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A obra de cornélio pires, um importante escritor e humorista paulista, e sua contribuição para a valorização da cultura caipira. O texto explora a relação entre a cultura popular e a erudita, destacando como pires, através de seus escritos e performances, ajudou a promover o reconhecimento da cultura caipira como parte importante da identidade paulista. O documento também aborda a influência de pires na formação do imaginário cultural brasileiro, mostrando como sua obra continua a ser relevante para a compreensão da cultura popular do país.
Tipologia: Teses (TCC)
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Não perca as partes importantes!
e a Cultura Caipira no Cenário Hegemônico da Cultura Brasileira
Doutorado em Ciências Sociais
São Paulo
e a Cultura Caipira no Cenário Hegemônico da Cultura Brasileira
Doutorado em Ciências Sociais
Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutora em Ciências Sociais - Antropologia, sob a orientação da Prof.ª Doutora Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira.
São Paulo 2012
Agradecimentos
A construção desta tese contou com a participação e apoio de várias pessoas queridas. Sem elas, não haveria nem emoção, nem brilho no decorrer desta trajetória.
Agradeço em primeiro lugar e de todo coração a minha mãe, Alzira da Fonseca Andrade , que nos meus bons e maus momentos me apoiou e não desistiu de confiar em mim e me incentivar para a finalização desta pesquisa. E ao meu pai, Areno César de Andrade , por me ensinar que temos que ser firmes em nossas decisões e lutar sempre para alcançar nossos objetivos. Muito obrigada.
Ao meu querido e amado Thor , companheiro de todos os momentos (anos, meses, dias, horas, minutos e segundos) que, quando na exaustão, me consolava e me distraía, restabelecendo minhas forças para voltar ao trabalho.
A orientadora Prof.ª Dr.ª Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira , que aceitou esse desafio comigo. Seus ensinamentos possibilitaram o desenvolvimento da presente pesquisa.
A Kátia Cristina da Silva, funcionária competente e dedicada do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da PUC-SP e querida amiga. Sou imensamente grata por toda a ajuda que concedeu, com informações fundamentais em todo o processo do doutorado, com todo carinho e atenção. Muito obrigada.
A querida amiga Isabela Pennella , que me apoiou durante toda a trajetória desta pesquisa. Leu pacientemente os textos contribuindo com sugestões relevantes. Não há palavras que possam traduzir meu agradecimento pelo carinho e atenção que concedeu. Muito obrigada.
A querida amiga Ana Maria Augusta da Silva , pelo apoio em todos os momentos e contribuição nas ideias e discussões sobre este tema, o que fez com muito carinho. Muito Obrigada.
A Prof.ª Dr.ª Eliane Gouveia e a Prof.ª Dr.ª Silvia Borelli, por participarem da minha qualificação com sugestões fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa.
A CAPES, pelo apoio financeiro para realizar a pesquisa.
Ao SENAR-AR/SP, pelo apoio financeiro.
A Délia Corredoni , Sr. Paulo Bonater, Nilson Kikuty e Carlos Antonio Rodrigues, pelo carinho e apoio de sempre comigo, e na brevidade da restituição dos recursos financeiros na intenção de não me prejudicar. Muito obrigada.
Ao André Lorente , pela atenção e brevidade na revisão do texto.
A Inezita Barroso , pela entrevista que concedeu generosamente e pelas informações preciosas no que se refere à cultura caipira.
Ao Sr. Benedito Silvestrin, Fuzilo , In Memorian , que me atendeu com muita atenção na cidade de Tietê, ao visitar o Museu Cornélio Pires. Além das informações relevantes, me presenteou com os dois documentários de Cornélio Pires. Material raro que guardarei com todo carinho e divulgarei.
Ao Sr. Luiz Paladini, por ceder gentilmente fotos históricas de Tietê.
Aos amigos queridos , Ricardo dos Santos Malafronte, Flávia Campanini e aos funcionários da PUC-SP, enfim, a todos que torceram por mim , o meu mais sincero agradecimento.
