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O Perfil Psicológico de Assassinos em Série e a Investigação Criminal, Teses (TCC) de Psicologia Analítica

Este artigo acadêmico explora o perfil psicológico dos assassinos em série, desmistificando crenças populares sobre sua natureza e comportamento. Aborda as características comuns entre os serial killers, os métodos de investigação aplicados em seus crimes e a importância da preservação da cena do crime. O texto também discute a utilização da psicologia na obtenção de confissões e a necessidade de políticas públicas para prevenir e reduzir a violência.

Tipologia: Teses (TCC)

2020

Compartilhado em 10/03/2025

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marcelina-furlanetto-7 🇧🇷

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O perfil psicológico dos assassinos em série e a investigação criminal
GUIMARÃES, Rafael Pereira Gabardo1
Resumo:
O objetivo deste trabalho é identificar e compreender a origem do comportamento do assassino em
série e destacar as características comuns entre os serial killers. O trabalho faz uma abordagem dos
métodos de investigação aplicados nos crimes praticados pelos assassinos. Foram utilizados na
confecção do presente trabalho pesquisas em doutrinas, notícias veiculadas pela imprensa e internet,
além de seguir o método dedutivo para o desenvolvimento do texto ora apresentado.
Palavras-Chave: Serial killers; Análise Psicológica; Investigação.
The psychological profile of serial killers and the criminal investigation
Abstract:
The purpose of this work is to identify and understand the origin of the serial murderer behavior,
emphasize common characteristics between serial killers. The work approaches with investigation
methods applied in the solution of crimes perpetrated by the killers. It has been used for elaboration of
this present work doctrines research, news thrown by the press and internet, and also deductive
system for the development of the study now introduced.
Keywords: Serial killers; Psychological Evalution; Investigation.
Introdução:
"As emoções humanas são um presente de nossos ancestrais animais. Crueldade é um presente que
a humanidade deu a si mesma”
1 Delegado de Polícia do Departamento de Polícia Civil do Estado do Paraná.
Revista da Escola Superior de Polícia Civil - DPC-PR e-INSS: 2595-556X
Rua Tamoios, nº 1.200 – Vila Izabel – Curitiba/PR—CEP: 80.320-290
Fone: (41) 3270-1650 - fax: 3243-5324
e-mails: espc.revista@pc.pr.gov.br e espc@pc.pr.gov.br
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O perfil psicológico dos assassinos em série e a investigação criminal GUIMARÃES, Rafael Pereira Gabardo^1 Resumo: O objetivo deste trabalho é identificar e compreender a origem do comportamento do assassino em série e destacar as características comuns entre os serial killers. O trabalho faz uma abordagem dos métodos de investigação aplicados nos crimes praticados pelos assassinos. Foram utilizados na confecção do presente trabalho pesquisas em doutrinas, notícias veiculadas pela imprensa e internet, além de seguir o método dedutivo para o desenvolvimento do texto ora apresentado. Palavras-Chave : Serial killers; Análise Psicológica; Investigação. The psychological profile of serial killers and the criminal investigation Abstract: The purpose of this work is to identify and understand the origin of the serial murderer behavior, emphasize common characteristics between serial killers. The work approaches with investigation methods applied in the solution of crimes perpetrated by the killers. It has been used for elaboration of this present work doctrines research, news thrown by the press and internet, and also deductive system for the development of the study now introduced. Keywords : Serial killers; Psychological Evalution; Investigation. Introdução: "As emoções humanas são um presente de nossos ancestrais animais. Crueldade é um presente que a humanidade deu a si mesma” 1 Delegado de Polícia do Departamento de Polícia Civil do Estado do Paraná. Revista da Escola Superior de Polícia Civil - DPC-PR e-INSS: 2595-556X Rua Tamoios, nº 1.200 – Vila Izabel – Curitiba/PR—CEP: 80.320- Fone: (41) 3270-1650 - fax: 3243-

