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Apostila Metodologia PDF, Notas de estudo de Cultura

Metodologia Cientifica

Tipologia: Notas de estudo

2014

Compartilhado em 12/04/2014

raul-seixas-15
raul-seixas-15 🇧🇷

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APOSTILA
INTRODUÇÃO À METODOLOGIA
CIENTÍFICA
Prof. Alysson Rodrigo Fonseca
Divinópolis/MG
2006
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APOSTILA

INTRODUÇÃO À METODOLOGIA

CIENTÍFICA

Prof. Alysson Rodrigo Fonseca

Divinópolis/MG

SUMÁRIO

CAPÍTULO 8. O SEMINÁRIO COMO TÉCNICA DE APRESENTAÇÃO DE

TRABALHOS ACADÊMICOS .................................................................................... 57

  1. Introdução .................................................................................................................. 57
  2. Características do seminário ...................................................................................... 57 2.1 Objetivos .................................................................................................................. 58 2.2 Etapas ....................................................................................................................... 58 2.3 Avaliação ................................................................................................................. 58
  3. Referências ................................................................................................................ 59

CAPÍTULO 9. APRESENTAÇÃO DE REFERÊNCIAS: BIBLIOGRÁFICAS, MATERIAIS ESPECIAIS E DOCUMENTOS ELETRÔNICOS ................................ 60

  1. Introdução .................................................................................................................. 60 1.1 Publicações avulsas consideradas no todo ............................................................... 60 1.2 Partes de publicações avulsas .................................................................................. 62 1.3 Materiais especiais ................................................................................................... 63 1.4 Documentos eletrônicos ........................................................................................... 64

Nota do Autor

Este trabalho tem por finalidade fornecer aos estudantes de Gradução e Pós- graduação um livro texto que sirva de base às aulas de Metodologia Científica. Não se trata de uma obra completa, nem tampouco original, mas sim uma compilação do que já é conhecido daqueles mais tarimbados nas áreas da Metodologia e Pesquisa, que nem sempre é de fácil acesso àqueles que nela estão iniciando. Por isso, toda a crítica que vise melhoras será bem aceita. Deixo meu expresso muito obrigado a todos que de um modo ou de outro contribuíram na elaboração dessa apostila.

CAPÍTULO 1

CIÊNCIA E CONHECIMENTO CIENTÍFICO

1. Introdução

A Metodologia e a Universidade

Aidil Barros e Neide Lehfeld

Porque não começarmos pela apresentação de um problema àquele que acaba de ingressar no curso superior: O que é Metodologia? Que relação há entre Ciência e Metodologia Cientifica? Qual a sua importância e utilidade para o universitário? Partindo da definição etimológica do termo temos que a palavra Metodologia vem do grego "meta" = ao largo; "odos" = caminho; "logos" = discurso, estudo. A Metodologia é entendida como uma disciplina que consiste em estudar e avaliar os vários métodos disponíveis, identificando as limitações de suas utilizações. A Metodologia, num nível aplicado, examina e avalia as técnicas de pesquisa bem como a geração ou verificação de novos métodos que conduzem à captação e processamento de informações com vistas à resolução de problemas de investigação. A Metodologia seria a aplicação do método através de técnicas. Constitui o procedimento que deve seguir todo conhecimento cientifico para comprovar sua verdade e ensiná-la. O método é o caminho ordenado e sistemático, a orientação básica para se chegar a um fim e técnica é a forma de aplicação do método. Representa a maneira de atingir um propósito bem definido. Tem-se então o método como estratégia e as técnicas como táticas necessárias para se operacionalizar a estratégia. Assim, o método estabelece de modo geral o que fazer e técnica nos dá o como fazer, isto é, a maneira mais hábil, mais perfeita de fazer uma atividade. A Metodologia no quadro geral da ciência é uma "Metaciência", isto é, um estudo que tem por objeto a própria Ciência e as técnicas especificas de cada Ciência. A Metodologia não procura soluções mas escolhe as maneiras de encontrá-las, integrando os conhecimentos a respeito dos métodos em vigor nas diferentes disciplinas cientificas ou filosóficas. Com relação a importância da disciplina Metodologia Cientifica, esta é baseada na apresentação e exame de diretrizes aptas a instrumentar o universitário no que tange a estudar e aprender. Para nós, mais vale o conhecimento e manejo desta instrumentação para o trabalho cientifico do que o conhecimento de uma série de problemas ou o aumento de informações acumuladas sistematicamente. Estamos pois, voltados para assessorar e colaborar com o crescimento intelectual do aluno para a formação de um compromisso científico frente à realidade empírica. Com o objetivo precípuo da universidade é ensinar e divulgar o procedimento científico, formar cientistas e desenvolver o conhecimento cientifico, logo se leva em conta

