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Este artigo apresenta uma reflexão sobre o processo criativo utilizado na construção de objetos artísticos através do artesanato do crochê. O texto cita obras de artistas referenciais e discute as características do processo de construção e transformação de objetos artísticos, além de abordar a relação entre arte e artesanato.
Tipologia: Esquemas
Compartilhado em 07/11/2022
4.5
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Edi Behling Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas, Estado Rio Grande do Sul
Adriane Hernandez Professora Doutora da Universidade Federal de Pelotas, Estado Rio Grande do Sul
Resumo
Este artigo apresenta uma reflexão sobre o processo criativo utilizado na construção de um objeto artístico pelo fazer artesanal do crochê. Também busca relacionar o ato criativo com conceitos retirados da teoria do olhar, da percepção e da memória, como um triângulo indissociável. Igualmente serão citadas obras de artistas referenciais como José Leonilson, Edith Derdyk, Lia Menna Barreto, Joana Vasconcelos.
Palavras–chave : Processo criativo. Fazer artesanal. Arte Contemporânea.
A relação entre arte e artesanato acontece como uma trama poética em meu processo criativo tornando possível através do gesto artesanal do crochê, desenvolver um objeto artístico, no contexto da arte contemporânea, tão somente com uma agulha de metal e fios de algodão/sintético, em uma espessura de trama fina, com um resultado singular em suas especificidades.
Sendo o material um meio que torna possível uma estrutura e um contorno, construídos ponto por ponto, formando novos objetos, possuidores em sua composição de elementos que dão leveza e maleabilidade também em objetos reconfigurados do cotidiano, traduzidos em outra linguagem, esta agora destituída de funcionalidade. Essas são algumas características que se fazem presentes no processo de construção e transformação dos objetos artísticos dentro de uma trama de ideias.
Processo criativo
O desenvolvimento do processo criativo começa a se formar no pensamento a partir da imagem visual do objeto aliada às lembranças no mesmo instante em que é visualizado um objeto real. Essa imagem visual mental do objeto, por sua vez é somada à ideia central, ainda vaga, antes de ser executada uma trama mental da imagem do novo objeto.
Desse modo, a criação mental se forma pelas associações de imagens dos objetos e das relações espaciais entre eles. Imagens visuais mentais refletem os processos associativos da ideação em novas imagens, de forma que o objeto típico idealizado consiga comunicar-se com o mundo exterior, bem como a imagem do objeto a ser estudado já tenha a definição dos sentidos, conceitos, às vezes, concluídos de projetos anteriores.
Partindo de uma maneira própria de expressão, as imagens mentais de objetos conduzem a buscar, nas lembranças, fatos ou experiências vividas, valores e significações. Sendo que as vivências podem se integrar em forma de diálogo, por meio de ordenações concluídas e ampliadas mentalmente, conforme as experiências armazenadas na memória.
Nesse sentido, fica evidente, que as artes visuais possibilitam um exercício de leitura poética, permitindo evocar a memória mental a partir das experiências com o mundo.
Segundo ele, é esse prazer que permite a descoberta das diversas possibilidades da prática com o material utilizado. É no fazer prolongado que novos pontos, percursos para o bordado são descobertos, que os acasos do processo são incorporados como novas possibilidades. É ali que a prática é aprendida e remodelada:
[...] eu gosto de fazer. É meu prazer. A obra é conseguir fazer. A gente trabalha com o que tem. Se não é possível fazer alguma coisa, tem que fazer outra. É preciso respeitar isso. [...] a obra não é tão importante quanto o aprendizado. É muito importante ir aprendendo com o que se faz (p. 116).
De modo semelhante, para Derdyk (1997, p.66) a costura é como um ato performático que a enriquece; que a faz conhecer melhor a matéria, arte - "Arte não se sabe, se faz para saber" - e a si própria - "Só sei o que sou quando já passou. Resíduos". Para ela, as marcas do ato são registros de sua vivência, que a lembram sobre quem é e sobre o discurso. Edith Derdyk (Imagem 02) ressalta esse aspecto de seu processo, dizendo que a repetição, própria do ato da costura, utilizada por ela, reafirma o caráter performático de sua obra e a importância visual da mesma.
Imagem 01: José Leonilson Sem Título Ano:1993. Fonte: www.leonilson.com.br
Imagem 02: Edith Derdyk Suturas Ano:1993. Fonte: www.edithderdyk.com.br
Já nos bichos de pano e nas bonecas de Lia Menna Barreto (Imagem
Evidenciar, não as diferenças das obras, mas o que se repete nos três artistas aqui aludidos, é a relação estreita que estabelecem com o tema. Essa relação só é possível pela postura não-hierárquica deles para com as ferramentas do fazer. O objeto transforma-se fisicamente em suas possibilidades de significação; o que se apreende nesse processo são questões que podem auxiliar na dissolução dos nós conceituais, temáticos, formais e existenciais.
