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Guias e Dicas
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Análise dos Ditongos Decrescentes no Português: Fonologia e Aquisição, Notas de estudo de Linguística

Um estudo sobre a ocorrência e aquisição de ditongos decrescentes no português, divididos em grupos fonológicos e fonéticos. Os autores registraram 1175 registros de ditongos, com 75% constituído pelo ditongo [aw], e analisaram a altura da vogal base e a realização de ditongos em diferentes faixas etárias. Além disso, foram considerados os ditongos originados da semivocalização de /l/ e a relação entre a vogal base e o glide.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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GIOVANA FERREIRA GONÇALVES BONILHA
AQUISIÇÃO DOS DITONGOS ORAIS DECRESCENTES:
UMA ANÁLISE À LUZ DA TEORIA DA OTIMIDADE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Letras da Universidade Católica de Pelotas, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Letras
Área de Concentração: Lingüística Aplicada
Orientadora:
Profa. Dra. Carmen Lúcia Matzenauer Hernandorena
Universidade Católica de Pelotas
Pelotas
Programa de Pós-Graduação em Letras da UCPel
2000
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Baixe Análise dos Ditongos Decrescentes no Português: Fonologia e Aquisição e outras Notas de estudo em PDF para Linguística, somente na Docsity!

GIOVANA FERREIRA GONÇALVES BONILHA

AQUISIÇÃO DOS DITONGOS ORAIS DECRESCENTES:

UMA ANÁLISE À LUZ DA TEORIA DA OTIMIDADE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Católica de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Letras Área de Concentração: Lingüística Aplicada Orientadora: Profa. Dra. Carmen Lúcia Matzenauer Hernandorena Universidade Católica de Pelotas

Pelotas

Programa de Pós-Graduação em Letras da UCPel

2000

B715a Bonilha, Giovana Ferreira Gonçalves

Aquisição dos ditongos orais decrescentes: uma análise à luz da teoria da otimidade / Giovana Ferreira Gonçalves Bonilha; orientadora Carmen Lúcia Matzenauer Herandorena. - Pelotas, 2000. 232 f. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós Graduação em Letras. Universidade Católoca de Pelotas. Pelotas, 2000.

  1. Linguística aplicada. 2. Aquisição fonológica. 3. Teoria da otimidade. I. Hernandorena, Carmen Lúcia Matzenauer, orient. II. Título.

CDD 418

Ficha de catalogação na fonte: Bibliotecária Clarice Pilownic (^) – CRB (^) – 10/

AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Profa. Dra. Carmen Lúcia Matzenauer Hernandorena,

pela forma segura, lúcida e crítica com que conduziu os meus estudos, pelo apoio

incansável, por todo o conhecimento partilhado e pelo incentivo constante;

à coordenação e aos professores do Curso de Mestrado em Letras, em

especial...

à Profa. Dra. Aracy Ernst Pereira, pela visão diferenciada do discurso, pela

“consciência” das múltiplas vozes que nos habitam, pelo carinho e amizade;

ao Prof. Dr. Vilson José Leffa, pelo incentivo, pelas oportunidades e por ter

me ensinado que acima da perfeição está “o fazer”;

às colegas da turma V, por tudo o que aprendemos juntas;

à Fátima, Lea e Mirtha..., cujo carinho e apoio foram fundamentais nesta

trajetória... e que não só me ouviram falar sobre Teoria da Otimidade, mas me fizeram

acreditar que tinham entendido e apreciado;

à Gilsenira Rangel, por todo o material fornecido, ainda na época da ela-

boração do projeto de dissertação, pela disponibilidade e carinho com que sempre me

recebeu;

a Joseph Paul Stemberger, Clara Levelt, Maria João Freitas, Thaïs Cristófaro

Silva, Dirk den Ouden, René Kager, David Stampe, Roy Major, Charles Reiss, Donca

Steriade, Leo Wetzels, Douglas Pulleyblank, Maria Francisca Ribeiro de Araújo, Seung-

Hwa Lee, Samuel Rosenthall e Rod Casali, pelo envio de trabalhos e sugestões.

