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ana carolina de souza nascimento procurando nemo, Provas de Tradução

do filme infantil “Procurando Nemo”. Essa análise é feita com base no estudo sobre a dublagem, a tradução de cultura e da oralidade, com o objetivo de ...

Tipologia: Provas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Havaianas81
Havaianas81 🇧🇷

4.6

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CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO
CAMPUS ENGENHEIRO COELHO
ANA CAROLINA DE SOUZA NASCIMENTO
PROCURANDO NEMO:
ORALIDADE E CULTURA INTERLIGADAS
ENGENHEIRO COELHO
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CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO

CAMPUS ENGENHEIRO COELHO

ANA CAROLINA DE SOUZA NASCIMENTO

PROCURANDO NEMO:

ORALIDADE E CULTURA INTERLIGADAS

ENGENHEIRO COELHO

ANA CAROLINA DE SOUZA NASCIMENTO

PROCURANDO NEMO:

ORALIDADE E CULTURA INTERLIGADAS

Monografia apresentada ao curso de Tradutor e Intérprete do Centro Universitário Adventista de São Paulo, Campus EC, sob orientação da Professora Ana Schäffer e do Professor Edley Matos dos Santos.

ENGENHEIRO COELHO

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por escolher minha profissão e me direcionar até aqui.

Agradeço aos meus pais que sempre me incentivaram a estudar, proporcionaram a minha estadia aqui e sempre me apóiam no que eu escolho.

Agradeço ao meu namorado, que sempre me apoiou. Agradeço a minha família, por sempre estar comigo mesmo longe. Agradeço as minhas amigas de quarto com quem vivi os quatro anos, todas, por me ajudarem sempre, na faculdade, na vida espiritual e na vida pessoal.

Agradeço aos amigos, de fora do quarto aqui do colégio e com quem cresci, por sempre me ensinar muito.

Agradeço ao professores que sempre estiveram me estimulando ao crescimento intelectual, tendo paciência comigo.

RESUMO

Este estudo aborda o aspecto da dublagem do filme “Procurando Nemo”, procedendo a uma comparação entre o processo de dublagem e a legendagem, com o propósito de discutir a predominância da oralidade na dublagem, o que confere mais naturalidade ao processo, diferentemente da legendagem do filme que apresenta uma tradução mais presa ao texto da língua de partida, no caso, o inglês, redundando numa tradução mais literal. Foram selecionados fragmentos de uma das personagens do filme, e a partir deles foram feitas análises comparativas, discutindo-se os procedimentos adotados no processo de dublagem e problematizando algumas traduções consideradas não tão adequadas ao contexto. Embasamos teoricamente a pesquisa em investigações já feitas na área de tradução para dublagem e legendagem, em estudos sobre tradução e cultura, oralidade e gírias presentes nesse gênero textual. Os resultados do estudo comprovam a hipótese de que há mais naturalidade nas traduções para dublagem, devido à liberdade que a dublagem possibilita a quem traduz de buscar mais naturalidade na tradução a fim de alcançar a comunidade alvo por meio dos registros de oralidade caracterizados pela presença de gírias e jargões de grupos específicos, como parece ser o caso das gírias resgatadas na dublagem do filme, próprias de surfistas cariocas.

Palavras-chave: Dublagem; Legendagem; Oralidade; Gírias; Cultura

SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO
    1. DUBLAGEM
    • 2.1 Breve histórico
    • 2.2 Dublagem no Brasil.....................................................................................
    • 2.3 Diferenças entre a Dublagem e Legendagem
    1. QUESTÕES CULTURAIS DA TRADUÇÃO
    • 3.1 Oralidade
    • 3.2 Gírias
    • ORALIDADE 4. PROCURANDO NEMO: ASPECTOS CULTURAIS DA DUBLAGEM E
    1. CONSIDERAÇÕES FINAIS
    1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
    1. ANEXO
    • 7.1 Transcrição parcial do filme: Procurando Nemo