Hannibal Lecter Ainda não é de fácil compreensão o que impulsiona certas pessoas a adotarem uma postura que vai de encontro à lógica da preservação da vida, ou seja, indivíduos cujo objetivo é justamente o oposto, qual seja, o de exterminá-la. A origem desse comportamento geralmente é atribuída à determinada psicopatia, malformação mental, herança genética ou algum episódio violento ocorrido durante a infância ou adolescência. Tais indivíduos, ao cometer crimes contra a vida, são comumente reconhecidos pela alcunha de serial killers ou assassinos em série. Algo que frequentemente deixa as pessoas surpresas é descobrir que essa espécie de homicidas tem vidas com aspectos comuns: possuem famílias, empregos, namoram, conversam com os vizinhos, leem livros, assistem filmes e etc. Aparentemente são pessoas normais que esconderam de todos, durante muito tempo, a sua verdadeira identidade maligna secreta. E isso realmente é assustador. Há uma falsa noção de que os serial killer s são produtos recentes das sociedades modernas, muito por conta da exploração midiática dos casos pelo jornalismo sensacionalista e cinema dos Estados Unidos no século passado e dias atuais. No entanto, ao longo da história da humanidade, verifica-se que eles sempre estiveram presentes em vários tipos de culturas e localidades diversas, porém, num primeiro relance passam despercebidos, já que a denomIntroduçãoinação serial killer foi criada somente há algumas décadas atrás. Na Idade Antiga e Idade Média, por exemplo, os guerreiros e cavaleiros, muitas vezes eram psicopatas que podiam livremente dar vazão aos seus objetivos homicidas sem se importar com qualquer forma de repreensão moral, uma vez que a única preocupação era apenas aniquilar o inimigo, independente da forma que isso ocorresse, ou seja, tinham plena liberdade para agir sem preocupação com as consequências dos seus terríveis atos. Por isso, não há dúvidas em se afirmar que os assassinos em séries permeiam a humanidade desde sempre. E justamente diante desta afirmação é que surge uma grande perplexidade: os serial killers sempre estiveram por aí e a humanidade não conseguiu suprimir esse comportamento tão maligno da nossa convivência. Contudo, no último século, Revista da Escola Superior de Polícia Civil - DPC-PR e-INSS: 2595-556X Rua Tamoios, nº 1.200 – Vila Izabel – Curitiba/PR—CEP: 80.320- Fone: (41) 3270-1650 - fax: 3243-

considerado o critério objetivo da quantidade, todos se enquadrariam como assassinos em série. Também o elemento objetivo de lugares distintos é questionado, já que notórios serial killer s realizavam os seus crimes em um único local, como o caso de John Wayne Gacy, que usava o porão de sua casa para torturar e esconder os restos mortais de suas vítimas. Também o caso do alemão Joachim Kroll, o “Canibal de Ruhr”, que matava suas vítimas e as cozinhava em seu apartamento, jogando partes dos corpos no vaso sanitário, o que entupiu o encanamento do prédio e fez com que fosse descoberto. Além disso, não se pode desprezar os casos em que o indivíduo foi preso antes de cometer o terceiro assassinato, pois ele deixaria de ser um serial killer somente pelo fato de sua sequência ter sido interrompida fortuitamente? Mas será que a diferença entre um serial killer e um assassino comum é só quantitativa? Óbvio que não. O motivo do crime ou, mais exatamente, a falta dele é muito importante para a definição do assassino como serial. As vítimas parecem ser escolhidas ao acaso e mortas sem nenhuma razão aparente. Raramente o serial killer conhece sua vítima. Ela representa, na maioria dos casos, um símbolo. Na verdade, ele não procura uma gratificação no crime, apenas exercita seu poder e controle sobre outra pessoa, no caso a vítima (CASOY, 2014, p. 20). Por conta dessas críticas, surgiu uma outra definição mais flexível, elaborada pelo Instituto Nacional de Justiça dos Estados Unidos: Uma série de dois ou mais assassinatos cometidos como eventos separados, geralmente, mas nem sempre, por um criminoso atuando sozinho. Os crimes podem ocorrer durante um período de tempo que varia de horas a anos. Muitas vezes o motivo é psicológico e o comportamento do criminoso e as provas matérias observadas nas cenas do crime refletem nuanças sádicas e sexuais (SCHECHTER, 2013, p.18). Essa definição mais precisa é importante para, por exemplo, diferenciar o serial killer do assassino em massa ( mass murderer ). Ambas espécies de criminosos somente possuem um traço em comum: se envolvem em múltiplos homicídios. Os assassinos em massa são aqueles que, por algum motivo que lhe tirou a vontade de viver ou lhe causa revolta, realizam uma carnificina em locais públicos, geralmente sem ter um plano de fuga e na grande maioria das vezes se suicidam ao final, seja dando cabo da própria vida após levar consigo o maior número de vítimas em seu surto de violência ou provocando um confronto fatal com a polícia. Normalmente usam armas de fogo. Nessa categoria entram também os ataques Revista da Escola Superior de Polícia Civil - DPC-PR e-INSS: 2595-556X Rua Tamoios, nº 1.200 – Vila Izabel – Curitiba/PR—CEP: 80.320- Fone: (41) 3270-1650 - fax: 3243-

