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Este artigo descreve as relações da comunidade kilombola morada da paz, em Triunfo/RS, com os espaços universitários através da ideia de borda. A morada diferencia o saber comunitário do conhecimento acadêmico, trazendo a compreensão de que a palavra é magia. A comunidade estabelece relações criativas com a universidade, mas não rejeita esses espaços, pois compreende a importância de aprender a linguagem do colonizador. Utiliza as relações nos espaços de conhecimento para "roubar" recursos que servem à guerra cósmica em curso. A morada se posiciona na borda, estabelecendo alianças e desenvolvendo trabalhos clandestinos que fogem aos interesses capitalistas e coloniais da universidade.
O que você vai aprender
Tipologia: Esquemas
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Não perca as partes importantes!
Neste artigo descrevo as relações que a Comunidade Kilombola Morada da Paz, situada em Triunfo/RS,
a diferença que não implica a submissão de uma sobre a outra, nem a diluição homogeneizante de ambas. A
da qual participa, apropriando-se do que pode fortalecer seus propósitos comunitários. Ao fazer isso, traz para o
garantir a manutenção da sua própria existência.
difference that it does not imply the submission of one over the other, nor the homogenizing dilution of both.
typical of university spaces. It does not deny the relationship with these spaces, but acts on them in terms of the
the maintenance of its own existence.
différence qui n'implique pas la soumission d'un sur le une autre, ni la dilution homogénéisante des deux. De la
(^1) A pedido da comunidade, assino também como Folaiyan.
Alargar bordas 85
MOTS-CLÉS
ENSANCHAR LOS BORDES: ENTRE EL SABER Y EL CONOCER RESUMEN
la diferencia que no implica la presentación de una sobre el otro, ni la dilución homogeneizadora de ambos.
PALABRAS CLAVE
Alargar bordas 87 homogeneizante. Por isso, preferia pensar a Morada como uma borda, um espaço criativo da feitura da vida, e incitava aos que a ouviam a criarem bordas. A borda, na análise dos processos ecológicos, nomeia as zonas fronteiriças entre dois ecossistemas (MILAN; MORO, 2016). Caracteriza-se pela sua instabilidade e dinamicidade, sem padrões de variabilidade e estrutura. É exatamente a borda que permite os ecossistemas em relação existirem, como a matéria úmida lamacenta, com suas características específicas, permite que a água e a terra seca existam e se interrelacionem. Relação que também tem seus riscos, pois há sempre a possibilidade do alargamento da borda, que pode prejudicar a existência de um desses ecossistemas, na medida em que o transforme permanentemente. De todo modo, com ela, nem tudo se torna água, nem tudo se torna terra, mas há a possibilidade da existência e comunicação entre água e terra. A permacultura nos apresenta considerações semelhantes. Contudo não utiliza a borda como um conceito de análise, mas algo a ser criado pela/o permacultor/a em seu desenho permacultural, espaços de relação entre diferentes ecossistemas que garantam a melhor interação possível entre humanos e não-humanos (MOLLISON; SLAY, 1994). A Morada, como a permacultura, também cria e habita bordas. Descreverei como as realizam na relação que estabelecem com o que chamam de espaços de conhecimento , sobretudo a Universidade. Por isso, apresento uma compreensão, aprendida com as Yas e Baba (mães e pai, mais velhas da comunidade), egbomis (irmãs mais velhas) e iaôs (iniciadas) na Nação Muzunguê , dos diferentes modos de aprender – sobretudo na distinção que estabelecem entre o saber , praticado na comunidade, e o conhecer , como desenvolvido nas escolas e universidades. Derivo disso a compreensão de que o saber requer uma responsabilidade biointerativa (SANTOS, 2015) em que os sujeitos que sabem estão implicados na vida coletiva. Contudo, isso não significa que haja uma rejeição por parte da comunidade dos espaços de conhecimento , concebidos também como espaços do colonizador. Fazem-se na borda dessa relação e compreendem a relevância de aprender a linguagem do colonizador “ para ensinar os camaradas ”. Utilizam-se das relações estabelecidas nos espaços de conhecimento para “roubar”^5 (HARNEY;MOTEN, 2013) o que ali pode servir à guerra cósmica em curso da qual participam. Neste sentido, os roubos constituem a borda entre o saber e o conhecer. A guerra cósmica é a compreensão de que o mundo está em disputa por forças, tanto forças das trevas como forças das luzes. Compreendo-as como bons e maus encontros^6 (^5) Essa questão será melhor abortada no decorrer do texto. (^6) O bom encontro ocorre quando um “um corpo compõe diretamente a sua relação com o nosso, e, com toda ou com uma parte de sua potência, aumenta a nossa” (DELEUZE, 2002, p. 28 - 9), fortalecendo nossa potência de agir, por exemplo quando nos alimentamos. O mau encontro pauta-
