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Logo, mais recursos não significam obriga- toriamente um sistema de saúde melhor, mas, sim, recursos e mo- delo de atenção e de sistema. Quanto aos bons índices ...
Tipologia: Notas de aula
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Nesta edição de PHARMACIA BRASILEIRA, entrevistas e artigos abordam o setor das análises clínicas sob diferentes aspectos, como a sua história, a realidade atual, o mercado, o avanço da tecnologia, as projeções para os próximos dez anos e o ensino.
Nesta edição de PHARMACIA BRASILEIRA, entrevistas e artigos abordam o setor das análises clínicas sob diferentes aspectos, como a sua história, a realidade atual, o mercado, o avanço da tecnologia, as projeções para os próximos dez anos e o ensino.
Pharm. Bras. ISSN. 14144794
III Congresso Brasileiro de Farmácia Estética IV Encontro Nacional de Educadores em Farmácia Clínica I Encontro de Farmacêuticos em Serviços de Vacinação I Fórum Sobre o Uso Medicinal da Cannabis Sativa
II CONGRESSO BRASILEIRO
DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
12 a 14 de novembro 2020 | Foz do Iguaçu (PR)
2 Pharmacia Brasileira nº 90 | Maio 2018/Dezembro 2019
O farmacêutico e as
doenças respiratórias crônicas
As doenças respiratórias crônicas (DRC) representam cerca de 7% da mortalidade global, o correspondente a 4, milhões de óbitos por ano. Elas são um dos maiores problemas de saúde, no mundo. Mas por que as DRC expandem-se tanto, em contraposição ao aumento da eficácia do tratamento medicamentoso para as doenças? A resposta a esta e a outras perguntas estão com o farmacêutico Dr. Hágabo Mathyell Silva, especialista em doenças respiratórias.
Cuidado farmacêutico faz mudar
relação entre cliente e farmácia
Em entrevista à “Pharmacia Brasileira”, Dr. Amilson Álvares, farmacêutico especialista em Gestão de Varejo Farma- cêutico e em Planejamento e Gestão em Marketing, explica que população está sendo atraída aos estabelecimentos, não apenas pelos preços, mas pelo cuidado farmacêutico. Porém alerta: “farmacêuticos proprietários de farmácia pre- cisam dominar as ferramentas da gestão empresarial. Ou isto, ou a farmácia quebra”.
ÍNDICE
Dr. Amilson Álvares
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O SUS Dr. Francisco Batista Júnior, farmacêutico, foi duas vezes presidente do Conselho Na- cional de Saúde (CNS), o que lhe dá uma compreensão profunda e crítica do Sistema Único de Saúde. A PHARMACIA BRASILEIRA o convidou para uma entrevista em torno do tema Constituição Federal de 1988, e o SUS, pétala de nossa Carta Magna.
O farmacêutico Dr. Hágabo Mathyell é especialista em doenças respiratórias
Quarta revolução industrial ou economia 4.0: o que o farmacêutico tem a ver com isto? O que o farmacêutico tem a ver com a quarta revolução industrial e a economia 4.0? “Tudo”, responde Dr. Paulo Boff. Farmacêutico-bioquímico, Boff é um dos mais dedicados estudiosos do assunto, no Brasil. Aliás, a economia 4.0 é tema do douto- rado que ele está concluindo. Dr. Paulo Boff é diretor da Agência de Gestão, Tec- nologia e Inovação (Agetec) da Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina). Ele explica, em entrevista, de que forma a economia 4.0 afeta a atividade farmacêutica.
Dr. Paulo Boff, farmacêutico e estudioso da quarta revolução industrial.
