Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Análise do Filme As Horas, Exercícios de Psicopatologia

Foram feitas 3 questões sobre o filme As Horas, abordando as psicopatologias dos personagens.

Tipologia: Exercícios

2020

Compartilhado em 13/11/2021

andre-osmir-fiorelli
andre-osmir-fiorelli 🇧🇷

1 documento

1 / 11

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
Filme – As Horas
Questões
1) Correlacionar sintomas de depressão estabelecidos no DSM-V com os
personagens do filme
2) Estudar o suicídio
3) Estudar os tratamentos para a depressão
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Análise do Filme As Horas e outras Exercícios em PDF para Psicopatologia, somente na Docsity!

Filme – As Horas

Questões

1) Correlacionar sintomas de depressão estabelecidos no DSM-V com os

personagens do filme

2) Estudar o suicídio

3) Estudar os tratamentos para a depressão

1. Correlacione os sintomas de depressão da personagem com o DSM-V. No filme, há 3 personagens com sintomas claros de depressão: Virgínia Woolf, Laura Brown, Richard Brown. São vidas diferentes, em diferentes períodos históricos, mas com um sofrimento em comum: alguma forma de transtorno depressivo. No escopo deste breve estudo, não é demais pontuar que a personagem Clarissa Vaughan

  • fundamental na história – tem vários traços de tristeza, decorrentes de uma vida presa a seu passado. Um dos pontos altos do filme é seu colapso emocional, na crise de choro que se instala quando Louis Waters chega para a festa em homenagem a Richard Brown, em quem Clarissa concentra a própria vida. Mas o colapso em si, bem como sua fixação em fazer a festa (que a deixa próxima da personagem Mrs. Dolloway), revelam problemas que exigiriam trabalho psicológico – vez que Clarissa não é uma mulher feliz. É uma mulher com muita coisa para resolver sobre seu passado – no final do filme, há luzes sobre o caminho que ela pode trilhar para isso... Mas este já seria outro texto... Retornando-se aos personagens com transtorno depressivo, no DSM-V, aponta-se, como característica comum de todos os diferentes tipos deste transtorno, as seguintes: a) Humor triste, vazio ou irritável; b) Alterações somáticas/cognitivas que afetam a capacidade de funcionamento do indivíduo. Portanto, a característica comum desses transtornos é a presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo. O que determinará a classificação entre estes serão os aspectos de duração, momento ou etiologia presumida. No presente trabalho, observou-se, no filme, os diferentes comportamentos dos personagens mencionados acima e se verificou quais de suas características se enquadrariam nos parâmetros estabelecidos no DSM-V para transtorno depressivo. Para todos os personagens, começar o dia representava um peso. Encaminhar-se para o espelho e ver a imagem refletida era um momento de pouco prazer (para não dizer que há uma total falta de prazer nesse momento).

Woolf, apesar da fragilidade trazida pelo estado depressivo, possui uma capacidade muito grande de entender como se relaciona consigo mesma. Ela fala de como ela se sabe ameaçada por si mesma e como esse estado de prostração apenas demarca sua dificuldade em lidar com a existência. “A morte de uma permite que outros deem valor à vida”. A morte estava nas tramas do tecido de sua vida – não faltando nunca as ideações suicidas. A morte aparece como tema presente – e até um desejo – na cena do funeral do passarinho, em que ela se deita ao seu lado, como se percebendo a serenidade daquele momento. Assim, seguindo o DSM-V, observam-se diversas características que encaminham para um diagnóstico de transtorno depressivo: a) Humor deprimido na maior parte do dia b) Ausência de prazer nas atividades diárias c) Retardo psicomotor d) Culpa em relação ao marido e) Fadiga/cansaço todos os dias f) Pensamentos recorrentes de morte Todos esses sintomas causavam sofrimento e prejuízo no funcionamento social. Estas características encaminham para a constituição de um TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR. Laura Brown Laura Brown é uma mulher da classe média americana. Em sua vida de dona de casa, possui o filho para cuidar (está grávida). O marido – Dan Brown – é atencioso. No filme, conta-se a história de um dia de sua vida... um dia que será marcante. É o dia do aniversário de Dan. Laura tem um gosto na vida: ler Mrs. Dolloway, de Virgínia Woolf.

