




























































































Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Prepare-se para as provas
Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Prepare-se para as provas com trabalhos de outros alunos como você, aqui na Docsity
Os melhores documentos à venda: Trabalhos de alunos formados
Prepare-se com as videoaulas e exercícios resolvidos criados a partir da grade da sua Universidade
Responda perguntas de provas passadas e avalie sua preparação.
Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Comunidade
Peça ajuda à comunidade e tire suas dúvidas relacionadas ao estudo
Descubra as melhores universidades em seu país de acordo com os usuários da Docsity
Guias grátis
Baixe gratuitamente nossos guias de estudo, métodos para diminuir a ansiedade, dicas de TCC preparadas pelos professores da Docsity
Uma análise crítica da série de quadrinhos transmetropolitan, focando no personagem jornalista spider jerusalem. O texto aborda a história do jornalismo em quadrinhos, desde a introdução do gênero na década de 60 até as primeiras experiências de jornalismo em quadrinhos, com destaque para o trabalho do norte-americano joe sacco. Além disso, o documento discute a representação do jornalista em quadrinhos, as relações entre jornalismo e quadrinhos, e os elementos contraculturais por trás do cyberpunk e do novo jornalismo.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de aula
Compartilhado em 07/11/2022
4.5
(77)184 documentos
1 / 107
Esta página não é visível na pré-visualização
Não perca as partes importantes!
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal da Paraíba, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Comunicação. Área de Concentração: Comunicação e Culturas Midiáticas. Orientador: Prof. Dr. Henrique de Paiva Magalhães
João Pessoa/PB 2013
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal da Paraíba, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Comunicação. Área de Concentração: Comunicação e Culturas Midiáticas.
Aprovada em ......../................................/
Prof. Dr. Henrique de Paiva Magalhães (orientador) Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Prof. Dr. Derval Gomes Golzio Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Prof. Dr. Marcelo Bolshaw Gomes Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
A Flávia, Ulisses e Helena, pelo apoio, companhia e carinho.
“Os sistemas, como os indivíduos, tiram a sua força dos vícios.” (Jean Baudrillard)
Os jornalistas, como comunidade interpretativa, ou tribo, se definem por meio de traços sociais e pelo domínio de saberes práticos que permitem a reivindicação de um campo profissional específico. Esta cultura jornalística também é rica em mitos e representações sociais que buscam legitimar o papel desempenhado pelo jornalista na sociedade, mitos estes que muitas vezes mascaram a realidade profissional. Nascidos dos jornais, os quadrinhos modernos têm tradição na representação de jornalistas como personagens. Esta representação, especialmente nos quadrinhos de super-heróis, de aventura e gêneros correlatos, serviu por muito tempo para reforçar a imagem profissional contida no mito. Porém, à medida que esses quadrinhos amadureceram narrativa e tematicamente, essa representação passou a ser problematizada, expondo a ideologia por trás desses mitos. Esta pesquisa busca mostrar esse fenômeno por meio de um estudo de caso sobre a série em quadrinhos Transmetropolitan. Este quadrinho de ficção científica narra as aventuras do jornalista Spider Jerusalem por uma metrópole urbana caótica na busca de suas pautas. O estudo se dividiu metodologicamente em duas partes. Na primeira, uma pesquisa bibliográfica exploratória sobre os temas que embasam o estudo. Na segunda, uma análise de conteúdo das três primeiras edições de Transmetropolitan, para em seguida realizarmos a leitura crítica do material a partir dos dados coletados. Defendemos que esses quadrinhos se apóiam numa visão contracultural em relação à sociedade contemporânea e ao papel do jornalista nela, ao recorrer à narrativa cyberpunk e um estilo de reportagem defendido pelo Novo Jornalismo para problematizar esses mitos. Palavras-chave: Jornalismo. Quadrinhos. Imaginário. Cyberpunk. Novo Jornalismo.
