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História Evolutiva dos Nomes dos Dias da Semana e da Preposição 'A' em Português, Notas de aula de Latim

Uma análise histórica dos nomes dos dias da semana em português, observando a construção em que eles são introduzidos por preposições selecionadas. O texto compara o uso dos dias da semana em diferentes séculos, especialmente em obras literárias portuguesas, e analisa a hipótese de que o artigo possui um forte valor 'aspectual'. Além disso, o documento discute as origens dos nomes dos dias da semana e as influências árabes e litúrgicas na nomenclatura. O estudo também inclui uma parte didática que visa apresentar as construções com os nomes dos dias da semana e a preposição 'a' em português contemporâneo.

Tipologia: Notas de aula

2022

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ABORDAGEM HISTÓRICA DOS NOMES DOS DIAS DA SEMANA
(ANÁLISE SINTÁCTICO-SEMÁNTICA)
Mgr.Iva Svobodová, PhD.
Universidade de Masaryk, Brno, República Checa
1. Descrição do contexto de investigação
O trabalho que aqui apresento, insere-se num projecto de investigação, em curso desde 2001, que visa
desenvolver um modelo de análise de, por um lado, valores canónicos e constantes do artigo, mas por outro,
dos valores aderentes que consistem na sua variabilidade estilístico-pragmática (Svobodová 2006,2007,
2009,2010). Trata-se de uma investigação lingitudinal que consiste numa observação detalhada e atenta de
diversas construções (Det.+Nome) que, por um lado, são consagradas pelo uso, mas, por outro lado, não são
formalizadas nem observadas pelas gramáticas da língua portuguesa. A finalidade desta investigação a longo
prazo é, sobretudo, (mas não apenas) didáctica, sendo que as gramáticas e os manuais da língua portuguesa
acessíveis limitam-se aos processos de determinação e não se ocupam da problemática do uso do artigo do
ponto de vista estilístico. (com a excepção de NEVES:2003).
2. Objectivo da presente investigação
O propósito do presente trabalho será, além do didáctico, também (e principalmente) traçar a evolução
histórica dos nomes dos dias da semana e observar as construções em que os nomes dos dias da semana são
introduzidos por preposições seleccionadas, formando ou não crase com o artigo. Observaremos o uso dos
dias da semana em diferentes séculos (nos textos de obras literárias de autoria portuguesa, acessíveis no
corporas Linguateca-Vercial e Corpus do Português) e compará-los-emos com o modo de uso em português
contemporâneo. A parte didáctica do nosso estudo terá como objectivo apresentar, sobretudo, a nossa hipótese
de o artigo possuir, no sintagma preposicional, um forte valor „aspectual“, o qual será comprovado tanto
frases tiradas dos corpora, como também por uma série de provérbios em que entram os nomes dos dias,
porque estes melhor nos documentam o carácter geral, universal e implicitamente reiterativo do artigo.
3. Descrição de metodologia aplicada
A investigação terá um percurso interdisciplinar uma vez que aproveitámos as fontes de linguística
computacional, histórica, sintática e semântica.
Focalizaremos aquelas construções onde o nome do dia da semana é introduzido pelas preposições
„EM“ ou „A“ que normalmente „seleccionam“ o artigo (sendo que as que não usam o artigo fazem parte de
uma outra investigação1). Em ambos os casos tentaremos analisar os diferentes valores aspectuais do artigo
em diferentes séculos. Partiremos principalmente da oposição dicotómica: aspecto pontual versus reiterativo:
Compare-se, para já, os dois seguintes casos:
1. a) Na segunda-feira estava a ler o livro, quando alguém bateu a porta.
b) Na segunda-feira choveu.
2. À segunda-feira vou ao cinema.
No primeiro caso (1a, 1b), o sintagma preposicional tem o valor aspectual pontual (b) ou durativo (a),
enquanto que no segundo caso (2) tem, evidentemente, o valor aspectual reiterativo (que, como veremos
adiante, nos textos antigos não tinha).
1 Os resultados da investigação do uso do artigo com outras preposições já foram apresentados no Nono Congresso
Alemão de Lusitanistas, na Unviersidade de Viena, em Setembro de 2011. Serão também publicados, em 2012, em Actas
do Nono Congresso Alemão de Lustitanistas.
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ABORDAGEM HISTÓRICA DOS NOMES DOS DIAS DA SEMANA