terroristas, que movidos por um ideal, praticam o homicídio de várias pessoas sabendo que ao final também serão mortos. Cabe também indicar uma espécie diversa de assassino, o chamado spree killer , os quais geralmente são franco-atiradores ( snipers ) e que não pretendem ser presos: Assemelha-se ao assassino serial, mas sua ação é muito mais veloz – porque mata muitos em um breve espaço de tempo -, e suas motivações não possuem um caráter sexual. Poderíamos considerá-lo um assassino em massa, porém mais lento em seu desdobramento […/ mas diferente deste, trata de passar despercebido, fugindo do público como da autoridade. (TENDLARZ; GARCIA, 2013. p.143). Portanto, verifica-se uma clara distinção entre as espécies de homicidas, destacando que o serial killer nunca quer ser descoberto. Seus crimes possuem sempre um tom sexual e de sadismo. 1.2 Quem são os serial killer s: aspectos gerais e psicológicos: A maioria das pessoas tende a imaginar o serial killer como uma pessoa louca ou doente mental, o que se verifica não ser verdade na maioria dos casos. Há, no entanto, consenso de que os assassinos seriais possuem ligações íntimas com a psicopatia e a psicose, que são desvios mentais distintos. A psicose é uma doença mental que provoca uma alteração na noção da realidade, onde um mundo próprio se forma na mente do psicótico, ou seja, ele vive num delírio e sofre alucinações, ouvindo vozes e tendo visões bizarras. As formas mais conhecidas de psicose são a esquizofrenia e a paranoia. Apenas uma reduzida parcela dos assassinos em série se enquadra no lado dos psicóticos, o que derruba a crença popular de que todo serial killer é louco. Por outro lado, a psicopatia afeta a mente do assassino de forma diversa. Não cria nenhum tipo de ilusão na mente, ou seja, o indivíduo vê claramente a realidade e sabe que é proibido matar, porém suas perturbações mentais os fazem ser frios e sem empatia. Basicamente o serial killer psicopata vive uma vida dupla, mantendo uma aparência voltada para a sociedade, muitas vezes sendo uma pessoa gentil, racional e que interage com o meio social, porém, sua verdadeira identidade é mostrada somente para suas vítimas: um ser dissimulado e incapaz de sentir pena e de obter satisfação com tortura, estupro e assassinato. Revista da Escola Superior de Polícia Civil - DPC-PR e-INSS: 2595-556X Rua Tamoios, nº 1.200 – Vila Izabel – Curitiba/PR—CEP: 80.320- Fone: (41) 3270-1650 - fax: 3243-

c) emotivo: obtém prazer no planejamento do crime e mata por pura diversão; d) sádico: é o que busca satisfação através do sofrimento das vítimas, mediante tortura, mutilação e homicídio, os quais lhe trazem prazer sexual. Olhando ao passado dos serial killer s geralmente se encontram sinais comportamentais comuns entre eles, quais sejam: enurese em idade avançada (urinar na cama), piromania (provocar incêndios) e sadismo precoce (normalmente torturando animais ou crianças, como se fosse um ensaio para o futuro matador). Isso não significa que se uma criança fizer alguma dessas condutas certamente será uma assassina em série no futuro. É impossível fazer uma leitura prognóstica destes sinais. Contudo, o inverso sempre se mostra ocorrente, ou seja, no passado dos serial killer s esses comportamentos são frequentes. É a chamada “terrível tríade”, que também é complementada por outras características na infância: masturbação compulsiva, isolamento social, destruição de propriedade, baixa autoestima, acessos de raiva, dores de cabeça constantes, automutilações e convulsões. 1.1.2 Origem do comportamento homicida em série : O avanço da psicologia, impulsionada pelos estudos de Carl Jung e Freud, permitiu perquirir sobre a origem dos atos humanos e especialmente os atos cruéis. Somado a isso, estudiosos de várias áreas, como policiais, psiquiatras, psicólogos, tem enveredado esforços para identificar as causas do comportamento desses assassinos. Essas causas notadamente fazem referência a abuso infantil, seja psicológico ou físico ou sexual, influência genética, desequilíbrio químico na área mental, dano cerebral, exposição a eventos traumáticos e insatisfação acerca de “injustiças sociais”. Vale destacar novamente que nem toda pessoa que tenha vivenciado algumas dessas referências necessariamente se tornará um psicopata. Frise-se que nos casos estudados sobre os serial killer s, sempre há identificação de alguns Revista da Escola Superior de Polícia Civil - DPC-PR e-INSS: 2595-556X Rua Tamoios, nº 1.200 – Vila Izabel – Curitiba/PR—CEP: 80.320- Fone: (41) 3270-1650 - fax: 3243-