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1 INTRODUÇÃO

Neste trabalho será feita a análise da dublagem das falas de um personagem do filme infantil “Procurando Nemo”. Essa análise é feita com base no estudo sobre a dublagem, a tradução de cultura e da oralidade, com o objetivo de entender melhor a dublagem feita, problematizar as diferenças entre a tradução para dublagem e para legendagem, devido às técnicas diferentes utilizadas em cada modalidade. Busca-se apontar o recurso usado pelo tradutor da dublagem para “nacionalizar” o filme, recorrendo assim a muitos elementos da oralidade. O trabalho é composto pela parte teórica que aborda o histórico da dublagem mundial, no Brasil, diferenças entre dublagem e legendagem, questões culturais da tradução, oralidade, gírias; e pela análise feita.

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2.2 Dublagem no Brasil

Já no Brasil, a dublagem chegou em 1938 nos desenhos. O primeiro estúdio a fazer dublagem no país foi o CineLab, em São Cristóvão-RJ, e o primeiro desenho a ser dublado foi “Branca de Neve e os Sete Anões” com o acompanhamento dos profissionais da Walt Disney. Depois do lançamento de “Branca de Neve”, os desenhos “Pinóquio”, “Dumbo” e “Bambi” também foram dublados. Com o sucesso da televisão, os filmes estrangeiros tomaram o espaço não só no cinema, mas agora também na televisão e com isso a necessidade da dublagem atingiu também a produção de filmes.

A primeira série dublada no Brasil foi “Ford na TV” que apresentava dramas de 30 minutos; depois veio “Rin-Tin-Tin”, “Laceiros de Bengala”, “Papai Sabe Tudo” e outras. O elenco de dubladores era o mesmo no princípio para todos os desenhos e filmes, tanto para crianças como para adultos, mas ao longo do tempo, as vozes foram ganhando personalidade e cada uma assumindo seu personagem; assim a indústria foi crescendo e hoje existem dubladores-mirins para personagens crianças não necessitando da imitação dos adultos. Os primeiros elencos eram compostos por rádio-atores, de rádio-novelas.

2.3 Diferenças entre Dublagem e Legendagem

Entre a dublagem e a legendagem existem muitas diferenças. A tradução para dublagem segue algumas regras para se ter um bom trabalho. O tradutor tem que se preocupar com os fatores audiovisuais além da tradução; é importante observar o cenário e o movimento da boca dos personagens. Segundo Pettit (2009) o tradutor precisa saber mais que duas línguas; ele precisa saber duas culturas (ideologias, sistema moral e estrutura sociocultural). A função do tradutor é adaptar a cultura da língua de partida para a cultura da língua de chegada. A complexidade semiótica é tão importante que existem imagens que não podem ser expressas em palavras.

Por meio dessa citação o autor fala sobre a dificuldade do trabalho do tradutor para dublagem. Além disso, muitos criticam a dublagem reclamando da falta de originalidade do texto ou da não sincronização entre a oralidade e a boca. Para uma boa dublagem, Tomaszkiewicz (1993) apresenta algumas estratégias:

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1- Omissão, acontece quando a referência cultural é totalmente omitida; 2- Tradução literal, o texto traduzido é o mais próximo possível do original; 3- Empréstimo, o termo original é usado na tradução; 4- Equivalência, a tradução tem significado e função similar na cultura alvo; 5- Adaptação, a tradução se ajusta à língua alvo e à cultura na tentativa de evocar conotações similares para o original. No sentido exato da palavra, esta estratégia pode ser considerada como uma forma de equivalência; 6- Substituição do termo cultural com (dêitico), particularmente quando auxiliado por gestos na tela ou parte visual. Esta estratégia não foi observada nos textos audiovisuais selecionados e não será discutido aqui; 7- Generalização, o que pode ser apresentado como neutralização do original; 8- Explicação, o que normalmente necessita de paráfrase para explicar o termo cultural.^1 A legendagem é o pequeno texto, geralmente descritivo ou explicativo, que se coloca logo abaixo das imagens cinematográficas. Assim como a dublagem, a legendagem também tem regras. Segundo Luyken (1991), os aspectos que influenciam a confecção das legendas são:

1.O espaço na tela disponível para o texto: a legenda tem no máximo duas linhas de 2s cada; num filme de 35 mm (o mais usado na TV) o máximo de caracteres por linha é entre 32 e 40, no de 16 mm o máximo fica entre 24 e 27;

  1. O tempo disponível para cada legenda depende de três fatores - a quantidade de texto, a velocidade de leitura dos telespectadores (normalmente entre 150 a 180 palavras por minuto) e os intervalos entre uma legenda e outra (aproximadamente ½ segundo);
  2. O tempo de inserção e retirada de cada legenda: geralmente são observados os cortes (mudança de cena) e as pausas (quando o personagem se cala para respirar) e o formato das legendas na tela.

(^1) (1) Omission, whereby the cultural reference is omitted altogether. (2) Literal Translation, where the solution in the target text matches the original as closely as possible. (3) Borrowing, where original terms from the source text are used in the target text. (4) Equivalence, where translation has a similar meaning and function in the target culture. (5) Adaptation, where the translation is adjusted to the target language and culture in an attempt to evoke similar connotations to the original. Strictly speaking this can be considered a form of equivalence. (6) Replacement of the cultural term with deictics, particularly when supported by an on- screen gesture or a visual clue. This strategy was not observed in the selected audiovisual texts and will not be discussed here. (7) Generalisation, which might also be referred to as neutralization of the original. (8) Explication, which usually involves a paraphrase to explain the cultural term.

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3 QUESTÕES CULTURAIS DA TRADUÇÃO

Neste capítulo falaremos sobre os aspectos culturais sempre presentes na tradução. As leituras de Toury (1995), Nord (2001), Karamanian (2002), Azenha Junior (1999), Ette (2010), Prinz e Rith-Magni (2010), Rossi (2010) e Pettit (2009) embasarão a nossa discussão.

Uma tradução adequada continua sendo fundamental até hoje, é a peça principal no intercâmbio cultural. E este intercâmbio ocorre em livros, na legendagem ou dublagem de filmes, entre outros, despertando o interesse por aspectos variados de outros povos. Porém quem traduz está sempre em busca de uma tradução que atenda às exigências da fidelidade, o que não é tarefa fácil, pois se trata da tentativa de transmitir determinada ideia de uma língua a outra. Segundo Ette (2010, p. 18), o fato de traduzir de outros contextos culturais vem sempre ligado a uma mentira estrutural, que se torna tanto maior quanto mais distância há entre as culturas de quem traduz e do texto traduzido. Pois, conforme defendem Prinz e Rith-Magni (2010, p. 3) “o texto não é só texto, e sim parte de um contexto intercultural de significados e de experiência que é preciso transpor. Texto é cultura”.

Já Toury (1995, p. 56), ao falar sobre a interrelação entre cultura e tradução enfatiza que falar em tradução é, inevitavelmente, falar de pelo menos duas línguas e de duas tradições culturais. Para o autor: “As traduções são fatos das culturas alvo; ocasionalmente são fatos especiais, algumas vezes, até mesmo constituem (sub) sistemas próprios. Porém, elas são da cultura alvo em qualquer situação” (TOURY, 1995, p. 29).

O teórico Nord (2001, p. 34), por sua vez, compara a tradução e a cultura, já que, segundo ele, quem traduz está sempre buscando interpretar fenômenos culturais da língua-fonte, cuja busca está mediada pela cultura alvo; ou seja, a visão e as especificidades de quem traduz se interpõem no processo de tradução. Diante disso, percebe-se que o autor sugere que o tradutor seja receptor não apenas de outra lìngua, mas também de sua cultura. Consequentemente, ele “deve ser tanto bilíngue quanto bicultural, ou até mesmo multicultural” (KARAMANIAN, 2002).