"O olho vê, a memória revê e a imaginação transvê." Manoel de Barros
Sumário
Apresentação 10
Capítulo 1 21 Formação histórica da cultura do interior paulista
Capítulo 2 44 À volta por cima: distorções, movimentos e valorização da cultura caipira
Capítulo 3 63 Em Tietê nasceu um poeta
Capítulo 4 104 a) Tensão entre cultura popular e cultura erudita: o riso como mediador b) A contribuição de Cornélio Pires para a mediação entre cultura popular e erudita
Considerações finais 131
Anexos 142
Referências bibliográficas 162
A pesquisa acadêmica no campo das ciências sociais tem por objetivo contribuir para a produção do conhecimento científico, reflexão e entendimento dos acontecimentos e fenômenos que ocorrem na sociedade, como também interpretações a possíveis perguntas como: porque a escolha do tema, qual relevância para a área de estudo, quando surgiu o interesse, o que a faz ser original, entre outras que surgem durante seu desenvolvimento para a compreensão do pesquisador e do leitor. A temática desta tese intenta abordar a vida e obra de Cornélio Pires, os feitos de sua produção cultural para a contribuição da cultura regional paulista no diálogo com o cenário histórico e social de sua época, seus interlocutores e autores. Meu primeiro contato com o autor e sua obra deu-se na década de 1990, período que trabalhava na Secretaria de Estado da Cultura do Estado de São Paulo, na área de projetos culturais, auxiliando na produção do espetáculo teatral ‘A Estrambótica Aventura da Música Caipira’. O projeto teatral foi concebido por Robinson Borba, a pedido do músico Arrigo Barnabé, então assessor do Secretário de Estado da Cultura, Fernando de Morais, e com roteiro e direção do dramaturgo Carlos Alberto Sofredini inspirado nos ‘causos’ de Cornélio Pires, e a trajetória da música caipira, desde seu aparecimento até os ‘popstars breganejos’. A estreia ocorreu na cidade de São Paulo, no Teatro Sérgio Cardoso, e, na sequência seguiu viagem para o interior paulista apresentando o espetáculo em 10 cidades. O elenco era composto por uma gama de artistas entre músicos, cantores, ,atores e circenses, e, entre eles, estavam a dupla musical Pena Branca e Xavantinho, o ator Adilson Barros, no papel do narrador de estórias que eram intercaladas com performances circenses e musicais como: Passoca e Capenga Ventura interpretando a dupla Milionário e José Rico e Laert Sarrumor e Wandi Doratiotto interpretando a dupla Alvarenga e Ranchinho.
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(^1) Em pé: Cristina Guiçá, Laert Sarrumor, Paulo Vasconcelos, Kapenga, Luiz Violeiro, Beto Sodré, Passoca e a acordeonista Rosa. Sentados: Pena Branca e Xavantinho. Agachados: Adilson Barros, Lucinha, Wandi Doratiotto,Alberto Soffredini, o mímico Eduardo Coutinho e Zana de Oliveira. Foto de Vera Albuquerque. (^2) Arte criada para o espetáculo. Ficha técnica: roteiro original - Robinson Borba, roteiro final e direção - Carlos Alberto Soffredini, roteiro musical - Wandy Doratiotto, direção de produção - Robinson Borba e Júlia Vieira, assistente deprodução - Arlete Fonseca de Andrade, cenário e figurino - Irineu Chamiso Jr., iluminação - Abel Kopanski, programação gráfica - Carlos Matuck.