2. Conhecimento Científico e outros tipos de conhecimentos

Desde a Antiguidade, até aos nossos dias, um camponês, mesmo iletrado e/ou desprovido de outros conhecimentos, sabe o momento certo da semeadura, a época da colheita, a necessidade da utilização de adubos, as providências a serem tomadas para a defesa das plantações de ervas daninhas e pragas e o tipo de solo adequado para as diferentes culturas. Tem também conhecimento de que o cultivo do mesmo tipo, todos os anos, no mesmo local, exaure o solo. Já no período feudal, o sistema de cultivo era em faixas: duas cultivadas e uma terceira "em repouso", alternando-as de ano para ano, nunca cultivando a mesma planta, dois anos seguidos, numa única faixa. O início da Revolução Agrícola não se prende ao aparecimento, no século XVIII, de melhores arados, enxadas e outros tipos de maquinaria, mas à introdução, na segunda metade do século XV, da cultura do nabo e do trevo, pois seu plantio evitava o desperdício de se deixar a terra em pousio: seu cultivo "revitalizava" o solo, permitindo utilização constante. Hoje, a agricultura utiliza-se de sementes selecionadas, de adubos químicos, de defensivos contra as pragas e tenta-se, até, o controle biológico dos insetos pragas. Mesclam-se, neste exemplo, dois tipos de conhecimento: o vulgar ou popular, geralmente típico do camponês, transmitido de geração para geração por meio da educação informal e baseado em imitação e experiência pessoal; portanto, empírico e desprovido de conhecimento sobre a composição do solo, das causas do desenvolvimento das plantas, da natureza das pragas, do ciclo reprodutivo dos insetos etc.; o segundo, cientifico, é transmitido por intermédio de treinamento apropriado, sendo um conhecimento obtido de modo racional, conduzido por meio de procedimentos científicos. Visa explicar "por que" e "como" os fenômenos ocorrem, na tentativa de evidenciar os fatos que estão correlacionados, numa visão mais globalizante do que a relacionada com um simples fato - uma cultura específica, de trigo, por exemplo.

2.1 Correlação entre Conhecimento Popular e Conhecimento Científico

O conhecimento vulgar ou popular, às vezes denominado senso comum não se distingue do conhecimento cientifico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto conhecido: o que os diferencia é a forma, o modo ou o método e os instrumentos do "conhecer". Saber que determinada planta necessita de uma quantidade "X" de água e que, se não a receber de forma "natural", deve ser irrigada pode ser um conhecimento verdadeiro e comprovável, mas, nem por isso, científico. Para que isso ocorra, é necessário ir mais além: conhecer a natureza dos vegetais, sua composição, seu ciclo de desenvolvimento e as particularidades que distinguem uma espécie de outra. Dessa forma, patenteiam-se dois aspectos:

a) A ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à verdade.

b) Um mesmo objeto ou fenômeno - uma planta, um mineral, uma comunidade ou as relações entre chefes e subordinados - pode ser matéria de observação tanto para o cientista quanto para o homem comum; o que leva um ao conhecimento científico e outro ao vulgar ou popular é a forma de observação.