Flores Revista Mundaú, 2020 , n. 9, p. 84 - 104 (SPINOZA, 2010; DELEUZE, 2002) que só são dadas a perceber pelos seus efeitos. Envolve seres humanos e não-humanos, como entidades, espíritos e outros. Essas forças em disputa afetam e engendram tudo o que é de uma dada materialidade: corpos, coisas, objetos, e também o que entendemos por ‘política’. São as forças destrutivas, ou força das trevas , que produzem o que denominamos colonialismo e todas as outras formas de exploração, opressão e adoecimentos – tudo aquilo que retira a potência de vida dos seres viventes. A Morada da Paz contrapõe-se a essas forças e cria continuamente as ferramentas para tal. Uma dessas ferramentas é o ipádè , um espaço de diálogo coletivo e construção de estratégias central no modo organizativo da comunidade, pautado no cuidado que é preciso ter com a palavra, visto que compreendem que palavra é magia. O ipádè é descrito aqui como uma comunidade de aprendizado, tal como definido por bell hooks (2017). Meu interesse, contudo são os prolongamentos do ipádè, parte dos saberes oriundos da comunidade , no interior dos espaços de conhecimento , tensionando as lógicas instituídas e suscitando novas formas de relações. Sugiro pensar essa prática como um ‘alargamento da borda’ operada pela Morada da Paz. Não com o intuito de pôr em risco os outros com os quais está em relação, como sugeririam os ecólogos em relação aos ecossistemas, mas para garantir a manutenção da sua própria existência e de seus saberes. O SABER E A RESPONSABILIDADE “BIOINTERATIVA” Foi Seu Sete quem primeiro me ensinou: “ aquela que não sabe aprende com o que vê ”. Em outro contexto, disse-nos “ língua entre os dentes, corpo em movimento ”. Esses são ensinamentos complementares que me levam à compreensão de que aprendemos pelos corpos e pela observação. No momento em que me tornei membro da Irmandade da Nação Muzunguê , de poucas palavras, de olhar penetrante e severo, carregando consigo sua faca que corta todos os males, Seu Sete passou a faca próxima ao meu corpo físico, “ cortando ” as “ energias densas ” e preparando meus corpos para os dias que viriam. A cada corte invisível dado, sugava aspectos invisíveis que os tinham atravessado e sentia de que também os deixava abertos, expostos às vivências que eu teria como uma iniciada. Como se meus corpos, carregados de cortes invisíveis aos olhos do corpo físico , fossem o meio através do qual eu seria capaz de aprender de outra forma. Essa percepção daquele momento da iniciação foi aguçada com uma série de falas posteriores. Lembro-me, sobretudo, da fala de Yashodhan: “ não se conhece só com a mente, é possível conhecer com o arrepio ”. se, ao contrário, pela decomposição. É quando um corpo, ao nos encontrar decompõe a relação do nosso, apesar de compor com as nossas partes, “mas sob outras relações que aquelas que correspondem à nossa essência” (idem), por exemplo quando ingerimos veneno, como o agrotóxico que decompõe as relações do nosso corpo produzindo câncer.
Flores Revista Mundaú, 2020 , n. 9, p. 84 - 104 encontra nas escolas e universidades, pauta-se por uma lógica de acumulação e extração – como Yashodhan diz, “ beber da fonte sem cuidar da fonte ”. Transformar saberes de outros em acúmulos de conhecimentos para si, sem retornos a estes outros, ou seja, sem interação. Afinal, “ o que você faz com o que conhece ”? Essa é uma questão que sempre me foi feita por Yashodhan. Não é uma questão retórica. Em uma comunidade espiritual, que é um kilombo e terreiro, essa questão é da ordem da magia, pois palavra é magia , e se encontra em relação com a importância do segredo, o karó , e do silêncio como estratégias de manutenção da vida. Se o conhecimento está diretamente relacionado ao corpo mental , o saber é produzido na integração entre os diferentes corpos que constituem os sujeitos. Por isso, o saber só existe quando se vive. Recuperando a fala de Yashodhan e conectando com suas reflexões sobre a diferença entre conhecimento e saber , sinto que poderia dizer que sabemos apenas quando conhecemos com o arrepio. Neste sentido, o saber e o conhecer são formas de aprender análogas ao que Antônio Bispo dos Santos (2015) denomina “orgânico” e “sintético”, aspectos traçados por ele em relação à territorialidade e também uma forma de diferenciar os saberes dos povos quilombolas com aqueles oriundos dos colonialistas, incluindo as Universidades. Mestre Bispo parte da elaboração de duas formas de pensar: monista e politeísta. Dentro do pensamento monista, na sua análise da Genesis, Bispo nos diz que os colonialistas, sujeitos deste pensamento, foram desterritorializados por seu Deus quando este disse que “as ervas eram espinhosas e daninhas, que para se alimentarem tinham que comer do suor do próprio corpo, ou seja, transformar os elementos da natureza em produtos manufaturados e/ou sintéticos” (SANTOS, 2015, p. 96). Como foram desterritorializados pelo seu Deus, este povo monoteísta tem por fundamento a invasão e a posse, para usufruto próprio, de outros territórios. Em contraposição, os povos politeístas, dos quais emerge um pensamento plurista, interagem com seus Deuses e Deusas de uma forma territorializada e “biointerativa”, ou seja, constituem os espaços em que se encontram. Não precisam invadir outros para seu bem viver e estabelecem com os demais territórios e povos relações de interação e visita (idem, p. 97). Em palestras que Mestre Bispo realizou, desenvolveu o argumento sobre o orgânico e o sintético como formas de saberes. O saber orgânico envolve o ser e o sintético o ter. Aquilo que Santos chama de sintético e orgânico, quando trata da relação que os diferentes povos têm com os territórios, poderia ser pensado como análogo aos modos de aprender que a Morada nos apresenta, com a diferenciação entre o saber e o conhecimento. O conhecimento , como algo desterritorializado, é sintético. A invasão e posse, características do sintético, tem por correlato a extração e acumulação, características do conhecimento. A integração, característica do orgânico, tem por correlato a vivência, característica do saber.