Pontuo essa questão para mostrar o quanto é comum cada vez mais aprofundar-se na pesquisa como se não houvesse um fim. Mantê-la o tempo mais que necessário perto, sempre acrescentando ou excluindo textos, ideias, passagens, referências, história e estórias. Curioso que numa dessas situações descobri um livro intitulado ‘O tempo de cada um’^4 que me chamou a atenção e, por coincidência ou não, era de Cornélio Pires e isso me levou a refletir. Pesquisar Cornélio Pires (1884-1958), seu tempo e sua obra é um desafio pela diversidade e riqueza que apresenta sua produção e período, fundindo a relação entre o tradicional e o moderno, rural e urbano. Durante sua trajetória Cornélio Pires foi escritor de contos, prosas e poesias, colaborador em diversos jornais e revistas, compositor e precursor na divulgação da tradicional música do interior paulista - a moda de viola - e responsável pela gravação em vinil deste estilo musical no ano de 1929. Tal universo, que até então era restrito aos que ali nasciam e habitavam, começa a ser conhecido e valorizado, principalmente por estudiosos e intelectuais que ansiavam, nas primeiras décadas do século XX, (re)descobrir o Brasil e uma possível identidade nacional. O recorte sócio-histórico em São Paulo se dá entre as décadas de 1900 e 1930 e os acontecimentos políticos e sociais como o fim da República Velha, a expansão e queda na agricultura, resignificação cultural com movimentos em prol do nacional e popular, como a Semana de Arte Moderna e outros. E, nesse sentido, Cornélio Pires enriquece com sua contribuição, revelando expressões, manifestações e significados da cultura rural até então desconhecida por alguns segmentos da sociedade brasileira justificam assim, a relevância deste estudo pelo viés da antropologia. Apesar das diversas citações sobre Cornélio Pires nos livros daqueles que dedicaram seus estudos à cultura regional paulista, existem somente duas biografias sobre o autor: Cornélio Pires Criação e Riso, de Macedo Dantas, e A Vida Pitoresca de Cornélio Pires, de Joffre Martins Veiga. Além disso, até o momento, não há um estudo acadêmico que acolha uma pesquisa sobre o tieteense e sua produção, o que torna assim um tema importante e inédito no campo das Ciências Sociais.
(^4) Pires, C. e Filho, A. C. O Tempo de Cada Um. Petit Editora e Distribuidora LTDA, São Paulo, 2003.
Alguns fatores acredito serem relevantes como: à análise sobre a intencionalidade de Cornélio Pires em divulgar a cultura caipira por meio do segmento artístico. Será que seu objetivo estava em desfazer o estigma negativo atribuído historicamente ao caipira visando sua inclusão e reconhecimento social? Outra questão se refere ao riso presente em grande parte de sua produção literária e artística. Sabemos que o riso suaviza situações de tensão e propicia, muitas vezes, a aproximação e o diálogo entre os diferentes. Assim, será que existe a possibilidade de a cultura popular penetrar os espaços hegemônicos da sociedade utilizando como recurso essa expressão? 5 São questões que pretendo desenvolver, entre outras que surgirão no decorrer da pesquisa, dialogando com teóricos das ciências humanas e sociais, em particular os da antropologia, história, filosofia e sociologia. O material bibliográfico que será pesquisado compõe as biografias de Cornélio Pires, livros e artigos que escreveu durante sua vida. A partir desse material, pretende-se analisar o conteúdo de algumas de suas obras e sua interface com as questões sociais e históricos da época, a sátira presente em toda sua produção, o movimento modernista, a expressão cultural do caipira, entre outros. Dentre a produção literária de Cornélio Pires, considero três livros como um dos melhores momentos da prosa regionalista do autor, os quais aqui serão abordados. São eles: ‘Musa Caipira’ (1910), seu livro de estreia contendo poesias e diversos sonetos na expressão falada do caipira, ‘Conversas ao Pé do Fogo’ (1921), que trata dos costumes e tradições do povo do interior paulista, e ‘As Estrambóticas Aventuras de Joaquim Bentinho (O Queima Campo)’ (1924), em que o autor criou o personagem-título. Além das biografias sobre o tieteense e referências bibliográficas nos estudos de base teórica, outros materiais serão pesquisados, como: artigos em revistas e periódicos, dissertações e teses que abordam a cultura popular brasileira em relação aos aspectos cultural, artístico e social desse período a fim de traçar um panorama crítico na temática da pesquisa.
