunidade? O que foi discutido posteriormente, é que a Vila Nova Jaguaré é um território pertencente à Lapa, ou seja, O Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) mais próximo do bairro se localiza na Lapa. Para chegar lá, um morador da Vila Nova Jaguaré demoraria de 45 minutos. Neste caso, qual o impacto real das políticas públicas nas vidas daquelas pessoas? 2- A Adolescência e os Serviços de Assistência Social: Sabe-se que os CCAs são equipamentos vinculados à secretaria de Assistência Social, que preconiza o a participação de crianças de até 14 anos nestes serviços. A impressão que eu tive, porém, é que não há uma continuidade deste serviço com outros após as crianças completarem os 15 anos. A grande presença de adolescentes nos espaços que visitamos também evidencia a necessidade de políticas públicas voltadas para os adolescentes. 3- As relações de Gênero: Outra característica que ficou evidente para mim foi a grande maioria de homens nos espaços públicos de convivência. Sejam eles bares, restaurantes ou rodas de amigos nas ruas. A partir disto, qual tipo de restrição, social ou cultural, que resulta em uma menos circulação das mulheres

As fronteiras Imaginárias: Diário de Campo da visita à Vila Nova Jaguaré nestes espaços? E por onde estas mulheres se encontram? Cabe, então, pensar em políticas voltadas para elas e a maior apropriação do território? 4- As relações da comunidade com seu entorno: Esta foi uma das questões que mais me deixaram intrigado pois, ao conversar com o Chico, parecia que há pouco contato da comunidade com os bairros os redor. Não posso afirmar ao certo que isto se dá por conta dos vizinhos ou da comunidade, mas pode-se também pensar em meios de aproximação e de diálogo entre os moradores, para que se fortaleça a comunidade como um todo. 5- O esvaziamento dos Movimentos Sociais: Esta é uma questão levantada por Chico e que poderia ser analisada de um ponto de vista mais macrossocial. Aparentemente, este é um processo que ocorre não somente na comunidade da Vila Nova Jaguaré, mas em diversos outros espaços. Com isto, podemos pensar em estratégias de fortalecimento dos laços comunitários para que as conquistas possam ser mantidas e ampliadas.

De um modo geral, a experiência deste contato foi extremamente rica e me proporcionou pensar a minha relação com a cidade sob diversos aspectos. A imensa familiaridade que eu tive com o local me fez pensar sob o quão próximo eu me encontro desta realidade, e de que a distância que que mantemos entre nós e eles é muito mais ideológica do que propriamente real.

Lembrei-me muito da minha infância, na qual eu cresci em um bairro da periferia e, duas ruas depois se localizava uma comunidade muito parecida com a Vila Nova Jaguaré. Um dia, ao andar de bicicleta pelo bairro, resolvi atravessar a fronteira que eu nem sabia que existia e fiquei por algumas horas pedalando dentro da comunidade. Meus pais, ao ficarem sabendo, brigaram comigo e falaram sobre como lá era perigoso, me orientando para que eu nunca mais fosse para lá. Criou-se em mim, portanto, uma barreira imaginária que me separava daqueles que, a partir daquele momento passaram a ser vistos como os diferentes. Para além da segregação, o que está em jogo, nestes casos, é um processo de disputa territorial. Aqueles que consideramos como os outros , neste caso, são aqueles que ocupam espaços que de disputa, espaços que julgamos não ser pertencentes a eles.