Farmacêutico Dr. Francisco Batista Júnior, ex-presidente do Conselho Nacional de Saúde
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Pharmacia Brasileira nº 90 | Maio 2018/Dezembro 2019 3
ÍNDICE
Dr. José Abol é nome referencial das análises clínicas, no Brasil
Um olhar de pioneiro Dr. José Abol Corrêa, 90 anos e em plena atividade profissional, é uma das maiores referências nas análises clínicas. Em entre- vista à “Pharmacia Brasileira”, Dr. Abol cita episódios repre- sentativos da história do setor, no Brasil; apresenta a sua reali- dade, hoje, e faz previsões para os próximos dez anos. 36
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O desafio de crescer na crise O mercado das análises clínicas, as ini- ciativas que o farmacêutico deve adotar para empreender, com segurança; como crescer em plena crise, o peso da tecnolo- gia para os laboratórios clínicos e o futuro aguardado para o segmento. Tudo isto é abordado na entrevista com o farmacêu- tico-bioquímico e empresário bem-suce- dido do setor laboratorial, Dr. Jerolino Lopes Aquino.
Dr. Jerolino Lopes Aquino, farmacêutico- bioquímico, é um bem-sucedido empresário do setor de laboratórios clínicos
Dr. José Carlos Barbério é pioneiro da radiofarmácia
Profª Zilamar Costa Fernandes
As lições do Dr. Barbério Dr. José Carlos Barbério, a convite da “Pharma- cia Brasileira”, enviou à revista um artigo sobre a história das análises clínicas, no Brasil, falando da trajetória do segmento, a partir de sua pró- pria história de pioneiro. Farmacêutico-bioquí- mico, Dr. Barbério é precursor da radiofarmácia e responsável pela consolidação e moderniza- ção da produção de radiofármacos, no País.
Diagnóstico já teria sido realizado, há 4 mil anos a.C A gênese das análises clínicas pode datar de mais de 4 mil anos a.C. Placas de argila desse período trazem documentadas a avaliação de urina por médicos sumérios e babilônios.
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Um novo ensino As Diretrizes Curriculares Nacionais, instituídas pela Resolução nº 06/17, abrem espaço para que o conhecimento em análises clínicas seja integrado ao de outras áreas, como a farmacologia e a farmácia clínica. O novo ensino de análises clínicas é o tema da entrevista com a professora Zilamar Costa Fernandes, especia- lista em ensino farmacêutico.
As análises clínicas do futuro exigem providências presentes Artigo da Vice-presidente do CFF e secretária-geral da SABC, Dra. Lenira da Silva Costa, aborda os impactos causados pela inovação tecnológica nos cuidados na Lenira da Silva Costa saúde e no ambiente de trabalho do farmacêutico.
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Análises Clínicas
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Pharmacia Brasileira nº 90 | Maio 2018/Dezembro 2019 5
PALAVRA DO PRESIDENTE
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ENTREVISTA
COM DRA. FRANCELISE BRIDI CAVASSIN
Dra. Francelise Bridi Cavassin: “Não consigo imaginar um projeto de MSF sem farmacêutico”
Uma farmacêutica brasileira
no Médicos Sem Fronteiras
Por Aloísio Brandão, jornalista do CFF e editor da revista “Pharmacia Brasileira”
8 Pharmacia Brasileira nº 90 | Maio 2018/Dezembro 2019
ENTREVISTA
COM DRA. FRANCELISE BRIDI CAVASSIN
tadas pela organização, quando saí para minha pri- meira missão com Médicos Sem Fronteiras. Não fazia ideia dos critérios e protocolos exigidos para a manutenção da qualidade dos serviços prestados. Primeiro, o farmacêutico passa pelo centro opera- cional pelo qual foi contratado, que fica, na Europa. Lá, recebe as informações e os treinamentos neces- sários, antes de viajar para seu destino final.
Em Bruxelas, o centro de distribuição de su- primentos de MSF é gigantesco e segue as boas práticas europeias de armazenamento e acondi- cionamento de insumos médico-hospitalares. Eu fiquei encantada, ao ver os detalhes da cadeia fria de suprimentos, de como é feito o monitoramento de temperatura de um lote de vacinas, por exemplo, que viajará, por três meses, em um navio, até chegar, em uma pequena cidade, no interior da África.