(^5) Grifo meu
Quanto ao referencial teórico de questões nacionais, as obras de autores brasileiros como: Antonio Candido, Nelson Werneck Sodré, Sérgio Buarque de Holanda, Carlos Rodrigues Brandão, Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro, Sylvia Helena T. de Almeida Leite, Lúcio Kowarick, Elias Thomé Saliba, Renato Ortiz, entre outros, serão estudadas enfocando a formação histórica e cultural do país, a cultura regional paulista, seus hábitos, manifestações, costumes, linguagem, entrelaçando com a contribuição de Cornélio Pires. No campo teórico macro, os pensadores escolhidos para contribuir sobre cultura popular, cultura erudita, a tensão existente entre ambas e a importância do riso como mediador são: Mikhail Bakhtin, Antonio Gramsci, Peter Burke, Pierre Bourdieu, entre outros. Cada qual relacionado com os capítulos e tópicos nas suas áreas de competência. Mesmo que esses autores tenham na base de seu pensamento princípios teóricos que os diferenciem, a finalidade aqui é fazer com que as ideias se aproximem e dialoguem no campo social e cultural. As principais obras que serão estudadas nesta pesquisa são: ‘A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento’, de Mikhail Bakhtin, ‘Literatura e Vida Nacional’, de Antonio Gramsci, ‘Cultura Popular na Idade Moderna’, de Peter Burke. Em relação a Pierre Bourdieu, pretende-se abordar as ideias de ‘habitus ’, poder simbólico e capital cultural e relacioná-las aos aspectos individual, cultural e artístico de Cornélio Pires. Em relação ao riso e a sátira, a obra ‘Raízes do Riso’, de Elias Thomé Saliba, foi adotada para tratar do aspecto da história social e cultural dessa expressão presente em suas produções. Dos aspectos biográficos de Cornélio Pires, os livros consultados são: Cornélio Pires: ‘Criação e Riso’, de Macedo Dantas, e ‘A Vida Pitoresca de Cornélio Pires’, de Joffre Martins Veiga, além de alguns textos publicados em revistas daquele período. Entendo que os conceitos apresentados são muito abrangentes e envolvem questões históricas em períodos específicos; assim, optou-se pelo campo multidisciplinar das ciências humanas e sociais para enriquecer a presente tese, oferecendo maior embasamento às questões que serão apresentadas.
A tese está composta dos seguintes capítulos:
Capítulo 1: Formação da cultura do interior paulista No primeiro capítulo a intenção é compreender a produção artística de Cornélio Pires, a quem a dedica, seus interlocutores, somado ao contexto histórico do país, os efeitos da colonização, a convivência entre diferentes etnias e suas inter-relações e conflitos que contribuíram na formação da cultura caipira. Também pretende-se abordar a formação da cultura brasileira, a Província de São Paulo antes e depois da rápida urbanização, a cultura regional e os estigmas atribuídos ao povo paulista em vista a pobreza do local comparado a outras localidades nacionais e a explicação de tal concepção vinda de diversos autores que estudaram e compreenderam as questões específicas do país. Capítulo 2 : À volta por cima: distorções, movimentos e valorização da cultura caipira. Este capítulo trata do reverso das concepções distorcidas sobre o caipira, a produção literária do Regionalismo, a visão de autores e críticos sobre este segmento e o Modernismo com sua retomada na valorização da cultura popular. Capítulo 3: Em Tietê nasceu um poeta. Este capítulo apresenta a trajetória de vida do autor e o conjunto de sua produção artística: literatura (contos, versos, poemas), música, cinema, entre outras, relacionadas aos costumes, hábitos e expressão cultural do povo do interior paulista. Capítulo 4: Tensão entre cultura popular e cultura erudita. O riso como mediador , aborda além da temática do título, o aspecto histórico da cultura erudita e popular, suas contradições e a relação com a cultura regional paulista, levando em consideração o estilo de Cornélio Pires no humor, na sátira em seus contos e prosas e as questões sociais e culturais que estão presentes em sua estrutura. Por fim, nas considerações finais, as ideias e análises apresentadas nos capítulos irão dar suporte nos questionamentos apontados no início da presente tese.