(ANÁLISE SINTÁCTICO-SEMÁNTICA)

Mgr.Iva Svobodová, PhD. Universidade de Masaryk, Brno, República Checa

1. Descrição do contexto de investigação O trabalho que aqui apresento, insere-se num projecto de investigação, em curso desde 2001, que visa desenvolver um modelo de análise de, por um lado, valores canónicos e constantes do artigo, mas por outro, dos valores aderentes que consistem na sua variabilidade estilístico-pragmática (Svobodová 2006,2007, 2009,2010). Trata-se de uma investigação lingitudinal que consiste numa observação detalhada e atenta de diversas construções (Det.+Nome) que, por um lado, são consagradas pelo uso, mas, por outro lado, não são formalizadas nem observadas pelas gramáticas da língua portuguesa. A finalidade desta investigação a longo prazo é, sobretudo, (mas não apenas) didáctica, sendo que as gramáticas e os manuais da língua portuguesa acessíveis limitam-se aos processos de determinação e não se ocupam da problemática do uso do artigo do ponto de vista estilístico. (com a excepção de NEVES:2003). 2. Objectivo da presente investigação O propósito do presente trabalho será, além do didáctico, também (e principalmente) traçar a evolução histórica dos nomes dos dias da semana e observar as construções em que os nomes dos dias da semana são introduzidos por preposições seleccionadas, formando ou não crase com o artigo. Observaremos o uso dos dias da semana em diferentes séculos (nos textos de obras literárias de autoria portuguesa, acessíveis no corporas Linguateca-Vercial e Corpus do Português) e compará-los-emos com o modo de uso em português contemporâneo. A parte didáctica do nosso estudo terá como objectivo apresentar, sobretudo, a nossa hipótese de o artigo possuir, no sintagma preposicional, um forte valor „aspectual“, o qual será comprovado tanto frases tiradas dos corpora, como também por uma série de provérbios em que entram os nomes dos dias, porque estes melhor nos documentam o carácter geral, universal e implicitamente reiterativo do artigo. 3. Descrição de metodologia aplicada A investigação terá um percurso interdisciplinar uma vez que aproveitámos as fontes de linguística computacional, histórica, sintática e semântica. Focalizaremos aquelas construções onde o nome do dia da semana é introduzido pelas preposições „EM“ ou „A“ que normalmente „seleccionam“ o artigo (sendo que as que não usam o artigo fazem parte de uma outra investigação^1 ). Em ambos os casos tentaremos analisar os diferentes valores aspectuais do artigo em diferentes séculos. Partiremos principalmente da oposição dicotómica: aspecto pontual versus reiterativo: Compare-se, para já, os dois seguintes casos:

  1. a) Na segunda-feira estava a ler o livro, quando alguém bateu a porta. b) Na segunda-feira choveu.
  2. À segunda-feira vou ao cinema.

No primeiro caso (1a, 1b), o sintagma preposicional tem o valor aspectual pontual (b) ou durativo (a), enquanto que no segundo caso (2) tem, evidentemente, o valor aspectual reiterativo (que, como veremos adiante, nos textos antigos não tinha).

(^1) Os resultados da investigação do uso do artigo com outras preposições já foram apresentados no Nono Congresso

Alemão de Lusitanistas, na Unviersidade de Viena, em Setembro de 2011. Serão também publicados, em 2012, em Actas do Nono Congresso Alemão de Lustitanistas.

No nosso estudo incluiremos frases de textos literários acessíveis nos corporas mencionados, mas também, como já foi dito, utilizámos os provérbios em que entram os dias da semana. Opinamos que os resultados da investigação serão importantes também para o ensino do uso da preposição com os nomes dos dias da semana em português contemporâneo e que completarão, significativamente o método didáctico e o ensino desatas construções.

