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Memórias Autobiográficas: Efeitos da Specificidade, Valência e Categoria em Adolescentes, Notas de estudo de Psicologia

Um estudo sobre as memórias autobiográficas de adolescentes e suas relações com a ideiação suicida, depressão e desesperança. O estudo inclui análises estatísticas de memórias específicas, categorias e valências, revelando tendências interessantes sobre a recuperação de memórias positivas e específicas em adolescentes com baixa média de ideiação suicida, depressão e desesperança.

O que você vai aprender

  • Como as memórias autobiográficas de adolescentes que sofreram traumas precoces diferem em especificidade e valência?
  • Quais são as diferenças na recuperação de memórias autobiográficas entre adolescentes com e sem sintomas de depressão?
  • Como as memórias autobiográficas de adolescentes influenciam a ideiação suicida, depressão e desesperança?

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Copacabana
Copacabana 🇧🇷

4.4

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Adolescência: Ideação Suicida, Depressão,
Desesperança e Memórias Autobiográficas
INÊS ALEXANDRA NABIÇA CARDOSO DA COSTA
Orientador de Dissertação:
PROFESSORA DOUTORA MARIA GOUVEIA-PEREIRA
Coordenador de Seminário de Dissertação:
PROFESSORA DOUTORA MARIA GOUVEIA-PEREIRA
Tese submetida como requisito parcial para a obtenção do grau de:
MESTRE EM PSICOLOGIA
Especialidade em Psicologia Clínica
2012
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Adolescência: Ideação Suicida, Depressão,

Desesperança e Memórias Autobiográficas

INÊS ALEXANDRA NABIÇA CARDOSO DA COSTA

Orientador de Dissertação: PROFESSORA DOUTORA MARIA GOUVEIA-PEREIRA

Coordenador de Seminário de Dissertação: PROFESSORA DOUTORA MARIA GOUVEIA-PEREIRA

Tese submetida como requisito parcial para a obtenção do grau de: MESTRE EM PSICOLOGIA Especialidade em Psicologia Clínica

2012

II

Dissertação de Mestrado realizada sob a orientação de Doutora Maria Gouveia Pereira, apresentada no ISPA – Instituto Universitário para obtenção de grau de Mestre na especialidade de Psicologia Clínica conforme o despacho da DGES, nº 19673 / 2006 publicado em Diário da República 2ª série de 26 de Setembro, 2006.

IV

NOME: Inês Alexandra Nabiça Cardoso da Costa Nº 14591

CURSO: Mestrado Integrado em Psicologia

ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO: Psicologia Clínica

ANO LECTIVO: 2011/

ORIENTADOR: Professora Doutora Maria Gouveia-Pereira

DATA: 3 de Dezembro de 2012

TÍTULO DA DISSERTAÇÃO: Adolescência: ideação suicida, depressão, desesperança e memórias autobiográficas

RESUMO

O nosso estudo procurou perceber se a depressão, a desesperança e a ideação suicida estavam correlacionadas e se o tipo de recordação de memórias autobiográficas para as palavras família , amigos e escola, ao nível da especificidade, valência e categorias, influencia as primeiras três variáveis. Para tal, foi aplicada uma tarefa de memórias autobiográficas onde era pedido para recordar três memórias referentes às palavras família , escola e amigos , a Escala de auto-avaliação da Depressão (DSRS), a Escala da Desesperança de Beck (BHS) e o questionário da ideação suicida (QIS). Os resultados sugeriram que a ideação suicida, a depressão e a desesperança estão positiva e fortemente correlacionadas. Sugeriram ainda que a recordação das memórias autobiográficas referentes às palavras família e amigos não influenciaram a ideação suicida, a depressão nem a desesperança. Para a recordação das memórias autobiográficas referentes à palavra escola, foi possível verificar que a variável categoria tem apenas um efeito principal na depressão. Embora os resultados referentes à especificidade e valência das memórias autobiográficas para as palavras família, amigos e escola não apresentassem diferenças estatisticamente significativas, foi possível verificar uma tendência de recuperação de memórias específicas e memórias

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positivas para adolescentes que apresentaram menor média de ideação suicida, depressão e desesperança.

