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Análise do filme Mr. Jones a partir da psicopatologia
Tipologia: Notas de estudo
Oferta por tempo limitado
Compartilhado em 29/02/2016
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Tácito Pereira dos Santos
Filme Mr. Jones
MR. JONES foi filmado no ano de 1993 nos EUA, tem em seu elenco principal Richard Gere (Mr. Jones), Lena Olin (Dra. Elizabeth 'Libbie' Bowen), Anne Bancroft (Dra. Catherine Holland) e Delroy Lindo (Howard). Tem na Direção Mike Figgis.
O filme inicia com o despertar em uma manhã, no caso de Mr. Jones por dois despertadores e um rádio, todos sincronizados às 07 horas e um pouco mais tarde aparece o despertar da Dra. Libbie. Mr. Jones pedalando em sua bicicleta ao som da música “I FEEL GOOD” de James Brown, chega em uma obra e se oferece a trabalhar com marceneiro, o que é aceito pelo responsável pela obra. Logo aí já dar para se ter uma ideia de sua inteligência e rapidez no pensamento ao sugerir ao responsável pela obra “no primeiro dia trabalho de graça, no segundo dia você me pagar por dois dias e no terceiro dia você me contrata”. Ao mesmo tempo busca sincronizar o seu martelar com o martelar de outro operário, com o qual acaba por construir uma nova amizade.
Em seguida Mr. Jones demonstra não ter medo de altura. Percebe-se que a casa em construção se localiza na mesma direção da pista de um aeroporto. E Mr. Jones manifesta a vontade de voar. Caminha em uma viga de madeira, por sinal a mais alta da obra e verbalização a sensação do sentir o vento e sua velocidade, questões de física, o equilíbrio e a estabilidade e se sentindo um avião, dando sinais de um comportamento de todo poderoso. Este novo amigo – Howard, pensando que o mesmo iria pular consegue agarrá-lo e percebe-se a chegada de uma ambulância na obra.
Mr. Jones aparece contido em uma cama de hospital psiquiátrico, aonde a médica chefe define o papel dos profissionais que ali atuam: “avaliar, medicar e liberar”. Nesse sentido é identificado os sintomas de delírios, alucinações auditivas, agitado e diagnosticado como “esquizofrenia” e é devidamente medicado para reduzir sua agitação, como de praxe é perguntado sobre seu nome e a data de hoje, ele com lágrimas nos olhos responde “Jones”.
Ocorre o primeiro encontro de Mr. Jones com a médica Dra. Libbie. Ele com o comportamento de falar e pensamentos rápidos, agitado fica repetindo a expressão “atrasado” diversas vezes. A Dra. Libbie em reunião com outros profissionais afirma que o diagnóstico de Jones foi errado, e pelo comportamento dele de: expansivo, impulsivo, euforia acentuada é maníaco depressivo.
Mr. Jones chega em um banco em que possui conta corrente. À caixa da instituição pede um sanduíche, mas afirma que é brincadeira. Ele pede para fecha a conta e a caixa lembra “fechar a conta se abriu semana passada”. Nesse momento Jones demonstra uma boa capacidade para realizar cálculos mentais e com sua persuasão conquista Susan. Em seguida em uma loja de instrumentos musicais compra um piano e em seguida toca outro piano. Já noite surge com Susan de uma limusine em um teatro onde se apresenta uma orquestra sinfônica.
O som da orquestra estimula mais ainda o seu lado maníaco, pois ao adentrar no teatro vai em direção a orquestra, sobe no palco e começa a reger a orquestra ao mesmo tempo que o maestro. Logicamente que essa atitude não sendo normal Jones é novamente internado no mesmo hospital psiquiátrico. Já contigo e debatendo-se na cama chama pela Dra. Libbie. Jones então apresenta o comportamento de falar rápido, fazer cálculos, agitado, diz não estar cansado, pede para ser solto, a Doutora dar o diagnóstico para ele como portado de psicose maníaco depressivo, o qual ele não reconhece como doença e mesmo sob forte medicação ele afirma “vou descansar, mas, não vou dormir”.
