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Além de experimentar novos modelos de ensino, que me propiciaram um grande conhecimento, durante o curso convivi com pessoas que tiveram grande importância na.
Tipologia: Notas de aula
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Não perca as partes importantes!
Belo Horizonte Universidade Federal de Minas Gerais 2019
Memorial apresentado à Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais, como parte dos requisitos para promoção à classe de Professor Titular do Departamento de Odontologia Social e Preventiva.
Belo Horizonte Universidade Federal de Minas Gerais 2019
Agradeço aos colegas do Departamento de Odontologia Social e Preventiva pela grande parceria. Apesar das adversidades, persistimos. Tenho orgulho de ter sido uma partícipe na construção desse Departamento;
Aos alunos de graduação e pós-graduação que muito me ensinaram, pois como bem dizia Paulo Freire: “não há docência sem discência, pois, quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”;
Aos demais docentes da Faculdade de Odontologia que participaram de alguma forma da minha trajetória acadêmica;
À minha irmã Adriana Maria Cancela Duarte por compartilhar do meu processo de construção desse Memorial, com uma leitura cuidadosa do texto.
Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se ps a caminhar.
1 INTRODUÇÃO
Sou a mais velha de cinco filhas. Meu pai, Paulo, e minha mãe, Conceição, casaram-se em Ubá, MG, mas eu nasci foi na capital Belo Horizonte, onde moravam meus avós por parte de pai. Logo após o meu nascimento, viemos para a capital porque meu pai fora vítima de uma doença grave, tuberculose, e o tratamento à época incluía cirurgia e isolamento em casa de saúde, o que nos obrigou a morar com meus avós durante quase um ano.
Minha mãe, professora primária, tinha um colégio em Ubá, o Externato Santa Terezinha, mas com a nossa mudança foi obrigada a vender a escola que gozava de excelente conceito na cidade. Minha mãe era conhecida como uma professora muito competente e rígida, bons adjetivos para os padrões da época. Os pais cujos filhos eram rebeldes confiavam sua educação a ela, que nunca os decepcionou. Acredito que minha vocação para a docência tenha vindo dela.
Em Belo Horizonte, ela não criou outro colégio, mas um Curso de Admissão, necessário para os alunos que terminavam o quarto ano do Ensino Primário e queriam ingressar nos ótimos colégios públicos existentes à época, disputando uma vaga para o Curso Ginasial. Mais uma vez foi muito bem-sucedida.
Comecei minha vida escolar no Colégio Imaculada Conceição, onde fiz o Curso Primário, escola religiosa tradicional de Belo Horizonte. Minha mãe havia estudado no Colégio Sacré-Coeur de Marie, em Ubá, e queria que minha educação seguisse na mesma linha. No momento da matrícula, a Madre Prefeita perguntou à minha mãe se eu já sabia ler porque naquela escola as crianças aprendiam aos 6 anos, na pré-escola. Minha mãe respondeu que sim. Eu havia cursado uma escola infantil antes, mas ela precisou me alfabetizar em 20 dias. Lembro que tinha aulas de manhã e à tarde com minha mãe e que consegui aprender a ler a tempo, embora com bastante dificuldade.
Com a chegada de mais quatro filhas, o orçamento ficou bastante apertado. Meu pai era fiscal do IAPC (depois INSS), tinha um salário modesto e, mesmo com a ajuda da minha mãe como professora, não era fácil pagar escola privada para todas as filhas.
ocupava os dois primeiros andares da Faculdade de Medicina da UFMG. Era um espaço muito feio e velho, com certo odor de formol, mas a alegria de já estar na faculdade, com novos amigos, colegas de todos os cursos da área da saúde (as turmas eram por ordem alfabética), superava os muitos obstáculos além destes. Iniciando o Curso Básico, estudava o dia todo, o horário era integral e, à noite, ainda participava de um grupo de estudos com mais três colegas, uma aluna do curso de Odontologia, outra da Enfermagem e mais uma da Veterinária. Ainda somos muito amigas.
Havia um grande distanciamento entre as disciplinas do Curso Básico e as profissionalizantes, mas mesmo assim achava fascinante. A maioria dos professores era muito tradicional na forma de ensinar. Mas lembro-me de que na Bioquímica, conteúdo muito difícil, os professores trabalhavam com um método pedagógico diferenciado: havia Grupos de Discussão (GD) e Objetivos Específicos Mínimos, que os alunos precisavam alcançar, facilitando a compreensão e o estudo da disciplina. A Anatomia Humana Básica também tinha uma metodologia que envolvia apresentação de videoaulas, realizadas pelo professor Jota D’Angelo, sempre muito interessantes.
