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Neste artigo, a autora carmen teresinha baumgärtner maciel apresenta um estudo sobre a organização de paradigmas em dois textos falados, que apresentam diferentes circunstâncias de produção. Ela discute as semelhanças e diferenças entre a modalidade escrita e a oral, enfatizando a importância da análise da conversação no contexto brasileiro. O texto aborda os parâmetros relevantes para pensarmos na relação entre fala e escrita, as dimensões teóricas possíveis de planejamento na produção de um texto, as interações simétricas e assimétricas, as organizações tópicas e as falas simultâneas. Os textos analisados são uma telenovela e uma entrevista.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de estudo
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Carmen Teresinha Baumgärtner MACIEL (UEM)
ABSTRACT: This article shows a brief study wich is about paradigm’s organization construction of two spoken texts, wich have different production circunstance. This achievement /work has been based on theory of Analysi’s Conversation proposed mainly by Marcuschi (1986), and by Koch (1992). This theory is found as a written passage from a dialogue of TV soapopera and an interviw, wich was also presented featured. After this analysis we have found some resemblance and differences found between the two texts.
KEYWORDS: spoken texts;production circunstance; resemblance; differences .
para pensarmos a relação entre fala e escrita são as suas diferenças físicas, situacionais e funcionais, que determinam a natureza estrutural das duas modalidades.” Pensar a língua oral dialogada requer que consideremos o aspecto do planejamento. Ochs ( in Castilho, 1990), aponta para a existência de graus de planejamento discursivo: o não-planejado , que dispensa reflexões e organização anterior ao seu evento; e o discurso planejado , que se opõe ao primeiro, nos aspectos mencionados. Essa autora afirma que há, na oralidade, uma tendência ao não-planejado, levando-se em conta os elementos interferentes em sua produção. Nesse sentido, a conversação espontânea seria o melhor exemplo de discurso não planejado, já que administrada ali, no momento mesmo em que ocorre a interação. Urbano (1990:634), ao refletir a respeito das propriedades decorrentes das condições de produção do texto oral, aponta: “(...), duas dimensões teóricas possíveis de planejamento na produção de um texto (escrito ou oral); o planejamento temático (o que dizer) e o planejamento verbal (como dizer) ”. Segundo esse autor, numa conversação espontânea pode-se planejar o que se vai dizer, mas como se vai fazê-lo é definido passo-a-passo, no momento de sua realização. Segundo Koch (1992:70-1), o fenômeno da conversação é organizado em turnos , que são as participações (intervenções) de cada interlocutor durante o ato da fala. A forma como esses turnos são definidos vai apontar para uma classificação das interações. Nesta perspectiva, podem ocorrer: a) interações simétricas: todos os sujeitos têm direito à voz; b) interações assimétricas: um dos sujeitos detém o poder da palavra e concede aos outros momentos de fala. Os turnos podem ser tomados por concessão, ou aproveitando-se o que se convencionou chamar de espaços de transição. Nem sempre, no entanto, a regra conversacional “fale um de cada vez” é respeitada. Ocorre então o que se denomina assalto ao turno. Em decorrência disso, locutores estarão falando ao mesmo tempo. A máxima citada anteriormente é recuperada quando um deles desistir da posse do turno. Quanto à estrutura da conversação em termos de sua organização tópica, Koch (opus cit.) nos fala que: “Quando se fala, fala-se de alguma coisa: isto é, durante uma interação, os parceiros têm sua atenção centrada em um ou vários assuntos. Tais assuntos são, de certa forma, delimitáveis no texto conversacional...”(p. 72). Marcuschi (1986:15), ao falar sobre “organização elementar da conversação”, aponta cinco princípios básicos: numa interação verbal deve-se ter no mínimo dois falantes, com pelo menos uma troca de turno, numa unidade de tempo. Além disso, semelhante ao que propõe Koch, deverá ocorrer o envolvimento dos falantes numa “interação centrada”. Esse autor sugere ainda que na conversação estabelecem-se contratos sociais, que são normas tácitas aceitas por todos, as quais permitem a distribuição dos turnos entre os falantes. Por exemplo, a já citada, “fala um de cada vez”. Além das tomadas de turno e da organização tópica, as falas simultâneas ( turnos superpostos) e as sobreposições (a fala durante o turno do outro) também interferem na realização do diálogo. Quando isso ocorre, alguns mecanismos reparadores são acionados (cf. Marcuschi, opus cit.) a saber: “(a) marcadores metalingüísticos como: “espera aí”; “deixe eu falar”; (b) parada prematura de um falante: um desiste em favor do outro; (c) marcadores paralingüísticos: um olhar incisivo, um segura o braço do outro etc.” As pausas, silêncios e hesitações são, também, para Marcuschi, organizadores conversacionais, assim como as reparações e as correções. As hesitações permitem ao