Em campo, as farmácias são estruturadas, con- forme os protocolos definidos por MSF. Os farma- cêuticos são responsáveis por implementar e seguir à risca tais recomendações. Temos ar condicionado, em todos os ambientes, mesmo se o projeto estiver numa região que nem energia elétrica possui. Para isso, geradores são instalados e, assim, garantimos que as geladeiras e os medicamentos sensíveis às temperaturas possam ser armazenados em condi- ções ideais. É incrível.
PHARMACIA BRASILEIRA - Atuar no Médi- cos Sem Fronteiras, como a senhora disse, reserva aos farmacêuticos experiências imprevisíveis. Fale sobre a sua experiência, nos países em que atuou, principalmente, no Iêmen. O que mais marcou a se- nhora naquela missão?
Dra. Francelise Bridi Cavassin - Eu, sempre, amei a área de farmácia hospitalar e trabalhei, du- rante anos, no Brasil, diretamente com isso, mas parecia não ser o bastante. Eu queria utilizar meus conhecimentos em prol de comunidades desprovi- das de cuidados de saúde, em situações extremas, pois sabia que havia pessoas que sofriam muito pela falta de acesso a medicamentos e cuidados básicos.
Quando fui para a Índia, em uma cidadezinha chamada Mon, no noroeste do País, percebi que
consegui utilizar muito mais as qualidades de um farmacêutico do que aquelas onde, antes, eu traba- lhava, porque eu tinha que fazer gestão de equipe, planejamento, administração, organização, além de acompanhar a parte clínica. Exigia muito mais de mim do que simplesmen- te fazer compras ou montar kits para cirurgias ou, ainda, ter que passar muito tempo explicando para alguns profissionais sobre o uso racional de cer- tos medicamentos e implorar para que protocolos devessem sem colocados em prática etc. Eu cresci muito, realizando muitas atividades que eram fun- damentais para o projeto. Preparar treinamentos, produzir relatórios, orientar os pacientes de TB (tuberculose)/HIV junto com a promotora de saúde, lidar com idiomas diferen- tes. Tudo isso me fez sentir valorizada e me motivou a, sempre, responder essas exigências. Em sete meses, eu desenvolvi um esquema tão legal de controle de distribuição de insumos para todas as alas do hospital que a coordenação me pediu para estender a minha permanência. E era só a minha primeira experiência em um projeto de MSF. Era tudo novo para mim. Em Serra Leoa, vivi, por um ano, em Bo, cidade tranquila e que me fez amar a África. Nosso hospital era enorme, com mais de 200 leitos exclusivamente pediátricos. Nós éramos um time de 32 expatriados e cerca de 550 profissionais locais, naquele ano. A interação com a equipe médica era incrível. Eu par- ticipava, todas as manhãs, da reunião clínica para sa- ber como deveríamos desenvolver as atividades do dia, sempre, à disposição dos colegas, das equipes e dos pacientes. Nesse projeto, fui muito ativa nas diversas alas pediátricas, e colaborei muito com treinamentos, implantação de serviços e protocolos de MSF. Fo- ram exatos 365 dias trabalhando com crianças des- nutridas e afetadas pelas mais diversas doenças in- fecciosas que você pode imaginar. Um pedacinho do meu coração morreu, acho, com tanto sofrimento que testemunhei, mas os outros 99% me encheram de esperança, por saber que estávamos realmente fazendo a diferença, naquele lugar.
Pharmacia Brasileira nº 90 | Maio 2018/Dezembro 2019 9
ENTREVISTA COM DRA. FRANCELISE BRIDI CAVASSIN
Quando fui chamada para ir para o Iraque, lem- bro que era 26 de dezembro de 2016, um dia depois do Natal. Em 48 horas, estava eu dentro do avião, partindo para meu terceiro projeto em campo. Era a minha primeira vez em emergência de conflito armado, tão noticiado pela mídia: a guerra contra o Estado Islâmico, em Mossul.