Imagem 03: Lia Menna Boneca Dorminhoca Barreto Ano: Fonte1996.: www.liamennabarreto.com.br
aquilo que menos a aliena é o fato de nela tudo ter passado pelo espírito e ter sido humanizado sem violência. [...] Ainda que o espírito nela continue a exercer a dominação, ela liberta-se, na sua objetivação, dos seus fins dominadores. [...] A arte retifica o conhecimento conceitual porque, separado, cumpre o que está em vão, espera da relação abstrata sujeito-objeto: o desvelamento de alguma coisa de objetivo mediante a produção subjetiva (ADORNO, 1970/1988, p.133).
Para Adorno (1951/1993, p.187), a expressão artística resguarda a manifestação não falsificada de si mesma, pela sua força resiste à mutilação das exigências sociais.
Arte Contemporânea
Arte contemporânea é uma designação que costuma ser atribuída, pela maior parte dos teóricos, para o período artístico relativo à segunda metade do século XX até os dias atuais. A presença do objeto na arte, anteriormente descrito nesta reflexão, começa nas assemblages cubistas de Picasso, nas invenções de Marcel Duchamp e nos objetos encontrados dos surrealistas, portanto, ainda no período moderno.
Duchamp, que não se deteve em aspectos estéticos da arte para fazer sua crítica, pretendeu atacar a própria instituição Arte. Duchamp trouxe uma série de influências aos artistas contemporâneos. Por um lado, mais específico, ele é o responsável maior pela inauguração de uma vertente artística que privilegia o caráter objetivo e conceitual da arte.
Esse entendimento fragmentado das atitudes duchampianas, faz com que se consiga reconhecer, por sua influência, boa parte da produção artística atual. Nessa, o artista adota uma postura bastante racional em seu processo. Nos seus Readymades, objetos deslocados, é possível perceber essa tradição e chegar à Arte Conceitual, Minimalista e Contemporânea.
Em 1913, Duchamp instalou uma roda de bicicleta sobre um banco de cozinha, abrindo caminho para o desenvolvimento dessa nova categoria das artes plásticas. No entanto, a noção de objeto se desenvolve no sentido de pensar a qualidade do material que os trabalhos possuem e uma certa demarcação do espaço que ocupam. No modo como ligamos modelos estruturais: superfícies, alturas, escalas e resistências na arte. Essas qualidades são utilizadas na produção de sentido. Tais objetos resultantes de ações apontam para o valor do sujeito individual que cria os objetos, e criar aqui tem um duplo sentido, isto é, significa tanto o gesto do artista como um produtor, mas também alude ao sentido mais amplo de elevar o trabalho do sujeito acima dos objetos, sendo o valor mais alto o da criação (ESTILES apud FREIRE, 1999, p.155).
Ainda, Duchamp, ele próprio, diz: “são os olhadores que fazem um quadro,” qualquer objeto aceito como arte torna-se artístico. Somos nós que afirmamos o “em si” da arte, aquilo que nos objetos é, para nós, arte.
Imagem EdiBehling 05: Material^ S/titulo: Vidro,madeira, espelho, fio de algodão Ano: 2010. Fonte: Coleção particular
Na trama das ideias contemporâneas, por assim dizer, aposta-se na dimensão expressiva e subjetiva a nível emotivo, formal ou simbólico. Para Fayga Ostrower (1978, p 165) “assim, a criação é um perene desdobramento e uma perene reestruturação. É uma intensificação da vida”.
Referenciais
ADORNO, Theodor W. (1951). Minima Moralia: reflexões a partir da vida danificada. Tradução de Luiz Eduardo Bicca. 2 ed. São Paulo: Ática, 1993. 216p.
ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
BACHELARD, Gastão. A Poética do Espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
BAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos. São Paulo: 2 ed Perspectiva S. A. 1993.
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: Lembrança de Velhos. 3ª edição. São Paulo: Cia. das Letras. 1994.
CHAUI, Marilena. Convite a Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
CHIARELLI, Tadeu. Leda Catunda. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2003.
COLLI, Jorge. O que é Arte. São Paulo: Editora Brasiliense, 1995.
DERDYK, Edith. Linha de Horizonte: por uma poética do ato criador: São Paulo: Escuta, 2001.
_____________. Designo. Desenho. Desígnio. São Paulo: Escuta, 2007.
____________, Linha de Costura. São Paulo: Iluminuras, 1997.
FERREIRA, G; COTRIN, C. Escritos de Artistas: anos 60/70 seleção e comentários, [tradução de Pedro Süssekind...et al.] – 2 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.
FREIRE, Cristina. Poéticas do processo. Arte conceitual no museu.São Paulo: Iluminuras, 1999.
LAGNADO Lisette. São tantas as verdades. São Paulo: Companhia de Melhoramentos, 1998.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e processo de criação. 2 ed. Petropolis: Vozes,1978.
Referenciais eletrônicos
www.joanavasconcelos.com < acessado em 02-08-2011>
www.leonilson.com.br < acessado em 09-08-2011>
www.lia menna barreto.com.br < acessado em 09-08- 2011>
www.edithderdyk.com.br < acessado em 08-09-2011>