Em todos os momentos, Laura está apática, presa a movimentos automáticos (que seu filho, Richard Brown, percebe). As palavras saem apenas para que ela possa cumprir os papéis a que se vê obrigada: esposa e mãe. A maternidade se revela – ao final – como um importante aspecto em sua vida. Quando conhece Clarissa, diz que esta é feliz por “desejar sua filha”. Ou seja, ela se via em uma situação constrangedora e de não pertencimento ao mundo pois era uma mãe que não queria sê-la. No dia do aniversário de Dan, em seu esforço de cumprir papéis, faz o bolo para o marido com a ajuda do filho. Mas, é claro seu desinteresse – faz por fazer, ainda que se esforce em demonstrar o contrário para o filho. Tudo o que ela deseja, de fato, é ler seu livro e fugir da realidade. Imersa em culpa, irá tentar o suicídio. Possui os meios para isso: vários frascos de remédios vão do armário do banheiro para sua bolsa. Deixa o filho na casa de uma babá e parte decidida para um hotel. Ali... lendo o livro... deitada ao lado das pílulas... deixa-se sentir invadida pelas águas que levariam um dia a vida de Virgínia. Não consegue levar até o fim sua decisão de tirar a própria vida. Naquele dia, em que não se contentou com um bolo não tão bem feito e fez outro “perfeito”, como que para reparar sua culpa (marido e filho mereciam algo bonito e saboroso), fez uma opção entre a vida e a morte – ainda que vivesse em uma desesperança sobre a vida que levava. No futuro, iria abandonar o marido e os filhos. Ainda que, no filme, se retratasse apenas um dia na vida de Laura, pode-se inferir que se tratava de uma situação crônica – tanto que culminou em um abandono do lar. Seguindo o DSM-V, observa-se em Laura Brown um humor deprimido a maior parte do tempo, em que se verificava: a) Humor deprimido na maior parte do dia b) Ausência de prazer nas atividades diárias c) Culpa

O DSM-V indica diversas características que encaminham para um diagnóstico de transtorno depressivo. Na presente análise, fez-se a suposição de que os coquetéis de remédios para AIDS – bem como a síndrome em si – não provocariam os efeitos abaixo: a) Humor deprimido na maior parte do dia b) Ausência de prazer nas atividades diárias c) Perda de peso (neste caso, a perda de apetite deve ser vista com cuidado, pois os remédios para controle da AIDS normalmente provocavam este fenômeno) d) Sentimento de inutilidade e) Fadiga/cansaço todos os dias f) Capacidade diminuída para se concentrar (este ponto também pode estar sendo afetado pelos medicamentos) g) Pensamentos recorrentes de morte Assim, levando-se em consideração estes aspectos, sugere-se a presença de um TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR. Referência MORAES, Maria Helena et al. Depressão e suicídio no filme "As Horas". Rev. psiquiatr. Rio Grande do Sul, Porto Alegre , v. 28, n. 1, p. 83-92, 2006. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101- 81082006000100011&lng=en&nrm=iso>.Acesso em 03/08/19. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

2- Faça uma pesquisa sobre suicídio Os dados trazidos nesta pesquisa foram compilados a partir do artigo “Comportamento Suicida: Epidemiologia”, de Neury José Botega. O suicídio figura entre as 3 principais causas de morte para pessoas entre 15 e 44 anos. Os coeficientes são mais altos entre os países da Europa Oriental, enquanto os mais baixos no Oriente Médio e América Latina. No Brasil, 4% das mortes derivam de suicídios, para pessoas entre 15 e 29 anos. No caso brasileiro, o índice esconde variações regionais significativas. Há uma maior incidência entre homens, idosos, indígenas e populações de pequenas e médias localidades. Lavradores do Rio Grande do Sul e indígenas apresentam taxas similares ao do leste europeu, por exemplo. Estes altos índices parecem se associar a fatores socioculturais e econômicos, bem como elevado sofrimento mental e uso abusivo de bebidas alcóolicas. No Brasil, há ainda um problema com relação ao levantamento dos dados – tanto de subregistro quanto de subnotificações. Suicídios podem estar escondidos em casos como acidentes de carro, afogamento, envenenamento acidental e “morte por causa indeterminada”. Na América Latina, normalmente as mortes por causas indeterminadas superam às por suicídio. Isso, por si só, faz pensar sobre todas as estatísticas... Se é comum se imaginar que as causas de suicídio se vinculam a acontecimentos recentes (como perda de emprego ou rompimento amoroso), não é o que os estudos revelam. Normalmente, há transtornos mentais envolvidos – e os exemplos dados aqui são meros fatores precipitantes. Depressão, transtorno de humor bipolar, dependência de álcool e outras drogas, além de esquizofrenia e características da personalidade são importantes fatores de risco. A situação se agrava quando estas condições se combinam. Um local de alta incidência de suicídios são os hospitais. Neste espaço, as situações de risco ligam-se à própria doença clínica ou seu tratamento (dores de difícil controle, condições que afetam o sistema nervoso central, interações medicamentosas e estados de abstinência, por exemplo. No Brasil, os hospitais concentram o segundo cenário mais comum (26%), somente perdendo para os domicílios (51%).