Mr. Jones aparece então em um tribunal para ser julgado se deve ou não ser internado compulsoriamente e por tempo indeterminado. Dra. Libbie apresenta todos os argumentos científicos da necessidade de internar ele contra sua vontade, afirmando que o mesmo tem distúrbio bipolar maníaco depressivo e relata os dois últimos acontecimentos e destaca que ele tem ideias desordenadas, perigosas para si, vive em um estado de euforia que é seguido de depressão com descontrole, desespero e Anedonia. Porém ele apresenta argumentos mais convincentes para convencer a juíza do contrário. E é liberado.
Ao sair do tribunal consegue carona com a Doutora e pede para ela pagar um lanche, e consegue. Ela reforça a preocupação com sua situação e afirma que é um homem atraente, e ele devolve “me sinto extasiado e você quer me curar disso?”.
Repetindo a cena inicial. Ele no telhado na casa. Avião passando sobre sua cabeça em direção a pista do aeroporto. Demonstra vontade de voar. Na confusão da cena em que aparece o avião passando perto a ele, ele na ponta da madeira, seus passos firmes, seu sorriso aparentemente demonstra que ele pulará. Porém, Dra. Libbie aparece e estende suas mãos a ele e o pega e o abraça, ele então diz “eu queria tanto poder voar, mas eu não posso”.
Breve análise do filme
Sob a perspectiva da psicopatologia o filme Mr. Jones trata de um personagem interpretado por Richard Gere portador de transtorno afetivo bipolar. Com comportamentos estereotipados e de teatralidade, há momentos em que Mr. Jones causa sorrisos no telespectador, o que pode levar a pensar se tratar de um filme de humor. Porém, o transtorno afetivo bipolar não é motivo para causar sorrisos no portador, em sua família ou amigos, muito ao contrário é motivo de preocupações.
O personagem Mr. Jones, interpretado brilhantemente por Richar Gere, nos remete às pessoas que possuem transtornos bipolares, cujos momentos de euforia a fazem pensar e a agir como se possuíssem superpoderes com algumas características sintomáticas do transtorno na fase maníaca “aumento da autoestima – o paciente sente- se superior, melhor mais potente, etc. Elação – Sentimento de expansão e engrandecimento do eu” (Dalgalarrondo, 2008, página 314). Ao longo da trama percebemos esses sintomas no personagem principal.
A logorréia, fala muito rápida, de forma fluente e sem concatenações é percebida várias vezes em Jones, desde a obra em que se encontra com o outro operário, quando é contigo pela primeira nesse hospital psiquiátrico, quando está conversando com a Dra. Libbie. Outro sintoma bem característico em Jones é a desinibição social tanto quando sobe no palco para reger a orquestra, quando dança e canta a música tema do filme.
O personagem, em outros momentos caracteriza muito bem a fase depressiva, quando sentado a mesa de jantar com o amigo de obra Howard e sua família (esposa e filhos), passa a imagem que ele não está ali presente. As cenas seguintes
confirmam essa fase depressiva, que chega ao ápice de colocar sua vida em risco ao atravessar uma rua movimentada em período noturno.
A música tema do filme I FEEL GOOD de James Brown, em uma tradução literal “Me sinto bem” dar uma demonstração do Jones sente. Quando Jones dança e canta ao som de I Feel Good, além da desinibição social, aumento da autoestima, elação... percebe uma estreita combinação entre a letra da música, a dança e o seu sentimento “Whoa-oa-oa! I feel good, I knew that I would, now. I feel good, I knew. that I would, now. So good, so good, I got you” (Oh, Eu me sinto bem, eu sabia que me sentiria, Eu me sinto bem, sabia que me sentiria, Tão bem, tão bem, por ter você). A música tema foi muito bem escolhida para essa trama. Mr. Jones gosta muito de um compositor clássico – Ludwig Von Beethoven, gosta de suas composições, toca-as e ao invadir o palco no teatro quer reger a orquestra que se encontra tocando uma de suas composições, essa escolha não foi a toa pelo Diretor, pois Beethoven também possuía transtorno afetivo bipolar.
Transtorno Afetivo Bipolar
O transtorno afetivo bipolar tem como característica um caráter fásico ou episódico, havendo uma variação entre episódios de euforia ou alegria intensa e momentos de depressão. Tanto os episódios de euforia quanto os de depressão ocorrem delimitado no tempo, e há períodos de eutimia ou tranquilidade do paciente entre um e outro, o que faz com que as características sintomáticas regridam.
