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A tradição oral transmitida por mestres para discípulos, condensada em um livro tradicional chamado huáng dì nèi jīng. O livro, que apareceu na dinastia song, foi influenciado pelas ideias dos pensadores chineses, incluindo temas do daoísmo e outras correntes de pensamento. O texto aborda a importância dos três primeiros soberanos chineses, fúxī, shénnóng e huáng dì, e suas respectivas obras, que ainda hoje orientam estudos em várias áreas do conhecimento humano. O huáng dì nèi jīng se dirige à pesquisa do pensamento chinês contido nos primórdios da medicina chinesa, enfatizando conceitos como dào, yīn yáng, wǔxíng e qì.
Tipologia: Notas de aula
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HUÁNG DÌ NÈI JĪNG (Livro do Imperador Amarelo)
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Ciências das Religiões, da Universidade Federal da Paraíba, na linha de pesquisa Espiritualidade e Saúde, como exigência para obtenção do título de Mestre em Ciências das Religiões.
Orientador: Matheus da Cruz e Zica
Dissertação defendida em _______ de _________________ de 2017
À Força Maior que gera e movimenta todas as coisas. Aos meus pais e ao meu irmão por dar estrutura a minha existência. Ao meu marido e aos meus filhos por dar sentido à minha vida e por despertarem em mim um sentimento de amor profundo. Ao meu orientador, pela oportunidade de realizar essa pesquisa, me orientando com profissionalismo e humanidade. Aos professores do Curso de Ciências das Religiões da UFPB e aos funcionários pela competência e dedicação ao programa.
BELTRÃO, Izabelita Cirne. Noções de saúde e espiritualidade presentes no Clássico Chinês Huáng Dì Nèi Jīng (Livro do Imperador Amarelo). 2017. 142 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Pós Graduação em Ciências das Religiões, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, 2017.
A medicina desenvolvida na China Antiga possui uma estrutura complexa para explicar a constituição do ser humano, através de um mecanismo de correlações com leis fundamentais que governam o cosmos. Esses fundamentos têm seus aspectos teóricos, práticos e filosóficos e estão concentrados no clássico chinês Huáng Dì Nèi Jīng Sù Wèn Líng Shū , o texto de Medicina Chinesa mais antigo que chegou até nós, compilado pelo “médico ” Daoísta Wáng Bīng na dinastia Táng (762 d. C.). A Medicina Chinesa por ser globalizante, tem seu entendimento comprometido, ao ter seus aspectos filosóficos, teóricos e práticos considerados separadamente, o que acontece quando a utilizamos com propósitos apenas de cura sintomatológica. Por conta da importância desse clássico, objetivamos através da ferramenta da análise do discurso, compreender as noções de saúde presentes no clássico chinês mencionado, averiguando em que medida as traduções disponíveis publicadas no Brasil divergem no tratamento que dão a essa temática e em sua relação intrínseca com o Daoísmo em seu conteúdo original.
Palavras chave: Huáng Dì ; Daoísmo ; Medicina Chinesa.
BELTRÃO, Izabelita Cirne. Health Notions and spirituality present in the Chinese Classical Huáng Dì Nèi Jīng (Livro do Imperador Amarelo). 2017. 142 f. Thesis (Master’s Degree). Postgraduate Course of Sciences of Religions – Universidade Federal da Paraíba, João Pesso, PB, 2017
The Medicine developed previously in China has a complex structure to explain the human being constitution, through a correlations mechanism with fundamental laws that govern the cosmos. These fundamentals has their theoretical, practical and philosophical aspects and are concentrated in the Huáng Dì Nèi Jīng Sù Wèn Líng Shū Chinese Classical, the oldest Chinese medicine text that came to us, was compiled by the "doctor" Daoísta Wáng Bīng in the dynasty Táng (762 d. C.). Chinese Medicine, because it is globalizing, it has its understanding compromised, having its philosophical, theoretical and practical aspects considered separately, what happens when we use it for only symptomatic cure purposes. Because of this classic importance, we aim to understand the health notions presented in this Chinese classic, by examining the extent to which the available translations published in Brazil differ in the treatment they give to this theme and the intrinsic reason that has with Daoism in its original content.
Key words: Huáng Dì ; Daoism ; Chinese Medicine.