2.2 Os Quatro Tipos de Conhecimento

Conhecimento Popular Conhecimento Científico Valorativo Real (factual) Reflexivo Contingente Assistemático Sistemático Verificável Verificável Falível Falível Inexato Aproximadamente exato

Conhecimento Filosófico Conhecimento Religioso (Teológico) Valorativo Valorativo Racional Inspiracional Sistemático Sistemático Não verificável Não verificável Infalível Infalível Exato Exato

2.2.1 Conhecimento Popular

O conhecimento popular é valorativo por excelência, pois se fundamenta numa seleção operada com base em estados de ânimo e emoções: como o conhecimento implica uma dualidade de realidades, isto é, de um lado o sujeito cognoscente e, de outro, o objeto conhecido, e este é possuído, de certa forma, pelo cognoscente, os valores do sujeito impregnam o objeto conhecido. É também reflexivo, mas, estando limitado pela familiaridade com o objeto, não pode ser reduzido a uma formulação geral. A característica de assistemático baseia-se na "organização" particular das experiências próprias do sujeito cognoscente, e não em uma sistematização das idéias, na procura de uma formulação geral que explique os fenômenos observados, aspecto que dificulta a transmissão, de pessoa a pessoa, desse modo de conhecer. É verificável, visto que está limitado ao âmbito da vida diária e diz respeito àquilo que se pode perceber no dia-a-dia. Finalmente é falível e inexato, pois se conforma com a aparência e com o que se ouviu dizer a respeito do objeto.

2.2.2 Conhecimento Filosófico

O conhecimento filosófico é valorativo, pois seu ponto de partida consiste em hipóteses, que não poderão ser submetidas à observação: "as hipóteses filosóficas baseiam- se na experiência, portanto, este conhecimento emerge da experiência e não da experimentação"; por este motivo, o conhecimento filosófico é não verificável, já que os enunciados das hipóteses filosóficas, ao contrário do que ocorre no campo da ciência, não podem ser confirmados nem refutados. É racional, em virtude de consistir num conjunto de enunciados loucamente correlacionados. Tem a característica de sistemático, pois suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade. Por último, é infalível e exato, já que, quer na busca da realidade capaz de abranger todas as outras, quer na definição do instrumento capaz de apreender a realidade, seus postulados, assim como suas hipóteses, não são submetidos ao decisivo teste da observação (experimentação).

  • "Caracteriza-se pelo conhecimento racional, sistemático, exato, verificável e, por conseguinte, falível".
  • "Conhecimento certo do real pelas suas causas".
  • "Conhecimento sistemático dos fenômenos da natureza e das leis que o regem, obtido através da investigação, pelo raciocínio e pela experimentação intensiva".
  • "Conjunto de enunciados lógicos e dedutivamente justificados por outros enunciados".
  • "Conjunto orgânico de conclusões certas e gerais, metodicamente demonstradas e relacionadas com objeto determinado".
  • "Corpo de conhecimentos consistindo em percepções, experiências, fatos certos e seguros."
  • "Estudo de problemas solúveis, mediante método científico".
  • "Forma sistematicamente organizada de pensamento objetivo".

a) Conceito de Ander-Egg

"A ciência é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma natureza.'

  • Conhecimento racional isto é, que tem exigências de método e está constituído por uma série de elementos básicos, tais como sistema conceitual, hipóteses, definições; diferencia-se das sensações ou imagens que se refletem em um estado de ânimo, como o conhecimento poético, e da compreensão imediata, sem que se busquem os fundamentos, como é o caso do conhecimento intuitivo.
  • Certo ou provável, já que não se pode atribuir à ciência a certeza indiscutível de todo saber que a compõe. Ao lado dos conhecimentos certos, é grande a quantidade dos prováveis. Antes de tudo, toda lei indutiva é meramente provável, por mais elevada que seja sua probabilidade.
  • Obtidos metodicamente, pois não se os adquire ao acaso ou na vida cotidiana, mas mediante regras lógicas e procedimentos técnicos.
  • Sistematizados, isto é, não se trata de conhecimento dispersos e desconexos, mas de um saber ordenado logicamente, constituindo um sistema de idéias (teoria).
  • Verificáveis, pelo fato de que as afirmações, que não podem ser comprovadas ou que não passam pelo exame da experiência, não fazem parte do âmbito da ciência, que necessita, para incorporá-las, de afirmações comprovadas pela observação.
  • Relativos a objetos de uma mesma natureza, ou seja, objetos pertencentes a determinada realidade, que guardam entre si certos caracteres de homogeneidade.

b) Conceito de Trujillo

Apesar de maior abrangência do conceito de Ander-Egg, consideramos mais precisa a definição de Trujillo, expressa em seu livro Metodologia da Ciência, que nos serve de ponto de partida. Assim, entendemos por ciência uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de proposições logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar: "A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação".