12
À medida que o mundo ocidental mergulhou no processo de industrialização – e de maneira cada vez mais intensa –, as notícias se tornaram o principal modo pelo qual passamos a adquirir conhecimento sobre o mundo (MARCONDES FILHO, 2000). Virtualmente onipresente, a imprensa chega até nós pelas ondas do rádio, jornais, revistas, telas de tevê, computador, celulares, tablets ou qualquer outro meio que possa surgir. E termina por influenciar o modo como construímos nossa visão desse mundo, muitas vezes de forma mais contundente que outras instituições que anteriormente cumpriram essa função, como a escola ou a igreja. Para entender as notícias, nem sempre pesquisar apenas os processos pelos quais elas são produzidas ou como elas se estruturam é suficiente. Como nos afirma Nelson Traquina (2008, p. 14): “[...] não é possível compreender as notícias sem uma compreensão da cultura dos profissionais que dedicam as suas horas e, às vezes, as suas vidas, a esta atividade.” Numa época em que as corporações controlam diversos aspectos da vida cotidiana, em alguns casos superando os Estados em poder político e econômico, o jornalista vem se consolidando como uma figura intelectual cada vez mais relevante para oferecer ao público uma interpretação do mundo (ORTEGA; HUMANES, 2000). Porém, um intelectual subordinado à estrutura corporativa das empresas de comunicação, que precisa desenvolver esquemas eficientes e produtivos para organizar o conhecimento oferecido ao seu público- alvo. Atividade intrinsecamente ligada ao desenvolvimento e à transformação da sociedade contemporânea, o jornalismo passa por mudanças radicais provocadas pela ascensão da cultura digital. Novas relações com o público, novos modelos de negócio, novos suportes materiais para a transmissão da informação, novas (e às vezes questionáveis) fontes de pesquisa e apuração, todos esses fatores influem não apenas na atividade, mas principalmente naqueles que vivem dela: os jornalistas. Mas, estaria esta nova configuração afetando também a maneira como enxergamos a figura do jornalista e seu papel dentro da sociedade? O desenvolvimento do jornalismo como campo profissional levou ao surgimento de uma cultura rica em mitos e valores que buscam reforçar, junto à sociedade, o papel que o jornalista advoga para si enquanto produtor e transmissor de informações (TRAQUINA, 2008). Estas imagens se fixam no imaginário social por meio de representações nos mais diversos meios, inclusive nos jornais. Esta auto-imagem surgida entre os próprios
13
profissionais termina por impor à sociedade um imaginário. Uma mídia que possui uma ligação estreita com o jornalismo, sobretudo o impresso, e que pode ter contribuído para consolidar esse imaginário em seu público leitor foram as histórias em quadrinhos (HQs). As relações entre quadrinhos e jornalismo podem ser rastreadas em três tipos. Primeiro, temos os quadrinhos como gênero jornalístico, por meio das tirinhas – presentes até hoje em publicações mais tradicionais (NICOLAU, 2007). Apesar de faltar um consenso sobre a origem das HQs, é ponto passivo entre os pesquisadores que sua consolidação como linguagem se dá a partir da publicação periódica de histórias cômicas desenhadas nas páginas de jornais, na virada do século 19 para o século 20. Depois, temos um fenômeno mais recente: o dos quadrinhos como meio para a publicação de reportagens. Este caminho foi um pouco mais longo dentro da história das HQs. Da introdução do realismo nas histórias cômicas, por meio das histórias de aventura e de ficção científica, chegamos ao desenvolvimento das narrativas de não-ficção nos anos 60, até, por fim, as primeiras experiências de jornalismo em quadrinhos, com destaque para os trabalhos do norte-americano Joe Sacco. Por fim, e esse será o foco do nosso trabalho, temos o jornalista como personagens das HQs. Desde que se estabeleceram na indústria cultural, os quadrinhos se mostraram profícuos em representar jornalistas, geralmente reforçando os elementos