4. Abordagem histórica do conceito „septimana“ A palavra „septimana“ é, evidentemente, de origem latina, e foi introduzida pelo latim eclesiástico nos fins do século IV. O significado da palavra „septimanus, -a. - um“ era „marcado pelo número 7“, à palavra „septimaní(septimanorum)“ associou-se o significado de soldados da séptima legia, a palavra „septimana,-ae, f.“ recebeu o significado da semana (Latinsko-český slovník, 1955: pg.454). Não obstante, a origem do conceito da semana era a palavra grega ecleciástica „hebdomas“ , semanticamente relacionada com o período de 7 dias, meses e anos. (Bechara in Bastos : 2004, pg.15), facto que pode ser explicado pela necessidade das civilizações de „contar o tempo em intervalos maiores a um dia, para poder marcar a periodicidade de eventos religiosos e acontecimentos religiosos. O dia que separava as semanas era o dia de atos religiosos e transações comerciais“ (ibidem: pg.18). Bechara salientou que a palavra „hebdomas“ só no século XIV tinha sido substituída pelo seu equivalente latino „semana“(ibidem.18). O sistema de 7 dias foi desenvolvido pelos caldeus^2 , mas também foi conhecido pelos Hebreus que iniciavam a semana (hebdomas, domaa, doma) pelo dia de descanso designado – sabbato^3. Com a chegada dos novos cristãos, o dia de descanso foi mudado para o Domingo, facto que se deve ao Papa Vítor I que em 189 d.C. assim decidiu em homenagem à ressurreição de Cristo. Esta decisão foi reconfirmada em 325 d.C, no Primeiro Concílio de Niceia, onde, ao mesmo tempo, foi mudado o nome de Solis Dies^4 para Dominica Dies^5 (hoje domingo), que era o primeiro dia da semana (“Prima Feria”), em que os novos cristãos se uniam em missas e nos mercados. (ibidem: 18) Os nomes dos outros dias da semana, de origem pagã (caldeia), foram substituídos devido à proposta do Papa Silvestre feita no século IV, que propôs utilizar para a designação dos dias da semana (que não eram especiais) o modelo ordinal + feira. Como este modelo numérico é idêntico ao modelo árabe, existem discussões extensas sobre a origem árabe da nomenclatura dos dias da semana em português, como testemunha „Os Nomes dos dias da semana em português“, cujo autor, Manuel de Paiva Boléo. se opõe a Wilhelm Giese, que afirma que os nomes dos dias da semana que não existem nas outras línguas româncias, „não resultam de o povo português ser mais católico que o espanhol, francês ou italiano“ mas sim de ter sido a língua portuguesa influenciada pelo sistema enumerativo usado pelos mouros que chamavam à segunda-feira „dia dois“, à terça „dia três, etc. Para essa influência teria contribuído o facto de a língua portuguesa se ter formado num centro, Lisboa, situado mais ao sul do que os centros de formação das outras línguas.“ (Boléo: 5-6). W.Giese defende a sua convicção com o argumento de que muitas expressões populares correntes em

(^2) Os caldeus eram chamados também neobabilônios e originalmente viviam ao sul da Babiônia. O sistema de 7 dias, por

eles desenvolvido, relacionava-se com a ordem das 7 „esferas ptolomaicas“ determinadas pelas distâncias que os planetas então conhecidos (Júpiter, Saturno, Marte, Sol, Vénus, Mercúrio e Lua) guardavam da Terra. Os dias receberam o nome do planeta que presidia a determinada hora: Saturni, Solis, Lunae, Martis Miércuri, Iovis, Veneris diae. – esta nomenclatura dos caldeus foi aceita pelo Império Romano, que pôs de lado um complicado sistema das nonas, dos idos, e das calendas. (^3) No hebraico sabbat = repouso. No Vulgata também foi usado no sentido de „semana“. De acordo com a Gênese o

sabbat (shabbat) era o dia de descanso do Senhor, antecedido pelos seis dias da Criação. No dia chamado “shabbat” os judeus uniam-se nas missas. Hoje, o sábado é o último dia de seu calendário semanal.. Os hebreus de Roma denominavam dies Solis por „una (prima) sabbati“ e outros dias eram denominados secunda sabbati - sexta sabbati. Para sexta sabbati existiam mais duas variantes que queriam dizer vigílio do sábado: a palavra grega „parasceve“ e a palavra sarda „kenápura“, esta usada pelos hebreus e africanos exilados na Sardenha. (^4) Solis diaes significa Dia do Sol - forma como os pagãos se referiam ao domingo. (^5) Dominica Dies significa Dia do Senhor e evoluiu para Dominus Dei que deu a origem à palavra domingo.

feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira), caso único entre as línguas românicas^8 , dado ter sido a

única a substituir inteiramente a terminologia pagã pela terminologia cristã. (www.wikipedie.com).