Alargar bordas 91 Outro elemento central traçado por Santos sobre os saberes orgânicos é em relação ao conceito de “biointeração”, como um modelo que se contrapõe ao “civilizacional” do colonizador. O conceito surge da descrição de suas vivências como quilombola, na relação que estabelece com a terra e com os seres do entorno que não passa por acumulação, “ o melhor lugar para guardar os peixes é nas águas ”, e que é pautada pelo entrelaçamento de muitos aspectos da vida comunitária: como na feitura da mandioca, em que trabalho do cultivo, do descascar, da atenção aos ciclos da mandioca, também é o espaço de socialização das mulheres, dos flertes entre os mais jovens, dos pedidos de casamento, das festas^9. Dessa forma, Mestre Bispo conclui: “como tudo que fazemos é produto da energia orgânica, esse produto deve ser reintegrado a essa mesma energia” (SANTOS, 2015, p. 85). Na continuidade de Bispo, é possível pensar o saber tal como elaborado pelas mais velhas da Morada da Paz: pautado não apenas pela negação da acumulação e fomento da partilha, mas também pelos entrelaçamentos que produz na vida comunitária e que são carregados de responsabilidade para a sua manutenção. Para a Morada da Paz, o saber envolve um processo muito lento e cuidadoso. Por isso, nem todos sabem de certos aspectos das ritualísticas desenvolvidas na comunidade. Há determinados espaços e determinadas ritualísticas em que não é permitido a participação de iniciadas mais novas, por exemplo, pois a caminhada espiritual, como dizem as mais velhas, implica certas compreensões que apenas o tempo e o comprometimento com a caminhada possibilita. Um exemplo desse comprometimento e responsabilidade, lembro-me de um dos muitos ipádès em que Yashodhan falava-nos sobre o consumo de carne. Há um saber compartilhado de que quando consumimos carne, consumimos também o sofrimento do animal abatido. Um saber comungado entre todos que ali decidiram estar, de acordo com sensações experimentadas pelas próprias mais velhas, orientações das entidades e estudos prolongados oriundos do budismo. Saber as consequências do consumo da carne e mesmo assim decidir por comê-la é responsabilidade daquele sujeito que sabe , Yashodhan nos dizia. Afinal, ao saber , sabe-se também que as ações têm consequências. As consequências da ação, no exemplo citado, podem fortalecer ou enfraquecer a constituição da corrente espiritual, que é a Irmandade, e interferir no equilíbrio energético dos próprios sujeitos. “ O que afeta um, afeta a todos ”, diziam-me quando eu havia recém entrado na irmandade. Por (^9) “Não tem imagem mais poética que uma cabrocha carregando uma lata d’água solta na cabeça e que deixa, propositalmente, entornar um pouco d’água sobre o corpo, sendo cortejada por um rapazinho franzino que se sente o importante, por naquela tarde ter sido aplaudido, com olhares, ao mover a roda. Tudo isso acontece mediante poucas palavras, quase ninguém percebeu, mas a menina já emitiu outra mensagem: à noite ele deve ajudá-la a lavar a massa. E assim se lava a massa, se colhe a tapioca, se torra a farinha, se faz o beiju; e assim se namora, marca noivado, e vive-se durante um longo período, onde se faz muita força, mas toda essa força se transforma em festa” (SANTOS, 2015, p. 84).
