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aprendizagem e à construção identitária de Assistentes Sociais. Isabel Cristina da Conceição Passarinho. Doutoramento em Educação. Especialidade em Formação ...
Tipologia: Notas de estudo
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À memória dos meus pais J osé e Ema, que me amaram muito e cujas vidas foram exemplos de dignidade e sabedoria, que nunca esquecerei. Aos meus filhos, Nuno e Gonçalo , homens da minha vida que inspiram futuros. À Sónia pelos anos de inestimável apoio. Aos meus amigos e parentes significativos por serem como são, e pela amizade e suporte, mesmo em ciclos de vida onde estive menos disponível. Aos colegas e amigos do trabalho e da profissão por toda a inspiração, compreensão e disponibilidade. A todos que procuram interrogar os «rumos» e «carreiros» da vida e que durante estes anos me ensinaram que pensar e fazer em ‘conjunto’ é uma boa maneira de encontrar soluções.
Fazer uma tese não se traduz apenas no «produto» final. O processo de elaboração deste trabalho constituiu um marco de formação e aprendizagem que, pela sua exigência, complexidade e morosidade, cruzou a minha vida com muitas outras, numa mistura de tempos, espaços e «formas de pensar». Destaco neste processo, motivações e circunstâncias que permitiram a sua finalização: as primeiras, ligadas à curiosidade pelos processos de produção de conhecimento, à reflexividade e questionamento pessoal, à visibilidade que procurei dar às trajectórias e representações dos assistentes sociais que colaboraram neste estudo e ao contributo que pretendi dar à profissão; as segundas, que constituíram a oportunidade e a possibilidade desta trajectória. Em conjunto, todas constituíram reforços positivos sobretudo, nas alturas mais solitárias desta trajectória, em que foi decisiva a colaboração e incentivo de outros. Importa, assim, expressar um agradecimento sincero a todos os que colaboraram e possibilitaram este processo e este «resultado».
Gostaria, de agradecer ao meu orientador – Professor Doutor Rui Canário – pela sua sabedoria e humanidade, pela confiança que depositou em mim, pelo incentivo e estímulo na procura de respostas às minhas dificuldades e por ter aceite os meus períodos mais confusos e caóticos.
A nível institucional, agradeço à Câmara Municipal de Cascais, em especial à autarca responsável, aos dirigentes e colegas do Departamento de Educação, a oportunidade de compatibilizar este processo com o desempenho das minhas funções; destaco também a importância das perguntas sobre ‘o que andava a fazer’ – ao longo do tempo, as respostas que fui dando permitiram-me importantes tomadas de consciência sobre as minhas narrativas e sobre o próprio processo de pesquisa e aprendizagem.
Aos assistentes sociais que foram sujeitos neste trabalho e sem os quais esta tese não seria possível, um imenso obrigado pela sua disponibilidade para
Este trabalho de investigação resulta de um caminho de “prática-investigadora” que pretende aprofundar a reflexão sobre a profissão de Assistente Social numa perspectiva a partir de dentro do campo e no entendimento de que a profissão se constrói e se aprende, no diálogo entre a sua própria explicitação e as teorias sobre o mundo. A área científica em que se insere é uma das suas particularidades, já que foi desenvolvido no campo da Educação/Formação de Adultos e tem como eixo central o interesse pela compreensão dos percursos formativos e de construção identitária dos assistentes sociais. A análise realizada parte do pressuposto de que, num tempo de ultra- racionalidade instrumental, o conceito de profissão está em mutação; e, no caso, a profissionalidade dos assistentes sociais não será excepção, pela sua prática interventiva conotada com as pessoas em situação de pobreza e/ou vulnerabilidade social, «colada» às instituições e ao Estado-providência e estigmatizada como «placebo» do Capitalismo. Contudo, será importante pontuar que o trabalho social, com a complexidade, multidimensionalidade e transversalidade que lhe estão associadas, constitui um campo próprio onde exercem genericamente os chamados trabalhadores sociais e, de entre eles, @s assistentes sociais como grupo profissional específico. Estes profissionais partilham as problemáticas, os contextos e os riscos e são actores de «inclusão e exclusão» numa sociedade que tende a desvalorizar os seus fazeres e saberes, tal como o faz com as populações com que trabalham. Por um lado, branqueando a profissionalização e a profissionalidade numa categoria genérica de ‘técnicos superiores’ e, por outro, exigindo uma prática baseada em ‘evidências’ prescritas e quantificáveis que pouco têm a ver com o seu ‘Know-how’ específico e/ou com as respostas às necessidades das pessoas. Em simultâneo, os próprios profissionais, por vezes, não se descrevem nem se reconhecem como actores e autores ao serviço de uma cidadania democrática.