Agradecimentos especiais...

ao José Luiz, pela compreensão e pelo carinho;

à Raquel, pelo apoio e cumplicidade; ao meu pai ( in memoriam ) e à minha mãe, pela formação, pelos exemplos e

por estarem sempre tão próximos...

Vivemos da razão...,

sobrevivemos dos sonhos...

  • LISTA DE QUADROS
  • LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................
  • RESUMO .....................................................................................................................
  • 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................
  • 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................
  • 2.1 Teoria da Otimidade ................................................................................................
  • 2.1.1 Aspectos gerais .....................................................................................................
  • 2.1.2 Caracterização da teoria ........................................................................................
  • 2.1.3 GEN e EVAL - as funções que compõem a GU ......................................................
  • 2.1.4 Análise dos dados .................................................................................................
  • 2.1.5 Outras considerações ............................................................................................
  • 2.2 Aquisição da linguagem ...........................................................................................
  • 2.2.1 Aquisição e desenvolvimento fonológico ...............................................................
  • 2.2.2 Aquisição da linguagem e as teorias fonológicas .....................................................
  • 2.2.3 Aquisição da linguagem e Teoria da Otimidade......................................................
  • 2.2.3.1 O algoritmo de aprendizagem .............................................................................
  • 2.2.3.1.1 Tesar & Smolensky (1996) ..............................................................................
  • 2.2.3.1.1.1 Hierarquia de restrições ................................................................................
  • 2.2.3.1.1.2 O processo de demoção .................................................................................
  • 2.2.3.1.1.3 Demoção ou promoção de restrições? ............................................................
  • 2.3 O sistema vocálico...................................................................................................
  • 2.3.1 As vogais e as teorias fonológicas ..........................................................................
  • 2.3.1.1 Teoria Gerativa (fonolog ia linear) .......................................................................
  • 2.3.1.2 Teoria Autossegmental (fonologia não-linear)......................................................
  • 2.3.2 As vogais no português .........................................................................................
  • 2.4 A estrutura silábica..................................................................................................
  • 2.5 Ditongos orais decrescentes......................................................................................
  • 2.5.1 Ditongos verdadeiros e ditongos falsos ...................................................................
  • 3 METODOLOGIA ....................................................................................................
  • 3.1 Os sujeitos ..............................................................................................................
  • 3.2 Os dados .................................................................................................................
  • 3.3 Organização, descrição e análise dos dados ...............................................................
  • 4 DESCRIÇÃO DOS DADOS .....................................................................................
  • 4.1 Faixa etária 01 (1:0 - 1:0:29) ....................................................................................
  • 4.2 Faixa etária 02 (1:01 - 1:01:29).................................................................................
  • 4.3 Faixa etária 03 (1:02 - 1:02:29).................................................................................
  • 4.4 Faixa etária 04 (1:03 - 1:03:29).................................................................................
  • 4.5 Faixa etária 05 (1:04 - 1:04:29).................................................................................
  • 4.6 Faixa etária 06 (1:05 - 1:05:29).................................................................................
  • 4.7 Faixa etária 07 (1:06 - 1:06:29).................................................................................
  • 4.8 Faixa etária 08 (1:07 - 1:07:29)...............................................................................
  • 4.9 Faixa etária 09 (1:08 - 1:08:29)...............................................................................
  • 4.10 Faixa etária 10 (1:09 - 1:09:29).............................................................................
  • 4.11 Faixa etária 11 (1:10 - 1:10:29).............................................................................
  • 4.12 Faixa etária 12 (1:11 - 1:11:29).............................................................................
  • 4.13 Faixa etária 13 (2:0 - 2:01:29)...............................................................................
  • 4.14 Faixa etária 14 (2:02 - 2:03:29).............................................................................
  • 4.15 Faixa etária 15 (2:04 - 2:05:29).............................................................................
  • 4.16 Quadros gerais.....................................................................................................
  • 5 ANÁLISE DOS DADOS .........................................................................................
  • 5.1 Estratégias de reparo..............................................................................................
  • 5.2 Estágios de aquisição .............................................................................................
  • 5.2.1 O surgimento dos ditongos decrescentes ...............................................................
  • 5.2.2 Estabilização dos ditongos decrescentes ...............................................................
  • 5.2.2.1 Tonicidade x Estabilização...............................................................................
  • 5.3 Os ditongos fonéticos
  • 5.3.1 O ditongo [ow] ...................................................................................................