Alargar bordas 93 uma filha formada em Nutrição e, por isso, iniciou seus estudos no Centro Universitário Metodista IPA, mas não sentia que o curso a realizava. Seu relato foi feito para estudantes negros que fizeram uma vivência no território Morada da Paz. Alakoto nos disse que naquele momento em que cursava Nutrição, “ não estava pronta para entrar na academia. Se eu entrasse, ela que entraria para dentro de mim! Faria esquecer do que eu sou, do que eu realmente sou ”. Atualmente, Alakoto é estudante de Licenciatura em Música na UERGS. Como me disse, ela não estava na Universidade para ter um título e não desejava apenas aprender uma técnica. Fez, e se realizou nela, porque seu nome é Alakoto e sua guardiania são os orins sagrados – ela quem entoava os cantos nos ritos. Existia, portanto, um compromisso espiritual e comunitário que dava o sentido para aquilo que realiza dentro dos meios acadêmicos. Interessante perceber que há uma relação cuidadosa para que a Universidade não “ entre para dentro ” da pessoa, mas também para que a entrada na Universidade não seja negada a ela. Afinal, como Yashodhan disse em outro momento, quando algumas pessoas da comunidade, por orientação de Mãe Preta, tentaram uma prova de mestrado da UFRGS através das ações afirmativas para quilombolas e não passaram: “ há forças que não nos querem lá dentro ”, precisamente porque a Universidade é um espaço do colonizador. O conhecimento e a prática de estudo que o envolve não são descartados ou ignorados, porém é preciso saber o que se faz com aquilo que se conhece. Em relação aos estudos oriundos dos ambientes de conhecimento , lembro-me de Yashodhan comentando conosco sobre a importância de ler, escrever e pesquisar. Certa vez estávamos em um ipádè onde Ajúà, iaô da comunidade, trouxe um material sobre o Calendário Maia para estudarmos. As informações eram muito interessantes, mas, como ela mesma havia colocado, não contemplavam a complexidade do que seria o calendário Maia. Yashodhan, ao final, pegou a palavra e disse-nos que o estudo, a leitura e a pesquisa são fundamentais para qualquer processo mediúnico. Se determinados aspectos, assuntos, o que seja, chegam-nos através da intuição ou por orientação das entidades, é importante que nos dediquemos a estudá-los, pois o estudo “ fortalece e amplia ” os processos mediúnicos. Aquilo que chega como conhecimento pode auxiliar a expansão dos saberes que já são ali desenvolvidos. Mas, para isso, é importante “ saber quem se é ”. Naquele momento em que Alakoto fez sua fala estávamos juntos de muitos estudantes negros universitários, e o ipádè seguiu com outros comentários dos presentes. Depois de sua fala e de demais participantes, Yashodhan comentou que as Universidades não são boas ou más, mas espaços a serem ocupados para acessar “ portas que só se abrem pelo lado de dentro ”, conforme disse- nos Mãe Preta. Mas para isso, é fundamental que se saiba “ quem se é e o que se quer ”. Quando não sabemos , são os lugares que nos fazem. Quando sabemos , “ somos nós que nos fazemos em todos os lugares ”.
Flores Revista Mundaú, 2020 , n. 9, p. 84 - 104 Da mesma forma, as crianças e adolescentes comentam conosco sobre suas percepções e incômodos em ir para o colégio. Shanti, quando finalizava o ensino fundamental, voltava às vezes desanimada com a escola. Dizia-me que aprendia mais na Morada da Paz do que no colégio: “ aqui tu interage com as plantas, com os bichos, na aula não ”. Damoran, adolescente que cursa o ensino médio, dizia-nos que a única coisa que a motivava a ir à escola era poder ter os meios de, mais tarde, viajar e trabalhar na construção de projetos na comunidade. Não são diferentes dos entendimentos das mais velhas. A Yakekere Yamoro, por exemplo, formou-se em Bacharelado em Ciências Sociais e cursa Licenciatura, no momento. Certa vez perguntei a ela se gostaria de dar aula, e ela me disse que, de fato, não sentia vontade, mas possuía um propósito comunitário, que é a construção da Escola ComKola Kilombola Epè L’aiyè^11 , e ser Licenciada em Ciências Sociais serviria a esse propósito. Há, portanto, encontros entre estes dois modos de aprendizagem, o conhecer e o saber , nas experiências dos adultos, dos jovens e das crianças, pois todos desenvolvem atividades em Universidades e Escolas públicas. Porém, há uma forma muito singular de participação nos espaços de conhecimento para que sirvam aos saberes desenvolvidos e seus “ propósitos espirituais ” visando a guerra cósmica. Quando Yashodhan nos diz que “ há portas que só abrem pelo lado de dentro ”, acredito que esteja falando também das portas que um título é capaz de abrir em termos de oportunidade. Afinal, formar-se em um curso de graduação permite atuar e ser ouvida em determinadas áreas e instituições. Mas o título é apenas uma das possibilidades. A Universidade e as Escolas surgem como espaços de conhecimentos , que podem ser roubados (HARNEY;MOTEN, 