personagens de uma telenovela. Os textos escritos, e dentre eles os que se destinam a essa finalidade, possuem características próprias. Primeiramente, chamamos a atenção para a questão do planejamento. Conforme Urbano (1990), tanto o texto escrito quanto o oral requerem um certo grau de planejamento. Esse autor sugere que esse grau será maior no texto escrito, e menor no oral. Como a produção desse diálogo foi feita por escrito, muito antes de sua exposição, e por um sujeito que não é o mesmo que os atores que “interpretam” as personagens, o seu tempo de planejamento certamente não foi breve. Nesse tipo de produção é comum o uso de rascunhos, de revisões e de refacções. Se estamos de acordo que este é um discurso planejado, em outras palavras estamos corroborando a idéia de que ele não é fragmentado, ou que o grau de descontinuidade de seu fluxo é relativamente baixo. Uma das características mais marcantes na conversação é o “assalto ao turno”. No texto em questão ocorreram trocas de turno. Mas todas foram feitas sempre através da concessão de voz, de um locutor para com o outro. Os “truncamentos bruscos”, (Marcuschi: 1986), também não ocorrem em toda a extensão do texto analisado, nem do falante no interior de seu próprio turno, nem vindo de seu interlocutor. A extensão de cada turno também é relativamente pequena. Não foram constatadas falas muito extensas. Assim, após essa breve análise, nota-se que o teto apresentado nessa situação não foi produzido localmente, mas rascunhado, lapidado anteriormente com todo cuidado, para que os fins a que esse tipo de material se propõe sejam atingidos. Por isso, elementos que são próprios de uma conversação, tais como as redundâncias, as paráfrases e os assaltos ao turno, entre outros, não se fizeram presentes neste diálogo. Vamos agora à transcrição de trechos da entrevista:
E (^) 1:...agora você brinca com o público:: existe uma resposta imedia::ta(+) eles participam [ E (^) 2: existe(+)existe(+)existe e eu digo que /.../uma maneira verbal(+)é até de uma maneira não verbal(+)como assim?(+)é(+)você está me ouvindo(+) então/.../ a gente ouve dema::is quer dizer a gente não sabe ouvir(+)... E (^) 1: e numa relação de trabalho é fundamental ouvir também? [ E (^) 2: sim(+)fundamental E (^) 1: agora(+) uma::uma::eu fico curiosa para saber::quer dizer(+)como é que:: você entrou/.../né:: uma diretora que é um PRÊ::mio [ E (^) 2: minha MESTRA
E (^) 2: aconteceu::foi natural(+)/.../empresa que me convidou para fazer teatro no avião [ E1: durante a viagem? ... E1: interessa::nte [
E2: aí a/.../ fez um ( )a/.../(+) de um argumento da peça... E1: é verdade::as pessoas ficam::
Trata-se de uma situação comunicativa real, embora um pouco diferente de conversações do dia-a-dia, porque essas têm um grau maior de espontaneidde. Ao afirmarmos que se trata de uma interação, estamos levando em conta as suas condições de produção e a sua estrutura organizacional. Há dois sujeitos face-a-face produzindo sentidos localmente, simultaneamente ao desenvolvimento do diálogo. Assim, a compreensão do texto tem de se dar no momento em que o mesmo é emitido. No início do primeiro turno transcrito, E 1 se utiliza da expressão agora , que serve, normalmente, como indicador de tempo, um dêitico, já que sua referencialidade só é determinada pelo contexto. Neste caso, no entanto, trata-se de um sinal posicionado no início do turno, que serve para orientar o ouvinte, chamando-lhe a atenção para o tópico que é desenvolvido a partir daí. Esse turno estava sendo organizado em forma de pergunta, que não foi concluída, já que o entrevistado (E 2 ), tomou de assalto a voz de E (^) 1. O uso da repetição (existe(+) existe(+) existe(+) ), no início do 2o turno teve como objetivo levar E 1 a desistir de seu turno. Ainda de posse da palavra, E 2 se utiliza da expressão indagativa como assim? , a qual funcionou como uma estratégia para indicar a progressão de sua fala. Ao pronunciá-la, E 2 está se utilizando do que Wenzel denominou de paráfrase comunicativa retórica, cuja ocorrência se dá quando o falante, com a finalidade de se fazer melhor compreender por seu interlocutor, precisa a linha de seu próprio pensamento, recorrendo ao uso dessas palavras. As retificações são outro marcador que esteve presente neste diálogo. O uso de quer dizer , ao final do 1 o^ turno de E (^) 2, aponta para uma refacção da frase anterior. Aliás, esse recurso (“quer dizer”), teve outras ocorrências, como no caso do 3 o^ turno de E (^) 1, por exemplo, em que o enunciador lança mão desse recurso, agora não mais com a finalidade de retificar o que fora dito, mas para reorganizar o fluxo do próprio pensamento. As tomadas de turno são feitas por ambos os interlocutores, embora E 2 o faça com muito mais freqüência do que E1. É possível que isso se deva em razão de que numa situação de entrevista, o esperado é que o entrevistado fale mais do que o entrevistador, porque é aquele quem está ali ara dizer coisas, muito mais do que este, cujo papel será o de monitorar a conversação. Repetições foram constatadas, como na 3 a^ fala de E 1 : “...uma::uma...”. Para Santos (1989), trata-se de uma “auto-repetição”, já que E 1 repete uma palavra de sua própria fala. Segundo essa autora, esta é uma “estratégia conversacional” que permite ao falante organizar seu pensamento, ou ainda, que serve como meio de manutenção do turno.