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Guias e Dicas
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Explorando o Existencialismo: Psicoterapia e Filosofia da Existência, Notas de estudo de Psicoterapia

Aprenda sobre o existencialismo, uma corrente filosófica que aborda a existência humana. Explore os pensadores chave, como sartre, heidegger e kierkegaard, e suas contribuições para a psicoterapia existencial. Desvende a importância da existência pessoal e a liberdade individual na filosofia existencialista.

O que você vai aprender

  • Como o Existencialismo influenciou a Psicoterapia?
  • Quais obras literárias são importantes para entender o Existencialismo?
  • Qual é a importância da existência pessoal na filosofia existencial?
  • Como os pensadores existencialistas abordaram a liberdade individual?
  • Quais são os principais pensadores existencialistas e suas contribuições para a filosofia existencial?

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Havaianas81
Havaianas81 🇧🇷

4.6

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Este livro foi concebido e idealizado para suprir a lacuna existente nas
obras que dão concretude à Psicoterapia Existencial no Brasil. Ele dá
parâmetros precisos sobre a prática e o caminho percorrido por seus pre-
cursores na construção dessa vertente psicoterápica.
É um livro escrito com irreverência, amor e paixão. E, mesmo estando
dentro das normalizações vigentes que norteiam as produções científicas,
não houve a intenção de torná-lo ou até mesmo enquadrá-lo dentro de uma
óptica estritamente academicista. Ao contrário, houve até mesmo uma ten-
tativa de quebra da aridez temática, introduzindo-se, entre alguns capítulos,
parêmias repletas de nuanças e formas poéticas. E mesmo de citações poé-
ticas antes do início das reflexões sobre as temáticas existencialistas.
É um livro direcionado para as lides universitárias que buscam subsí-
dios teóricos para uma compreensão mais abrangente das diversas corren-
tes psicoterápicas. E também para os inúmeros profissionais que buscam
embasamento para suas práticas profissionais.
Muitos livros e muitas buscas fazem com que a vida seja direcionada
para questionamentos sobre o próprio sentido dessas buscas. Que níveis
do conhecimento são atingidos por este livro é algo tangível apenas em
algum ponto da reflexão pormenorizada que certamente abrangerá. Em
que aspecto, por outro lado, contribuirá para o abrandamento das ques-
tões e críticas que gravitam em torno da Psicoterapia Existencial é, igual-
mente, outro aspecto que apenas se tornará transparente a partir da criti-
cidade que incide sobre ele.
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Apresentação
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Este livro foi concebido e idealizado para suprir a lacuna existente nas obras que dão concretude à Psicoterapia Existencial no Brasil. Ele dá parâmetros precisos sobre a prática e o caminho percorrido por seus pre- cursores na construção dessa vertente psicoterápica.

É um livro escrito com irreverência, amor e paixão. E, mesmo estando dentro das normalizações vigentes que norteiam as produções científicas, não houve a intenção de torná-lo ou até mesmo enquadrá-lo dentro de uma óptica estritamente academicista. Ao contrário, houve até mesmo uma ten- tativa de quebra da aridez temática, introduzindo-se, entre alguns capítulos, parêmias repletas de nuanças e formas poéticas. E mesmo de citações poé- ticas antes do início das reflexões sobre as temáticas existencialistas.

É um livro direcionado para as lides universitárias que buscam subsí- dios teóricos para uma compreensão mais abrangente das diversas corren- tes psicoterápicas. E também para os inúmeros profissionais que buscam embasamento para suas práticas profissionais.

Muitos livros e muitas buscas fazem com que a vida seja direcionada para questionamentos sobre o próprio sentido dessas buscas. Que níveis do conhecimento são atingidos por este livro é algo tangível apenas em algum ponto da reflexão pormenorizada que certamente abrangerá. Em que aspecto, por outro lado, contribuirá para o abrandamento das ques- tões e críticas que gravitam em torno da Psicoterapia Existencial é, igual- mente, outro aspecto que apenas se tornará transparente a partir da criti- cidade que incide sobre ele.

VII

Apresentação

Um livro sempre traz em seu bojo algo maior do que o seu mero ali- nhavo teórico; como um objeto lançado rumo a uma determinada dire- ção e que encontra obstáculos em seu percurso, igualmente um livro apresenta desvios em seu percurso que, ao se tornarem transitórios, ou então definitivos, fazem dele uma simples fragrância que se perde e se mistura ao deleite de outras essências.