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A Medicina Chinesa é considerada uma das mais antigas formas de medicina^1 e se fundamenta numa estrutura sistêmica, filosófica e prática. Baseia-se em leis fundamentais que governam o cosmo e suas relações com o funcionamento do organismo humano através da interação com o ambiente, possuindo assim uma compreensão ampliada dos processos que influenciam na manutenção e reestabelecimento da saúde. Na aproximação com uma cultura que enfatiza o vivido, como é o caso da chinesa, as experiências de vida passam a adquirir mais importância e sentido, sendo assim, ainda na fase da infância, por volta da década de oitenta, várias vezes nos processos de adoecimento, utilizei terapia homeopática, mesmo não sendo uma alternativa usual nas práticas médicas da época, nem nos sistemas públicos de saúde no Brasil. A homeopatia tem preceitos que podem parecer bem divergentes dos usuais da biomedicina, do tipo: a febre não é inimiga do corpo, deixe as secreções serem expelidas, pois isso é uma limpeza para o organismo, assim essas concepções de saúde foram se tornando comuns, ao ponto de não me causarem estranheza. A homeopatia, sua atuação, como também de outras práticas integrativas^2 , como a Medicina Chinesa, dentre outras, são saberes complexos. O interesse pelo tema de cura energética e integralista foi se aprofundando, em especial, ao longo da minha trajetória acadêmica. Ainda na época da graduação em Fonoaudiologia descobrir um impulso interno no sentido de perceber o ser humano numa perspectiva integral, incluindo a noção que não éramos apenas um corpo físico, e essa inquietação se aprofundou já no primeiro período do curso, ao deparar com o laboratório de anatomia humana e refletir sobre aqueles corpos sem vida, não passando, naquele momento, de uma matéria inanimada, mas que um dia teve uma história, um acumulado de experiências, e algo que o fez ter vida. Outra inquietação foi perceber como a disciplina de anatomia humana dava grande ênfase na memorização de infinitos nomes relacionados às estruturas física e fisiológica do corpo físico humano. Será que essa prática pedagógica era suficiente para entender o complexo dimensional que é o ser humano? Entrando em contato com a terapia floral de Bach, desenvolvida na década de 30,
(^1) Existem outras formas milenares e medicina como as medicinas ayurveda; indígena; celta; egípcia; entre outras, (^2) Termo utilizado na PORTARIA No- 971, DE 3 DE MAIO DE 2006 que aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS. Segundo esta portaria o campo das Práticas Integrativas e Complementares contempla sistemas médicos complexos e recursos terapêuticos que buscam estimular os mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde, integração do ser humano com o meio ambiente, visão ampliada do processo saúde-Doença, como também estimulo ao autocuidado. Essas práticas são denominadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de medicina tradicional e complementar/alternativa. Dentre elas estão: Medicina tradicional chinesa; homeopatia; plantas medicinais e fitoterapia e crenoterapia.
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doenças^3 , mas também encontramos entre essas pesquisas, mesmo que em minoria, temas relacionados com:
(^3) Esse dado se baseia em trabalhos acadêmicos que constam no banco de teses da Capes e da plataforma eletrônica de periódicos Scielo. Com o tema acupuntura ou Medicina Chinesa mais de 1100 trabalhos que constam nesses bancos de dados foram pesquisados, porém apenas em torno de 30 desses trabalhos encontramos temas que não relacionam diretamente a acupuntura com a sintomatologia de doenças. 4 Autores cujas pesquisas se encontram no banco de teses da Capes e da plataforma eletrônica de periódicos Scielo referente ao tema acupuntura ou Medicina Chinesa.