Exitem afirmações relativas ao não uso dos nomes pagãos nos documentos redigidos em

português (i.e. textos editados a partir do século XII), que dizem que “não há qualquer vestígio da

designação romana pagã dos dias da semana nos textos mais antigos redigidos em português”

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Martinho_de_Braga)^9 , ou que „não há notícia, em documentos, de se

haverem empregado algum dia nomes pagãos cosrrepondentes“ (Bóleo: 21).

Um dos objectivos do presente estudo foi verificar a validade absoluta das afirmações

citadas, nos corpus Linguateca- Vercial^10 e no Corpus do Português. Curiosamente, encontrámos

casos de uso dos dias pagãos nas obras literárias, mas não conseguimos integrar, em nossa análise,

explicações pormenorizadas das circunstâncias em que foram utilizadas. É possível, que por

exemplo, na época de Renascimento, os literatos conhecessem a nomenclatura romana e que fossem

usados pelos literatos por razões desconhecidas. Estas ocorrências, não obstante, não nos permitem

tirar conclusões definitivas quanto ao uso no português antigo.

Por mais esporádicos que sejam os casos de uso destes notes pagãos, consideramos

interessante exemplificá-los com trechos concretos. Relembre-se que as tradições pagãs se

reflectiram nos provérbios com os nomes dos dias da semana, sendo os que tinham na sua origem

pagã „r“, considerados dias de mal azar (Mercurii, Veneris) (veja-se mais adiante – capítulo 8).^11

Exemplos dos corpus http://www.linguateca.pt/CETEMPublico/ :

[Braga, Teófilo, „O Povo Português nos seus Costumes, Crenças e Tradições, 1885“] Basta lembrar que o deus Marte, consagrado na terça-feira (Dia martes, no Canc.) e dos lunes ao martes foy commendador d ’ Ocres.

Exemplos do corpus www.corpusdoportuguês.org:

Lues: Neste corpus, encontrámos, na obra de „A Demanda do Santo Graal, na cópia do século XV“, um uso frequente de lues/lunes. Encontrámos 12 frequências de lues e 6 de lunes, número então mais alto, comparativamente com segunda-feira no século XVIII (8 ocorrências).

Deus e andarom aquele dia e outro sem aventura achar. Assi que ûû dia lunes lhes aveo, de manhãã, que chagarom a ûa cruz que se partia em…

poserom em sa seeda e contarom em qual guisa o matara Galvam. ûû dia lunes chegarom dous cavaleiros a Camaalot que levavam o corpo de Erec. E iam com … [A Demanda do Santo Graal (cópia do século XV).]

(^8) Com a excepção do galego, onde existem na língua oficial designações "luns, martes, mércores, xoves, vernes, Sábado

e Domingo", mas onde também se admite a forma portuguesa: "segunda, terça, quarta, quinta, sexta, Sâbado e Domingo". Lugrís Freire na Gramática do Idioma Galego, A Coruňa, 1931 menciona apenas as formas: carta e sesta feira. (^9) Martinho tentou também substituir os nomes dos planetas, mas aí já não foi tão bem sucedido. (^10) O corpo Vercial contém 309 obras literárias de 55 autores portugueses, digitalizadas pelo projecto Vercial, cujas datas

de publicação variam desde 1500 ( Carta a El-rei Dom Manuel Sobre o Achamento do Brasil , de Pero Vaz de Caminha) a 1933 ( Memórias III , de Raul Brandão). (^11) O que nos chamou atencão durante o estágio em Portugal, foi a tradição de que só nos meses que não tem „r“ pode ser

comido o peixe, i.e.em Maio, Junho, Julho e Agosto).