que formam a mitologia da profissão. Este tipo de representação se tornou bastante comum nos quadrinhos de aventura, notadamente nos de super-heróis. Enquanto o cinema ajudou a consolidar um imaginário do jornalismo rico em traços ideológicos junto ao grande público, os quadrinhos teriam sido responsáveis por cristalizar essa visão glamourizada da profissão junto ao público infanto- juvenil – muitas vezes ‘fazendo a cabeça’ dos futuros profissionais da área. Porém, à medida que amadureciam como meio de comunicação de massa, os quadrinhos passaram a apresentar abordagens mais sofisticadas e menos ingênuas sobre diversos temas. Com a representação dos jornalistas nas HQs, como iremos ver, aconteceu o mesmo – inclusive nas histórias de aventura e de super-heróis. Neste trabalho, veremos vários exemplos que comprovam essa relação e, por final, tentaremos demonstrar como o caráter transgressor de determinados quadrinhos de ficção científica expõe as contradições inerentes a essa mitologia profissional do jornalismo, por meio de uma visão contracultural da atividade. Para isso, apresentaremos um estudo de caso
15
adiante, muitos dos avanços propostos pela New Wave seriam resgatados e atualizados no chamado ‘movimento cyberpunk ’, que seria responsável por romper a fronteira entre mainstream e underground que marcava a ficção científica. Ao mesmo tempo em que conquistou um grande público, saindo dos limites do fandom (círculo social restrito formado pelos fãs do gênero) e alcançando outras mídias, como o cinema, os quadrinhos e os jogos eletrônicos, o cyberpunk foi reconhecido pela crítica acadêmica como uma genuína expressão da literatura pós-moderna (AMARAL, 2006). Essas duas expressões, o Novo Jornalismo e o cyberpunk , são colocadas em evidência, por meio de seus traços contraculturais, na série em quadrinhos Transmetropolitan , publicada entre 1999 e 2005 pelo selo norte-americano Vertigo, da editora DC Comics. Apoiando-se na estética cyberpunk , os autores, Warren Ellis (roteiro) e Darick Robertson (desenhos), criam um retrato ácido da sociedade e da imprensa contemporânea por meio do protagonista Spider Jerusalem, um jornalista que se utiliza de métodos anticonvencionais para escrever sobre o cotidiano de uma megalópole. Esta dissertação se divide em duas partes. Na primeira dela, formada pelos capítulos 2, 3 e 4, abordamos os eixos teóricos que referenciam o estudo de caso proposto: o imaginário e a ideologia que dão suporte ao jornalismo enquanto prática profissional; as relações entre jornalismo e quadrinhos, com ênfase na representação dos jornalistas como personagens de HQs; e os elementos contraculturais por trás do cyberpunk e do Novo Jornalismo. Esta parte da pesquisa foi exploratória e constituiu-se numa revisão bibliográfica sobre os temas citados. A segunda parte trata-se do estudo de caso propriamente dito. A metodologia utilizada para embasá-lo foi a análise de conteúdo das três primeiras edições da série Transmetropolitan , reunidas no álbum Transmetropolitan – De Volta às Ruas , publicado pela editora Panini em 2010. Uma leitura atenta desse material, apoiada na análise de conteúdo como método investigativo e tendo a contracultura como referência, pode indicar alguns pontos de contato entre o cyberpunk e o Novo Jornalismo. Para tanto, vamos investigar as categorias cidade, corpo e personagem (utilizadas por AMARAL, 2006, em seu estudo sobre filmes de temática cyberpunk ) nas três primeiras histórias de Transmetropolitan , publicadas no álbum ‘De Volta à Cidade’, pela Panini em 2010. As relações entre corpo e cidade, observadas pelo ponto de vista do protagonista, podem nos oferecer uma crítica ao jornalismo em tempos de cibercultura. Esta crítica, como veremos, se revela numa visão satírica sobre os mitos
16
construídos em torno da profissão e numa re-elaboração literária da reportagem, como alternativa ao imediatismo cada vez mais presente no jornalismo em tempo real preconizado pelo ambiente digital.