Azenha Júnior (1999) define cultura como um conjunto amplo de situações que emolduram o comportamento, as ações e o modo de compreensão dos sujeitos de uma dada sociedade. Para ele:

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Cultura é tudo aquilo que um indivíduo precisa conhecer, dominar e sentir, a fim de poder avaliar em que situações os indivíduos naturais de uma sociedade, no desempenho de seus diferentes papéis, se comportam conforme as expectativas, ou de forma inusitada, e a fim de ele próprio poder se comportar conforme as expectativas dentro de uma sociedade em questão, desde que queira isto e não esteja preparado para arcar com as consequências oriundas de um comportamento adverso às expectativas... Quando um texto é escrito e publicado ou apresentado em forma de roteiro, ele deixa de pertencer ao autor e passa a pertencer ao leitor que dá significado ao signo, porém antes do leitor final, o texto passa pelo tradutor que penetra nele e dá sua interpretação, não a fim de mudar o que estava escrito, mas porque não há tradução e sim versão, por esta razão o tradutor é chamado de mentiroso. A palavra em uma língua jamais soará como a de outra, e com isso acaba se perdendo a essência do texto inicial, não necessariamente o sentido, pois o tradutor é quem melhor conhece o texto devido ao trabalho de investigar a opção que o autor fez em cada palavra.

Rossi (2010) ao falar sobre a relação de sedução entre um escritor e um leitor, comenta sobre a relação dela e dos tradutores de seus textos. Ela diz que redescobre seu texto à medida que é traduzido, pois ao tradutor fazer seu trabalho de pesquisar o sentido de cada palavra em cada lugar que seu texto é lido, ela o entende melhor, porque descobre o que vinha do inconsciente dela enquanto escrevia e ao ver a tradução vem para seu consciente.

Retomando Ette (2010), o autor ao tratar da tradução e sua má fama, apresenta várias críticas à tradução, de modo geral e com foco na intraduzibilidade da cultura, e a problemas relacionados a ela; embora o seu foco sejam os erros. Ao afirmar que o tradutor é um verdadeiro mentiroso e que ele precisa fazer o uso de mentiras estruturais para que ocorra compreensão entre culturas diferentes, enfatiza:

O mentiroso hábil é aquele tradutor que conhece profundamente tanto os contextos socioculturais da língua de chegada, e utiliza esse saber duplo para construir pontes entre as duas culturas. Pontes, porém, não pertencem nem a uma nem a outra terra firme, e sim formam um espaço próprio que é um âmbito da transição e do transitório. Ette ainda afirma que “uma boa tradução não é nem traição, nem engano, e sim uma mentira que expõe outras verdades ou as verdades do outro.” E termina

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afirma que “a voz se faz letra, a letra carrega a voz, que convida à leitura, que cativa o leitor”. Concluìmos então que a oralidade é o mais novo elemento do ato da escrita.

O estudioso moderno da questão oralidade/escrita, Erick Havelock (1995, p. 27), argumenta que nós não somos escritores ou leitores e sim falantes e ouvintes e que a escrita é resultado da cultura e não da natureza imposta a nós. Conforme Marcuschi (2002), ainda que a relação dicotômica de escrita e oralidade não predomine mais, uma não pode substituir a outra. Segundo o autor, isso ocorre devido ao fato de que a escrita não consegue passar todos os fenômenos da oralidade, como a prosódia, os gestos, os movimentos do corpo e dos olhos, etc.