Martis/Martes:

Na obra „Cartas porguguesas de D.Jõao de Portel (1295-1320) verificámos uma maior frequência do

uso dos nomes pagãos pelo autor, D.Jõao de Portel, que usou, além de Martis e Lues, também

Mercurii, [Cartas portuguesas de D. João de Portel(1295-1320) D. João de Portel]

E depos morte de uós ambos, assi como de suso dito é, os dauãdictos logares que a uós damos fiquem liures e quites e in paz, cu quanto b? e cu quanto acrecentamento uós y fezerdes, a nós e a nossa Ordim. E por este nosso feyto seer maes firme e maes stauil in todos uossos dias, assi como de suso dito é, damos a uós, sobredictos dõ Joã Perez d'Avoyn e a uossa muller, dõna Maria Afonso, esta nossa carta seelada de nossos seelos. Ffeyta en Merida, en nosso Cabidoo g?eral, Martes, XX dias andados de Março, da era de mil e CCCº e sex anos. Esta é a carta in como dõ Johan e sa moller r?dou a Steuã Perez o herdamento de Torres. Conuçuda cousa seia a todolos que esta carta uir? que eu, dõ Johan Perez d'Avoym, moordomo d'el rej de Portugal, ensenbra cõ ma moller, dõna Maria Afonso, rendamos a uós, Steuã Perez, almoxarife de Torres Nouas, en uida de nós anbos e de cada uu de nós, todolos herdamentos

Para completar esta problemática, relembremos o trabalho de João Pedro Ribeiro que fez uma investigação dos dias dos nomes pagãos nos documentos do português antigo. Encontrou casos esporádicos do uso dos nomes pagãos que citamos adiante:

Anno 1455, Indicç.3. anno 3º do Pontific.de Calist.III, die Mercurii a 25 de Junho. [Afonso Gonçalves, notário público por auotridade régio, procuração de D.Afonoso V]

1420, Indict.3ª, die Martis, 28 mensis Maii [Martim Lobo, Cartório do Mosteiro de Sto. Tirso]

Concorde-se com J.P.Ribeiro que afirma que os casos deste uso são tão esporádicos que “antes de os aceitarmos, seria necessário primeiro estudar de perto as circustâncias em que foram empregadas as designações pagãos. Quanto ao castelhano, ainda nos textos do século XI^12 foram encontrados casos dos nomes dos dias da semana litúrgicos (Boleo:18). Não obstante, estes não passaram a ser adoptados pelos castelhanos.

7. Análise sintáctico-semântica e histórica Outro objectivo da presente investigação foi, observar a evolução de determinadas construções Prep.(a)+Det.(a)+Nome, e compará-lo com as construções usadas actualmente (com a ajuda dos corpus: CETEM Publico – Linguateca, Corpus do Português). Devido à extensão limitada do nosso trabalho, reduzimos a análise às preposições em e a , as quais, segundo a nossa opinião, no caso dos dias da semana,melhor representam a oposição dicotómica do aspecto pontual x reiterativo, e que, curiosamente, nos textos antigos, foram usados de um modo levemente diferente do que é o costume hoje em dia. a) encontrámos (por menos regular que seja) a forma não crática no sintagma preposicional: SPrep.( em)+ Det .(uma)+ N_._ , na função do oblíquo adjunto. Embora não se trate de uma expressão prevalente no casos dos dias de sábado e domingo (usados mais frequentemente na forma crática), o corpora Vercial revelou-nos casos de uso bastante equilibrado de ambas as formas (crática e não crática) com os outros dias,

(^12) O sistema enumerativo usou-se também em Espanha,mesmo na parte setentrional, pelos menos durante a primeira

metade d século XII .III.feira, sexta feria, IIIa feria, Prima feira. Segundo Bóleo, é impossível estabelecer com segurança até quando se usava o sistema enumerativo em Espanha, sendo que raras vezes vem indicado nos documentos antigos escritos o dia da semana (Boleo percorreu 290 documentos e só em 19 aparece essea indicação).