Novamente estamos indo ao encontro de algo que se funde entre res- quícios de críticas anteriores e de elogios e entusiasmo pelo tanto que já foi vivido. A produção acadêmica e a reflexão sistematizada pairando em níveis intelectuais sobre determinados ponteamentos é apenas e tão- somente digressão teórica e até mesmo filosófica que incide sobre a vida, mas que não tem como configurar-lhe forma e contornos específicos. A essência da vida talvez esteja muito mais exuberante no céu azul con- tornado apenas pelo espasmo de algumas nuvens brancas a emoldurar a florada da sibipiruna e do jacarandá-mimoso. Escrevo e tenho a consciên- cia de que um texto que reflete sobre temas existenciais também é, ou então deveria ser, algo que inserisse a própria vida numa amplitude onde nenhum elemento da Natureza fosse isolado ou deixado numa condição de ostracismo. Passeio um longo passear.

Passeio pela minha imaginação e concebo a percepção dos meus lei- tores deparando com um texto que insiste em ser livre e desprendido de amarras formais, embora abordando questões complexas e cruciais no emaranhado da condição humana. É como se num repente pudesse envolver cada leitor e esclarecê-lo não apenas das dúvidas suscitadas no texto, como também, e, principalmente, pudesse vagar ainda sobre ques- tões pessoais e individuais de cada um.

De maneira mágica seria, então, um autor que saltaria das páginas do livro e se transformaria num amigo, confidente, amante e companheiro de desatinos e alegrias. Percorreria cada leitor em seus caminhos e ilusão. E daria configuração ao irreal da tentativa de abstração feita pelo leitor da figura do autor. E também convidaria cada leitor para ajudar no enrique- cimento do próprio livro através da contribuição de depoimentos, expe- riências pessoais e situações vivenciais inerentes a cada um. Teríamos, assim, um livro no qual eu seria apenas o organizador, com cada leitor tor- nando-se co-autor na busca e construção de novas formas e buscas existen- ciais. E cada leitor, ao colocar o livro na sua cabeceira, mesa, prateleira, pasta para levá-lo juntamente com outros materiais acadêmicos, não

Psicoterapia existencial

VIII

XI

Psicoterapia existencial

  • Existencialismo: um breve esboço
    1. Temas existenciais: conceitos fundamentais.
    • Existência.
    • Liberdade.
    • Solidão.
    • Essência.
    • O ser-no-mundo.
    • Morte.
    • O sentido da vida.
    • Transcendência.
    • Autenticidade.
    • Angústia.
    • Amor.
    • Tédio existencial.
    • Culpa.
    • Felicidade.
    1. Fenomenologia: métodos e pressupostos.
    • A Base Fenomenológica.
    • O Método Fenomenológico.
    • A Análise Intencional.
    • A Redução Fenomenológica e seu Resíduo.
    • A Ontologia Fenomenológica de Sartre.
    • A Ontologia Fenomenológica de Heidegger.
    1. Psicologia e pressupostos existencialistas.
    • Psicologia como Ciência.
    • As Teorizações Psicológicas e o Pensamento Existencialista.
    1. Humanismo e existencialismo.
    1. Psicanálise e existencialismo.
    • O Projeto de Ser.
    • A Questão do “Inconsciente”.
      • na prática psicoterápica. 6. Convergência do pensamento existencialista
    • Rollo May.
    • Victor Emanuel Frankl.
    • Ludwig Binswanger.
    • Medard Boss.
    • J. H. Van Den Berg.
    • Ronald Laing.
    1. Perspectivas da psicoterapia existencial.
  • Bibliografia existencialista.
    • Filósofos Existencialistas. - Sören Kierkegaard. - Martin Heidegger. - Jean-Paul Sartre.
    • Fenomenologia. - Edmund Husserl.
    • Psiquiatria Fenomenológica. - Ludwig Binswanger. - J. H. Van Den Berg.
    • Psiquiatria e Psicoterapia Existencialistas. - Victor Emanuel Frankl. - Medard Boss. - Ronald Laing. - Yolanda Cintrão Forghieri. - Valdemar Augusto Angerami.
    • Obras Introdutórias.

até que as águas reapareçam. É a margarida desfolhada depois da Primavera. São as lágrimas, o sorriso. O pranto de dor e de alegria.

O Terapeuta Existencial é a busca de um processo. É um pedido de ajuda. É a noite de tranqüilidade. É a relva verde crescendo, crescendo, crescendo... crescendo no seu próprio tempo... É o pôr-do-sol colorido de vermelho. É a borboleta lilás. O cedro, o chorão e a pinha. É a hortênsia, são as orquídeas. É um corpo que fala, mãos que gesticulam, palavras que se calam... É a situação terapêutica em esplendor. É o exilado que volta ao seu porto natal.

