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Arcadismo - Análise sonetos de Bocage - profª Adriana, Notas de aula de Poesia

Outra parte frágil está nos poemas que apresentam ritmos e imagens fáceis, poesia declamatória, de circunstância, feita para impressionar os ouvintes, com.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Florentino88
Florentino88 🇧🇷

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Arcadismo - Análise sonetos de Bocage - profª Adriana
Bocage é um dos mais expressivos poetas noturnos da literatura portuguesa. Em muitos dos seus
sonetos, ressoam atmosferas sombrias, antecipando a imaginação ultra-romântica, que recusa a
vida normal e medíocre de um cotidiano sem lugar para a aventura, o sonho, o desejo.
Outros sonetos de Bocage caracterizam-se pela mescla de Arcadismo e Romantismo. O poeta
muitas vezes oscila entre a convenção - marca do tempo em que vive - Arcadismo - e o impulso -
necessidade do seu temperamento- Romantismo ; entre o bucolismo convencional e a confissão
sentimental romântica.
Uma parte frágil da sua lírica está na mistura indiscriminada de elementos árcades e românticos,
justapostos sem unidade interna. Outra parte frágil está nos poemas que apresentam ritmos e
imagens fáceis, poesia declamatória, de circunstância, feita para impressionar os ouvintes, com
truques de retórica e eloquência exagerada: este é um preço pago por Bocage para ser um poeta que
saiu dos salões e levou a poesia para as ruas, ajudando, inclusive, a criar um público moderno,
urbano, não aristocrático, para a poesia.
Os sonetos mais expressivos de Bocage têm uma forte atmosfera pessoal, de confissão egocêntrica,
de uma dramaticidade subjetiva intensa.
Poesia de ritmos candentes e imaginação, muitas vezes com ressonâncias profundas dos sonetos do
poeta Luis de Camões, e muitas vezes ressoando nos dramáticos sonetos de Antero de Quental.
Poesia de angústias e desesperos; poesias de confidências com a noite, poemas de amor e medo
sombriamente misturados, poemas de horror da morte e da morte como uma espécie de amor.
Analisemos alguns dos sonetos de Bocage:
1. Apenas vi do dia a luz brilhante
Apenas vi do dia a luz brilhante
Lá de Túbal no empório celebrado,
Em sanguíneo carácter foi marcado
Pelos Destinos meu primeiro instante.
Aos dois lustros a morte devorante
Me roubou, terna mãe, teu doce agrado;
Segui Marte depois, e enfim meu fado,
Dos irmãos e do pai me pôs distante.
Vagando a curva terra, o mar profundo,
Longe da Pátria, longe da ventura,
Minhas faces com lágrimas inundo.
E enquanto insana multidão procura
Essas quimeras, esses bens do mundo,
Suspiro pela paz da sepultura.
Estrutura interna bipartida:
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Arcadismo - Análise sonetos de Bocage - profª Adriana

Bocage é um dos mais expressivos poetas noturnos da literatura portuguesa. Em muitos dos seus sonetos, ressoam atmosferas sombrias, antecipando a imaginação ultra-romântica , que recusa a vida normal e medíocre de um cotidiano sem lugar para a aventura, o sonho, o desejo. Outros sonetos de Bocage caracterizam-se pela mescla de Arcadismo e Romantismo. O poeta muitas vezes oscila entre a convenção - marca do tempo em que vive - Arcadismo - e o impulso - necessidade do seu temperamento- Romantismo ; entre o bucolismo convencional e a confissão sentimental romântica. Uma parte frágil da sua lírica está na mistura indiscriminada de elementos árcades e românticos, justapostos sem unidade interna. Outra parte frágil está nos poemas que apresentam ritmos e imagens fáceis, poesia declamatória, de circunstância, feita para impressionar os ouvintes, com truques de retórica e eloquência exagerada: este é um preço pago por Bocage para ser um poeta que saiu dos salões e levou a poesia para as ruas, ajudando, inclusive, a criar um público moderno, urbano, não aristocrático, para a poesia. Os sonetos mais expressivos de Bocage têm uma forte atmosfera pessoal, de confissão egocêntrica, de uma dramaticidade subjetiva intensa. Poesia de ritmos candentes e imaginação, muitas vezes com ressonâncias profundas dos sonetos do poeta Luis de Camões, e muitas vezes ressoando nos dramáticos sonetos de Antero de Quental. Poesia de angústias e desesperos; poesias de confidências com a noite, poemas de amor e medo sombriamente misturados, poemas de horror da morte e da morte como uma espécie de amor. Analisemos alguns dos sonetos de Bocage:

1. Apenas vi do dia a luz brilhante Apenas vi do dia a luz brilhante Lá de Túbal no empório celebrado, Em sanguíneo carácter foi marcado Pelos Destinos meu primeiro instante. Aos dois lustros a morte devorante Me roubou, terna mãe, teu doce agrado; Segui Marte depois, e enfim meu fado, Dos irmãos e do pai me pôs distante. Vagando a curva terra, o mar profundo, Longe da Pátria, longe da ventura, Minhas faces com lágrimas inundo. E enquanto insana multidão procura Essas quimeras, esses bens do mundo, Suspiro pela paz da sepultura. Estrutura interna bipartida:

1ª parte , constituída pelas quadras e pelo 1º terceto, na qual o sujeito poético nos dá conta do infortúnio com que o Destino o marcou à nascença, ao ponto de lhe ter roubado a mãe, quando ainda era criança, e de o ter afastado da Pátria e do resto da família (pai e irmãos); 2ª parte , constituída pelo último terceto, na qual o sujeito poético, utilizando uma comparação antitética que estabelece com a «insana multidão», confessa apenas suspirar pela paz da sepultura; Nota : talvez seja de reparar o facto de o sujeito poético não se ter coibido de utilizar o termo morte (devorante), quando referido à mãe (vv 5/6), o que evidencia o quanto, para si, foi dolorosa, ao passo que, no final, porque é uma aspiração sua, e já pacificada, utiliza um eufemismo. Aspectos psicológicos:

  • caráter sanguíneo (marcado pelos Destinos (vv 3/4))
  • carente de afetos (vv 5/8)
  • desejoso da morte (v 14) Elementos neoclássicos:
  • a forma (soneto)
  • o vocabulário alatinado (empório, devorante, vagando, insana)
  • a presença da mitologia (Túbal, Destinos, Marte) Elementos românticos:
  • o caráter autobiográfico
  • o individualismo
  • o tom confessional
  • a crença no fatalismo de que vítima Alguns recursos estilísticos:
  • adjetivação (brilhante, celebrado, sanguíneo, devorante, terna, doce, distante, curva, profundo, insana);
  • metonímia (vv 2, 7);
  • hipérbato (vv 2/4, 11);
  • apóstrofe (v 6);
  • anáfora (v 10);
  • anástrofe (vv 1, 8);
  • a alusão à morte
  • o tom declamatório
  • a pontuação expressiva associada à função emotiva Alguns recursos estilísticos:
  • adjetivação (escura, desfeito, leve, dura, vã, louco, pura, fria, alto, fantástico, ímpia);
  • anástrofe (v 1/2, 6, 11/12);
  • metonímia (v 3);
  • antítese (v 4);
  • apóstrofe (v 7, 13);
  • metáfora (v 11). 3. Olha, Marília, as flautas dos pastores Olha, Marília, as flautas dos pastores Que bem que soam, como estão cadentes! Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes Os Zéfiros brincar por entre as flores? Vê como ali beijando-se os Amores Incitam nossos ósculos ardentes! Ei-las de planta em planta as inocentes, As vagas borboletas de mil cores. Naquele arbusto o rouxinol suspira, Ora nas folhas a abelhinha pára, Ora nos ares sussurrando gira. Que alegre campo! Que manhã tão clara! Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira, Mais tristeza que a noite me causara. Descrição de um locus amoenus ao longo de quase todo o soneto (até ao final do 1º terceto), muito ao gosto clássico. No entanto, o sujeito poético esclarece que toda aquela paisagem paradisíaca só é possível na presença da amada (v 13/14). Esta atitude de apresentar a natureza como reflexo do estado da alma do poeta, em função da presença ou ausência da amada, é uma característica romântica. Elementos neoclássicos:
  • a forma (soneto)
  • o vocabulário alatinado ( cadente, Zéfiros, ósculos)
  • a presença da mitologia (Amores (Cupidos, filhos de Marte e de Vênus)) Elementos românticos:
  • a natureza como reflexo do estado da alma do poeta (em função da presença ou ausência da amada);
  • a pontuação subjetiva (abundância de exclamações);
  • a presença do rouxinol e da noite;
  • o amor sensual Alguns recursos estilísticos:
  • apóstrofe (v 1, 3, 5);
  • adjetivação (cadentes, ardentes, alegre, clara);
  • aliteração (sobretudo de sons fricativos, sibilantes e chiantes, e de vibrantes);
  • personificação (v 3/4, 7/8, 9/11);
  • anáfora (v 1, 3, 10/11);
  • anástrofe (v 7/9...);
  • hipérbole (v 13/14);
  • metáfora (v 4, 9, 11);
  • sinestesia (presença de várias sensações: auditivas, visuais, táteis, gustativas, olfativas). 4. Oh retrato da Morte, oh Noite amiga Oh retrato da Morte, oh Noite amiga, Por cuja escuridão suspiro há tanto! Calada testemunha de meu pranto, De meus desgostos secretária antiga! Pois manda Amor que a ti somente os diga, Dá-lhes pio agasalho no teu manto; Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto Dorme a cruel, que a delirar me obriga. E vós, oh cortesãos da escuridade, Fantasmas vagos, mochos piadores, Inimigos, como eu, da claridade! Em bandos acudi aos meus clamores; Quero a vossa medonha sociedade,

Note a existência de dois versos sáficos (com acento rítmico nas 4ª, 8ª e 10ª sílabas métricas): 8, 14.