4. Referências

AMARAL, E; ANTÓNIO, S.; PATROCÍNIO, M.F. Redação; gramática; interpretação de textos : testes e exercícios. São Paulo: Editora Nova Cultural, sem data. 432p.

ARANHA, M.L A.; MARTINS, M.H.P. Filosofando : introdução à filosofia. São Paulo, Editora Moderna, 1986. 443p.

BARROS, A.J.P.; LEHFELD, N.A.S. A metodologia e a universidade. In: Fundamentos de metodologia: um guia para a iniciação cientifica. São Paulo: Mc Graw-Hill, 1986. p. 1-14.

CERVO, A.L.; BERVIAN, P.A. Metodologia científica. 3 o^ Ed. São Paulo, Editora McGraw-Hill do Brasil, 1983. 249p.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Manual do projeto de pesquisa e de apoio ou desenvolvimento. Brasília, 1989. 73p. (EMBRAPA-DTC. Documentos, 15)

FERREIRA, A.S_. Metodologia de Pesquisa_. Viçosa: Universidade federal de Viçosa, 2001, 56p.

LAKATOS, E.M. e MARCONI, M.A. Metodologia cientifica. São Paulo: Editora Atlas, 1983, 231p.

TRUJILLO FERRARI, A. Metodologia Cientifica. 2 a^ Ed., Rio de Janeiro: Editora Kennedy, 1974. 318p.

2. Ciências Formais e Ciências Factuais

A primeira e a mais fundamental diferença que se apresenta entre as ciências diz respeito às ciências, formais, estudo das idéias, e às ciências factuais, estudo dos fatos. Entre as primeiras encontram-se a lógica e a matemática que, não tendo relação com algo encontrado na realidade, não podem valer-se dos contatos com essa realidade para convalidar suas fórmulas. Por outro lado, a física e a sociologia, sendo ciências factuais, referem-se a fatos que supostamente ocorrem no mundo e, em conseqüência, recorrem à observação e à experimentação para comprovar (ou refutar) suas fórmulas (hipóteses). A lógica e a matemática tratam de entes ideais, tanto abstratos quanto interpretados, existentes apenas na mente humana e, mesmo nela, a nível conceitual e não fisiológico. Em outras palavras, constróem seus próprios objetivos reais (naturais e sociais). Segundo Bunge, o conceito de número abstrato nasceu da coordenação de conjuntos de objetos materiais; todavia, os números não existem fora de nossos cérebros: podemos ver, encontrar, manusear, tocar três livros, três árvores, três carros, ou podemos imaginar três discos voadores, mas ninguém pode ver um simples três, em sua forma, composição, essência. Por exemplo, o sistema decimal, em matemática, é uma decorrência de os seres humanos possuírem dez dedos.

2.1 Aspectos Relacionados à Divisão em Ciências Formais e Factuais

A divisão em ciências formais e factuais leva em consideração:

a) O objeto ou tema das respectivas disciplinas. As formais preocupam-se com enunciados, ao passo que as factuais tratam de objetos empíricos, de coisas e de processos.

b) A diferença de espécie entre enunciados. Os enunciados formais consistem em relações entre símbolos e factuais referem-se a entes extracientíficos, isto é, fenômenos e processos.

c) O método através do qual se comprovam os enunciados. As ciências formais contentam-se com a lógica para demonstrar rigorosamente seus teoremas e as factuais necessitam da observação e/ou experimento. Dito de outra forma, as primeiras não empregam a experimentação para a demonstração de seus teoremas, pois ela decorre da dedução; na matemática, por exemplo, "o conhecimento depende da coerência de enunciado dado com um sistema de idéias que foram admitidas previamente"; ao contrário, as ciências factuais devem, sempre que possível, procurar alterar deliberadamente os objetos, fenômenos ou processos, para verificar até que ponto suas hipóteses se ajustam aos fatos.

d) O grau de suficiência em relação ao conteúdo e método de prova. As ciências formais são suficientes em relação aos seus conteúdos e métodos de prova, enquanto as ciências factuais dependem do "fato" no que diz respeito a seu conteúdo ou significação e do "fato experimental", para sua convalidação.