desses aspectos indicados como causa, mas não é uma correspondência sempre certeira. Notadamente, o abuso infantil é mencionado com frequência como parte do passado dos assassinos seriais: Os pesquisadores sobre o tema consideram que o abuso infantil, de qualquer tipo e grau, não constituem uma causa exclusiva na formação de um futuro assassino, mas sim um fator muito importante para a compreensão do tema. Eles argumentam que os pais podem ser fontes de terror para os filhos. A mãe culpa-se mais que o pai, talvez porque comumente desaparece ou diretamente nunca esteve presente. As queixas sobre a mãe (são paradoxais) se referem acerca de seu caráter superprotetor ou muito distante; também de que se trata uma pessoa sexualmente ativa ou muito reprimida. Já sobre o pai, menciona-se serem alcoólatras, agressores ou misóginos. A marginalização e a ignorância sofrida por essas crianças precede suas futuras condutas agressivas, como também poderão resultar em um fanático religioso ou em iniciativas violentas para impor disciplina (TENDLARZ; GARCIA, 2013. p.152). Também é com frequência relatado que os serial killer s passaram por algum acidente ou agressão na infância que gerou danos cerebrais ou que existe alguma alteração química na mente. Por exemplo, John Gacy, o “Palhaço Assassino”, desmaiava com frequência devido a algum tipo de anomalia cerebral. Já Arthur Shawcross, o “Assassino do Rio Genesse”, tinha duas fraturas no crânio. Outra causa apontada pelos especialistas é a influência do meio social. Muitos indivíduos acabam catalisando os estímulos ambientais ou ficam insatisfeitos com injustiças sociais, ou aparentes incorreções sociais que só existem na mente do indivíduo. Muitos pesquisadores indicam que a violência estimulada pelas mídias pode ser um fator que estimule o aparecimento de pessoas psicopatas. A cultura da violência na televisão, cinema, jornalismo, videogames, para alguns, serve de combustão para pessoas com desordem mental. Rámila (2012) explana que a violência sempre existiu e em termos globais, inclusive as sociedades eram mais belicosas antigamente. Contudo o que ocorria era o conflito violento entre sociedades distintas. Países guerreavam um contra o outro. Mas hoje a violência está presente internamente, os conflitos ocorrem entre vizinhos e familiares. A violência é glorificada como forma de solução dos conflitos. Além disso, a pressão social em busca do sucesso a qualquer custo motiva o aparecimento do serial killer. Uma sociedade que classifica como pessoas vencedoras somente aquelas que tiveram grandes ganhos materiais acaba gerando Revista da Escola Superior de Polícia Civil - DPC-PR e-INSS: 2595-556X Rua Tamoios, nº 1.200 – Vila Izabel – Curitiba/PR—CEP: 80.320- Fone: (41) 3270-1650 - fax: 3243-

Não obstante, há uma certa tendência de o homicida escolher vítimas que sejam mais fracas do que ele, uma vez que estas não dificultariam suas pretensões homicidas. Contudo, paradoxalmente, quanto maior resistência a vítima opuser ao agressor, maior satisfação sexual é proporcionada ao assassino. Também é comum que o serial killer opte por vítimas que não chamem tanto a atenção pelo seu sumiço, como prostitutas, mendigos, andarilhos, pessoas colocadas à margem da sociedade. Porém, como assevera Casoy (2014), inexiste um padrão fixo de preferência por vítimas específicas, pois o motivo do assassino, via de regra, só faz sentido para ele mesmo. A vítima pode simbolizar algo que somente o estudo pregresso da mente do homicida irá correlacionar. 2.1 Mitos: Existem vários mitos que circundam os serial killer s. Predomina na imaginação das pessoas que são homens brancos, loucos e com aparência estranha, muito inteligentes e sofisticados. Porém o estudo dos casos revela que essa criação no imaginário popular se deve mais aos filmes e séries que tendem a glamourizar a figura do psicopata. Veja-se que nem todos os assassinos em série são homens. Certamente, o número de casos envolvendo homens é muito maior do que a de assassinas do sexo feminino. Para isso, existe uma explicação psicológica: As mulheres, de forma geral, quando sofrem os mesmos tipos de abuso ou negligência do que os homens na infância, tendem a internalizar os seus sentimentos, segundo Douglas e Olshaker. Elas acabam tendo comportamentos autodestrutivos, como o alcoolismo, drogas, prostituição ou suicídio. Não é frequente se tornarem agressivas ou predatórias. (CASOY, 2014, p. 35). Portanto, enquanto o homem externaliza seus traumas e comete crimes de forma violenta contra pessoas com quem não possui vínculos, as mulheres, quando se tornam assassinas, geralmente o fazem com pessoas pelas quais nutrem algum tipo de vínculo emocional, em geral maridos e crianças. Frequentemente se enquadram nos casos de “anjos da morte”, que são pessoas responsáveis por Revista da Escola Superior de Polícia Civil - DPC-PR e-INSS: 2595-556X Rua Tamoios, nº 1.200 – Vila Izabel – Curitiba/PR—CEP: 80.320- Fone: (41) 3270-1650 - fax: 3243-