2013) para servir aos saberes já desenvolvidos, através de seus recursos e possibilidades de novas alianças. O roubo torna-se fundamental para a criação das bordas. Com a participação de Yamoro cursando Licenciatura em Ciências Sociais e de Yashodhan cursando Educação no Campo, a Morada da Paz está muito presente na FACED (Faculdade de Educação da UFRGS). Em certo evento universitário, foi convidada a participar como comunidade kilombola. Nesse evento, conheceram um professor universitário de origem Quechua e o convidaram para conhecer o território em um dos momentos mais importantes para a Morada da Paz, o rito aberto chamado Okan Ilu – Tambor do Coração. Era véspera desse rito, que, naquele ano, celebraria os povos indígenas. Uma das orientações que as entidades deram há tempos à Morada é traçar redes de solidariedade e contato com (^11) Uma escola ComKola, como disse a Yaba Ancestral Mãe Preta, pois a Escola “ tira a cola das relações ” com o mundo, com as entidades, com os seres ao redor. A ComKola, por sua vez, a mantém. Epé Laiyè , em Yorubá, significa “Terra Vida”, ou seja, uma escola preocupada em fomentar a integração dos seres humanos com todos os seres que compõem o cosmos. A ComKola encontra- se ativa, com as crianças da comunidade, e em construção contínua para a sua formalização perante o Estado.
Flores Revista Mundaú, 2020 , n. 9, p. 84 - 104 ComKola, e de Ekonomia do Afeto, base criativa através do qual a comunidade vivencia e pensa suas relações com os recursos para a sua manutenção. Somado a isto, o projeto derivou uma publicação coletiva (OKARAN, 2020). O “roubo” dos espaços de conhecimento ocorre porque não é possível construir com eles, enquanto espaços do colonizador , uma aliança. É possível construir aliança com quem se encontra nesses espaços e que também desenvolve certos “trabalhos clandestinos” (HARNEY; MOUTEN, 2013), que fogem aos interesses e apreensões capitalísticas e coloniais da Universidade. A única relação viável é através do que Yashodhan chamou de tática do Robin Hood , “ pegar dos ricos para distribuir aos pobres ”, roubar o que ali convém para “ ensinar os camaradas ”. Dessa forma, lidam com as diferentes instâncias do Estado^14 , e também com as Universidades. Saquear os recursos dos espaços do colonizador para fazer com eles outra coisa, investi-los de novos sentidos na criação de suas próprias ferramentas. A pesquisa que eu desenvolvi com a comunidade também seguiu esse mesmo princípio, na medida em que tomaram a sua própria escrita como uma outra forma de reverberar a Morada, e a magia, no interior da própria Universidade (FLORES, 2 020). A tática Robin Hood envolve o roubo de recursos. Não se refere a dinheiro (ainda que recursos financeiros advindos de bolsas e projetos sejam importantes para a manutenção da vida de qualquer um), mas aos recursos tal como entendido pela Morada de forma mais abrangente. Roubar um modo de funcionamento de pesquisa e ensino que seja socialmente aceito para fazer de outra forma. Tal como a criação do Coletivo de pesquisa Okaran , grupo de pesquisa que agrega pesquisadores da FACED/UFRGS e pesquisadoras/es kilombolas cuja autoria dos trabalhos é coletivizada – contrapondo-se à lógica individual acadêmica – e funciona através de ipádès e das discussões em torno da criação da ComKola, uma escola comunitária a ser formalizada perante o Estado. Também roubar uma forma de sistematização do conhecimento universitário, assim como referências e diálogos possíveis, para fazer com que o pensamento kilombola ali desenvolvido se autorrepresente e se que toca o coração para além do cérebro. O autoconhecimento e os valores são instrumentos desse saber que edifica, se forma para toda a vida, assim ressignifica sua própria existência e a existência do outro. O ato de cuidar, educar e amar passa pelo processo de encantar-se e manter-se vivo em ações, pensamentos, atitudes e sonhos. É uma educação baseada na ancestralidade e na unidade tendo como base a circularidade com valores matriciais e kilombolas, mantendo esse sonho vivo no dia a dia, ressaltando o zelo pela memória dos povos. Essa pedagogia é livre de fórmulas, possibilita a troca de saberes através de exemplos mais do que de palavras e propõe a manutenção da esperança, do sonho e da fé. É acreditar nas possibilidades, fortalecendo e tecendo uma sustentação, um olhar para o respeito e gratidão pela vida” (OKARAN, 2020, p. 103). (^14) Relembro aqui a definição de kilombo com k da Morada, que surge em um processo de diferenciação do quilombo com q, da “ linguagem do colonizador ”. Ali, recorreu-se à certificação quilombola da Fundação Cultural Palmares não apenas pelo reconhecimento, por parte da máquina burocrática do Estado, como um dos “remanescentes de quilombo”, mas para garantir que aquele território possa existir como kilombo , território de luta pela paz e de reverência inventiva à ancestralidade negra. Saquearam o Estado.