Finalizado o Curso Básico, fui finalmente para a Faculdade de Odontologia, na Cidade Jardim, que funcionava em prédio antigo, tombado pelo patrimônio histórico. Nesse momento, a ansiedade aumentou muito porque não tinha certeza quanto à minha opção pelo curso. Na verdade, somente quando comecei o atendimento clínico a pacientes, já no 5º período, é que tive certeza de que estava no caminho certo.
Naquela época, a Faculdade era muito pequena, não tinha pós-graduação, pouquíssimos eram os projetos de extensão e o mais comum era os alunos permanecerem como monitores voluntários em disciplinas já cursadas, quando havia o desejo de aprender mais. Assim, fui voluntária na disciplina de Dentística II, coordenada pelo professor Marcos Lanza. Mas gostava mesmo era de Patologia: além do conteúdo me encantar, os professores Ênio Figueiredo, José Moreira, Carlos Roberto Martins e Juarez Correa da Silveira eram excelentes e, principalmente, amavam o que faziam. Outro professor que me ensinou muito, sobretudo como estudar, foi Gilberto Rocha Melo, da área de Endodontia. Ele nos motivava a buscar conhecimento novo em artigos científicos e não apenas em livros-texto como era o mais comum à época.
Em 1981, com todas essas questões me inquietando, tive conhecimento, pela coordenadora de saúde bucal da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, do Curso de Especialização em Saúde Pública no Departamento de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Fiz uma seleção e fui aprovada para participar deste curso que, certamente, mudou minha carreira profissional e foi um divisor de águas na minha vida.
Esse curso lato sensu era modular, coordenado pelo Professor Eugênio Vilaça Mendes, e as disciplinas eram completamente diferentes de tudo que havia estudado até então: Teoria do Conhecimento, Economia, Sociologia, Políticas de Saúde no Brasil, Odontologia Preventiva, Epidemiologia, Estágio de Campo, Políticas Odontológicas no Brasil, Administração de Serviços Odontológicos, Estudo de Problemas Brasileiros, Sistemas Comparados de Saúde Bucal. Fui aluna dos professores Jorge Cordón (Universidade de Brasília, UnB), Maria da Conceição Brant (PUC-MG), Helena Heloísa Paixão e Badeia Marcos (UFMG), além do próprio Eugênio Vilaça. Professores que ajudaram a descobrir minha vocação para a saúde pública e, principalmente, a compreender o mundo de um modo diferente, bem mais realista.
O curso ocorreu no momento em que se discutia em inúmeros países o relatório da Conferência Internacional de Saúde de Alma-Ata, que propunha a reorientação dos serviços públicos de saúde com base no princípio da integralidade e com três níveis complementares de atenção, sendo a Atenção Primária o eixo estruturante do Sistema de Saúde. Era também o momento em que, no Brasil, ocorria a VII Conferência Nacional de Saúde (VII CNS), cujo tema principal foi a implantação de uma rede básica de saúde em nível nacional com a proposta de implantação de um projeto, denominado “Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde (PREV-Saúde)”, que propunha a união do Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS) com o Ministério da Saúde (MS) para a universalização dos cuidados primários de saúde. No campo da saúde bucal, estava em curso a discussão e implantação, em diversos países da América Latina, inclusive no Brasil, da proposta de Odontologia Simplificada.
Além de experimentar novos modelos de ensino, que me propiciaram um grande conhecimento, durante o curso convivi com pessoas que tiveram grande importância na minha vida pessoal e profissional, como as futuras colegas e parceiras na Faculdade de Odontologia, professoras Efigênia Ferreira e Ferreira e Elza Araújo Conceição, também alunas na ocasião. Como trabalho final, nós três, mais o colega Murilo Froes, estudamos a fluoretação das águas de Belo Horizonte, realizando coleta de dados em escolas e verificando se o CPOD havia mudado após seis anos de Flúor nas águas de abastecimento. A verdade era que a Copasa, Companhia de Saneamento de Minas Gerais, havia iniciado bastante devagar a fluoretação e não atingira mais que 20% da população da cidade à época. Dessa maneira, principalmente a população que mais precisava desse processo continuava sem tal benefício. Esse estudo foi apresentado em um Seminário de Fluoretação que a própria Companhia organizou e os resultados causaram muita discussão. Após nossa avaliação, a Copasa acelerou o processo de fluoretação na cidade. Foi meu primeiro trabalho de pesquisa e essa experiência foi muito gratificante, o que me motivou a investir na área de pesquisa e, consequentemente, na docência.