Aspecto pontual [par=ext928655-pol-95b-2]:: Reunido excepcionalmente a uma quarta-feira -- o primeiro-ministro assiste hoje a exercícios das tropas portuguesas que vão para a Bósnia --, o Conselho de Ministros aprovou ontem as seguintes medidas :

d) Um caso ainda mais curioso foi o uso do Sprep.(a)+Det (+o/a)+N, no sentido pontual. Esta construção no valor pontual apareceu ainda nos textos do século XV - XVI, por exemplo, nas peças do teatro de Gil Vicente e na Carta a El-rei Dom Manuel Sobre o Achamento do Brasil (1500). É pouco provável que se continue a usar no sentido pontual nos textos modernos da língua portuguesa contemporânea. Este uso já não o encotrámos nos textos posteriores a Carta a El-rei Dom Manuel.

[id=«Carta a El-rei Dom Manuel Sobre o Achamento do Brasil Prosa PVC=1500»]:: E a noute seguinte, à segunda-feira , quando lhe amanheceu, se perdeu da frota Vasco d'Ataíde, com a sua nau, sem aí haver tempo forte nem contrairo para poder ser.

[id=«Auto da Índia Teatro GV=1509»]: Foi isso à quarta-feira, aquela logo primeira?

Não encontrámos este caso no português moderno, embora haja dúvidas face ao uso regional e dialectológico desta construção no sentido pontual. Mas opine-se que estas construções não são prevalentes, sendo já nos textos antigos mais frequente o seu uso no sentido reiterativo, o que coincide com o uso actual. Na investigação sincrónica revelámos um uso equilibrado entre a expressão em singular (ao domingo) e a expressão intensificada, i.e. através do plural ( aos domingos).

8. O uso aspectual do sintagma preposicional nos provérbios com os dias da semana Para finalizar o trabalho, achamos interessante apresentar a lista dos provérbios que nos testemunham dois factos muito importantes: primeiro, o uso prevalente dos sintagmas preposicioais /a+o/ /a+a/ no aspecto

reiterativo, segundo, uma evidente influência das tradições pagãos na formação dos provérbios. Muitos

provérbios portugueses, apesar de serem relacionados com a tradição judaico-cristã no modo como é visto o trabalho, o respeito pelos dias de descanso e o calendário religioso, foram influenciados justamente pelas tradições pagãs. Por exemplo, os dias que nos seus equivalentes pagãos continham „r“ eram considerados dias de mal azar. Não raramente aparecem nos provérbios os dias da terça e sexta-feira (Mercurii, Veneris). No povo português(na tradição oral) existem superstições de que so nos mes sem „r“ se pode comer peixe. 13 À continuação, enumeramos a lista dos provérbios encontrados, ordenados segundo o tipo de construção. a) Aspecto reiterativo: Sprep.(a) +Det.(a,o) À quarta-feira nem cases a filha,nem urdas a teia, nem partas em navio para terra alheia.

(^13) A sexta-feira é normalmente relacionada com a Paixão de Cristo. Nos provérbios é considerada, portanto, como

um dia de luto, tristeza, dor, e um dia “santo”, isto é de forte simbolismo e conotação religiosa. Sexta-feira era dia de oração, de jejum, de abstinência corporal e sexual, de trabalhos leves. Não se cortava o cabelo, por exemplo. Outros dias da semana, apesar do forte enraizamento da tradição cristã, seguiam a tradição pagã, nomeadamente romana, e do relacionamento com os deuses que representavam. Assim, havia actividades que não se realizavam num dia por que não era “favorável”, mas noutro, de acordo com o deus tutelar desse dia. Assim, nos provérbios portugueses há inúmeras referências culturais e etnográficas que se relacionam com religião, calendários solares, agrícolas e religiosos, a “sabedoria popular” que era baseada na observação/interpretação dos fenómenos naturais e dos acontecimentos quotidianos.