  • 5.3.2 Os ditongos [aj] e [ej] ..........................................................................................
  • 5.4 Posicionamento do glide no PB: Núcleo Complexo ou Coda? ...................................
  • 5.4.1 Contribuições dos dados da aquisição ..................................................................
  • 5.4.1.1 Posicionamento do glide nos dados analisados ...................................................
  • 5.5 Estágios de aquisição da estrutura silábica: posição nuclear ......................................
  • 5.5.1 Núcleo não-ramificado........................................................................................
  • 5.5.2 Núcleo ramificado ..............................................................................................
  • 5.6 Aquisição dos ditongos decrescente sob a luz da OT
  • 5.6.1 Ditongos e estrutura silábica................................................................................
  • 5.6.1.1 I estágio de aquis ição .......................................................................................
  • 5.6.1.2 II estágio de aquisição ......................................................................................
  • 5.6.1.3 III estágio de aquisição .....................................................................................
  • 5.6.1.4 Aquisição da estrutura CVVC ...........................................................................
  • 5.6.2 Estabilização dos ditongos e restrições .................................................................
  • 5.6.2.1 Estratégia de reparo VG→V .............................................................................
  • 5.7 Considerações finais: hierarquias de restrições
  • 6 CONCLUSÃO
  • ABSTRACT ...............................................................................................................
  • REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................
  • ANEXOS
  • Anexo 1 – Ficha individual...........................................................................................
  • Anexo 2 – Quadro individual........................................................................................
  • Anexo 3 – Ficha por faixa etária ...................................................................................
  • Anexo 4 – Quadro por faixa etária .................................................................................
  • QUADRO 1 – Levantamento de restrições violadas ......................................................... LISTA DE QUADROS
  • QUADRO 2 – Eliminação de restrições compartilhadas ...................................................
  • QUADRO 3 – Pares de candidatos prontos para ativar demoções ......................................
  • (1998, p.263) .......................................................................................... QUADRO 4 – Promoção e demoção de restrições, segundo Bernhardt e Stemberger
  • QUADRO 5 – Faixas etárias dos sujeitos da pesquisa.......................................................
  • QUADRO 6 – Ditongos fonológicos – FE 01...................................................................
  • QUADRO 7 – Ditongos fonológicos – FE 02...................................................................
  • QUADRO 8 – Ditongos fonológicos – FE 03...................................................................
  • QUADRO 9 – Ditongos fonológicos – FE 04...................................................................
  • QUADRO 10 – Ditongos fonológicos – FE 05.................................................................
  • QUADRO 11 – Ditongos fonológicos – FE 06.................................................................
  • QUADRO 12 – Ditongos fonológicos – FE 07.................................................................
  • QUADRO 13 – Ditongos fonológicos – FE 08...............................................................
  • QUADRO 14 – Ditongos fonológicos – FE 09...............................................................
  • QUADRO 15 – Ditongos fonológicos – FE 10...............................................................
  • QUADRO 16 – Ditongos fonológicos – FE 11...............................................................
  • QUADRO 17 – Ditongos fonológicos – FE 12...............................................................
  • QUADRO 18 – Ditongos fonológicos – FE 13...............................................................
  • QUADRO 19 – Ditongos fonológicos – FE 14...............................................................
  • QUADRO 20 – Ditongos fonológicos – FE 15...............................................................
  • QUADRO 21 – Possibilidades de ocorrência e realização dos ditongos fonológicos .........
  • ditongos fonológicos realizados QUADRO 22 – Ponto de articulação da vogal base e do glide que constituem os
  • ditongos fonológicos realizados QUADRO 23 – Combinação dos dois segmentos quanto ao ponto de articulação dos
  • QUADRO 24 – Altura da vogal base que constitui os ditongos fonológicos realizados .....
  • QUADRO 25 – Tonicidade e estrutura silábica dos ditongos fonológicos realizados
  • QUADRO 26 – Ditongos provenientes da semivocalização de /l/
  • QUADRO 27 – Alvos lexicais constituídos pela estrutura VG
  • QUADRO 28 – Estratégias de reparo utilizadas por faixa etária ......................................
  • QUADRO 29 – Estratégias de reparo – Ditongos fonológicos .........................................
  • QUADRO 30 – Aplicação da estratégia de reparo VG →→ G..............................................
  • QUADRO 31 – Ordem de surgimento dos ditongos decrescentes
  • altura da vogal base .............................................................................. QUADRO 32 – Possibilidades de realização e ocorrências dos ditongos quanto à
  • QUADRO 33 – Não realização dos ditongos quanto à tonicidade
  • QUADRO 34 – Possibilidades de realização e ocorrências de ditongos em sílabas átonas.
  • e [ej] QUADRO 35 – Possibilidades de realização e ocorrências dos ditongos fonéticos [aj]
  • QUADRO 36 – Possibilidades de realização e ocorrências do ditongo fonológico [aw]
  • da semivocalização de /l/ ...................................................................... QUADRO 37 – Possibilidade de realização e ocorrências do ditongo [aw] – originado
  • de /l/ – por faixa etária .......................................................................... QUADRO 38 – Ditongo fonológico [aw] e ditongo [aw] - originado da semivocalização
  • [aw] – originado da semivocalização de /l/ ............................................. QUADRO 39 – Estratégias de reparo utilizadas – ditongo fonológico [aw] e ditongo
  • QUADRO 40 – Levantamento de restrições violadas pelos pares zaza<a.za e za<a.za .....