O contato com a Odontologia Simplificada, proposta que visava ao aumento do acesso da população aos serviços de saúde bucal, com modelos de atendimento diferenciados, incluindo o técnico em saúde bucal (THD), despertou em mim a vontade de ser um multiplicador do processo, fazendo-me acreditar que seria uma boa alternativa para o atendimento odontológico escolar. Nesse momento, coincidentemente, o secretário municipal de Saúde de Belo Horizonte, Dr. Hilton Brant, criou um grupo para realizar um projeto-piloto em escolas municipais levando em conta os novos princípios da Odontologia Simplificada. Fui convidada pelo coordenador, professor Júlio Noronha, para fazer parte da equipe. O ano era 1981. O consultório odontológico de uma escola no Bairro Tirol foi totalmente remodelado, em formato de roseta, e uma THD foi contratada e treinada, uma auxiliar de consultório dentário (ACS) que já havia no quadro da SMS também fazia parte da equipe. A ideia era que o cirurgião-dentista trabalhasse em equipe, realizando o diagnóstico, o plano de tratamento e a aplicação da anestesia no paciente, fazendo o preparo cavitário, e que a THD inserisse o material restaurador e fizesse a escultura. Esse modelo, muito
visando à identificação dos processos, da metodologia e dos recursos existentes. O curso e o ensino de Periodontia na Faculdade foram, em seguida, classificados de acordo com os parâmetros conceituais da educação odontológica na América Latina. Constatou-se, ao final, que o ensino de Periodontia apresentava uma tendência principal voltada para a Escola Tradicional e uma segunda tendência para a Escola Transicional.
Esse trabalho de dissertação foi desafiador por várias razões. Era o meu primeiro trabalho de pesquisa de peso e as muitas dificuldades na sua realização, me fizeram estudar muito sobre ensino na área de Saúde, de Odontologia e as novas propostas que estavam sendo discutidas no Ministério da Educação e da Saúde.
Iniciei meu doutoramento em 1999, concluindo-o em 2002. Foi um período de muito aprendizado e crescimento acadêmico porque escolhi uma área difícil, Epidemiologia, na Escola de Veterinária da UFMG. A opção por esse curso veio da necessidade de melhorar a minha produção científica e conhecer melhor sobre as metodologias de trabalho científico possíveis na área de saúde coletiva. Tinha muito pouco conhecimento e precisei me dedicar bastante. Isso só foi possível graças ao Departamento de Odontologia Social e Preventiva, que me proporcionou um encargo didático menor, e à compreensão da minha família, uma vez que meus três filhos já estavam crescidos, na adolescência, e foram capazes de entender a importância da minha ausência naquele momento para a minha carreira acadêmica.
Minha tese, intitulada Políticas públicas e qualidade de vida: um estudo epidemiológico sobre a perda dentária , teve como objetivo estudar os problemas causados pela perda dentária e a falta de acesso à prótese na vida diária da população adulta, usuária dos serviços municipais de saúde de Belo Horizonte. Fui orientada pelas professoras Helena Heloísa Paixão e Celina Módena (Escola de Veterinária) e utilizei a metodologia qualitativa, por meio de entrevistas com usuários do serviço de saúde bucal público. O trabalho foi desafiador porque eu não tinha experiência com esse tipo de estudo e, mais uma vez, a professora Helena teve um papel fundamental. Em 2005,
publicamos um artigo na Revista Ciência & Saúde Coletiva, o qual já teve até o momento 113 citações, segundo o Google Scholar (GS). Esse estudo, sobre o qual falarei mais adiante, foi considerado muito importante para a compreensão dos problemas vividos pelos adultos brasileiros submetidos à exodontia dentária como último recurso quando sofriam dores de dente, uma vez que não tinham acesso ao tratamento endodôntico. Como consequência, o edentulismo causava outra necessidade, a prótese dentária, que também não era ofertada pela rede pública. Hoje, mesmo com a Política Nacional de Saúde Bucal prevendo a oferta de prótese, ainda permanece na maior parte dos municípios do país a mesma condição de difícil acesso. Poucas prefeituras conseguiram implantar os Laboratórios Regionais de Prótese, criados pelo Brasil Sorridente em 2004, ou estabelecer convênios para realizá-las. Talvez por essa razão nosso estudo ainda seja bastante atual e muito consultado.
Ao concluir este capítulo, percebo que minha formação em pós-graduação foi importantíssima para o meu desempenho na carreira acadêmica. Fui muito feliz na escolha dos cursos, que me propiciaram conhecimento consolidado para conseguir acompanhar a evolução da ciência, da saúde pública e da pesquisa na área da saúde pública.