De todos, sem dúvida, foi o melhor projeto. Surpreendi-me muito com minha capacidade de tra- balhar sob pressão, em um contexto de segurança extremo, com um volume de atendimento absurdo, em nosso hospital de trauma, recebendo feridos de guerra, a todo o momento, e, ainda, com um clima que variava de - 2º a 5º C.
Nada típico para uma brasileira, que vive em “ um país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza ”, como diz a música (NR.: de Jorge Benjor). Nosso hos- pital havia iniciado as atividades, no começo do mês de dezembro, e tive a oportunidade de praticamen- te montar a farmácia, começando do zero, seguindo perfeitamente os protocolos estabelecidos por MSF. Eu tinha apenas um ajudante iraquiano que falava ra- zoavelmente o inglês e que me ajudou (e muito), no dia a dia superagitado da farmácia.
Minha última experiência em MSF foi, no Iê- men, País do Oriente Médio de onde voltei, no final de janeiro deste ano de 2019. Como agora sou do- cente de uma Instituição de ensino superior, além do doutorado, fico limitada a oferecer meu perío- do de férias para o trabalho humanitário. E, assim, aconteceu. Na manhã seguinte, após encerrar as atividades acadêmicas, embarquei para Aden, ci- dade localizada no sul do País, que atualmente en- contra-se com o sistema de saúde desestruturado, desde 2015, quando a guerra começou.
A situação do Iêmen pouco aparece na mídia, mas, hoje, é considerada como o maior desastre humanitário do mundo. Lá, nosso hospital conta com 83 leitos e é especializado em traumatologia e cirurgias complexas para ferimentos de bala, de explosivos e de outras armas de fogo. Dessa vez, fui como subcoordenadora farmacêutica, pois a coordenação que se encontra, na capital, tinha
dificuldade de se deslocar até o sul pela situação dos conflitos. Comigo, uma equipe de mais cinco farmacêu- ticos iemenitas fechava a equipe da farmácia. To- dos nós éramos farmacêuticos. Imagine o trabalho maravilhoso que foi possível desenvolver! Fiquei impressionada com a qualidade daqueles profissio- nais. Pouco precisei treinar ou ensinar coisas novas. Acho que aprendi mais com eles do que o contrário. Eram realmente dedicados e comprometidos me- diante a situação vivenciada pelo próprio povo. Por ser um hospital bastante equipado para o contexto de conflitos, na região, muitos dos materiais e medicamentos que chegavam ao local eram distri- buídos para outros postos de saúde apoiados por Mé- dicos Sem Fronteiras e, também, para outros projetos de MSF, em diversas regiões do País. Éramos nós que organizávamos a logística de distribuição para todos esses outros locais, o que era um trabalho e tanto. O estoque, a cada hora, nunca era o mesmo. Lidar com essas flutuações e evitar, ao máximo, a ruptura do estoque central era, sempre, um desafio. Além disso, tínhamos que considerar a legislação do País e pensar em alternativas, porque determinados medicamentos (principalmente, os controlados) ti- nham uma burocracia maior para serem importados. Acho que foi a missão mais cansativa de todas, pelo fato de trabalhar e morar, no hospital, sem qualquer atividade social fora dele. Ou seja, o time tinha que dar certo, para que a convivência fosse tranquila e os fins de semana possíveis de dar uma relaxada. O que mais me marcou, sem dúvida, foi ver a dificuldade enfrentada pela população. A guerra não perdoa. Ela tira todo o sonho, toda a esperança, todo o brilho no olhar de ver a vida como algo bom. PHARMACIA BRASILEIRA - O que a levou, Dra. Francelise Bridi, a atuar no MSF, com desafios tão sobre-humanos? O amor à profissão e às pes- soas foi decisivo? Dra. Francelise Bridi Cavassin - Na verdade, eu não tenho essa visão do dia a dia, quando estou trabalhando em algum projeto de MSF. Quando me perguntam sobre as dificuldades, eu penso sempre
Pharmacia Brasileira nº 90 | Maio 2018/Dezembro 2019 11
Diretores da Abimip Marli Sileci, vice-presidente executiva; Rodrigo Garcia, vice-presidente, e Rodolfo Hrosz, presidente, disseram ao presidente do CFF, Walter Jorge, que 77% de entrevistados por pesquisa responderam que o ‘farmacêutico é importante ou muito importante’ como fonte de informações sobre uso de MIPs.