18
Marx via o conceito de ideologia como consciências separadas de proletários e burgueses; Lênin, que fez a revolução [socialista], já via o conceito de ideologia usado como arma dessa mesma revolução, e depois Lukács e os pensadores modernos viam a questão da cosnciência operária como alguma coisa mista, um conjunto de ideias, às vezes até bem opostas à sua realidade de classe (MARCONDES FILHO, 1985, p. 18-19). Em seu detalhamento sobre como funciona a estrutura ideológica, Marcondes Filho (1985) afirma que a ideologia parte de sempre de um grupo social , se manifesta através de símbolos e estereótipos , para reforçar um conjunto de valores que se traduzem numa visão de mundo. Portanto, é por meio de um processo claramente ideológico que o jornalismo busca se afirmar como a melhor ferramenta não apenas para conhecimento do mundo, mas como uma atividade fundamental para a sociedade contemporânea, como elemento fiscalizador do Estado e denunciador de injustiças e desigualdades. E faz isso, imprimindo no inconsciente social uma série de imagens e símbolos que glorificam a figura do jornalista. Estas imagens se fixariam no imaginário popular por meio de representações sociais. Este é um conceito bastante difundido nas ciências sociais, em especial, na Sociologia, na Psicologia Social e na Antropologia Social (CHARAUDEAU, 2009). Segundo Viana (2008, p. 35): “A abordagem das representações sociais surge na década de 1960, mas tem como fonte inspiradora a concepção durkheimiana das representações coletivas.” Esta visão, utilizada por Durkheim em sua tentativa de analisar o universo simbólico do pensamento religioso, foi retomada pelo psicólogo Serge Moscovici e adaptada ao mundo social contemporâneo (VIANA, 2008, p. 48):
As representações sociais não são “opiniões sobre”, “imagens de” e, sim, “teorias”, “ciências coletivas” sui generis, “destinadas à interpretação e elaboração do real”. As representações sociais tornam familiar e presente o que é estranho e ausente. As representações são sempre representações “de alguma coisa”, formam “universos de opinião”, que são tantos quanto são as classes, culturas e grupos. Para os objetivos desta pesquisa, iremos considerar ainda que as representações seguem o roteiro sugerido por Charaudeau (2009, p. 47):
As representações, ao constituírem uma organização do real através de imagens mentais transpostas em discurso ou em outras manifestações comportamentais dos indivíduos que vivem em sociedade, estão incluídas no real, ou mesmo dadas como se fossem o próprio real. Elas se baseiam na observação empírica das trocas sociais e fabricam um discurso de justificativa dessas trocas, produzindo-se um sistema de valores que se erige em norma de referência. Assim é elaborada uma certa categorização social do real, a qual revela não só a relação de “desejabilidade” que o grupo entretém com sua experiência do cotidiano, como também o tipo de comentário de inteligibilidade do real que o caracteriza – uma espécie de
19
metadiscurso revelador do seu posicionamento. Em resumo, as representações apontam para um desejo social, produzem normas e revelam sistemas de valores. Por sua vez, o imaginário seria fonte e repositório de todas essas imagens e representações, sob uma perspectiva fenomenológica (LEGROS et al., 2007). Este conceito, assim como o de ideologia, esteve latente ou contemplado parcialmente no trabalho de vários precursores do pensamento sociológico. Somente no século 20, porém, conseguiu-se obter uma “coerência sistemática de todos esses aspectos em um novo quadro sociológico e antropológico, adaptado a esse terreno” (LEGROS et al., 2007, p. 78). Passeando por alguns desses nomes, podemos ter relances de um conceito de imaginário que contemple nossos interesses. Ao investigar a mentalidade utópica, por exemplo, Mannheim toca num ponto essencial para justificar o interesse pela ficção científica como fonte de pesquisa para o cotidiano:
A investigação sociológica do imaginário se acha justificada pelo fato de que não apenas o passado mas também o futuro têm uma existência virtual no presente, e que a força de cada um desses fatores que agitam a experiência dos grupos humanos só é evolutiva se interpretadas as tendências latentes que as sustentam. (LEGROS et al., 2007, p. 81) E, ainda, os participantes do Colégio de Sociologia apontaram para o papel da indústria cultural (em especial o cinema, com Kracauer – mas essas mesmas observações podem muito bem ser estendidas às histórias em quadrinhos) ao construir e se apoderar desse imaginário:
De fato, o imaginário social articula, dialeticamente, a realidade material, objetiva e a produção cultural que transforma a aparência das coisas. [...] O imaginário afeta, fundamentalmente, nossa experiência histórica e nossa relação com o tempo. As sequências do fluxo temporal não se ordenam mais em uma série linear de momentos revolutos; o presente é modelado por imagens sincrônicas a ele que permitem sua legibilidade. (LEGROS et al., 2007, p. 86-87) Mais adiante, no tópico sobre a metodologia de pesquisa, retomaremos e desenvolveremos a noção de imaginário de maneira mais voltada para o desenrolar de nossa análise.
2.2. Traços sociais do jornalista
Uma das características da modernidade é a compartimentalização das técnicas e do conhecimento. Médicos, engenheiros, advogados, matemáticos, geólogos, estatísticos, biólogos, cada um desses grupos profissionais – e diversos outros – desenvolveu nichos de