Palavras-chave : Adolescência, Depressão, Desesperança, Ideação Suicida e Memórias Autobiográficas.

TÍTULO DA DISSERTAÇÃO EM INGLÊS: Adolescence: suicidal ideation, depression, hopelessness and autobiographical memories

ABSTRACT The aim of our study is to understand if depression, hopelessness and suicidal ideation were correlated and if the type of recall of autobiographical memories for the words family , friends and school , at the specificity, valence and categories, influences the first three variables. For that, we applied a task of autobiographical memories where was asked to recall three memories concerning the words family, school and friends, the Scale for self-rating Depression (DSRS), the Beck Hopelessness Scale (BHS) and the questionnaire of suicidal ideation (QIS). The results suggested that suicidal ideation, depression and hopelessness are positively and strongly correlated. They also suggested that the recall of autobiographical memories related to the words family and friends did not influence suicidal ideation, depression or hopelessness. To the recall of autobiographical memories related to the word school , we only found that the variable category has one main effect on depression. Although the results regarding the prevalence and specificity of autobiographical memories for the words family , friends and school did not show statistically significant differences, we found a trend toward recovery of specific memories and positive memories for adolescents who had lower average suicide ideation, depression and hopelessness.

Key-words: Adolescence, Depression, Hopelessness, Suicide Ideation and Autobiographical Memories.

VII

Tarefas de Memórias Autobiográficas Procedimento

CAPÍTULO IV – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS

RESULTADOS

Análise descritiva das variáveis mais relevantes Apresentação e discussão dos resultados relativos às hipóteses

CAPÍTULO V - CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANEXOS

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Distribuição dos sujeitos por idade e ano de escolaridade

Tabela 2: Distribuição dos sujeitos por idade e sexo

Tabela 3: Distribuição dos sujeitos por conhecimento de alguém que tenha cometido suicídio e sexo

Tabela 4: Análise descritiva das variáveis depressão, desesperança e ideação suicida.

Tabela 5: Diferença de médias entre sexo em relação à depressão, desesperança e ideação suicida

Tabela 6: diferença de média entre as ideias suicidas e tentativas de suicídio em reção a conhecer alguém que tenha cometido suicídio

Tabela 7: Percentagem da especificidade das memórias recordadas referentes

VIII

às palavra família, amigos ou escola

Tabela 8: Percentagem da valência das memórias recordadas para as palavras família, amigos ou escola

Tabela 9: Categorias encontradas nas memórias autobiográficas para a palavra família

Tabela 10: Categorias encontradas nas memórias autobiográficas para a palavra amigos

Tabela 11: Categorias encontradas nas memórias autobiográficas para a palavra escola

Tabela 12: Correlações de Pearson entre depressão, desesperança e ideação suicida

Tabela 13: Média da ideação suicida nos efeitos principais ao nível das memórias autobiográficas para a palavra família

Tabela 14: Média da depressão nos efeitos principais ao nível das memórias autobiográficas para a palavra família

Tabela 15: Média da desesperança nos efeitos principais ao nível das memórias autobiográficas para a palavra família

Tabela 16: Média da ideação suicida nos efeitos principais ao nível das memórias autobiográficas para a palavra amigos

Tabela 17: Média da depressão nos efeitos principais ao nível das memórias autobiográficas para a palavra amigos

Tabela 18: Média da desesperança nos efeitos principais ao nível das memórias autobiográficas para a palavra amigos

Tabela 19: Média da ideação suicida nos efeitos principais ao nível das memórias autobiográficas para a palavra escola

Tabela 20: Média da depressão nos efeitos principais ao nível das memórias autobiográficas para a palavra escola

Tabela 21: Média da desesperança nos efeitos principais ao nível das memórias autobiográficas para a palavra escola

X

Anexo 4.3: Resultados do teste T-Student para caracterização do sexo face à depressão, desesperança e ideação suicida