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Representação da estrutura arbórea segundo Clements e Hume (1995, p.249)....................................................................................................... FIGURA 2 – Representação das vogais segundo Clements & Hume (1995, p.292)............. FIGURA 3 – Formação do glide que constitui os ditongos fonéticos [aj] e [ej], conforme Bisol, (1994, p.130)................................................................................. FIGURA 4 – Representação da estrutura silábica do PB, conforme Lee (1999, p.04)........ 161

RESUMO

O objetivo desta pesquisa é investigar a aquisição dos ditongos orais

decrescentes do Português Brasileiro (PB), com base na Teoria da Otimidade,

proposta por Prince & Smolensky (1993) e McCarthy & Prince (1993), e no

algoritmo de aprendizagem proposto por Tesar & Smolensky (1996), visando a

contribuições de estudos para a aquisição da linguagem, descrição da língua e

verificação de princípios básicos da teoria. O corpus é constituído pelos dados de 86

crianças monolíngües, com idade entre 1:0 e 2:05:29 (anos – meses – dias), que

integram os bancos de dados AQUIFONO e INIFONO. Aplicando a Teoria da

Otimidade, a pesquisa demonstra que a aquisição dos ditongos orais decrescentes

está vinculada à interação de restrições de fidelidade, restrições silábicas e restrições

de seqüências segmentais. O ordenamento na aquisição desses ditongos está

vinculado às diferentes seqüências de segmentos que os constituem, uma vez que os

ditongos constituídos por vogais baixa e médias-baixas, como vogal base,

estabilizam em etapa precedente à aquisição de outros ditongos da língua.

Considerando a aplicação do algoritmo de aprendizagem, que explicitará os

caminhos seguidos pelo aprendiz na construção da hierarquia alvo, sugere-se um

ordenamento na aquisição das estruturas silábicas CV, V, (C)VV, (C)VC e (C)VVC

no PB em que uma estrutura (C)VV é adquirida antes de uma estrutura (C)VC.