A presente tese analisa e reflecte o Serviço Social, como uma profissão e uma disciplina que procuram novas legitimidades entre velhas dicotomias, num processo de reflexão emancipatória que equacione a construção profissional, entre as heranças e dinâmicas de um percurso histórico e o imperativo de explicitar a profissionalidade. Neste processo de explicitação, são questionados aspectos como a «colonização disciplinar», a adaptabilidade e a neutralidade da profissão, entre outros, que dificultam espaços de autonomia e produção de conhecimento e onde @s assistentes sociais parecem cada vez mais confinados a espaços de exercício sujeitos à ‘funcionalização’ e à ‘evidência’. Nesta conjuntura, a realização de entrevistas de inspiração biográfica a dezanove assistentes sociais e a análise das suas narrativas permitiu dar-lhes voz e esboçar tipologias de percursos de aprendizagem da profissão e tipologias de formas identitárias. O material empírico recolhido durante a pesquisa revela uma grande diversidade, mas também contradições e tensões presentes no campo profissional, a que não serão estranhas as relações de força e poder dentro e fora do campo científico e profissional. A passagem do comunitário ao societário implica uma modificação da própria estrutura da identidade pessoal, o aparecimento de novas formas de subjectividade e a conversão identitária que faz passar os indivíduos de membros submissos a sujeitos actores – o que, embora os torne muito mais incertos e expostos, pode fazer emergir oportunidades de transformação. O Serviço Social, na medida em que se afasta da identidade que o estigmatizou como mediador de um pensamento conformista, vai recuperando diversidade interna e oportunidades de construção de novas formas de participação nos processos de mudança social. E ao equacionar a necessidade de produzir conhecimento sobre os processos pelos quais se aprendem e se constroem saberes, numa tentativa de desocultar e nomear o que se vive e aquilo a que se atribui significado nestes contextos de intervenção, pode restaurar-se um espaço público de profissionalidade como lugar de visibilidade de si e do outro, pela acção e pela palavra. E também de identidades co – construídas na interacção com muitos «outros».
Palavras-chave: profissão, autoformação, percursos de aprendizagem, formas identitárias, Serviço Social
emancipatory reflexion that balances the professional construction between the inheritance and dynamic of an historic process and the imperative of explaining the professionalism. In this process of explanation, some aspects are questioned, such as the “disciplinary colonization”, the adaptability and neutrality of the profession, among others, which difficult spaces of autonomy and production of knowledge, and where the social workers look even more confined to spaces of exercise subjected to “functionalization” and to “evidence”. In this conjuncture, the realization of interviews of biographic inspiration to nineteen social workers and the analysis of their stories allowed giving them voice and identify typologies of ways of learning the profession and typologies of identity forms. The empiric material collected during the research reveals a huge diversity, but also contradictions and tensions present in the professional field, to which are not strange the relations of strength and power inside and outside the scientific and professional field. The passage from the community to the corporate implicates a modification of it’s own structure of personal identity, the appearing of new ways of subjectivity and the identity conversion which makes move the individual of submissive members to actors subject – which, though makes them more uncertain and exposed, can make emerge transformation opportunities. The social service, in the way that goes further away from the identity that stigmatized it has a mediator of a conformist thinking, goes recovering intern diversity and the opportunities of constructing new ways of participating in the processes of social changing. And equating the necessity of producing knowledge over the processes by which learn and builds knowledge, in a way of uncover and nominate what is living and what we give significance in this intervention contexts, can restore a public space of professionalism as a place of visibility of self and other, by the action on the word; and also of identities co- build in the interaction with “others”.