3- Faça uma pesquisa sobre o tratamento da depressão O site do Ministério da Saúde, do governo brasileiro, mantém uma página sobre depressão. Destaca, na parte sobre tratamento, que “é essencialmente medicamentoso”. Além disto, frisa que a psicoterapia auxilia, mas não previne novos casos e não cura a depressão. Coloca a função da psicoterapia como uma forma de auxiliar a reestruturação psicológica do indivíduo, aumentando sua compreensão sobre a questão, diminuindo o impacto provocado pelo stress. Afirma, ainda, que o tratamento deve ser feito ou na Atenção Básica ou nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) (Brasil, 2018). Assim, enquanto o Ministério da Saúde preconiza a utilização de medicamentos, o Conselho Federal de Medicina reitera uma postura contra a medicalização, como, por exemplo, em entrevista dada na TV Senado em 2017, a então conselheira, Granzotto, comentou sobre o aumento do uso de medicamentos e apresentou alternativas para este uso, além de frisar as reais causas da depressão: “A questão é que há um excesso de frustração, um excesso de competividade, um excesso de individualismo e, até mesmo, a ausência de contatos mais corpóreos. A comunicação mais pessoal está cada vez mais precária.” Para Andrew Solomon, autor do livro “O Demônio do Meio Dia” (uma referência sobre depressão), os cuidados medicamentosos devem ser combinados com as terapias da fala. Advoga que deveriam ser terapias complementares (Solomon, 2002 apud Barbosa, 2006). A psicologia se debruça intensamente sobre o tema da depressão, dada sua relevância para o bom funcionamento de toda a sociedade. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), por exemplo, busca auxiliar os pacientes a modificarem crenças e comportamentos que produzem certos estados de humor. Com a participação ativa do paciente, focam-se 3 fases (Powell et al, 2008): a) Pensamentos automáticos e esquemas depressogênicos b) Estilo de relacionamento interpessoal c) Mudança de comportamento a fim de obter melhor enfrentamento da situação problema Estudos comparando TCC com medicamentos apontam para efeitos similares. Porém, conforme Powell et al (2008), pacientes submetidos à TCC tiveram um efeito mais duradouro.

Da mesma forma, descobertas recentes da neurociência, que demonstram que o cérebro possui um sistema de auto regulação e cicatrização emocional, levaram à formulação da técnica EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através dos Movimentos Oculares), também útil no tratamento da depressão. Indo além, para autores da área da psicanálise, como Fédida, a psiquiatria abre mão da escuta do paciente, ainda que seja importante sua atuação. Porém, questiona a exclusividade do tratamento medicamentoso, pois esta exclui a possibilidade de reconhecimento do sujeito (Fédida, 2002, apud Barbosa, 2006). O mesmo autor (2009 apud Barbosa) aponta que há um vazio que acompanha os estados depressivos e que este precisa ser objeto da escuta do psicanalista – este vazio deve ser um apoio para a cura e não a morte. Assim, conclui-se que há uma vasta gama de tratamentos disponíveis para a depressão. Neste pequeno texto, foram apontadas algumas técnicas. Porém, não se pode deixar de lembrar que cada organismo – cada pessoa – responde de forma diferente a um medicamento e a uma palavra. Na escolha do tratamento, é fundamental se olhar para o paciente e se buscar aquele método que lhe será mais adequado. Referências Barbosa, S.R.C.S. Subjetividade e complexidade social: contribuições ao estudo da depressão. Physis : Revista de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, p. 317-350, 2006. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 73312006000200010&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 31/jul/2019. Conselho Federal de Psicologia (Brasil). CFP reitera posicionamento contra a medicalização. 2017. Disponível em https://site.cfp.org.br/cfp-reitera-posicionamento- contra-medicalizacao Acesso em 03/08/2019. Ministério da Saúde (Brasil). Depressão: Causas, Sintomas, Tratamentos, Diagnóstico e Prevenção. Disponível em http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/saude- mental/depressao. Acesso em 03/08/2019. Powell, V. B., Abreu, N., Oliveira, I. R., & Sudak, D. (2008). Terapia cognitivo- comportamental da depressão. Revista Brasileira de Psiquiatria, 30(Supl II), 73-80.