Comido o Natal à segunda-feira tem o lavrador que alugar a eira. 14 Quem a semana bem parece, ao domingo aborrece. 15 Quem promete à quarta e vem à quinta, nao faz falta que se sinta. 16 Natal à sexta-feira por onde puderes semeia; domingo vende bois e compra trigo. 17 Talvez chore ao domingo o que ri à sexta-feira. 18

b)Aspecto reiterativo (intensificado pelo plural) Sprep.(a) +Det.(as) Às terças e sextas-feiras, não cases as filhas nem urdes a teia.^19

c) Outras construções: Não há domingo sem missa, nem segunda sem premissa.Não há sábado sem sol, nem domingo sem missa, nem segunda sem preguiça.^20 Sexta-feira treze dá azar. 21 Obra de sábado nunca acaba. Chuva de sábado nunca acaba.^22 Ter cara de sexta-feira Santa. 23 Quem quer couves aos braçados cava-as todos os sábados.^24 Sábados a chover e bébados a beber, ninguém os pode vencer.^25

(^14) Este provérbio relaciona-se com o calendário lunar e agrícola. Faz parte do grupo de adivinhação meteorológica e

agrícola. Significa que as colheitas não vão ser boas nesse ano agrícola, e que o lavrador pode alugar a eira pois não vai precisar dela a tempo inteiro. (^15) Parafraseando o provérbio diria que quem anda bem vestido todos os dias da semana, ao domingo já não traz novidade

o que nos pode parecer desinteresse. Isto relacionava-se com a circunstância de as pessoas andarem com roupa de trabalho durante a semana e vestirem a melhor roupa ao domingo, para se exibirem, para mostrar o que era novo. Está implícita uma ideia de mudança, de renovação. (^16) Quem chega tarde já não faz falta. Dizia-se dos trabalhadores que “prometiam”, isto é, acordavam com o empregador

uma data para trabalhar e depois não cumpriam. (^17) É mais uma adivinhação meteorológica e agrícola. Se o Natal for à sexta-feira o ano agrícola será bom. Se for ao

domingo será mau ao ponto de ter que vender os bois, pois serão inúteis e será necessário alimentá-los. Será necessário comprar trigo porque será escasso nesse ano. (^18) Aqui trata-se de uma inversão de humores. Sexta-feira deve ser um dia de tristeza e recolhimento (Paixão e a morte de

Cristo) e Domingo um dia de alegria (ressurreição de Cristo). O provérbio remete para a inversão de valores e posturas do objecto e para a desconexão: o normal seria chorar à sexta e rir ao domingo. Levanta-se a dúvida sobre a adequação dos comportamentos. (^19) Na tradição romana, os dias da semana que tinham “r” (Marte, Mercurio e Vénus/Veneris) eram de pouca sorte (3ª, 4ª e

6ª). Quem nascesse em dia de Marte (3ª feira) morria de “má morte”. Eram também desaconselhados os negócios, como por exemplo, casar a filha. (^20) Estes dois provérbios são afirmações tidas como certas. Usa-se quando a circunstância é evidente, inevitável. (^21) O número 13 desde a Antiguidade que é considerado azarento. O mesmo para sexta-feira, dia de Venus/veneris. Daí

que juntar os dois azares, é azar a mais. Sexta–feira é também na tradição popular o dia das bruxas.. (^22) Quando chove a um sábado, a chuva é abundante e parece que nunca acaba. Este provérbio contradiz o que afirma que

“não há sábado sem sol…”. (^23) Andar triste e pesaroso (dia da paixão e morte de Cristo). Expressão derivada da religião cristã. (^24) O original é “cuia” e não “ceia”. Cuia é uma bacia redonda e funda onde se amassava o pão. É mais um provérbio de

raiz religiosa. Significa o fim do jejum da Quaresma (o Ramadão dos cristãos), período onde era proibido comer carne. Este período começa no Carnaval (Carne vale – adeus à carne). Sábado de Aleluia é o dia antes da Páscoa, que é a festa da Ressurreição de Cristo. Logo, é dia de preparar o fim da Quaresma e fazer a festa da Páscoa com carne e pão. (^25) A característica comum a estes exemplos é a quantidade. Quando chove ao sábado, chove muito. Veja-se o outro

provérbio: quando os bêbedos bebem, bebem muito. Está implícita uma comparação quantitativa e a constatação de duas realidades que não se podem mudar.

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