Key words : Profession, self-training, learning pathways, identity forms, social work
Os Direitos Humanos e a Justiça Social numa época de globalização
Este relatório pretende dar conta do trabalho realizado durante os anos em que me propus fazer o Doutoramento no Ramo da Educação no Instituto de Educação, da Universidade de Lisboa. Para este projecto de investigação, o objecto de estudo foi/é a própria profissão, na procura de entender os processos de formação dos assistentes sociais, identificar as aprendizagens realizadas nos seus percursos profissionais e os significados que lhes atribuem e os processos das suas construções identitárias, a partir de uma análise de inspiração biográfica. Na impossibilidade de suspender a vida para dar conta do processo formativo, diria que este tempo foi marcado pelo trabalho e pelo gosto, pela curiosidade e pela inquietação mas também pela complexidade, pelas dúvidas e por movimentos de fluidez e intermitência de tempos, espaços e investimento. A área científica em que se insere este trabalho é talvez a primeira particularidade, já que foi desenvolvido no campo da Educação/Formação de Adultos, e tem como eixo central o interesse pela compreensão dos percursos formativos e de construção identitária dos Assistentes Sociais. Esta abordagem realizada a partir de uma perspectiva fenomenológica onde também se cruzam a minha realidade subjectiva e o contexto histórico, social e cultural onde me inscrevo, liga-se com um objecto construído na área do Serviço Social e mobiliza muitos conceitos de outras áreas científicas. De uma forma sintética, diria que esta investigação procura conhecer e produzir conhecimento sobre a formação (com especial enfoque na autoformação) de Assistentes Sociais, procurando identificar os seus percursos profissionais, os significados que lhes atribuem e quais os processos das suas construções identitárias, a partir de uma análise de inspiração biográfica. A escolha, dentro dos adultos possíveis, de Assistentes Sociais, prendeu-se com razões endógenas (porque sendo pares talvez possa compreender e compreender-me melhor, num processo que também pretende ser de autoformação) e razões exógenas – porque, numa altura de morte anunciada do Estado-providência e das respectivas políticas, com consequências
Actualmente e, entendendo ainda a questão da política social, enquanto política pública de co-responsabilização estatal, tem-se assistido a uma progressiva erosão do Estado de bem-estar, fundado originalmente em direitos sociais de carácter universal. Vivem-se hoje tempos de incerteza, de crise generalizada nos países ditos desenvolvidos e de manipulação dos actores políticos pelo poder financeiro sem rosto nem país. Uma incerteza que é também “…crise de um modelo de sociedade, crise essa que, só a lógica da aniquilação de uma das conquistas civilizatórias mais importantes da humanidade – a responsabilidade solidária e colectiva do Estado face à protecção dos cidadãos – pode ajudar a explicar os propósitos de desmantelamento indiscriminado do Estado-providência” (Rodrigues, 1999: 20).