"Isto explica por que se pode conseguir verdade formal completa, enquanto a verdade factual se revela tão fugidia".

e) O papel da coerência para se alcançar a verdade. Para Bunge, se na matemática a verdade consiste "na coerência do enunciado dado com um sistema de idéias previamente admitido", esta verdade não é absoluta, mas relativa a este sistema, de tal forma que, se uma proposição é válida em uma teoria, pode deixar de ser logicamente verdadeira em outra: por exemplo, no sistema aritmético empregado para contar as horas de um dia, a proposição 24 + l = l é válida. Portanto, se os axiomas podem ser escolhidos à vontade, somente as conclusões (teoremas) terão que ser verdadeiras, e isto só se consegue respeitando a coerência lógica, ou seja, sem violar as leis do sistema de lógica que se determinou utilizar. Por sua vez, o que ocorre com as ciências factuais é totalmente diferente. Não empregando símbolos "vazios" (variáveis lógicas), mas apenas símbolos interpretados, a racionalidade, isto é, a "coerência com um sistema de idéias previamente admitido" é necessária, mas não suficiente, da mesma forma que a submissão a um sistema de lógica é também necessária, mas não garante, por si só, a obtenção da verdade. Além da racionalidade, exige-se que os enunciados sejam verificáveis pela experiência, quer indiretamente (hipóteses gerais) quer diretamente (conseqüências singulares das hipóteses). Somente depois que um enunciado (hipótese) passa pelas provas de verificação empírica é que poderá ser considerado adequado ao seu objetivo, isto é, verdadeiro e, mesmo assim, a experiência não pode garantir que seja o único verdadeiro: "somente nos dirá que é provavelmente adequado, sem excluir, por isso, a probabilidade de que um estudo posterior possa dar melhores aproximações na reconstrução conceituai da parte de realidade escolhida".

f) O resultado alcançado. As ciências formais demonstram ou provam; as factuais verificam (comprovam ou refutam) hipóteses que, em sua maioria, são provisórias. A demonstração é completa e final, ao passo que à verificação é incompleta e, por este motivo, temporária.

2.2 Características das Ciências Factuais

Assim, o conhecimento científico, no âmbito das ciências factuais, caracteriza-se por ser: racional, objetivo, factual, transcedente aos fatos, analítico, claro e preciso, comunicável, verificável, dependente de investigação metódica, sistemático, acumulativo, falível, geral, explicativo, preditivo, aberto e útil.

3. Ciências Físicas e Sociais

São também denominadas de naturais (físicas) e humanas (sociais). A divisão dessas ciências do ponto de vista didático ou pedagógico pode ser aceitável, porém do ponto de vista filosófico deve ser repensado. O questionamento que faço é: existe ciência que não seja feita pelo homem e que não seja feita para o homem ou para a humanidade visando produzir o bem ou o mal? Se a resposta for não, então a divisão do ponto de vista científico não procede.

c) Os fenômenos físicos, por serem regidos por leis fatais, podem ser previstos e alguns provocados para serem melhor observados; enquanto isso, a liberdade, que interfere mais ou menos nos atos humanos, impede qualquer previsão exata tomando apenas aproximativos os cálculos nas ciências humanas.

d) Finalmente, as ciências da natureza tratam de fatos e objetos materiais que se podem pesar e medir, ao menos indiretamente. Assim, esta intervenção de medida comunica aos resultados um pouco de rigor matemático. As fatos humanos, por serem qualitativos, não é aplicável qualquer avaliação quantitativa.

Por todos estes motivos, as ciências humanas são de resultados menos precisos e de mais difícil estudo. Suas leis são mais flexíveis e menos rigorosas; entretanto, expressam suficiente estabilidade e constância, a ponto de poderem fundamentar verdadeiras ciências.