O Terapeuta Existencial é o buscar da compreensão. É a serenidade de quem sabe enfrentar as adversidades da existência de maneira plena e autêntica. É o guerrilheiro lutando pela construção de uma sociedade mais justa e humana. É o ser que dimensiona o existir. É o existir frente às possibilidades segundo as quais o mundo se apresenta. É a praia com crianças correndo na areia. É a arte de relacionar-se com pessoas; uma arte única e incomparável. É o tudo, mas acima de tudo e por tudo, é amor...

Valdemar Augusto Angerami

A tentativa de se compreender o Existencialismo enquanto corrente filosófica se reveste de dificuldades bastante complexas, além das dificulda- des inerentes ao pensamento filosófico em geral. Tendo como agravante o fato de não sermos filósofos, essa incumbência é ainda mais onerosa.

Uma primeira questão: O que é Existencialismo? E na seqüência outra dúvida se faz presente: A que nos referimos quando falamos em Psicoterapia Existencial?

A Psicoterapia Existencial no Brasil, e segundo dados citados por Rollo May^1 , também nos Estados Unidos e na Europa, tornou-se área de domí- nio público. Muitas práticas, ao se tornarem precárias em termos de orien- tação teórica, são definidas indevidamente como sendo práticas determi- nadas pela vertente existencialista. Desde práticas como Biodança até outras que sequer merecem ser chamadas de psicoterapia, o jargão existen- cial é, na maioria das vezes, utilizado sem nenhuma correlação com os pressupostos da filosofia existencialista.

Nesse sentido, é imprescindível uma pequena incursão histórica sobre a produção filosófica para melhor compreensão da temática; nossa inten- ção é apenas considerar o Existencialismo em seu surgimento histórico, e jamais o estabelecimento de uma história da Filosofia.

Os pensadores existencialistas, em sua grande maioria, são considera- dos ateus. Se alguns definiram-se como sendo ateus, outros, ao contrário, definiram-se claramente por vertentes religiosas bastante definidas.

Essa abrangência do Existencialismo como sendo uma corrente do ateís- mo deve-se principalmente ao fato de Sartre, um dos principais arautos do

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Existencialismo: um breve esboço

O essencial não é aquilo que se fez do homem, mas aquilo que ele fez daquilo que fizeram dele. Sartre

dado o fato de que Husserl é passível de interpretações diversas, não é possível determinar com segurança quer a natureza precisa, quer a ampli- tude de sua influência sobre o Existencialismo^4.

A própria aceitação da expressão filosofia da existência é revestida de alguma polêmica. Ao proferirmos a palavra existencialismo, a primeira entoação a ser destacada é existência. Existência, de outra parte, contra- põe essência^5.

Historicamente, a palavra essência é anterior. Essentia, forma latina derivada do verbo esse, ser. Quando os antigos se entregavam à meditação filosófica, a pensar aquilo que é, diziam estar pensando na essência da coisa. Uma analogia lingüística em português atual diria que a essência se refere ao “sendo” da coisa. Por exemplo: saber a essência de um pássaro é saber quais os elementos fundamentais para a experiência de se estar “sendo” um pássaro. Só muito mais tarde surgiria, também em latim, a palavra existentia, existência, derivada de existere, que significa sair de uma casa, de um domínio, de um esconderijo. Mais precisamente, exis- tência, na origem, é sinônimo de mostrar-se, exibir-se; é um movimento para fora. Daí denominar-se existencialista toda filosofia que trata direta- mente da existência humana, visto que tal movimento é inevitável e ine- rente ao ser humano^6.

Apesar dos inúmeros autores definidos como existencialistas, na aná- lise amiúde dos fatos, as obras de Sartre e Heidegger destacam-se das demais e praticamente dividem em duas as vertentes principais do Existencialismo. Embora Heidegger não tenha se definido como adepto do Existencialismo, atribuindo à parte mais conhecida de sua obra a denominação análise existencial, ainda assim é muito difícil, se não impossível, encontrar citações e obras que se referem ao Existencialismo nas quais ele não seja mencionado como um dos principais expoentes existencialistas.