cuidar de doentes, como enfermeiras e médicas, e que acabam matando-os. Ou mesmo na categoria de “viúvas negras”, que são aquelas que matam uma sequência de maridos ou familiares que, na sua cabeça, são empecilhos para sua felicidade. Até na forma de execução dos crimes homens e mulheres diferem, pois os serial killer s homens realizam o ato sempre com violência, estuprando, mutilando órgãos sexuais e torturando as vítimas. Já as mulheres se valem de meios mais sorrateiros como envenenamento e sufocamento. Porém, existem sim vários exemplos de mulheres que integram o rol desses seres macabros que foram de uma perversidade extremamente violenta, como é o famoso caso de Aileen Wuornos, a qual pegava carona na estrada com suas vítimas (total de sete) e depois as executava com um tiro de revólver calibre 22. Outra falsa ilusão acerca dos serial killer s é em torno da sua inteligência. Muitos associam a figura do assassino com a do personagem Hannibal Lecter, que é culto, bem vestido, erudito e que consegue enganar a polícia com facilidade. Na verdade, é interessante perceber que essa figura é apenas a forma como os assassinos gostam de imaginar a si mesmos: Em seu narcisimo patológico – sua percepção profundamente distorcida da própria superioridade -, serial killer s realmente são gênios do crime que podem passar a perna em todo mundo. Assassinos em série com QI de gênio, são praticamente inexistentes. Alguns, na verdade, são bastante estúpidos e se valem de truques baratos em vez de inteligência para enganar a polícia (SCHECHTER, 2013, p.261). Temos exemplos de estupidez nos casos de Gary Heidnik, o qual foi preso por manter acorrentadas e torturas vítimas no porão de sua casa e usou como argumento de defesa no júri que elas já estavam lá quando ele se mudou para aquela casa, e também quando Randy Kraft, que foi surpreendido dirigindo seu carro bêbado com um corpo de uma vítima estrangulado no banco do carona. Em contrapartida à desmistificação da superioridade intelectual do assassino em série, constata-se que também não são loucos, embora sempre eles e seus advogados aleguem como tese de defesa sua insanidade, para assim, reduzir ou afastar uma condenação à prisão. Revista da Escola Superior de Polícia Civil - DPC-PR e-INSS: 2595-556X Rua Tamoios, nº 1.200 – Vila Izabel – Curitiba/PR—CEP: 80.320- Fone: (41) 3270-1650 - fax: 3243-