Aplicando a oralidade à tradução, o profissional precisa levar em consideração a sintaxe oral das línguas-cultura de partida e de chegada. Segundo Reis (2009), a função do tradutor é passar a mensagem original com seu aspecto sonoro e semântico, não tendo como tarefa policiar o texto ou tentar poli-lo ou adaptá-lo. A autora conclui seu artigo dizendo que:

Traduzir é mais do que passar um texto da língua de partida para a língua de chegada, na qual os termos devem ser fiéis ao original e as marcas do tradutor apagadas ao máximo. A tradução deve ser a do discurso, da oralidade, da significância do texto, de acordo com as marcas textuais do autor, sem ignorar que o tradutor também trará as suas nas escolhas que fará. Conforme Caldin (2001), “o texto oral é sempre aberto à participação do ouvinte porque essa é a essência da oralidade”. É a capacidade de renovar o sentido a cada leitura do texto, pois o entendimento está relacionado a um conjunto de outros textos absorvidos pela memória, pela tradição oral coletiva, pela experiência de leitura do autor e pela cultura vivida pelo leitor e autor.

A oralidade está cada vez mais presente na dublagem, não pelo simples fato da dublagem ser oral, mas porque a linguagem informal que a oralidade permite se adequa melhor a este tipo de tradução. A dublagem precisa não só passar o sentido do original, mas também tem como função trazer a cultura do telespectador na tradução. Sendo assim, é permitido o uso de linguagem informal e gírias da cultura do telespectador para que o objetivo seja alcançado. Aqui está a grande importância da oralidade para a dublagem.

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3.2 Gírias

Neste tópico falaremos um pouco sobre a gíria, sobre seu surgimento, o público que a utiliza e sobre sua classificação, tendo como base leituras em textos de Urbano (2001), Flor (2003), Sá (2005), Preti (2003) e Cabello (1991).

O autor Sá (2005), em seu artigo sobre a influência dos jargões da mídia sobre a sociedade televisiva, comenta a entrada de jargões que se tornam gírias e logo todos estão falando. Ele diz que não há apenas uma forma de falar, assim os falantes variam o uso da língua de tempos em tempos, derivando da condição social e aspectos sociais. Sá (2005) diferencia a lìngua da fala dizendo que a lìngua “é a estrutura que compreende as convenções adotadas por determinado grupo social” e a fala muda devido ao regionalismo, gírias e jargões usadas pela sociedade. O artigo comenta sobre a responsabilidade da linguagem usada nos meios de comunicação, pois ela influência o público. Preti (2003) apresenta as várias formas de mídia como principal fonte de expansão do vocábulo gírio. O autor defende sua idéia dizendo que “como um veìculo de comunicação de massa, os meios midiáticos têm como característica usar uma mesma forma de linguagem para um grupo amplo de pessoas, por mais heterogêneo que seja”. E Sá (2005) fala que “a linguagem, seguindo as mudanças de hábitos e regras associados à experiência acumulada e à cultura, deu condições de alterar os usos vocabulares, enriquecendo-os, ressurgindo-os ou apenas modificando-os apropriadamente”.

Nas mudanças que ocorrem na língua, as gírias ganham destaque, pois são criações populares com o objetivo de melhor expressividade dos cidadãos das mais variadas classes sociais. No passado a gíria era usada só por marginais, hoje ela invade nosso dia-dia. Preti (2003) critica que é fácil difamar as gírias dos outros, difícil é viver sem uma, pois hoje a gíria faz parte da terminologia de muitas áreas, do telemarketing ao ministério, da mecânica ao magistério. Deste modo, não é possível escapar das gírias, nem os mais fiéis defensores da linguagem culta.

O conceito de gíria não é tão fácil de explicar. Urbano (2001) reconheceu a dificuldade de defini-lo após fazer uma análise de mil palavras gírias, ele disse que é uma “área muito movediça de explicação etimológica semântica” (URBANO, 2001, p. 197). Uma razão para isso pode ser porque os jovens, buscando um desejo de auto- afirmação, procuram distanciar seus vocábulos dos tidos como formais. Sá (2005) diz que as gírias são usadas para que as pessoas que estão falando se apresentem

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Preti (2003) vê as dublagens como uma excelente fonte de pesquisas para análise da fala espontânea, pois o tradutor precisa representar a fala dos personagens o mais realisticamente possível, passando a ideia de que o filme é adaptado ao público.