Embora Kierkegaard seja considerado um dos iniciadores do movi- mento, existem citações que mostram antecedentes: o grito de Sócrates opondo-se a um pensamento de base dos físicos jônicos e determinando o imperativo interior “conhece-te a ti mesmo”; a mensagem dos estóicos propondo o domínio sobre si diante do enfrentamento do destino; Pascal levantando-se contra a grande aventura cartesiana, priorizando o homem, sua vida e sua morte^7 ; também a pobreza de São Francisco de Assis, um acinte diante da Igreja dos papas revestidos de luxo e poder.

Valdemar Augusto Angerami – Camon

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No campo da literatura, vamos encontrar autores que, embora não tenham sido filósofos, seguramente aprofundaram temas existencialistas de maneira ímpar. Nesse rol, encontramos Dostoiévski, Leon Tolstói, Oscar Wilde, George Sand, Graciliano Ramos, Vinícius de Morais, Guimarães Rosa, Fernando Pessoa, Rainer Maria Rilke, Lygia Fagundes Telles, entre outros.

Fiodor Dostoiévski, em termos literários, talvez seja o autor que mais profundamente refletiu sobre a condição humana em seus aspectos mais íntimos e subjetivos. De sua vasta obra, podemos destacar O Sonho do Príncipe, no qual praticamente é feito um tratado sobre a antipsiquiatria a partir da alteração de consciência apresentada pelo personagem princi- pal; e O Idiota, no qual a condição humana de virtude e dignidade é con- frontada e encarada diante das vicissitudes sociais. A obra de Dostoiévski é leitura obrigatória para todos que, de alguma maneira, se interessam pela compreensão abrangente da condição humana.

Da obra de Leon Tolstói, destaca-se Senhor e Servo, em que a con- gruência das relações humanas é exposta de maneira contundente e refle- xiva, levando a um sem-número de reflexões. Oscar Wilde desponta com O Retrato de Dorian Gray, no qual o autor discorre de maneira magistral sobre questões, como paixão, afeto, amizade, desejo, ambição, como pou- cas vezes registradas na literatura mundial.

George Sand destaca-se também pelo aspecto visionário de sua obra. Tendo escrito numa época em que precisou emprestar um nome masculi- no para ter suas obras publicadas, essa autora notável escreveu preciosida- des, como A Pequena Fadete e Ele e Ela, nas quais questões como o surgi- mento de doenças orgânicas a partir do sofrimento espiritual e aspectos sub- jetivos presentes numa relação amorosa são mostradas de maneira soberba, evidenciando um apurado nível de conhecimento da condição humana.

Na literatura nacional, encontramos Graciliano Ramos, com destaque para Vidas Secas, no qual o sofrimento e a esperança do homem diante da diversidade são mostrados de maneira contundente e real; Vinícius de Morais escreveu como poucos sobre a paixão, destacando esse aspecto da condição humana, mostrando assim a importância de dar-se um sentido à vida a partir da paixão; em Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa descreve em detalhes profundos os aspectos mais singulares da existência. Já em Lygia Fagundes Telles vamos encontrar Antes do Baile Verde, um

Psicoterapia existencial

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individual dos pensadores existencialistas de escrever sem se ater a regras formais utilizando-se de formas e nuanças poéticas, é uma das principais características do Existencialismo. Sartre, como mera citação, além de filósofo, foi um grande dramaturgo e romancista, com uma produção lite- rária muito grande e de excelente qualidade. Foi inclusive indicado ao prêmio Nobel de Literatura no ano de 1964. No entanto, recusou-se a recebê-lo, afirmando: “Se eu tivesse aceitado, os outros diriam: ‘agora ele já é um dos nossos’. Eu jamais teria suportado algo assim”.

Assim, para alguns autores, o Existencialismo seria menos uma doutri- na, no sentido estrito do termo, do que um filosofar, uma maneira de o homem expor a si mesmo, reconhecendo-se automaticamente nesse ato. Basicamente, portanto, o Existencialismo seria a expressão de uma expe- riência singular, individual, um pensamento motivado por uma situação muito particular^9.

Praticamente no eco de Kierkegaard surge Nietzsche, que propaga afirmações que questionam a estrutura filosófica de então. “O segredo da maior fecundidade e do gozo mais intenso da vida é viver perigosamen- te”^10 , ou ainda a expressão que tornou famosa e que foi acolhida em diversas ramificações do Existencialismo: “Deus está morto”^11.

Se a diferença entre os existencialistas ateus e religiosos torna-se míni- ma, por outro lado, faz-se secundária a questão de suprimir sua similarida- de essencial, afirmando que os existencialistas religiosos estão próximos do ateísmo ou que os existencialistas ateus são essencialmente religiosos.