4. Ciências Básicas e Aplicadas

A divisão das ciências, conforme visto anteriormente, só procede por questões de compartimentação, ou seja, divisão em áreas, porém considerar a existência de ciência básica e aplicada é um equívoco, pois como já vimos "a ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objetivo limitado, capaz de ser submetido à verificação". Vocês já leram em algum livro ou já viram em alguma escola o seguinte: agora vamos estudar as ciências básicas e depois vamos estudar as ciências aplicadas ou neste capítulo vamos tratar das ciências básicas e no capítulo seguinte das ciências aplicadas. Toda ciência é básica, pois os conhecimentos científicos gerados através de seus métodos devem servir de base para uso pela humanidade e toda ciência é aplicada, pois servir de base para a humanidade significa poder ser aplicado em seu benefício. Esta divisão surgiu mais em função do acúmulo de conhecimentos científicos e da necessidade, e ao mesmo tempo dificuldade, do homem em compartimentalizar a ciência. Foi a partir da busca da divisão das ciências em formais e factuais que surgiu essa dicotomia entre básico e aplicado (reveja item 3.1 desse capítulo). Até meados do século passado (1950) era comum considerar as ciências formais como básicas e as factuais como aplicadas isso porque nas ciências formais contenta-se com a lógica para demonstrar rigorosamente os teoremas enquanto que nas factuais é necessário observação e/ou experimento. A dicotomia ciência básica e aplicada se fortaleceu no sistema capitalista também pela lógica mercantilista, de modo que compete aos países ricos (que podem dispor de equipamentos sofisticados) fazer a pesquisa mais caro, enquanto que, aos países pobres (que não devem dispor de equipamentos sofisticados) compete repetir o que já foi descoberto para adaptar as suas condições, ou seja, realizar as pesquisas adaptativas, de menor demanda de capital.

Fonte : FERREIRA, A.S. Metodologia de Pesquisa. Viçosa: Universidade federal de Viçosa, 56p., 2001.

CAPÍTULO 3

ESTUDO PELA LEITURA TRABALHADA

João Álvaro Ruiz

1. Importância da leitura

Não basta ir às aulas para garantir pleno êxito nos estudos. É preciso ler e, principalmente, ler bem. Quem não sabe ler não saberá resumir, não saberá tomar apontamentos e, finalmente, não saberá estudar. Ler bem é o ponto fundamental para os que quiserem ampliar e desenvolver as orientações e aberturas das aulas. É muito importante participar das aulas; elas não circunscrevem, não limitam: ao contrário, abrem horizontes para as grandes caminhadas do aluno que leva a sério seus estudos e quer atingir resultados plenos de seus cursos. Aliás, quase todas as cadeiras desenvolvem programas de pesquisa bibliográfica para que o aluno desenvolva temas e reconstrua ativamente o que outros já construíram. Para elaborar trabalhos de pesquisa, é necessário ir às fontes, aos autores, aos livros; é preciso ler, ler muito e, principalmente, ler bem. Durante as primeiras aulas de qualquer disciplina, os mestres apresentam criteriosa bibliografia; alguns livros são básicos, ou de leitura obrigatória, para quem quer colher todo fruto das aulas; outros são mais especializados ou se concentram em algum item do programa, e pode, entre os tratados gerais de consulta obrigatória, ser indicado uma, como livro de texto. A indicação do livro de texto tem vantagens e inconvenientes cuja análise ultrapassaria os limites que este compêndio impõe. Diremos, apenas, que o livro de texto é muito bom para a preparação da aula, mas que o aluno não pode ater-se exclusivamente a ele. " Timeo hominem unius libri ", diziam os antigos. Devemos temer o homem de um livro só. É necessário abeberar-se de outras fontes mais amplas, mais especializadas sobre cada tema ou sobre cada pormenor dos programas. Se não é possível pensar em fazer um bom curso sem descobrir ou fazer aparecer espaços de tempo para o estudo extra-aula e se é necessário programar criteriosamente a utilização desse tempo, não seria igualmente impossível pensar em fazer um bom curso sem ter à mão boas fontes de leitura? É possível que se pretenda fazer um curso universitário sem freqüentar bibliotecas ou sem adquirir, ao menos, os livros básicos para cada programa? A leitura amplia e integra os conhecimentos, desonerando a memória, abrindo cada vez mais os horizontes do saber, enriquecendo o vocabulário e a facilidade de comunicação, disciplinando a mente e alargando a consciência pelo contato com formas e ângulos diferentes sob os quais o mesmo problema pode ser considerado. Quem lê constrói sua própria ciência; quem não lê memoriza elementos de um todo que não se atingiu. E, ao terminar um curso superior, deveríamos não só estar capacitados a repetir o que foi aprendido na faculdade, como também estar habilitados a desenvolver, através de pesquisas, temas nunca abordados em aula. Deveríamos ser uma pequena fonte, não um pequeno depósito de conhecimentos, ou mero encanamento por onde as coisas apenas passam. É preciso ler, ler muito, ler bem. É preciso sentir atração pelo saber, e encontrar onde buscá-lo. É necessário iniciar este trabalho com determinação e perseverar nele; o crescimento cultural tem crises como o crescimento físico; quem não sente apetite não deve deixar de alimentar-se; comprometeria