Serviços farmacêuticos em alta
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ENTREVISTA COM DR. AMILSON ÁLVARES
Pharmacia Brasileira nº 90 | Maio 2018/Dezembro 2019
Cuidado farmacêutico
faz mudar relação entre
cliente e farmácia
Dr. Amilson Álvares: “O paciente não quer apenas o produto, mas a orientação sobre o produto, o cuidado farmacêutico”.
ão é de hoje a afirmação de que as farmácias estão experimentando uma profunda mudan- ça em sua relação com a população. Também, não é nova a compreensão de que parte da mudança tem origem na atitude da população, que não estaria mais aceitando que farmácias funcionassem apenas como um ponto de venda de medicamentos. Igual- mente - e, antes de tudo - é inquestionável que as resoluções 585/13 e 586/13, do Conselho Federal de Farmácia, e a Lei 13.021/14, provocaram o for- talecimento da filosofia e das práticas desenvolvi- das à luz da farmácia clínica, dentro das farmácias, fazendo expandir o cuidado farmacêutico. Mas em que medida e com que velocidade a transformação está ocorrendo?
Para o farmacêutico Dr. Amilson Álvares , que, há mais de 20 anos, estuda o segmento, o conceito
de farmácia associado unicamente ao de comércio de medicamento esvaziou-se, de tão equivocado que era. Este modelo, explica Álvares, não mais sa- tisfaz o cliente. “O paciente não quer apenas o pro- duto, mas a orientação sobre o produto e o cuidado farmacêutico”, acrescenta. Dr. Amilson Álvares é farmacêutico habilita- do em Análises Clínicas e especialista em Saúde Pública e em Farmácia Clínica. Tem MBA em Ges- tão de Varejo Farmacêutico e em Planejamento e Gestão Empresarial Farmacêutica, conhecimen- tos que o têm levado a todo o País como pales- trante e consultor. Álvares foi conselheiro federal de Farmácia pelo Tocantins e um dos fundadores e presidente da SBFFC (Sociedade Brasileira de Farmacêuticos e Farmácias Comunitárias). Veja a entrevista.
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ENTREVISTA
COM DR. AMILSON ÁLVARES
Pharmacia Brasileira nº 90 | Maio 2018/Dezembro 2019
também, qualificando-se suficientemente em gestão empresarial focada no segmento? Dr. Amilson Álvares - Este é talvez um dos pontos mais nevrálgicos dos farmacêu- ticos empresários, porque, nas faculdades, existem muitas matérias para formar profis- sionais de saúde e quase não há matéria algu- ma para formar empresários. Mas o sonho de todo mundo que faz Farmácia, ou até mesmo das entidades profissionais, é que a farmácia, no Brasil, seja igual à de Portugal, até pouco tempo atrás. Isto é, que seja de propriedade do farmacêutico. Mas como podemos querer que o farma- cêutico seja dono de farmácia, se ele não tem qualificação para ser empresário, por mais que tenha sido aprovado nas novas diretri- zes curriculares? A matéria de gestão, nas fa- culdades de Farmácia, não será implantada, se não lutarmos pela sua implantação. Entra, aí, a atuação do CFF e dos CRFs, além de vá- rios cursos privados de empreendedorismo, que ensinam como fazer gestão e marketing , na farmácia comunitária. É uma ação que visa a ensinar o farmacêutico a ser o administra- dor de sua farmácia e fazê-la prosperar. O CFF tem o programa de ensino Exce- lência Farmacêutica. Em dois dias, o programa dá ao farmacêutico uma noção completa de como fazer a gestão de sua farmácia. A con- corrência está muito bem equipada tecnolo- gicamente e as grandes redes crescem, expo- nencialmente. Portanto, o farmacêutico que quiser abrir a sua farmácia e ser um empre- sário bem-sucedido terá que se especializar em gestão e em marketing para farmácias. PHARMACIA BRASILEIRA - Qual é a realidade do farmacêutico proprietário de farmácia que se encontra despreparado para o empresariado? Comente sobre os itens que compõem a gestão. Dr. Amilson Álvares - Muitos colegas formam-se, vendem um carro, um lote, ou tomam dinheiro emprestado, conseguem uns 50 mil reais e abrem uma farmácia, sem conhecimento nenhum do que estão fazen- do. Pensam que precisam apenas legalizar a