Alargar bordas 97 autorreferencie e não seja apropriado por teoria externa alguma. Tal como fazem com as discussões que envolvem e possibilitam a criação da pedagogia do encantamento e a ekonomia do afeto. Mas é importante ressaltar que o roubo é sempre parcial, precisamente porque “é o contrário de plagiar, de copiar, de imitar, de fazer como” (DELEUZE; PARNET, 1998, p. 6). Só é possível atuar com o roubo nesses espaços do colonizador quando os sujeitos assumem a postura de “undercommons”, de fugitivos às lógicas instituídas, que se utilizam destas estruturas para fomentar outros modos de existência. Um trabalho sobre o trabalho que esses espaços requerem. Constroem alianças nesses espaços, mas apenas com outros fugitivos. Espaços que, sem dúvida, são permeados de perigos, pois há o risco constante da captura pela lógica produtivista e colonizadora instituída. É dessa forma que Harney e Moten (2013) desenvolvem suas ideias sobre as Universidades estadunidenses e que aqui tomo emprestadas para pensar como a Morada da Paz elabora seus roubos. Segundo os autores, as Universidades como espaço do conhecimento estão povoadas de refugiados, fugitivos, que recusam a profissionalização capitalística. Os “undercommons” estão na universidade sem, por isso, serem da universidade. Igualmente, recusam a crítica da profissionalização elaborada pelos que se dizem “esclarecidos”. Isso porque o trabalho desempenhado pelos “undercommons” não se compara com o dos acadêmicos críticos, visto que ser um crítico: “[...] é estar contra a Universidade e estar contra a Universidade é reconhecê-la e ser reconhecido por ela (…). E este ato de estar sempre contra já exclui os modos não reconhecidos de política, o além da política já em andamento, a para-organização criminal desacreditada” (HARNEY; MOTEN, 2013, p. 31). Assim, a atuação que desempenham é, sobretudo, utilizar os recursos ali disponíveis para fazer com eles outra coisa, para alimentar modos outros de existência e do fazer cosmopolítico. É como “undercommon” que a Morada da Paz estabelece suas relações com os espaços do colonizador em função da guerra cósmica na qual participam. O modo como navegam pelos espaços do colonizador , não é para tomar suas ferramentas coloniais e capitalísticas para melhor serem incluídos em suas lógicas, mas para saquear o que pode servir para a criação da borda e de novas ferramentas de resistência da própria comunidade para a guerra cósmica. Em outras palavras, reatualizam Audre Lorde (2019): “as ferramentas do senhor nunca derrubarão a casa grande”. E, sem dúvida, uma das principais ferramentas elaboradas pela Morada na constituição de si mesma é o ipádè. O IPÁDÈ: COMUNIDADE DE APRENDIZADO Todo ipádè acontece em roda. A circularidade é um dos aspectos mais importantes para a comunidade Morada da Paz. Assim entendem suas organizações comunitárias, tais
Alargar bordas 99 ocorrido dentro do território ou alguma dificuldade de compreensão sobre um determinado tema ou situação, as Yas dão apenas o axé de escuta à pessoa. Ter o axé de fala e de escuta é sempre um compromisso com a comunidade dentro e fora do território, quando se fala através e como Morada da Paz. Pedir axé de fala e escuta é chamado agoyê mojubá e em todo o ipádè somos orientadas a pedi-lo. O agô , ou seja, o consentimento dado pelas Yas, Baba, mais velhas, entidades, é fundamental, e me foi explicado por Ikowè, antiga egbomi , como uma relação de respeito pela história percorrida pelas mais velhas. Quando se pede o agoyê mojubá , deixa-se claro a quem se pede licença com aquela fala e aquela escuta. Invocam-se as mais velhas, as mais novas, as entidades guias, a ancestralidade, a Irmandade e a todos os outros seres humanos e não-humanos presentes no momento daquela fala e escuta. Implica a presentificação de tantos outros seres com os quais a/o falante compõe sua existência. Nessa concepção, aquela/e que fala, não fala sozinha/o e nisso reside sua responsabilidade. Os membros da Morada também apresentam o lugar do qual falam dentro da hierarquia circular da comunidade, dos mais velhos aos mais novos em termos de pertencimento e comprometimento com a comunidade. E, por fim, se explicita com que intenção dirigimos a fala e a escuta. Esse processo é, como explicou certa vez Elemojò, ekedi e fundadora da comunidade, para que possamos ter consciência de como dirigimos nossa fala e nossa escuta e para que os outros possam preparar os seus ouvidos e suas atenções de acordo com nossa intencionalidade. Constitui um ato de cuidado consigo e com os outros. Quando há movimentos que fogem a essa intencionalidade, o