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prestando a um princípio básico desse saber, o da integralidade e da experiência, não contribuindo para a mudança dessa percepção fragmentária. Se considerarmos dados fornecidos pelo IBGE, como a pesquisa nacional de saúde (PNS) realizada em 2013, doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) constituem o problema de saúde de maior magnitude e relevância e respondem por mais de 70% das causas de mortes no Brasil. As principais DCNT (doenças cardiovasculares, câncer, diabetes, enfermidades respiratórias crônicas e doenças neuropsiquiátricas) têm respondido por um número elevado de mortes antes dos 70 anos e perda de qualidade de vida, gerando incapacidades e alto grau de limitação das pessoas doentes em suas atividades de trabalho e de lazer^5. Com base nesses dados percebemos um percentual muito elevado de adoecimento da população brasileira, responsável por um índice também elevado de mortes, nos levando à reflexão sobre a eficácia das práticas e orientações terapêuticas utilizadas por essa população. Para nossa pesquisa consideramos pontos importantes acerca da saúde no Brasil e da prática da Medicina Chinesa: a perspectiva da Medicina Chinesa de equilíbrio energético do ser, sua influência na saúde integral; causas variadas das doenças crônicas que não se limitam à saúde apenas do corpo físico, incluindo aí aspectos como o psíquico, o social, dentre outros; a predominância da utilização sintomatológica da Medicina Chinesa na atualidade e mesmo estando toda sua filosofia estará para além dessa atuação, sendo muito mais voltada para uma proposta integral na conquista da saúde plena, que integra o ser humano com ele mesmo e com o cosmos, numa visão sistêmica. Almejando que a busca das fontes dos conhecimentos que embasam a Medicina Chinesa contribuía para uma melhor compreensão e utilização desse sistema de saúde, podendo trazer benefícios para a saúde das pessoas também na atualidade, uma vez que são conhecimentos bastante complexos, e perde muito do seu sentido e em especial do seu potencial, se for utilizado apenas de maneira técnica, assim faz-se importante e necessário o incremento em pesquisas que se proponham ao retorno às fontes desses conhecimentos, através, por exemplo, de estudos dos clássicos chineses que constituem a base da Medicina Chinesa. Barsted^6 (2006) doutor em saúde coletiva pela UERJ, ao relacionar a cosmologia Daoísta e Medicina Chinesa adverte que para “uma prática eficaz de medicina tradicional
(^5) http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv91110.pdf acesso em 05/07/ (^6) Doutor em saúde coletiva e membro da linha de pesquisa do CNPq “Racionalidades Médicas”, com tese em Cosmologia Daoísta e Medicina Chinesa.
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Segundo Capra (1982) o modelo biomédico está baseado no pensamento cartesiano que introduziu a rigorosa separação corpo e mente, assim as primeiras divisões foram a de corpo e espírito, ser humano e natureza, chegando ao ponto do corpo humano ser considerado como um relógio, uma máquina, negligenciando aspectos psicológicos, sociais e ambientais relacionados à doença. Nesse sentido levantamos uma indagação acerca do modelo biomédico cartesiano, se para Descartes o corpo é desvalorizado em detrimento do espírito, nesse sentido a biomedicina se apresenta com enfoque oposto, ou seja, valoriza o corpo em detrimento do espírito, o que ela tem de cartesiana é o enfoque na fragmentação do corpo. Dessa questão salta a indagação de como se deu o rompimento entre corpo e espírito, e o que teria influenciado as ciências biomédicas modernas a considerar o ser humano, enquanto corpo constituído de uma estrutura anatômica, composto principalmente por ossos e músculos, desvalorizando outros aspectos como a mente ou psique humana. E aparentemente no caminho inverso, porém no mesmo sentido de fragmentação também podemos indagar sobre o processo de separação entre espírito e corpo presente nas concepções de várias práticas espiritualistas e religiosas anteriores à Descarte, em que o corpo precisa ser negado pelo ser para que a transcendência ou salvação do espírito seja atingida. Para Capra (1982 p. 248) na visão da física moderna do sec. XX: A visão de mundo da física moderna considera o universo como uma rede em que tudo está conectado e se movimenta de maneira dinâmica percebendo a realidade a partir de uma visão sistêmica. Para desenvolvermos uma abordagem holística da saúde que seja compatível com a nova física e com a concepção sistêmica dos organismos vivos,... podemos aprender com os modelos médicos existentes em outras culturas. O moderno pensamento científico — em física, biologia e psicologia — está conduzindo a uma visão da realidade que se aproxima muito da visão