Outros aspectos também são contemplados na investigação aqui proposta, como o

posicionamento do glide na estrutura silábica do PB e a forma subjacente que

constitui os ditongos fonéticos [aj], [ej] e [ow].

Poucos são os estudos realizados na língua portuguesa à luz da Teoria da

Otimidade, dentre eles os trabalhos de Battisti (1997, 1999), Lee (1999) e

Collischonn (2000) bem como os referentes à aquisição da linguagem, Hernandorena

(1999), Hernandorena & Lamprecht (1999), Lamprecht (1999), fazendo-se necessá-

rio um desenvolvimento destes estudos por acreditar-se que a Teoria da Otimidade,

por ser uma teoria versátil, pois articula áreas como Fonologia, Fonética, Sintaxe,

Morfologia, Semântica, Psicolingüística e Inteligência Artificial, em muito

contribuirá para a análise do funcionamento das línguas. Bernhardt & Stemberger

(1998) acreditam que a OT dará conta de todos os dados fonológicos, enquanto dia-

cronia ou sincronia, de adultos ou crianças, de aquisição da primeira ou segunda

língua.

Importante referir que a OT tem trazido contribuições às análises lin-

güísticas de forma diferenciada, isto é, determinados processos, que não podiam ser

satisfatoriamente explanados por teorias fonológicas anteriores, começam a ser elu-

cidados pela OT.

Costa & Freitas (1998), ao abordarem a aquisição diferenciada das es-

truturas V e CV no Português Europeu (PE) e no Holandês, afirmam que a Teoria de

Princípios e Parâmetros não explica as diferenças existentes na aquisição da estrutura

V nas duas línguas. Os autores, então, optam por uma análise via OT.

Colina (1995, p. 113) destaca que a OT se constitui numa teoria ideal

para a análise dos ditongos, uma vez que, não havendo regras, não há a necessidade

de ordenar a aplicação do acento com respeito à ditongação; na verdade, acentua-

ção e silabificação ocorrem em paralelo. Ponto de vista semelhante é compartilhado

por Collischonn (2000, p. 298): O que nos leva a buscar a TO é o fato de que, em

abordagens derivacionais, existe uma seqüência necessária entre silabação (...) e

acento., no entanto, conforme a autora, freqüentemente há a impressão de que acento

e silabação ocorrem juntos, são cúmplices na construção da melhor seqüência.

É com base nessa teoria que se objetiva, no presente trabalho, investigar

a aquisição dos ditongos orais decrescentes do PB em crianças com faixa etária de 1

ano a dois anos e seis meses.

A análise de dados de aquisição da linguagem se faz pertinente com base

na OT por entender-se que através dos dados da criança a teoria tem encontrado, de

forma significativa, um campo fértil para se desenvolver e enriquecer os estudos re-

ferentes à Gramática Universal, Conexionismo e Inteligência Artificial. Além disso,

os dados da aquisição são frutíferos para análises lingüísticas.

De acordo com Bernhardt & Stemberger (1998), a fonologia do adulto é

o produto concluído de um processo de aprendizagem, refletindo limites do que pode

ser aprendido; a fonologia da criança é capaz de refletir o que pode ser inerente ao

sistema fonológico, uma vez que sua fonologia é limitada pelos limites do que é pos-

sível no próprio sistema, não pelos limites do que pode ser aprendido.

Trabalhar com dados da fonologia da criança, sob a perspectiva da OT,

exige um enfoque especial sobre o processo de construção da hierarquia de restrições

alvo a ser atingida; esse processo é visto através da aplicação de um algoritmo de

aprendizagem. No presente trabalho, optou-se por adotar o algoritmo proposto por

Tesar & Smolensky (1996), entendendo-se poder esse explicitar os caminhos segui-

dos pelo aprendiz na tarefa de deduzir a hierarquia de restrições que possibilitará a

realização da estrutura de superfície [VG], vogal + glide, que constitui os ditongos

decrescentes.