A explicação psicológica para que um assassino em série repita o ciclo é a de que o mesmo, ao cometer o crime, apenas ritualiza e fantasia a vítima como se fosse a representação de alguém que o humilhou no passado, a ausência do pai, um abuso sofrido na infância. Mas após matar a vítima, o passado, que durante a realização do crime estava sendo “vingado”, continua o mesmo após a morte da vítima. A tortura e a morte da vítima não liberam o assassino de seu estigma, ao contrário, fazem-no reviver sua trajetória pessoal. Dessa maneira, fica estabelecida como causa do crime a relação do sujeito com suas fantasias assassinas. Em um dado momento, para manter viva sua fantasia, o assassino em série necessita vivê-la. Internamente começa a se debater pensando que talvez consiga levar adiante sua fantasia; finalmente esse diálogo termina no inexorável momento (TENDLARZ; GARCIA, 2013. p. 212). É tendo ciência dessa compreensão do ciclo homicida e de que ele voltará a se repetir que a investigação criminal poderá obter êxitos se forem aplicados os métodos necessários e adequados. Estes métodos serão abordados a partir de agora. 3.1 Análise do Crime: A conservação da área onde foi cometido o crime é providência que deve ser observada para a investigação de qualquer espécie de crime, por óbvio. Nesse local serão observados elementos e avaliados objetos que possibilitem a reconstrução da sequência dos atos do assassinato, bem como, evidências que identifiquem a vítima e o agressor. Aqui, o investigador deve buscar pensar como o assassino para entender como e porquê se deu o evento. Portanto, a preservação do local do crime é de suma importância, do contrário, qualquer alteração do estado das coisas pode interferir negativamente na conclusão final. A consequência da não preservação do local do crime seria a contaminação do mesmo. A subtração ou modificação de objetos e corpos do local do crime interferem diretamente na análise do que ocorreu ou na coleta de evidências. Certamente uma perícia será insuficiente ou mesmo induzida a erro se essa situação de alteração do ambiente e estado das coisas for permitida, de modo que o Revista da Escola Superior de Polícia Civil - DPC-PR e-INSS: 2595-556X Rua Tamoios, nº 1.200 – Vila Izabel – Curitiba/PR—CEP: 80.320- Fone: (41) 3270-1650 - fax: 3243-

estabelecimento de conexões com outros crimes, identificação de testemunhas e de suspeitos e a verificação do modus operandi destes últimos restariam prejudicados. Um local contaminado pode levar à condenação de pessoa inocente ou até absolvição do autor do crime por falta de provas. Essas possibilidades indesejadas levaram o legislador a incumbir à autoridade policial a tarefa de imediatamente, assim que souber da ocorrência do delito, preservar o local do crime, conforme dispõe o artigo 169 do Código de Processo Penal: Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos. Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e discutirão, no relatório, as conseqüências dessas alterações na dinâmica dos fatos (BRASIL, 1941). Tal preocupação, como se vê, foi inclusive expressa na legislação, tamanha importância para a investigação e solução dos crimes. Contudo, mesmo com toda essa preocupação legal e certamente cuidado observados pelos profissionais atuantes, em certas situações, quando da localização da cena do crime, algumas considerações devem ser feitas, especialmente quando o local a ser analisado for aberto e sujeito a interferências de ordem variável, como, por exemplo: a) atuação da própria natureza pode mexer nas evidências e localização original de objetos e corpos (ex: vento, chuva, animais); b) a presença das próprias pessoas investigando, jornalistas, podem contaminar a cena, de modo que, é prudente permitir o acesso ao local somente de pessoas que sejam necessárias ali; c) deve haver paciência na coleta de indícios, seja por eles serem frágeis ou por poderem passar despercebidos. Destarte, num primeiro momento, o investigador deverá contemplar a cena do crime em sua totalidade, sem tocar em nada. Tirará fotos e fará anotações referente a disposição e postura do corpo da vítima e localização de objetos. Em seguida, os objetos relacionados ao crime deverão ser recolhidos e acondicionados de forma a serem preservados para futura análise pericial, caso necessário. Também recomenda-se que sejam tiradas fotos dos objetos recolhidos, marcando-se o dia e a hora. Revista da Escola Superior de Polícia Civil - DPC-PR e-INSS: 2595-556X Rua Tamoios, nº 1.200 – Vila Izabel – Curitiba/PR—CEP: 80.320- Fone: (41) 3270-1650 - fax: 3243-