Anexo 4.4: Resultados do teste T-Student para caracterização dos sujeitos que conheceram alguém que tivesse cometido suicídio face às ideias suicidas e tentativas de suicídio

Anexo 4.5: Frequência da especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas recordadas para as palavras família, amigos e escola

Anexo 5: Análise estatística para testar a hipótese 1

Anexo 5.1: Correlações de Pearson para a ideação suicida, depressão e desesperança

Anexo 6: Análise estatística para testar a hipótese 2

Anexo 6.1: Anova Two-way para a especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas referentes à palavra família em função da Ideação Suicida

Anexo 6.2: Anova Two-way para a especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas referentes à palavra família em função depressão

Anexo 6.3: Anova Two-way para a especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas referentes à palavra família em função da desesperança

Anexo 7: Análise estatística para testar a hipótese 3

Anexo 7.1: Anova Two-way para a especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas referentes à palavra amigos em função da Ideação Suicida

Anexo 7.2: Anova Two-way para a especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas referentes à palavra amigos em função depressão

Anexo 7.3: Anova Two-way para a especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas referentes à palavra amigos em função da desesperança

Anexo 8: Análise estatística para testar a hipótese 4

XI

Anexo 8.1: Anova Two-way para a especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas referentes à palavra escola em função da Ideação Suicida Anexo 8.2: Anova Two-way para a especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas referentes à palavra escola em função depressão Anexo 8.3: Anova Two-way para a especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas referentes à palavra escola em função da desesperança Anexo 9: Exemplos das categorias das memórias recordadas para as palavras família, amigos e escola

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CAPÍTULO I

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Adolescência

A adolescência e as suas tarefas de desenvolvimento

Há uma criança e um eu mais crescido que coexistem e alternam de forma inesperada e imprevisível ” (Bradley, 2003, p.111)

Segundo Sampaio (1991), a adolescência é um período de desenvolvimento que tem o seu início na puberdade, com o aparecimento de alterações biológicas que principiam a maturação, prolongando-se até à idade adulta, onde é esperado um sistema de valores e crenças enquadrados numa identidade já estabelecida. De acordo com Laufer (2000), é durante esta fase que “ a pessoa procurará uma resposta – através de relações, através de experiências sociais e sexuais, através de esforços educativos e de trabalho – acerca do que é aceitável para a sua consciência e para os seus ideais (…).” (p. 72) A adolescência é, efetivamente, uma etapa da vida com características muito próprias, não se podendo exigir a um adolescente o mesmo que se exige a uma criança ou a um adulto. Nesta fase, a escola e a identificação com o grupo de pares ganham força, aumentando os conflitos com os pais e, consequentemente, as negociações familiares. Para que o jovem consiga fazer um movimento de autonomização, é necessário que consiga executar tarefas próprias da sua idade. Havighurst (1948, cit por Schoeppe e Havighurst, 1952), foi o primeiro autor a explicitar o conceito de tarefas de desenvolvimento com detalhe. Posteriormente, de forma a tornar este conhecimento mais prático, uma vez que até então baseava-se apenas em teoria, Schoeppe e Havighurst (1952) realizaram um estudo com o objetivo de verificar o desempenho de adolescentes na realização de 5 tarefas de desenvolvimento:

  • Aprender um papel sexual apropriado;
  • Atingir a independência emocional dos pais, bem como de outros adultos;
  • Desenvolver a consciência, a moralidade e um conjunto de outros valores;
  • Dar-se bem com os colegas da mesma idade;
  • Desenvolver capacidades intelectuais.