(iv) Verificar o comportamento, no processo de aquisição da fonologia,

dos ditongos [aj], [ej], [ow], nos contextos em que apresentam va-

riação no Português.

(v) Demonstrar a aplicabilidade do algoritmo de aprendizagem pro-

posto por Tesar & Smolensky (1996) nos dados de aquisição do

PB.

(vi) Constatar a pertinência do modelo da Teoria da Otimidade para a

descrição de dados na aquisição da fonologia.

(vii) Analisar, com base no processo de aquisição da língua, a estrutura

da sílaba com ditongo decrescente.

(viii) Contribuir para o estudo dos ditongos na língua portuguesa via

Teoria da Otimidade.

Tendo por base os objetivos já referidos, as principais hipóteses que nor-

teiam essa pesquisa são:

(i) Há um ordenamento na aquisição dos ditongos orais decrescentes.

(ii) Esse ordenamento é condicionado por fatores como: altura e ponto

das vogais, ponto de articulação dos glides e tonicidade da sílaba

que constitui o ditongo.

(iii) O ordenamento na aquisição dos ditongos orais decrescentes pode

ser explicitado via Teoria da Otimidade através do ranqueamento

de restrições.

(iv) Os dados da aquisição da fonologia evidenciarão que a criança não

possui na forma subjacente os ditongos [aj], [ej] e [ow] em con-

textos em que estes sofrem variação.

(v) O contexto fonológico seguinte é um fator relevante para a análise

da forma subjacente dos ditongos decrescentes que sofrem

variação.

(vi) O algoritmo de aprendizagem proposto por Tesar & Smolensky

(1996) é capaz de explicitar os estágios de aquisição da sílaba no

PB.

(vii) A aquisição da fonologia é capaz de dar subsídios para uma descri-

ção mais adequada da estrutura silábica do Português.

(viii) A análise da aquisição dos ditongos formados pela semivocalização

de líquidas trará subsídios para o posicionamento do glide na es-

trutura silábica do PB.

(ix) A interação de determinadas restrições que compõem a GU contri-

buirá para uma análise quanto ao posicionamento do glide na es-

trutura silábica.

Este trabalho está dividido em 6 capítulos, sendo o primeiro destinado à

parte introdutória do trabalho, com a exposição do tema, justificativa, objetivos e

hipóteses, além de uma breve explanação sobre a organização de cada capítulo.

O segundo refere-se à revisão bibliográfica, estando subdividido em se-

ções: a primeira destina-se a uma explanação da Teoria da Otimidade, seus aspectos

gerais, seu funcionamento e aplicabilidade; a segunda traz um sucinto comentário

sobre questões pertinentes à aquisição da fonologia - considerando diferentes mode-

los teóricos e a Teoria da Otimidade – e centraliza-se em explicitar o funcionamento

do algoritmo de aprendizagem proposto por Tesar & Smolensky (1996); a terceira

retoma algumas considerações básicas a respeito de como o sistema vocálico do PB é

como é explicitado o ordenamento na aquisição dos ditongos orais decrescentes do

PB.

No sexto Capítulo, são tecidas as considerações finais a respeito do tra-

balho realizado.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo procura traçar algumas considerações a respeito da Teoria

da Otimidade, da aquisição da fonologia, sob o ponto de vista de diferentes modelos

teóricos, e do algoritmo de aprendizagem proposto por Tesar & Smolensky (1996).

Também procura retomar algumas questões referentes ao sistema vocálico e aos

ditongos decrescentes do PB.

2.1 Teoria da Otimidade

2.1.1 Aspectos gerais

Proposta por Prince & Smolensky em 1993, através da obra Optimality

Theory: Constraint Interaction in Generative Grammar e por McCarthy & Prince

(1993) com Prosodic Morphology I: Constraint Interaction and Satisfaction , a

Teoria da Otimidade (Optimality Theory), OT, se constitui em uma teoria de análise

lingüística que articula a Fonologia, Fonética, Morfologia, Sintaxe e a Semântica,

bem como a Psicolingüística e a Inteligência Artificial.