empresa, comprar mercadoria e começar a vender. Desta forma, a grande maioria das farmácias, em menos de dois anos, fecha as suas portas, deixando o farmacêutico pro- prietário endividado e com problemas para o resto da vida. Aí, começam a blasfemar con- tra a profissão, falam mal do governo, dizem que a concorrência é desleal e que o merca- do não dá oportunidade para os pequenos. Mas o problema não é este. O problema é o desconhecimento de como administrar uma empresa, corretamente. Hoje, precisamos sa- ber o que é CMV (Custo de Mercadoria Ven- dida), fluxo de caixa, demonstrativos de lucra- tividade, tíquete médio, receitas e despesas operacionais e não operacionais, despesas va- riáveis e fixas, parâmetros do mercado (para saber se o que ele faz está dentro do aceitável ou não). Precisamos ter conhecimento, ain- da, de como agir para aumentar as vendas, de como precificar os produtos da farmácia, de como realizar o fluxo de pessoas dentro e fora da farmácia. São muitos os detalhes que os farmacêuticos só aprenderão, se forem para uma sala de aula. Eles precisam de algum especialista para assessorá-los. Não adianta colocar todo o dinheiro do mundo em empresa sem gestão, porque o di- nheiro vai acabar, sem solucionar o seu pro- blema. Precisa primeiro é arrumar as finanças da empresa, descobrir onde está a “doença” para, depois, começar o tratamento. E muitos colegas acham que não podem sair da farmá- cia para se qualificar, porque o tempo em que estiverem fora do estabelecimento fará com que a empresa quebre mais rápido. Isto não é verdade. A empresa precisa de um espe- cialista, e com urgência, para diagnosticar o problema que a está matando. Se descobrir a “doença”, o especialista encontrará a cura. Principalmente, se for, antecipadamente.
Pharmacia Brasileira nº 90 | Maio 2018/Dezembro 2019 15
O CFF e a farmácia clínica
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ENTREVISTA COM DR. FRANCISCO BATISTA JÚNIOR
Pharmacia Brasileira nº 90 | Maio 2018/Dezembro 2019
Segundo o próprio Ministério da Saúde, o SUS é “um sistema ím- par, no mundo, que garante aces- so integral, universal e igualitário à população brasileira, do sim- ples atendimento ambulatorial aos transplantes de órgãos”. Se o SUS fosse criado, hoje, haveria espaço para esses princípios que norteiam o Sistema?
Dr. Francisco Batista Jú- nior - A proposta do SUS, pelo seu caráter totalmente trans- formador, é o que consideramos como uma proposta contra-he- gemônica, exatamente, por ferir poderosos interesses econô- micos, sociais, corporativistas e políticos que historicamente se beneficiaram com a realidade es-
tabelecida, até o seu surgimento. Não temos a menor dúvida de que sua aprovação aconteceu, a partir de uma conjunção históri- ca de fatores muito difícil de se repetir. Assim é que nos beneficia- mos do fim do regime autoritário e do consequente clima de volta da liberdade e da redemocrati- zação, de uma crise econômica e social que afetava duramente a população brasileira, dos debates na Assembleia Nacional Consti- tuinte e da volta da mobilização de setores organizados impor- tantes na sociedade brasileira, em que o movimento pela re- forma sanitária pontificava pelo acúmulo de debates e propostas construídas, ao longo dos anos.