dos místicos e de numerosas culturas tradicionais, em que o conhecimento da mente e do corpo humano e a prática de métodos de cura são partes integrantes da filosofia natural e da disciplina espiritual. A abordagem holística da saúde e dos métodos de cura estará, portanto, em harmonia com muitas concepções tradicionais, assim como será compatível com as modernas teorias científicas. Fischer (1999) se aproxima das considerações de Capra (1982), segundo ele os patriarcas do budismo, os sábios do Dào e os grandes físicos nucleares, guardadas as devidas proporções, veiculam ideias que parecem confluir em muitos sentidos, como: o universo é uma unidade poderosa e não um agrupamento de inúmeras partes isoladas. Para alguns chineses antigos, dentro de cada indivíduo vive o Dào e nós somos nós e ao mesmo tempo um todo. Atualmente percebemos uma tendência na área médica de trabalhar com as especialidades, uma vez que temos especialistas em cada parte pormenor do corpo humano, essa tendência se presta para contribuições especificas, porém se for utilizada como unanime,
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vai sempre representar uma leitura fragmentada de uma realidade mais ampla. Essa tendência, observada nas ciências da saúde, tem suas influências proveniente das ciências naturais como a física e a biologia, Queiroz (2006) aponta que ao absorver o mecanicismo e organicismo proveniente da física newtoniana e da biologia, a medicina emergiu como uma ciência moderna e o processo de doença e cura passaram a ser observados a partir das leis da física, da química e da biologia sem a interferência da subjetividade do sujeito. A superação do paradigma mecanicista não significaria sua exclusão e sim sua transcendência. A opção por algum tipo de medicina alternativa, não significa a negação da medicina positivista mais sim inclui-la em uma dimensão mais abrangente, onde uma proposta de busca pela universalidade seria compatível com a proposta iluminista original como expressada na filosofia de Kant e Hegel. O sentido pós-moderno da ciência incluindo a medicina e a saúde, poderia conceber uma perspectiva holística e integradora, por não haver mais caminho para a fragmentação cartesiana do real. (QUEIROZ, 2006) Essa fragmentação nas práticas de saúde não se destina apenas as ciências desenvolvidas na Europa moderna. Na China no século passado a Medicina Chinesa sofre uma fragmentação em sua cosmologia, que se caracteriza por ser globalizante, ordenada e integrada, postulando ressonâncias entre categorias afins e compreendendo formulações que extrapolam os limites mecanicistas. A Medicina Chinesa não concebe divisão entre corpo e mente embora atualmente pareça estar se aproximando cada vez mais da linguagem científica- ocidental moderna, considerando conceitos fundamentas da Medicina Chinesa antiga como místicos supersticiosos e metafísicos. Desconsiderar a importância do Dào é gerar uma incompreensão da Medicina Chinesa, seria abrir mão de uma tradição milenar ameaçando-a de extinção por intolerância, em nome de uma determinada visão de ciência, segundo uma técnica dissociada dos pressupostos que instituem seu campo. Poderia inclusive dar origem a tratamentos inócuos. (BARSTED, 2006) Ao que parece, essa fragmentação do conhecimento da Medicina Chinesa não se deu apenas no século XX, nem com a influencia ocidental nessa cultura, pois já no século VIII ao compilar a obra base da Medicina Chinesa, procurando entendê-la para além das suas técnicas de cura de doenças, Wáng Bīng , médico Daoísta que compilou a versão do “ Huáng Dì Nèi Jīng Sù Wèn Líng Shū ” 7 , escrita na China por volta do século VIII na dinastia Táng , que chegou até os dias atuais, acabou chegando à conclusão que “o ensinamento supremo foi colocado para trás e o uso das agulhas colocado à frente” (WANG BING, 2013 p. 23)
(^7) Será utilizado ao longo do projeto o sistema PinYín para a transliteração dos caracteres chineses.
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A multidisciplinariedade do campo de pesquisa das Ciências das Religiões da UFPB possibilita a utilização de métodos de pesquisas para o estudo de prática que consideram aspectos não limitantes ao físico ou à mente, ao longo de contextos históricos diferentes, baseada em culturas que podem se diferenciar da lógica aristotélica, e possuir pensamentos organizados, de acordo com uma Ordem totalmente diferenciada desta. Como é o caso da Medicina Chinesa, Ayurveda, Yoga, Medicina Indígena, religiões de Matriz: Africana, Cristã, Islâmica, práticas como o Budismo, a Filosófica Grega, Ateísmo, Gnosticismos, dentre outras. Podemos encontrar no campo das Ciências das Religiões, estudos que envolvem práticas filosofias e ou religiões, que possuem elementos sagrados, transcendentes, espirituais, os que