dicionário, lápis e um bloco de papel. É de suma importância, também, o clima de silêncio interior, de concentração naquilo que se vai fazer. Tudo o que resumimos acima está amplamente desenvolvido provado e justificado nos tratados de pedagogia e de didática. Não duvidamos de sua importância, mas quem não dispuser do ambiente ideal de leitura deve aprender a ler com boa velocidade e eficiência num banco de jardim, numa sala de espera ou numa fila de ônibus. Cada um constrói sua casa com as pedras que tem. Não se julgue impossibilitado de ler aquele que não puder fazê-lo em ambiente de condições ideais, mas é importante conhecer estas condições e procurar criá-las eu desfrutar delas tanto quanto possível.

5. Definição de propósitos

Alguém pode ler só para passar o tempo, para não manter conversação com o cidadão estranho que se sentou a seu lado no mesmo vagão, ou para dar ares de intelectual; estas são maneiras de dar alguma finalidade à leitura. Mas não é dessa finalidade ou propósito que estamos falando. A finalidade básica da leitura cultural é a procura, a captação, a crítica, a retenção e a integração de conhecimentos, e isto se faz, em primeiro lugar, pela procura das idéias mestras, das idéias principais, também chamadas idéias diretrizes. Cada texto, cada seção, cada capítulo e, mesmo, cada parágrafo tem uma idéia principal, uma palavra-chave, um conceito fundamental. "...é essencial que o estudante se preocupe em descobrir qual é essa idéia diretriz, fio condutor do pensamento do mestre ou expositor", escreve Emílio Mira y López, em seu Como estudar e como aprender, e continua: "Assim, pois, como cada fábula tem sua “moral”, isto é, a sua essência significativa, cada série de pensamentos possui uma idéia diretriz ou conceito fundamental. Descobri-lo, quando não esta em negrito, é conquistar um dos fatores essenciais de toda aprendizagem cultural". Em cada parágrafo, pois, o leitor deve captar a idéia principal; deve concentrar-se em sua procura. O mau leitor, ou seja, o leitor lento e ineficiente, lê palavras, ou melhor dizendo, lê palavra por palavra, como se todas tivessem igual valor; o bom leitor lê unidades de pensamento, lê idéias e as hierarquiza enquanto lê, de maneira a encontrar a idéia mestra ou a palavra-chave. Quem lê idéias é mais veloz na leitura e capta melhor o que lê. Mas isto é fruto de treinamento, de exercícios. “Se vocês, amigos leitores, dedicassem uma hora por dia à tarefa de descobrir, concretizar e formular as idéias diretrizes de alguns parágrafos de diversos textos, exercitar-se-iam em uma técnica de abstração e de síntese que lhes permitiria tirar o máximo proveito de qualquer tipo de leitura ou estudo ulterior”. Nossa experiência de mais de vinte anos de magistério, bem como de mais de trinta anos de continuados estudos confirmam as palavras de Mira y López e da generalidade dos autores que versaram sobre o assunto. Por ocasião da última abordagem do presente assumo em classe, uma aluna tomou a palavra para prestar interessante depoimento: "Estou cursando esta cadeira de Metodologia com calouros, mas já estou no último semestre do curso de Estudos Sociais. Sou transferida de outra faculdade, onde não existe a cadeira de Metodologia. Confesso que estava chegando ao fim do curso sem saber ler. Percebo que fui muito prejudicada. Mas... antes tarde do que nunca!" Esse depoimento teve mais força persuasiva do que toda nossa aula. E aquela classe passou a valorizar nossa cadeira, a estar mais atenta às aulas e a aplicar-se com maior dedicação à leitura cultural para trabalhos de pesquisa bibliográfica.