Como resultado da análise feita por Cabello (1991), com base em seus níveis de classificação, a autora chegou a algumas características da gíria brasileira, que destaca os seguintes traços:

  1. Linguagem altamente conotativa, mas com pouco aproveitamento de formas sutis de relação e com grande número de especializações semânticas;
  2. Freqüência da sufixação, em torno da base semântica originária;
  3. Supressão fônica e derivação por encurtamento de vocábulo, feitas por um povo que mais ouve do que lê;
  4. Tendência à formação de oxítonas e de formas verbais da primeira conjunção;
  5. Presença de composição onomatopaica e de repetição de bases significativas com propósito intensificador, além de composições equivalentes e qualificadores;
  6. Emprego de termos com sentido especializado;
  7. Depreciação de seres, valores e instituições advindos da sociedade dominante;
  8. Adaptação fônica de empréstimos;
  9. Tendência à concretização do abstrato;
  10. Gosto por formas ritmadas; e
  11. Predileção por certas palavras-eixo (bastante concretas) e por conceitos-eixo (relativos à prostituição, ao dinheiro, ao jogo, ao roubo, ao tóxico etc). Consideremos na análise de fragmentos dublados, como essas falas espontâneas foram representadas, na prática de dublagem.

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4 PROCURANDO NEMO: ASPECTOS CULTURAIS DA DUBLAGEM E

ORALIDADE

Neste capìtulo faremos uma breve análise da tradução do filme “Procurando Nemo”, com foco na dublagem. Os fragmentos selecionados para a análise pertencem a apenas um personagem, o Crush. Ele foi escolhido devido à forte presença da oralidade em suas falas, presença essa não muito clara em filmes e desenhos. Por meio desta análise confirmaremos o que vimos quando falamos em oralidade e da tradução da cultura. Observando a dublagem deste filme, percebemos que a dublagem apelou para a oralidade com grande uso de gírias e interjeições, enquanto a legendagem optou por algo mais literal, não deixando totalmente as gírias originais de lado, método mais comum em textos escritos. Vejamos alguns fragmentos, considerando que a dublagem será identificada por (D), a legendagem por (L) e o original por (I):

D: A, eu vi tudo, irmão! L: Eu vi tudo, cara. I: Saw the whole thing, dude. Neste fragmento temos uma interjeição que foi marcada apenas na dublagem expressando a oralidade, “a”, expressando que o Crush sabia o que o Martin tinha feito. Temos uma gìria que não perdeu seu significado, “dude”, que costuma ser traduzido por cara, irmão, colega, amigo, etc., mas a tradução da dublagem foi diferente da legendagem, pois a legendagem trouxe uma tradução ultrapassada; não chegou a perder o significado, mas não se usa muito “cara” hoje, “irmão” é mais comum.

D: Primeiro tu ficou, tipo, UH, e depois a gente ficou, tipo, UH, e ai tu ficou tipo UH! L: Primeiro vocês estavam tipo, uau! E depois nós estávamos tipo, uau! E depois estavam, tipo, uau! I: First, you were all,like, “Whoa!” and then we were all, like, “Whoal!” and then you were, like, “Whoa!” Aqui o que chama a atenção é a forma de conjugação dos verbos; na dublagem o “tu” assume o lugar de você e a conjugação dos verbos segue esse padrão estabelecido, deixando a linguagem mais informal. O “like” traduzido como nosso “tipo”, usado no inglês, permanece nas traduções, tanto para a dublagem quanto para a legendagem, dando um ar de oralidade e a interjeição, “UH” na