Um serial killer organizado geralmente possui as seguintes características: tenta esconder o corpo da vítima, limpa a cena do crime, segue as notícias relativas ao crime que cometeu, demonstra controle durante a execução do crime, tem como alvo pessoas desconhecidas e consegue estabelecer relações sociais aparentes e sabe ser simpático. Por outro lado o assassino em série desorganizado é socialmente imaturo (geralmente sem trabalho), descuidado com as atitudes e aparência, não se preocupa com os vestígios deixados na cena do crime, mata pessoas conhecidas. Porém, cabe observar que essa distinção não se estabelece de forma absoluta: Novamente devemos relativizar essa visão e tomá-la como apontamento em outras ocasiões, em termos estatísticos, porque nem todos os assassinos organizados são encantadores, nem todos assassinos desorganizados carecem de carteira de habilitação. Sempre existem exceções. Por isso alguns preferem falar de assassinos predominantemente organizados e de assassinos predominantemente desorganizados (RÁMILA, 2012, p.61). No tocante ao modus operandi , quando da análise da cena do crime, deve- se visualizar se há algum tipo de arma no local ou identificar qual foi utilizada (revólver, faca, pedra, corda...), local selecionado pelo agressor e outros elementos que identifiquem a forma de agir. O modus operandi nada mais é do que o padrão utilizado pelo assassino no cometimento dos seus crimes. É a escolha do método por ele utilizado quando pratica o crime: como ele escolhe a vítima, a sequestra, subjuga, tortura, mata, esconde o corpo. Quando se nota um certo padrão, é possível identificar quem foi o assassino e inclusive relacionar o crime investigado com outros antecedentes. Contudo, é preciso prudência na compreensão desse elemento, uma vez que com o tempo, o assassino pode refinar seus métodos, seja por ganhar confiança e expertise, seja por querer mudá-lo para obter mais emoção: O modus operandi de um serial killer costuma evoluir ao longo do tempo conforme ele fica mais confortável com suas matanças, tenta despistar a polícia ou simplesmente fica entediado com um tipo de homicídio e tenta variar um pouquinho. (SCHECHTER, 2013, p.304). Essa é uma questão importante a ser observada para que não se deixe de conectar crimes do mesmo assassino em série ou mesmo o contrário, não identificar Revista da Escola Superior de Polícia Civil - DPC-PR e-INSS: 2595-556X Rua Tamoios, nº 1.200 – Vila Izabel – Curitiba/PR—CEP: 80.320- Fone: (41) 3270-1650 - fax: 3243-

que aquele crime faz parte de uma série de assassinatos cometidos pelo mesmo indivíduo. Por fim, a assinatura refere-se a uma característica do assassinato que reproduza alguma particularidade psicológica do assassino em série. A imensa quantidade de filmes, livros e séries sobre o tema criou no imaginário popular de que o serial killer sempre deixa alguma marca nos crimes, seja escrevendo algo no corpo da vítima ou deixando algum objeto peculiar na cena do crime (uma flor, uma carta, um inseto...). Na verdade a minoria dos assassinos em série realiza tal ato ostensivo, geralmente sendo aqueles que buscam satisfação através do alarde na mídia ou provocação à polícia. No entanto, a maioria prefere ser deixada em paz para continuar sua matança sem ser incomodado. Nesses casos, a assinatura é o tipo de violência exercida e o ato de profanação da vítima vai qualificar como sendo a assinatura do assassino. São consideradas assinaturas a forma como o assassino dispõe o corpo da vítima, geralmente chocante; utilização de certas palavras ou roteiro verbal em todos os assassinatos; específicos tipos de tortura ou mutilação das vítimas. Observe-se que, a assinatura é a ritualização que expressa o psicológico do assassino e não aspectos físicos da vítima. Conforme se vê, há uma aparente semelhança entre o modus operandi e a assinatura, mas são conceitos diferentes: Um criminoso que manda as pessoas tirarem a roupa durante sua ação está utilizando um MO inteligente, pois todos terão de se vestir antes de chamar a polícia e ninguém sairá correndo nu atrás dele. Agora, um criminoso que faz o mesmo, mas fotografa as pessoas em poses eróticas, já demonstra ter uma ‘assinatura’, porque está alimentando suas fantasias psicossexuais. Apesar de o MO ter muita importância, ele não pode ser utilizado isoladamente para conectar crimes. Já a “assinatura”, mesmo que evolua, sempre terá o mesmo tema de ritual, no primeiro ou no ultimo crime, agora ou daqui a dez anos (CASOY, 2014, p. 63). 3.2 O perfil criminal e a psicologia investigativa: Como o assassino em série é um indivíduo com distúrbios mentais, ora se apresentando como um psicopata, ora com um psicótico, nada mais evidente do que Revista da Escola Superior de Polícia Civil - DPC-PR e-INSS: 2595-556X Rua Tamoios, nº 1.200 – Vila Izabel – Curitiba/PR—CEP: 80.320- Fone: (41) 3270-1650 - fax: 3243-