Quem não puder dedicar uma hora por dia ao trabalho de encontrar as idéias principais de alguns parágrafos não se julgue dispensado deste exercido; leia com este propósito seu livro de textos, suas apostilas e toda a bibliografia consultada na elaboração de seus trabalhos de pesquisa. Procure, após a leitura de algumas páginas, reformular as idéias mestras; leia novamente a passagem para verificar se atingiu o propósito de toda leitura cultural, que é captar, reter, "integrar e evocar conhecimentos reformulados". Crie o hábito de encontrar a idéia principal em cada parágrafo que ler. Quando julgar tê-lo feito, confira sua conclusão e mantenha a idéia em mente enquanto continua a ler, e compare-a, especialmente, com a sentença-sumário. Se tiver dúvidas a respeito de sua seleção, releia o parágrafo, desta vez olhando-o bem para se certificar de que captou a idéia correta. Lembre-se, porém, de que nem sempre pode encontrá-la numas poucas palavras dadas; talvez, tenha de refraseá-la com palavras suas (uma boa prática, afinal de contas) para captá-la com exatidão.

6. Idéia mestra em sua constelação

Não existem capítulos, seções ou livros só com idéias mestras; estas seriam encontradas nos índices, nos prefácios e nos sumários. Nem é possível captar, hierarquizar, criticar, reter ou evocar idéias mestras totalmente despojadas de pormenores importantes. A idéia principal aparece sempre numa constelação de idéias que gravitam à sua volta; um argumento que a justifique, um exemplo que a elucide, uma analogia que a torne verossímil e um fato ao qual ela se aplique são elementos de sustentação da idéia principal. O bom leitor não lê só o essencial; não lê apenas resumos com o propósito insano de memorizá-los. O bom leitor produz seus resumos, é verdade; e procura acompanhar a montagem, o encadeamento, a articulação das idéias em amplos e profundos textos nos quais as idéias principais são fundamentadas em bases sólidas, em demonstrações de validade ponderável, em fatos de evidência comprovada, em documentos insofismáveis, ou são aplicadas na solução de problemas ou na definição ou normalização da conduta. Quem alega, por ocasião de exames ou em conversações rotineiras, que tem facilidade para responder á perguntas essenciais, mas não se interessa por pormenores e "coisinhas" está confessando, embora não seja esta a sua intenção, que não lê ou não sabe ler, que não estuda ou não sabe estudar. É importantíssimo discernir o principal e o secundário, a idéia mestra e os pormenores mais importantes ou menos importantes. Memorizar índices, enunciados, teses, ou postulados não exime ninguém da pecha de mau leitor, de mau estudante ou de pseudo- selecionador de preciosidades. Quem procede assim não tem razão para escusar-se; deve mudar de conduta e começar a ler e a estudar com inteligência e sabedoria, isto é, com amor pelo saber.

7. Sublinhar com inteligência

Sublinhar é uma arte que ajuda a colocar em destaque as idéias mestras, as palavras- chave e os pormenores importantes. Quem sublinha com inteligência está constantemente atento à leitura; descobre o principal em cada parágrafo e o diferencia do acessório; este propósito o mantém concentrado e em atitude de crítica durante todo o tempo dedicado à leitura. Além desse efeito benéfico, já durante a leitura, o hábito de sublinhar com