Segundo Dalgalarrondo (2008, pág. 316) são descritos três subtipos de transtorno bipolar:
Transtorno bipolar tipo I - São episódios depressivos leves a graves, intercalados com fases de normalidade e fases maníacas bem-caracterizadas. Transtorno bipolar tipo II - São episódios depressivos leves a graves, intercalados com períodos de normalidade e seguidos de fases hipomaníacas. Transtorno afetivo bipolar tipo “ciclador” rápido - Nesses casos, ocorrem muitas fases depressivas, maníacas, hipomaníacas ou mistas em curto período, com apenas breves períodos de remissão.
da mesma, se justificando que o maestro estava regendo muito lendo e que aquela peça teria de ser tocada e regida de forma mais rápida, pois ele conhecia a música bem mais que o maestro. Essa atitude de Jones demonstra uma desinibição social, primeiro pelo fato de suas vestes serem totalmente diferente do restante da plateia e o fato de subir ao palco em uma apresentação de uma orquestra sinfônica momento em que se requer extremo silêncio e etiqueta social.
Ao mesmo tempo essa atitude demonstra um ar de superioridade, um aumento de sua autoestima e em certa altura também de arrogância, no fato de saber mais que o maestro que está ali regendo, o que são sintomas de uma fase maníaca.
Há um sintoma destacado por Delgalarrondo de que em síndrome maníacas o paciente tem “tendência exagerada a compra objetos ou a dar seu pertences indiscriminadamente” (Delgalarrondo, 2008, página 314), esse sintoma é destacado em Jones, quando o mesmo sai distribuído gorjetas a diversas pessoas, algumas vezes em cem dólares e comprar objetos aparentemente sem necessidade (piano).
Considerações finais
O filme Mr. Jones trata, sob a perspectiva da arte do cinema, de diversas questões importantes para a psicologia e para as relações sociais, profissionais e amorosas. A arte nesse sentido cumpre um importante papel que procura desmistificar do senso comum o que é um portador de transtorno mental, nesse caso do sofrimento de bipolaridade. Buscando através do cinema reduzir um estigma social sobre o doente e a doença.
O filme não demonstra a cura do transtorno em Jones, mas sim o tratamento nele através de psicoterapias e da utilização de psicofármacos, porém procurar não criar um quadro estereotipado de perigo em cima da doença, pois há diversas cenas em que o mesmo aparece sendo uma pessoa amável, afável até o ponto de salvar a sua médica que é agredida por outro paciente interno do hospital psiquiátrico.
A trama trás também o drama vivido pela Dr. Libbie recém saída de um casamento e até certo ponto ainda presa a esse sentimento, mas que acaba por se apaixonar por Jones (seu paciente). Demonstra, nesse sentido um conflito profissional, aonde a terapeuta se apaixona por seu paciente, busca informações sobre seu passado, inclusive sua relação amorosa anterior e no ápice tem uma relação sexual com o mesmo.
Esse conflito, da Dra. Libbie faz com ela tome uma atitude de abandonar o tratamento de Jones, repassando o caso para outro profissional, porém não se desligando afetivamente dele. O que a faz reconhecer o erro profissional cometido e pedir demissão para ficar com Jones.
A última cena do filme passa a mensagem de que Jones ao mesmo tempo em que deseja voar, tem o desejo de liberdade, inclusive de se ver livre do TAB, o que é percebido pela Dra. Libbie e pelo seu amor. Embora ele não expresse textualmente essa vontade de se ver livre da doença, mas seus atos, comportamentos estão dizendo essa vontade.
Embora o filme não continue a partir dessa cena, é possível supor que o amor dela por ele irá contribuir para que o mesmo continue o tratamento até conseguir momentos de equilíbrio e controle de seu transtorno.
Referências
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentias. 2ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2008.
Sites consultados:
CID 10 - http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/cid10.htm, consultado em 28 de novembro de 2015.
http://www.vagalume.com.br/james-brown/i-feel-good-traducao.html - consultado em 28 de novembro de 2015.
http://www.70anosdecinema.pro.br/1217-MR.JONES(1993) – consutado em 28 de novembro de 2015.