negam todos esses elementos, os que buscam uma verdade última. Se nos debruçarmos por alguns desses sistemas podemos encontrar a busca pela espiritualidade em fatores externos quase inalcançáveis na realidade terrena em que vivemos, a exemplo das religiões monoteístas, onde o corpo pode ser visto como um empecilho para a salvação da alma, reforçando a dicotomia alma/corpo; a conquista através da Mente do Nirvana ou iluminação, como a exemplo do budismo; a proposta confunciana da importância da busca do conhecimento e do caminho espiritual alcançado através da razão ou da intuição interna. Também podemos encontrar experiências e práticas que partem da experiência do corpo como caminho para se alcançar sabedoria, longevidade, saúde e avanço espiritual. É o que permeia as bases do ensinamento da Medicina Chinesa presente no clássico Huáng Dì Nèi Jīng , onde parece não existir uma ruptura entre o corpo, o ser, e o mundo. E através da ação e da experiência desse ser, que possui corpo, no mundo, se pode alcançar sabedoria, espiritualidade e até a longevidade como proposta de saúde. Esses elementos são passiveis de serem estudados no campo das ciências das religiões, eles norteiam sistemas práticos e religiosos altamente complexos que são carregados de sentido em várias culturas humanas. A Medicina Chinesa constitui parte importante do pensamento chinês antigo, e tem origem atribuída a figura mítica do Imperador Amarelo Huáng Dì (2797 a.C.), se confundindo com o suposto início da cultura e da civilização dos chineses. Seus ensinamentos eram transmitidos verbalmente, e depois teriam sido condensados através da escrita ideográfica chinesa, no livro tradicional Huáng Dì Nèi Jīng – Clássico do Imperador Amarelo dividido em duas partes: Sù Wèn e Líng Shū que tratam de métodos de nutrir a força vital e atingir a longevidade. Para Dulcetti Junior e Dulcetti (2001 p, 25) “São feitas referências de uma Tradição transmitida de mestre para discípulo verbalmente a qual foi condensada num livro tradicional” - o Huáng Dì Nèi Jīng (Clássico do Imperador Amarelo).
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O texto Huáng Dì Nèi Jīng é considerado um tratado de “medicina” e da arte de viver da antiguidade chinesa. Sua escrita é atribuída, por vários estudiosos da História da China, ao período dos Reinos Combatentes (403-256 a.C.), escrito por grupo de médicos, através de uma síntese da tradição oral daquela época e de textos escritos em séculos passados, sua redação pode ter prosseguido pela Dinastia Hán (206 a.C. - 220) para ser completado na Dinastia Táng em 762 por Wáng Bīng médico Daoísta sendo sua produção final realizada pela Editora Imperial no século XI na Dinastia Song (960-1276). Unschuld (2003) apud JUNQUEIRA (2013) explica que ao que tudo indica, foi durante os séculos II e III a.C. que compiladores e grupos de autores, desconhecidos atualmente, reuniram diversos textos escritos em séculos passados, gerando uma segunda compilação de textos que também foi incrementada nos séculos posteriores. Essas compilações foram organizadas séculos depois dando origem a quatro principais clássicos: o Sù Wèn , o Líng Shū , o Nán Jīng e o Tài Sù , esse último desaparecido durante a Dinastia Song (960 –1279 d.C.) e hoje restando 23 dos seus 30 capítulos originais. Atualmente o “ Huáng Dì Nèi Jīng ” aparece como um único livro, porém foi apenas na Dinastia Song (960-1276) que ele foi finalmente editado como “ Huáng Dì Nèi Jīng Sù Wèn Líng Shū ”. Importante ressaltar que esse período abrange a criação das primeiras escolas filosóficas na China que buscavam solução para crises morais e políticas que culminaram com guerras e conflitos constantes entre seus estados que já haviam vivido em tempos ideais. Foi uma época de mudanças radicais sem precedentes em todos os domínios, em especial no pensamento, em tempos de guerras entre vassalagem. Uma batalha racional é travada com o surgimento de várias escolas do pensamento. (CHENG, 2008) Este período também foi conhecido como “Cem Escolas de Pensamento” Zhūzǐ Bǎijiā , quando as principais escolas filosóficas chinesas – confucionismo, Daoísmo , Legalismo , Moísmo , Yīn Yáng , os WǔXíng (Cinco Movimentos), entre outras, se originaram, buscando explicar os motivos que haviam levado a China a essas crises. Também procuravam traçar diretrizes em torno do que fazer para superá-las e como agir para que elas não se repetissem. Contudo os elementos que compunham essas escolas não eram novos. Foi com base numa cosmologia já organizada que essas escolas se formaram. Embora tenha sido um período de caos e guerras constantes, é também considerado o período dourado da filosofia chinesa. Lǎozi (500 a.C.), Kǒngzǐ^8 (500 a.C.), Mòzǐ (470 a.C.), Zhuāngzi (450 a.C.), Hánfēizǐ (
(^8) Conhecido no ocidente como Confúcio.