É na rede do SUS que o cidadão usuário encontra todos os profissionais que compõem a equipe multiprofissional em saúde e onde ele se sente respeitado e valorizado nos seus direitos básicos, mesmo que saibamos das dificuldades que são enfrentadas e até mesmo dos erros que são cometidos (Dr. francisco batista júnior, farmacêutico, Ex-prEsiDEntE Do consElho nacional DE saúDE).
Fotos do arquivo do Ministério da Saúde, publicadas em “O SUS em fotos”
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ENTREVISTA COM DR. FRANCISCO BATISTA JÚNIOR
Pharmacia Brasileira nº 90 | Maio 2018/Dezembro 2019
detrimento da atenção básica, bem mais barata e humanizada, o que gera uma demanda impos- sível de ser atendida em sua ple- nitude, enquanto cresce, em pro- gressão geométrica, exatamente pela falta da resolutividade desse nível de atenção que, bem estru- turado, poderia resolver pelo me- nos 70% dessas demandas.
Por outro lado, além de prio- rizar a atenção especializada de alto custo, em detrimento da aten- ção básica, os gestores têm optado pela contratação de serviços pri- vados que atendem, na forma de contratos individualizados e por procedimentos realizados infinita- mente mais caros e dispendiosos, ao invés de estruturar a rede pú- blica com a perspectiva de atendi- mento com porta aberta universal.
PHARMACIA BRASILEIRA
Dr. Francisco Batista Jú- nior - Primeiro, é de bom alvitre afirmar, ainda, na linha da per- gunta anterior, que um finan- ciamento vultoso não garante necessariamente um sistema includente e resolutivo. Todos os países que têm sistemas de saúde reconhecidos e aprovados por seus povos, além de aplicar um montante bastante razoável de recursos, primam por ações
de prevenção da doença e pro- moção da saúde, reconhecem e valorizam o trabalho da equipe multiprofissional e têm um siste- ma majoritário e prioritariamen- te público, dependendo pouco dos serviços privados. O país que mais investe em saúde, no mundo, são os Esta- dos Unidos, que tem, no entanto, mais de 40 milhões de patrícios excluídos do sistema. Isso acon- tece exatamente em função do modelo que eles adotam, alta- mente especializado, curativista e totalmente privado. Logo, mais recursos não significam obriga- toriamente um sistema de saúde melhor, mas, sim, recursos e mo- delo de atenção e de sistema. Quanto aos bons índices de aprovação obtidos pelo SUS nas pesquisas que são realizadas, não surpreendem para quem, como nós, trabalhamos diariamente na ponta do Sistema. A verdade é que aquilo que o SUS realiza, em todo este imenso País, está mui- to além das dificuldades que en- frenta e que são insistentemente mostradas pela mídia. A obra que o SUS realiza, tanto do ponto de vista da saúde, como do social, não tem parale- lo, em nenhum país do mundo. É, na rede do SUS, que o usuário encontra, desde o atendimen- to mais simples, até o mais es- pecializado. É, no SUS, que ele encontra todos os profissionais que compõem a equipe multi- profissional em saúde; é onde ele se sente respeitado e valorizado nos seus direitos básicos. PHARMACIA BRASILEIRA
dades enfrentadas pelo SUS? Fala-se em problemas na gestão. Que problemas são esses? Como saná-los? Dr. Francisco Batista Jú- nior - O SUS, mais do que qual- quer outra política pública, tem sido vítima da ação predatória do corporativismo e do patrimonia- lismo de atores políticos traves- tidos de gestores que, na prática, implementam ações e diretrizes que fragilizam cada vez mais o Sistema. São formas de se apode- rar financeira e politicamente da gerência dos serviços e da gestão do Sistema. O SUS não pode ficar refém do gestor ou do partido políti- co que ganhe as eleições. Muito raramente, é designado para o cargo de gestão alguém que co- nheça e que tenha uma história de construção do Sistema. Geral- mente, é alguém indicado por um partido ou por um político que apoia o governo. PHARMACIA BRASILEIRA