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Os resultados do referido estudo sugeriram que é maioritariamente a partir dos 13 anos de idade que os adolescentes começam a realizar as tarefas de desenvolvimento mencionadas, sendo o período dos 10 aos 13 anos fundamental para que comecem a ocorrer mudanças a nível pessoal e social. Os resultados sugerem também que uma relação satisfatória com os pares parece ser a tarefa mais importante na influência da realização das outras tarefas, seguindo-se a aprendizagem de um papel sexual apropriado, embora a realização desta última tarefa tenha tido uma variação superior às outras ao nível da idade, possivelmente devido à existência de questões fisiológicas que ultrapassam o controlo dos adolescentes. Constatou-se ainda que um bom desempenho na realização de uma tarefa foi associado a um bom desempenho na realização de outras tarefas. O estudo de Schoeppe e Havighurst (1952) aponta para a possibilidade de existência de três fatores básicos subjacentes às tarefas de desenvolvimento: Fator de base afetiva , onde se inserem as tarefas “aprender um papel sexual apropriado”, “atingir a independência” e “dar-se bem com os colegas da mesma idade”; Fator de base intelectual , onde se inserem as tarefas “desenvolver a consciência, a moralidade e um conjunto de outros valores” e “desenvolver capacidades intelectuais”; e Fator de base biológica (hormonal), onde apenas se insere a tarefa “aprender um papel sexual apropriado”.

Palmonari, Kirchler e Pombeni (1991) também se debruçaram sobre esta temática e nos estudos realizados em 1989, 1990, 1991, identificaram três tarefas de desenvolvimento na adolescência tardia:

- Tarefas relacionais , maioritariamente referentes a conflitos com os namorados ou melhores amigos, bem como ser traído por um amigo; - Problemas pessoais , referentes à solidão, ao isolamento social e à falta de valores de vida; - Problemas sócio-institucionais , referentes a atos ilegais de pequena dimensão, praticados nas escolas ou locais de trabalho. Por fim, De Wit, Van der Veer e Slot (1995, citado por Delgado e Do Vale, 2005), consideram as seguintes tarefas de desenvolvimento para um adolescente: - Relações dinâmicas no seio da família , o que implica fortalecer a relação com os pais e/ou irmãos, bem como tornar-se mais autónomo e fazer escolhas pessoais; - Educação ou profissão , relacionado com a capacidade de frequentar a escola ou uma profissão e fazer escolhas acerca do futuro;

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nas atividades que estão a realizar e, espaço para se afastar dos desejos e das aspirações familiares , começando a conquistar alguma autonomia (Dartington, 2003) De acordo com Powers, Hauser e Kilner (1989, citado por Petersen et al., 1993) a adolescência não é uma fase problemática, podendo o jovem manter relações próximas em simultâneo tanto com a família como com os amigos. Contudo, outros autores referem que o facto dos adolescentes passarem mais tempo com o grupo de pares, partilhando os seus pensamentos e intimidade, faz com que estes se afastem dos pais, acabando por existir divergências de crenças, atitudes e valores (Palmonari, Kirchler e Pombeni, 1991). Os conflitos que ocorrem com os pais nem sempre são pacíficos, querendo muitas vezes o jovem substituir os pais por figuras idealizadas, confrontando-os por exemplo com o facto dos pais dos colegas serem melhores do que eles, ou começando a idolatrar figuras públicas cujos valores são muito diferentes daqueles que os pais defendem (Rodrigues e Machado, 2002). Como nesta fase a identidade ainda se está a formar, para além da necessidade de mudança, também existe o medo de perder esses valores e crenças já adquiridos, podendo o jovem ser agressivo com os pais ou procurar a sua proteção e consolo (Gammer e Cabié, 1999). Como defesa contra esta perda de identidade que ocorre na adolescência, Erikson (1972) defende que os adolescentes constituem grupos do mesmo sexo, com pares que apresentam características semelhantes entre si (por exemplo ao nível dos gostos, dos ideais, da cultura e do vestuário), com o objetivo de projetar a sua imagem no outro e conseguirem verem a sua própria imagem refletida, tendo uma melhor perceção de si. Outra estratégia utilizada contra a perda de identidade, desta vez recorrendo a meios destrutivos, é o afastamento de grupos não semelhantes a si, sendo intolerantes e desadequados face à diferença. Halligan e Philips (2010) realizaram uma investigação com o objetivo de estudar a influência do grupo de pares com tendências de atribuição hostis, sugerindo os resultados uma correlação significativa entre os níveis de hostilidade dos adolescentes e os níveis de hostilidade do seu grupo de pares, ocorrendo especificamente quando a amizade é reciproca. Também Kiuru, Nurmi, Aunola e Salmela-Aro (2009), estudaram o papel dos grupos de pares na trajetória educacional dos adolescentes e concluíram que a trajetória educacional, no que respeita à transição para o ensino secundário ou para cursos profissionais foi semelhante entre os membros dos grupos de pares, tal como a orientação académica ao longo do curso (performance escolar, onde queriam ingressar e se efetivamente o fizeram).