As questões históricas sobre a formação do povo brasileiro, do rural paulista, suas origens, geografia, organização, bem como a visão de escritores e pesquisadores serão abordadas a fim de oferecer uma compreensão sobre o tema proposto na presente pesquisa. Para alcançar esse objetivo, autores como Nelson Werneck Sodré, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro, Antônio Candido, Carlos Rodrigues Brandão, Rubens Borba de Moraes, Auguste Sant-Hillaire e o próprio Cornélio Pires serão contemplados na sustentação teórica desse período histórico e construir o conhecimento sobre a cultura caipira. Quando o invasor europeu chega ao imenso território, ávido por fazer fortuna, dominar e impor os moldes da colonização a centenas de milhares povos tradicionais que aqui habitavam, logo constata que nada havia de interessante em se tratando de mercadorias para explorar e comercializar. Afinal, nesse período, a Europa encontrava-se na fase mercantilista com olhos voltados para a acumulação de riqueza por meio da produção e comercialização de mercadorias, bem diferente do que ocorria aqui nos trópicos. O território era habitado por uma grande diversidade de povos vivendo em sistema de comunidade tribal, à base de subsistência e sem atrativos até então ao colonizador em termos de exploração comercial. Assim, a contribuição do território descoberto foi somente a terra em si. Resta então, [...] tornar a colônia objeto porque, para a produção, só pode proporcionar o objeto (SÓDRE, 2003, p. 11). Para que o objeto pudesse se tornar produtivo e atender aos objetivos do colonizador, a estratégia foi transplantar uma cultura na colônia trazendo os povos da África, para trabalhar na condição de escravos. Assim, [...] numa produção transplantada e montada em grande escala, para atender as exigências externas, surge naturalmente uma cultura também transplantada. (SODRÉ, 2003, p. 11) Diferente do que ocorria em outros continentes, como no Oriente e parte da África, em que algumas áreas já se encontravam colonizadas e inseridas no
sistema mercantilista, a saída no Brasil, foi transplantar^6 uma cultura baseada na relação entre senhores e escravos e na exploração do trabalho. Um modelo para o colonizador obter resultados rentáveis e de modo rápido. A transplantação da cultura teve como objetivo queimar etapas entre a sociedade vista por estrangeiros como ‘primitiva’ e o mercantilismo, não importando a destruição das comunidades tradicionais, sua forma de vida, cultura e valores. (SODRÉ, 2003, p. 17) Havia uma grande heterogeneidade étnica entre os habitantes que habitavam o território, com seus conflitos e acomodações. Os povos tradicionais viviam em sistema de comunidade de subsistência, o europeu em transição do feudalismo para o mercantilismo e o africano, trazido para cá na condição de escravo, vivia também em sistema de comunidade.
A transplantação da cultura no Brasil deu-se em três etapas:
[...] 1ª etapa: cultura transplantada anterior ao aparecimento da camada social intermediária, a pequena burguesia; 2ª etapa: cultura transplantada posterior ao aparecimento da camada intermediária, a pequena burguesia; 3ª etapa: surgimento e processo de desenvolvimento da cultura nacional, com o alastramento das relações capitalistas. (SODRÉ, 2003, p. 13)
As duas primeiras referem-se à classe dominante na fase escravista (relação entre senhores e escravos). Já na etapa seguinte a classe dominada começa a ter um papel importante na esfera social, pois se transforma em mercadoria. A terceira etapa refere-se à burguesia como a classe dominante. Esse modelo do colonizador voltado para o desenvolvimento econômico e social deu-se de forma mais efetiva e rápida em algumas províncias como Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro. No caso de São Paulo, o imenso território coberto pela floresta permaneceu durante mais de três séculos isolada e sem sinal de progresso econômico e social. Na província paulista não havia relação com povos estrangeiros, como ocorria nas outras, e nem ligação com o oceano, que favorecia o desenvolvimento do comércio local através da importação e exportação de
(^6) Termo utilizado por Nelson W. Sodré no livro Síntese de História da Cultura Brasileira. Ed. Bertrand Brasil, São Paulo, 2003, pg.17.