programa é que o assassino se encontrará muito próximo do centro dessa circunferência. Por isso esse método é conhecido como “hipótese do círculo”. Portanto o método de David Canter é estatístico e dentre outros fatores, dá importância a hora e local onde o criminoso escolhe para matar: Os serial killer s têm menos probabilidade de matar ou estuprar em locais não familiares, uma vez que são crimes de controle e eles não se sentirão tão seguros em um ambiente estranho. Além disso, se os crimes estão localizados em certa disposição geográfica, há grandes chances de o criminoso viver ou trabalhar nessa área. Pode também indicar o horário de trabalho dele, uma vez que o ataque à vítima se dá em sua hora de lazer ou em local legitimado pelo seu trabalho (CASOY, 2014, p. 55). Por outro lado, há também estudiosos que buscam traçar o perfil criminal sem ser baseado em estatísticas. É o caso do cientista forense Brent Turvey, que se baseia na análise comportamental de provas denominado Behavioural Evidence Analysis (BEA). Tal método, que visa a reconstituição do crime e com base nesta interpreta o comportamento do criminoso, é dividido em quatro passos: a) análise forense questionável: uma evidência pode trazer vários significados e por isso todos estes devem ser levados em consideração; b) vitimologia: estudar a vítima, ou seja, buscar entender qual motivo levou o assassino a escolher aquela pessoa; c) cena do crime: se refere à análise do local onde ocorreu o evento, sua proximidade com outros pontos de interesse, como outros delitos e residência local de trabalho da vítima; d) características do transgressor: é a fase final do método, com criação do perfil do criminoso com base na sua compleição física, sexo, hábitos, histórico criminal, provável moradia, estado civil e raça. O perfil montado com o método BEA é útil em duas fases distintas: Na primeira fase investigativa, temos um agressor desconhecido de um crime conhecido: reduz o número de suspeitos; ajuda na ligação desse crime com outros que tenham o mesmo padrão, na avaliação do comportamento criminal para uma escada de violência; provê investigadores com estratégia adequadas; dá uma trilha de movimentos a serem seguidos na investigação. Na fase de julgamento, já sabendo quem é o agressor de um crime conhecido, o perfil BEA ajuda a determinar o valor de cada evidência para um caso particular; auxilia no desenvolvimento de uma estratégia de entrevista ou interrogatório, de um insight dentro da mente do assassino, compreendendo suas fantasias e motivos; relaciona a cena do crime com o modus operandi e a assinatura comportamental. (CASOY, 2014, p. 58). Revista da Escola Superior de Polícia Civil - DPC-PR e-INSS: 2595-556X Rua Tamoios, nº 1.200 – Vila Izabel – Curitiba/PR—CEP: 80.320- Fone: (41) 3270-1650 - fax: 3243-

Percebe-se então que a perspicaz coleta de informações, a organização e o cruzamento destas em um sistema de dados pode ser de grande valia na elucidação dos crimes. Como exemplo disto, desde 1985, o FBI possui um programa de computador chamado de Programa de Análise Investigativa Criminal ( Violent Criminal Apprehension Program - ViCAP), o qual funciona como um banco de dados criminal dos crimes violentos ocorridos naquele país, o qual organiza e analisa informações sobre casos não solucionados de homicídios em série em todo os Estados Unidos. No Canadá também foi implantado um sistema de dados semelhante, denominado Viclas-Violent Criminal Linkage System , o qual é reconhecidamente superior ao sistema americano. Isso se dá em razão de que nos Estados Unidos, os policiais alimentam o sistema voluntariamente, enquanto no Canadá o acréscimo de dados por parte dos policiais é obrigatório, mantendo então sempre o sistema atualizado. Não é à toa que, desde 1995, mais de sete mil crimes foram solucionados no Canadá com o uso desse sistema (MILLER, 2015). 3.3 O uso das redes sociais: O ser humano necessita de interação social. O serial killer , embora seja frequentemente associado a distúrbios mentais que prejudicam sua sociabilidade, também interage nas redes sociais. A internet criou um canal que facilitou as relações entre as pessoas, muito por conta de propiciar o encontro de indivíduos com pensamentos semelhantes e que tem interesse em trocar informações sem que haja necessidade de exposição física ou plena identificação. As autoridades policiais rapidamente perceberam que as redes sociais também passaram a ser utilizadas para finalidades escusas, ou seja, cometimento de crimes. Muitos criminosos, além de usar a internet para praticar crimes, também a utilizam para se vangloriar das atrocidades que cometem. Fotos, vídeos e comentários de um suspeito, são fontes inesgotáveis para que os investigadores colham elementos necessários para traçar um perfil criminal ou obtenham uma prova conclusiva. Assim, o investimento em programas que transmitem alertas em razão do uso de determinadas palavras, postagem de Revista da Escola Superior de Polícia Civil - DPC-PR e-INSS: 2595-556X Rua Tamoios, nº 1.200 – Vila Izabel – Curitiba/PR—CEP: 80.320- Fone: (41) 3270-1650 - fax: 3243-