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O que os rapazes e as raparigas procuram e esperam de um grupo geralmente não é consonante. Os rapazes tendem a procurar apoio na resolução de conflitos, principalmente com figuras de autoridade, enquanto que as raparigas preferem alguém confidente com quem seja possível partilhar questões intimas e conhecimento (Cole e Cole, 2004). De acordo com um estudo realizado por Newman, Lohman e Newman (2007), as raparigas relatam mais problemas referentes a questões internas, enquanto que os rapazes relataram mais problemas referentes a questões externas. Foi também encontrado um sentimento de pertença ao grupo superior nas raparigas que nos rapazes e o sentimento de pertença ao grupo foi negativamente associado a problemas referentes a questões internas ou externas. Foram ainda encontrados menos problemas de comportamento em adolescentes que consideraram como muito importante pertencer a um grupo e que tiveram um sentimento positivo de pertença ao grupo, do que em adolescentes que nas mesmas condições não tiveram um sentimento positivo de pertença ao grupo. Também num estudo realizado por Pinto (2010), os resultados sugeriram que as raparigas vivenciam a separação familiar mais harmoniosamente que os rapazes, envolvendo- se mais com o grupo de pares, tendo relações familiares protetoras e de suporte, enquanto que os rapazes apresentam maior tendência para a rejeição de regras e para ter comportamentos de risco. Para os adolescentes é fundamental que os pais aceitem o seu grupo de pares, pois sentem que as suas escolhas estão a ser respeitadas. Se o filho sentir que os pais confiam nele, a autonomia é promovida, conseguindo o filho investir no grupo de pares sem grandes medos. Pode então começar a ter “ensaios exploratórios” e tomar decisões de forma protegida, ficando a relação familiar salvaguardada. Nesta fase, os pais devem optar por centrar-se mais em temas neutros ou atividades lúdicas na relação com o filho. (Pinto, 2010) Palmonari, Kirchler e Pombeni (1991) realizaram um estudo com o objetivo de perceber a influência da identificação com a família e com o grupo de pares, na realização das tarefas de desenvolvimento dos adolescentes. Os resultados sugerem que os adolescentes que se identificaram com a família e com o grupo de pares, estão mais aptos para se autonomizar e fazer a transição da adolescência para a fase adulta do que aqueles que só se identificaram ou com a família ou com o grupo de pares. Embora nesta idade o jovem tenda a esconder algumas experiencias dos pais, como por exemplo experimentar drogas, dar o primeiro beijo ou ter a primeira relação sexual, se este precisar de ajuda ou se a situação o afligir, tende a dar sinais aos adultos, ainda que de forma inconsciente (Rodrigues e Machado, 2002).

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A tríade cognitiva debruça-se sobre três padrões cognitivos:

  1. a forma como a pessoa se perceciona : o sujeito deprimido tem uma visão negativa acerca de si próprio, vendo-se como uma pessoa sem valor, não digna, não adequada e com defeitos. Atribui as experiências mal sucedidas a si próprio e acha que as características que lhe faltam são essenciais para ser feliz;
  2. a forma como perceciona as suas vivências : o sujeito vê o mundo de forma enviesada e interpreta as suas experiências de forma negativa. Acha que as tarefas que lhe são pedidas são demasiado exigentes e impossíveis de realizar, ficando impossibilitado de atingir os seus objetivos;
  3. a forma como perceciona o futuro : o sujeito antecipa o futuro de forma negativa, visualizando apenas dificuldades, frustrações e privações. Perante a realização de uma tarefa espera falhar e acha que a sua condição atual não vai melhorar.