A contingência radical e a carência essencial de significação, tanto do homem quanto do mundo, levam o ser humano a uma angústia de ser, expressa nas reflexões dos pensadores existencialistas, de acordo com a peculiaridade individual de cada um. Dizer que o ser do homem é radi- calmente contingente e essencialmente sem sentido é dizer que o homem não sabe o que existe e não pode alar-se ao conhecimento do seu destino. Na linguagem de Heidegger, é como se o homem fosse “aban- donado” da mesma forma que Cristo foi abandonado na cruz^12.

A mesma idéia pode ser encontrada em diversos escritos existencialis- tas, mostrando uma maneira singular de reflexão sobre a existência a par- tir da própria existência.

Entretanto, é errônea a idéia vulgar de que os existencialistas escre- vem apenas com o “coração”. Ao contrário, são essencialmente pensado-

Psicoterapia existencial

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res. E não há como negar esse fato diante da forma como as obras exis- tencialistas são construídas: extremamente complexas em termos de refle- xões filosóficas, audácia arquitetônica com o uso de artifícios poéticos e extremamente dialéticas.

O pensamento existencialista é aquele que se rebela contra o quietis- mo e a resignação propostos por certas correntes filosóficas.

Os gritos de Kierkegaard e Nietzsche pareciam ter se exaurido nas entrelinhas do tempo e do espaço; suas obras demoraram a ter a devida ressonância, ficando isoladas nessa dimensão^13.

Somente depois da primeira grande guerra surge a obra do filósofo ale- mão Martin Heidegger, discípulo de Husserl, que cria o existencialismo alemão.

Posteriormente, por ocasião da segunda grande guerra, surgem as teo- rias de outro pensador fortemente influenciado por Husserl, Jean-Paul Sartre, que dá novas vertentes ao pensamento existencialista, tornando-se, ao lado de Heidegger, um dos principais expoentes do movimento. Tanto pelo peso de suas obras como pela vida exemplar — paradigma de parti- cipação e coragem ponteado por tomadas de posição corajosas diante de lutas pelas causas de dignidade humana —, tornou-se um dos maiores destaques deste século. É Sartre testemunho moral contra o ultraje da História do século XX.^14

Outras vozes existencialistas se fazem ouvir ganhando uma dimensão apaixonante e irreverente. A discussão de seus pressupostos transcende a área da Filosofia e torna-se igualmente eloqüente em outros campos.

“Deus está morto”, mais do que contraponto a posições religiosas ou místicas, põe às claras a situação do homem abandonado a si mesmo e escravo da própria subjetividade, mergulhado nessa conseqüência extre- ma da Metafísica, que é o subjetivismo: as almas são desertas porque não passa por eles senão elas mesmas. Instalado nesse deserto, nesse vazio, o nada do ser do homem descortina todo um mundo lancinante e agônico. A grandeza da alma está aí: ela vislumbra uma totalidade de sentido, mas uma totalidade que morreu; tudo consegue ver, e tudo morreu. O homem de nosso tempo é esse homem que habita o intervalo de duas grandezas: um passado que se vai, irrepetível, e um futuro que permanece uma incógnita^15.

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PARÊMIA DE INVERNO

Sexta Lua do ano No céu, logo depois do Pôr-do-sol, surge a Arturus uma das mais brilhantes e lindas estrelas que se pode sonhar. Mais noitinha ainda surge a Constelação do Escorpião e a Antaris radiante e afirmando ser a própria essência da vida. E estamos novamente no Inverno.

Deixe a tua dor um pouquinho de lado esquece dos problemas do cotidiano. Largue tua mágoa, teu desalento. Põe um sorriso na alegria, e viva o Inverno com sua florada exuberante.

Veja o vermelho da suinã, o amarelo do girassol, o vermelho e amarelo do bico-de-papagaio, as cores vivas da azaléia, o esplendor do Ipê-Roxo e tantas outras flores e cores desse nosso momento de vida.

Inverno com suas noites frias e estreladas. Inverno do luamento mais brilhante, mais intenso e harmonioso com o pulsar do coração.

Inverno das fogueiras juninas aquecendo o coração, o corpo e a alma. Inverno das manhãs azuis, do sol radiante e das tardes frias.

Inverno da vida que passa lá de fora pra dentro do coração acalentando a esperança e a ilusão.

Inverno das noites aquecidas pelo orvalhar e pelo olor dos craveiros. E pelo brilho de um doce e meigo olhar.

Valdemar Augusto Angerami