agoyê mojubá é acionado para que o coletivo perceba a situação e possa reconstruir uma relação harmônica. Foi assim que aconteceu durante um ipádè bastante sério que presenciei. O intuito foi questionar um dos integrantes da Irmandade sobre sua pouca participação nos trabalhos comunitários. Depois de todos pedirem seus agoyê mojubá , uma das egbomis salientou que ele havia pedido seu axé de fala , mas não o seu axé de escuta. O que, segundo ela, informava bastante sobre sua falta de disposição em ouvir as demais pessoas. A partir disso, uma sequência de trabalhos espirituais foram realizados para trazer novamente a harmonia para o grupo que estava em ipádè. O ipádè , portanto, é o espaço por excelência de troca, de fala e de escuta, de aprendizado, de acordos comunitários, das resoluções de conflitos. O ipádè também é investido de uma temporalidade própria que é ditado pelo fluxo do que é ali acionado. Há ipádès resolutivos relativamente rápidos, há outros que se estendem de acordo com o que precisa ser dito, ouvido ou refletido conjuntamente. Há outros que iniciam com uma intenção, mas desenvolvem outras ao longo do processo. Não há um cronograma fixo a ser seguido e nos é ensinado seguir o fluxo das energias em movimento. Sobretudo aqueles que dizem respeito à Irmandade e aos moradores da comunidade, não são regidos pelo “ tempo do relógio ”, mas pelo “ tempo de Kindembo ”, como
Flores Revista Mundaú, 2020 , n. 9, p. 84 - 104 diz Yashodhan – o tempo do que é necessário. De todo modo, são nos ipádès que o pensamento coletivo é tecido. Espaço, portanto, fundamental para a construção das estratégias de ação, configurando uma comunidade de aprendizado (HOOKS, 2017). Ao desenvolver suas reflexões sobre práticas educativas libertárias, contrastando com os modos como os espaços escolares funcionam, bell hooks propõe uma “pedagogia engajada”, e desenvolve suas reflexões através do trabalho de Paulo Freire e do monge budista Thich Nhat Hanh. Ambos trazem a percepção de que a educação, como prática de liberdade, só pode acontecer quando realizada coletivamente, em uma “comunidade de aprendizado”, e a partir da práxis – o agir e refletir sobre o mundo a fim de modificá-lo. Mas enquanto Freire, diz-nos a autora, desenvolve suas preocupações mais em função da mente, Hanh propõe uma abordagem holística e integral do sujeito. Ainda assim, hooks ampara-se nas elaborações destas duas referências para recuperar a importância do bem-estar de estudantes e professores que constituem a “comunidade de aprendizado” atualizada em uma sala de aula. Uma “comunidade de aprendizado” implica uma preocupação para além das salas de aula, um acompanhamento da vida das/os estudantes pelas/os professoras/es – como tanto descreve sobre suas experiências como aluna, estudante de uma escola negra, em plena segregação racial estadunidense – e o engajamento destes no compartilhamento de experiências pessoais com as/os estudantes. Assim como todas as partes encontram-se implicadas na relação de ensino-aprendizagem, há a importância de que aquela/e que ministra as aulas invista também em seu bem-estar, para poder acolher as demandas que emergirão da sala de aula. Isto me parece ser o grande opositor do modo como a educação tem operado nas salas de aula formais, a partir da separação entre interação social e trabalho intelectual^16. O bem-estar é fundamental. Nas palavras de Hanh, recuperado pela autora, a/o professor/a é comparada/o à/ao curador/a, aquela/e que auxilia nos processos de cura de outros: “se a pessoa que ajuda estiver infeliz, não poderá ajudar muita gente” (HOOKS, 2017, p. 28). Claro que há muitas diferenças entre aquilo que a Morada apresenta e o que hooks coloca. Primeiro, hooks desenvolve suas ideias no interior da lógica universitária e escolar. A Morada da Paz, por sua vez, desenvolve suas práticas do interior da lógica comunitária e espiritual, com a presença ativa de outros seres. De todo modo, a atenção dada por hooks ao bem-estar e ao cuidado, principalmente quando retoma a figura do professor como um (^16) “A ideia da busca do intelectual por uma união de mente, corpo e espírito tinha sido substituída pela noção de que a pessoa inteligente é intrinsecamente instável do ponto de vista emocional e só mostra seu melhor lado no trabalho acadêmico. Isso queria dizer que pouco importava que os acadêmicos fossem drogados, alcoólatras, espancadores de esposa ou criminosos sexuais; o único aspecto importante da nossa identidade era o fato de nossa mente funcionar ou não, ou sermos capazes de fazer nosso trabalho na sala de aula” (HOOKS, 2017, p. 29).