Os esquemas , definidos como “padrões cognitivos relativamente estáveis que formam a base para a regularidade das interpretações de um conjunto particular de situações” (p.203), são criados através do agrupamento de estímulos específicos selecionados de uma situação, de forma a conceptualiza-la. Assim, quando a pessoa vivencia uma situação, o esquema dessa situação é ativado e faz com que a pessoa dê uma resposta coerente nas diversas situações de acordo com esse estímulo. Estes padrões são diferentes de pessoa para pessoa, consoante o detalhe a que foi dada importância. À medida que a depressão se vai agravando, mais dificilmente o sujeito vê a sua interpretação da situação como um erro. Por exemplo, se uma pessoa não se achar competente, ela irá validar o esquema “a menos que eu faça tudo perfeito, eu sou um falhado” (p.203). Este tipo de esquemas erróneos que ocorrem na depressão, levam a que a pessoa distorça a realidade.

Por último, os erros cognitivos prendem-se com a inferência arbitrária, abstração seletiva, sobregeneralização, maximização ou minimização e personalização, conceitos que definiremos adiante quando abordarmos a ideação suicida.

Atualmente sabemos que as causas para a depressão são diversas e, que antes da puberdade a prevalência da depressão aumenta de 1% para 3% e na fase da adolescência aumenta de 3% para 9% (Josephson, 2007.)

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Segundo Laufer, M. E. (2000), para abordarmos o tema da depressão na adolescência é necessário ter em consideração os desafios que esta nova fase apresenta para os jovens e as tensões que naturalmente lhes estão subjacentes. Deve-se então distinguir a depressão que ocorre pontualmente daquela que persiste no tempo. A primeira diz respeito às consequências das crises ditas normais da adolescência, que podem ser referentes a problemas de relacionamento com os pais ou com a escola, com sentimentos de rejeição social, com insatisfação face à aparência, entre outros. A segunda afeta o normal funcionamento do adolescente, levando-o a um estado de desesperança que o impede de lutar. Este sentimento prolongado de tristeza interfere geralmente nos ciclos de sono, nos hábitos alimentares, na auto-estima e nas relações sociais, provocando fadiga, dificuldades de concentração e tomada de decisões, baixo rendimento escolar e isolamento social. Durante a fase da adolescência, os sintomas referentes à depressão podem também manifestar-se através da irritação, ao invés da tristeza (Acosta-Hernández et al., 2011). Sabe-se que a depressão Major é a principal causa do comportamento suicida em adolescentes, tendo os adolescentes pensamentos sobre a morte e o suicídio, assumindo, entre outros, que os outros ficariam mais felizes se ele não estivesse vivo. Embora não seja possível prever se um adolescente vai suicidar-se, sabe-se que as pessoas que estão em menor risco de suicídio são aquelas que pensam nesta questão uma ou duas vezes por semana, enquanto que as que estão em maior risco são aquelas que já adquiriram os materiais para cometer o ato suicida (Acosta-Hernández et al., 2011).

A depressão não tem origem numa só causa mas sim em diversos fatores que aumentam a probabilidade da sua ocorrência, entre eles destacamos: fatores genéticos e biológicos - ser filho de pais que sofrem de depressão ou entrar na puberdade mais tardiamente; fatores psicológicos - imagem corporal negativa, baixa auto-estima ou problemas de ansiedade; fatores referente aos pares - baixa popularidade, experiências de rejeição, contacto reduzido com os amigos ou mesmo não haver proximidade com um melhor amigo; e fatores familiares - indisponibilidade emocional dos pais, relações disfuncionais entre pais e filhos, falta de coesão familiar, conflito conjugal, dificuldades financeiras e divórcio dos pais. O stress a que os adolescentes estão sujeitos diariamente ou em acontecimentos específicos é outro fator que aumenta o risco de depressão (Petersen et al., 1993). Cardoso, Rodrigues e Vilar (2004) realizaram um estudo com o objetivo de caracterizar a população adolescente em função de determinadas variáveis associadas aos sintomas depressivos. 11% dos jovens evidenciaram sintomas depressivos, tendo estes