Se a persistência, renovação e alargamento de fenómenos de pobreza, de desigualdades sociais e de cada vez maior vulnerabilidade social, questiona as medidas redistributivas e a eficácia das políticas sociais, o problema da pobreza parece residir, além de mais, na repartição primária do rendimento, da propriedade e do poder - o que remete este fenómeno para a política económica e para os baixos salários, para além do desemprego e da precariedade contratual (Costa, 2008:197). Apesar do «luto» que muitos de nós fazemos pelo «desmantelamento do Estado-providência», admite-se na linha deste autor que a via das políticas sociais é claramente insuficiente para quebrar o ciclo persistente da pobreza e da vulnerabilidade social. Na crise de modelo de sociedade associada a este «desmantelamento», a privatização e a desregulação têm sido meios de ajustamento estrutural do Estado à economia global – um processo simultâneo de globalização e localização com consequências ao nível da perda de legitimidade e autoridade política e com a erosão do projecto de modernidade, onde a educação como um todo perde a sua orientação (Finger e Asún, 2003:106). Esta realidade (a que alguns autores chamam «pós-moderna» e outros de «modernidade tardia») tem no individualismo uma característica marcante, quer para a prática da educação de adultos, quer para a acção social. Neste entendimento, não resisti a associar o conceito de “não-lugares” à possibilidade de que a profissão de Assistente Social se torne uma “não-
profissão”, tendo-se apenas a si própria por referência, sem atender ao compromisso com uma dimensão ética, histórica e política e com um modelo de sociedade comprometido com os princípios de direitos humanos e de justiça social. Marc Augé refere em torno deste conceito de «não-lugares» a metáfora da viagem que me é útil neste processo de investigação-aprendizagem: “A viagem constrói uma relação fictícia entre o olhar e a paisagem. E, se chamamos «espaço» à prática dos lugares que define especificamente a viagem, devemos ainda acrescentar que há espaços em que o indivíduo se experimenta como espectador sem que a natureza do espectáculo para ele conte realmente. Como se a posição de espectador constituísse o essencial do espectáculo, como se, em última análise, o espectador (...) fosse para si próprio o seu próprio espectáculo. (...) O espaço do viajante será assim o arquétipo do não-lugar. (...) estamos em condições de redescobrir a evocação profética de espaços onde nem a identidade, nem a relação, nem a história fazem verdadeiramente sentido, em que a solidão se experimenta como superação ou esvaziamento da individualidade, em que só o movimento das imagens deixa antever por instantes àquele que as vê fugir e que as olha a hipótese de um passado e a possibilidade de um futuro” (Augé, 2006:74).
Nesta perspectiva que arrisco a definir como estando na tensão entre espectadora e actor/autora destaco a necessidade que as pessoas continuam a ter de atribuir sentido, “…dar um sentido ao mundo, e não a certa aldeia ou a certa linhagem. Esta necessidade de dar um sentido ao presente, senão ao passado, é a contrapartida da superabundância de acontecimentos que corresponde a uma situação que poderíamos dizer de “sobre modernidade”, a fim de darmos conta da sua modalidade essencial: o excesso” (Augé, 2006:28,29).
Este “excesso” de que fala Augé, com teorias, acontecimentos, «coisas», perspectivas, conflitos, fontes de informação, nas suas diferentes modalidades, acentua paradoxos e institui a complexidade e a imprevisibilidade. Por sua vez, Sousa Santos (2005:21) refere que o excesso de teorias em desequilíbrio sobre o que ainda está, constitui em simultâneo um deficit teórico e um grande desafio. Em todo o processo senti o cruzamento desse deficit e desse desafio mas procurei deixar-me interrogar pelos contributos dos vários autores de muitos campos teóricos, pela recolha empírica e pelas narrativas das pessoas entrevistadas. A estrutura deste trabalho está subdividida em seis capítulos: no primeiro aborda-se o Serviço Social, enquanto profissão e disciplina que procuram novas legitimidades e desenvolvem-se as questões teóricas que norteram este