Flores Revista Mundaú, 2020 , n. 9, p. 84 - 104 agoyê mojubá e disse seu nome trazido pelas entidades: Yamoro. Yamoro não era apenas estudante, ainda que também seja. É a Yakekere, mãe pequena da Nação Muzunguê da comunidade Morada da Paz. Liderança e mestra que traz consigo um saber da sacralização da palavra. Mas o interessante do agoyê mojubá , que prolonga os sentidos do ipádè, é sua capacidade de fazer-se (e fazer quem fala) nos ambientes universitários para além dos espaços onde, de alguma forma, é permitido a diferença se manifestar. Yamoro estava ali na condição de estudante, e não de mestra convidada, ainda que seja reconhecida por muitos de seus colegas e professores como mestra kilombola. A manifestação da diferença emergia de lugares inesperados aos instituídos pelas estruturas universitárias, mesmo nas suas brechas, como o Encontro de Saberes. Não pretendo dissertar sobre o Encontros de Saberes, como política universitária, mas sim provocar a reflexão sobre a criação de bordas , encontros de saberes e conhecimentos , instituídos pelo fazer cosmopolítico kilombola, mesmo quando não convidado. Ou melhor, exatamente porque não convidado. Com o agoyê mojubá , quando pedido em espaços inesperados, expõe-se os limites da tolerância^18 universitária e se irrompe as ritualísticas ocidentais acadêmicas. Não raras vezes as mais velhas comentam, entre risos, sobre os espantos que suas presenças causam: “ aquele povo estranho ”, como interpretou certa vez Yamoro sobre suas presença nos espaços universitários. Estranhamentos que geram curiosidade com o ‘exótico’ - o que reforça os sentimentos de objetificação há séculos produzidos às populações não-brancas pelo colonialismo - , mas também enquanto intrusas, com suas ritualísticas próprias, que, aos olhos dos tolerantes, não deveriam ‘poluir’ as ritualísticas do mundo branco ocidental tão bem assentadas nas Universidades. O simples ato de pedir a benção e licença para falar e ouvir para outros (entidades, ancestrais e comunidade) que não as autoridades instituídas pela política universitária, figura como um ‘alargamento da borda’ da relação entre saberes kilombolas e conhecimentos universitários dentro dos espaços do colonizador. Não com vistas a aniquilar esses conhecimentos , mas para expandir as possibilidades de relação sem se deixar capturar, sem que a Universidade “ entre para dentro ” dos sujeitos. E, ao mesmo tempo, expor as tolerâncias desses espaços instituídos, visto o comprometimento com a guerra cósmica da qual participam, ao fazerem sentir diferenças não previamente estipuladas. Agoyê Mojubá permite (^18) A tolerância foi trabalhada por Isabelle Stengers como parte constituinte da modernidade e da presunção científica quando volta-se aos “outros”, que não os modernos, julgando seus conhecimentos e práticas como crenças e, portanto, não-verdades. Para Stengers, a tolerância é uma maldição: “Uma maldição para quem pensa que é livre para redefinir, em seus próprios termos, a maneira pela qual o ‘outro’ habita este mundo, mesmo quando está disposto a tolerá-lo, mesmo quando se arrepende de sua própria inocência perdida. Pois a inocência desqualifica o outro, como aquele que ainda não conhece, aquele que ainda não sofreu a ‘grande divisão’ que nos forçou a reconhecer que um pássaro não é apenas um pássaro, e que os céus são indiferentes às nossas construções” (STENGERS, 2011, p. 310).
Alargar bordas 103 um potente chamado aos que não comungam dos mesmos saberes com a Morada a prestarem atenção às falas e às escutas, aos sujeitos que se fazem através delas e aos mundos possíveis que expressam. Mundos que compartilham conosco os corredores e salas das Universidades, mesmo quando não convidados, mas nem por isso levados a sério enquanto tais. O agoyê mojubá emerge como um convite para atentarmos às tolerâncias, e às aversões, que marcam os cotidianos universitários. Tal como Audre Lorde também convidou suas companheiras, ainda mobilizadas pelas ferramentas do senhor e da Casa Grande: “Rogo a cada uma de nós que mergulhe naquele lugar profundo de conhecimento que há dentro de si e chegue até o terror e a aversão a qualquer diferença que ali habite. Veja que rosto têm” (LORDE, 2019, p. 139). REFERÊNCIAS
FLORES, Luiza. Ocupar: composições e resistências kilombolas. Tese de Doutorado. Programa de Pós-