migrou para os arredores de Lisboa à procura de melhores oportunidades de vida. Fiz o meu percurso escolar com gosto e sem incidentes, mas com a consciência de que a escola era uma via privilegiada para a mobilidade social ascendente e que o conhecimento tinha uma função emancipadora. Não tive uma juventude politizada (tinha 14 anos no 25 de Abril de 1974) e, passei pelo período revolucionário com preocupações mais «sociais» do que «políticas». Desta época, lembro sobretudo a nível familiar, as discussões político/partidárias que aqueceram os ânimos dos membros da família mais chegada com quem compartilhávamos os momentos de lazer e festividade e o seu consequente afastamento e o envolvimento do meu pai no partido comunista (um envolvido do qual não se falava em casa e era apenas inferido por meias conversas, pelas discussões familiares e pelos livros que o meu pai lia). A nível do contexto onde vivia, recordo o tempo das RGA/Reuniões Gerais de Alunos no Liceu de Oeiras a que assisti sem grande entusiasmo, a “balda” no ensino que apanhou sobretudo os colegas que estavam a terminar o secundário e as manifestações em Caxias (lugar onde creci e existe a prisão homónima) a propósito da libertação dos presos políticos. Uma recordação desta época que jamais esquecerei foi uma exploração que eu e uma série de outros miúdos fizemos às celas subterrâneas da prisão de Caxias onde estiveram os presos políticos, e que entretanto foram desactivadas. Nunca esquecerei as condições dessas celas cujo acesso era feito por um fosso dentro das instalações prisionais a que tivemos acesso porque alguns dos meus amigos eram filhos de guardas prisionais. As celas eram autênticas grutas escavadas no monte até ao nível de um lençol de água subterrâneo, distribuídas por corredores imensos, com chão de terra húmida e paredes de pedra escritas e pintadas, onde não entrava a luz e a humidade era muito elevada. Imaginar que tinham estado ali pessoas a viver anos seguidos, presas pelas suas convicções e privadas das mais elementares condições de vida, foi algo que me impressionou e me provocou uma indignação que me acompanha até aos dias de hoje. Em termos culturais as minhas referências eram muito «misturadas» e, por exemplo, na música, tanto ouvia e gostava dos músicos de intervenção
portugueses, como da música popular portuguesa ou dos artistas franceses, ingleses e italianos que estavam na moda.
A opção por Serviço Social surgiu no final do ensino secundário (1976), em resultado dos testes psicotécnicos que começavam a ser correntes na época - das três possibilidades apresentadas: Direito, Artes e Serviço Social, optei por exclusão de partes; nas Artes, não tinha certeza de encontrar sustento nem convicção de talento e do Direito afastava-me a possibilidade de defender causas em que não acreditava ou que iam contra os meus valores. Após um interregno de sete anos (em que fui cobaia do indescritível ano «propedêutico», interrompi os estudos, vivi um ano em casa de familiares emigrados na Suíça e comecei a trabalhar num emprego indiferenciado) voltei a estudar para completar o 12º ano e segui para a formação em Serviço Social (1983/1988). Entrei no Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa com uma média alta que me teria permitido entrar noutros cursos nas faculdades públicas e sem a consciência de que o curso de Serviço Social não atribuía o grau de licenciatura. Durante os quatro anos do curso fui estudante trabalhadora (porque as propinas eram caras e queria preservar uma certa independência familiar), numa altura em que não havia turma nocturna, o que implicava ter aulas de manhã e trabalhar de tarde, dilatando quer os horários de trabalho em compensações necessárias para a entidade patronal, quer os horários de estudo e de realização de trabalhos. De uma forma geral gostei do curso e, ultrapassada uma crise no 3º ano que quase me fez desistir, posso dizer que a formação inicial, e sobretudo alguns profissionais que fui encontrando, quer como docentes, quer como orientadores de estágio, foram constituindo a malha identitária onde me situei. Sem qualquer originalidade, diria que a construção da minha identidade profissional tem dois marcos profundos, um na importância da «escola» de formação inicial e outro, na socialização profissional e organizacional, marcada por vários contextos e várias figuras de referência. Terminei o curso consciente de algumas fragilidades teóricas e metodológicas mas convencida que levava as «ferramentas» para continuar a aprender.