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Percy Jackson e a Mitologia Grega: Despertando o Interesse da Juventude, Notas de estudo de Literatura

A saga percy jackson como um gatilho para o desenvolvimento de futuros leitores. O autor argumenta que a mistura de mitologia grega clássica com temas atuais despertará o interesse da juventude, expandindo seus horizontes para novas possibilidades de leitura e conhecimento. O texto discute a importância de criar leitores ativos e a importância de selecionar bons livros para serem utilizados em sala de aula.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Neilson89
Neilson89 🇧🇷

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Uma viagem pelo Olimpo no século XXI – A saga Percy Jackson e a mitologia grega
fascinando jovens leitores
Lidiana de Moraes (Mestranda Letras / PUCRS)
Resumo: Não é possível contar apenas com o que é ensinado em sala de aula para formar novos leitores. Depois
da lucrativa franquia Harry Potter não faltam obras nas livrarias capazes de captar a atenção dos jovens
consumidores com histórias fantásticas e, ao mesmo tempo, complexas, prontas para saírem das páginas dos
livros e ganhar as telas de cinema. Um exemplo desse filão literário é a saga Percy Jackson. O personagem
criado por Rick Riordan não é apenas mais um herói pré-adolescente com quem crianças e adolescentes podem
se identificar. O diferencial desta criação literária está na mistura da mitologia grega clássica com temas atuais.
Assim, ao mesmo tempo em que desperta o fascínio para um tópico que, se ensinado de outra forma, seria
apenas mais um assunto que não interessa à juventude, os horizontes se expandem para novas possibilidades de
leitura e conhecimento. Por esses motivos, o presente trabalho apresenta a saga Percy Jackson como um gatilho
para o desenvolvimento de futuros leitores, demonstrando que uma história bem contada, mesmo que extensa,
consegue sair vencedora na batalha pela atenção do público infanto-juvenil.
Palavras-chave: Percy Jackson; Mitologia Grega; Ensino de Literatura; Formação de Leitores.
“Palavras são um brinquedo que não fica velho.
Quanto mais as crianças usam as palavras, mais elas se renovam.”
José Paulo Paes1
A literatura fantástica tem como um dos principais pontos responsáveis pelo seu
engrandecimento a falta de preconceito. Sonhar e poder inventar um mundo novo na
imaginação é possível em qualquer idade, em qualquer lugar, independente de cor ou classe
social. Essa é a explicação fundamental para o sucesso estrondoso que tal estilo literário tem
feito com o seu público alvo. Por isso é de se estranhar que cada vez mais as crianças tenham
rejeitado em sala de aula o hábito da leitura como uma atividade natural, deixando professores
em uma encruzilhada, sem saber qual direção tomar para resolver tal problema. Desde que foi
descoberto que livros seriados encabeçados pela saga Harry Potter podiam gerar uma fonte
exorbitante de dinheiro, logo despertavam o interesse dos leitores, se tornou relevante
perguntar o porquê da intransigência dos educadores para com tais obras, que elas vêm
demonstrando potencial como possíveis criadoras de uma nova geração de leitores assíduos.
Durante a atividade da leitura nos encontramos em constante estado de aprendizagem.
Por essa razão é que podemos considerar um livro como uma arma poderosa nas mãos de pais
e professores que desejam aprimorar o processo de desenvolvimento das crianças. Mas,
1 José Paulo Paes (1926-1998): poeta, ensaísta, crítico literário e tradutor brasileiro.
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Uma viagem pelo Olimpo no século XXI – A saga Percy Jackson e a mitologia grega fascinando jovens leitores Lidiana de Moraes (Mestranda Letras / PUCRS) Resumo: Não é possível contar apenas com o que é ensinado em sala de aula para formar novos leitores. Depois da lucrativa franquia Harry Potter não faltam obras nas livrarias capazes de captar a atenção dos jovens consumidores com histórias fantásticas e, ao mesmo tempo, complexas, prontas para saírem das páginas dos livros e ganhar as telas de cinema. Um exemplo desse filão literário é a saga Percy Jackson. O personagem criado por Rick Riordan não é apenas mais um herói pré-adolescente com quem crianças e adolescentes podem se identificar. O diferencial desta criação literária está na mistura da mitologia grega clássica com temas atuais. Assim, ao mesmo tempo em que desperta o fascínio para um tópico que, se ensinado de outra forma, seria apenas mais um assunto que não interessa à juventude, os horizontes se expandem para novas possibilidades de leitura e conhecimento. Por esses motivos, o presente trabalho apresenta a saga Percy Jackson como um gatilho para o desenvolvimento de futuros leitores, demonstrando que uma história bem contada, mesmo que extensa, consegue sair vencedora na batalha pela atenção do público infanto-juvenil. Palavras-chave: Percy Jackson ; Mitologia Grega; Ensino de Literatura; Formação de Leitores. “Palavras são um brinquedo que não fica velho. Quanto mais as crianças usam as palavras, mais elas se renovam.” José Paulo Paes^1 A literatura fantástica tem como um dos principais pontos responsáveis pelo seu engrandecimento a falta de preconceito. Sonhar e poder inventar um mundo novo na imaginação é possível em qualquer idade, em qualquer lugar, independente de cor ou classe social. Essa é a explicação fundamental para o sucesso estrondoso que tal estilo literário tem feito com o seu público alvo. Por isso é de se estranhar que cada vez mais as crianças tenham rejeitado em sala de aula o hábito da leitura como uma atividade natural, deixando professores em uma encruzilhada, sem saber qual direção tomar para resolver tal problema. Desde que foi descoberto que livros seriados encabeçados pela saga Harry Potter podiam gerar uma fonte exorbitante de dinheiro, logo despertavam o interesse dos leitores, se tornou relevante perguntar o porquê da intransigência dos educadores para com tais obras, já que elas vêm demonstrando potencial como possíveis criadoras de uma nova geração de leitores assíduos. Durante a atividade da leitura nos encontramos em constante estado de aprendizagem. Por essa razão é que podemos considerar um livro como uma arma poderosa nas mãos de pais e professores que desejam aprimorar o processo de desenvolvimento das crianças. Mas, (^1) José Paulo Paes (1926-1998): poeta, ensaísta, crítico literário e tradutor brasileiro.

mesmo com tantas qualidades, permanentemente surgem dúvidas quanto as melhores formas para fazer aflorar o interesse de meninos e meninas pela boa literatura. Partindo dos questionamentos que caminham junto com a história da literatura infanto- juvenil, o presente artigo busca sugerir para professores, principalmente do ensino fundamental, algumas hipóteses que podem contribuir para a criação de uma base leitora mais extensa e aprofundada do que a atual, uma vez que a “troca e o debate sobre a literatura infantil propiciam (...) a formação de leitores adultos, que se distribuem e se reorganizam em outras entidades ligadas à leitura” (YUNES in TURCHI e SILVA, 2002, p.17). 1 A leitura em sala de aula: por onde começar? Para repensar o uso da literatura em sala de aula, começar pela pergunta “o que ler?” parece precipitado. Antes devemos indagar: “Queremos criar ledores ou leitores?”. Utilizando a denominação de Perotti (1999), distinguimos o ledor por sua passividade perante o texto. Sendo assim, este seria um ser que não cria vínculos com a literatura, não consegue transcender o mundo das palavras, como se as letras formassem uma barreira física intransponível, deixando-o restrito apenas às ideias que são captadas pela primeira leitura, que não se aprofunda nas significações das imagens criadas pelos vocábulos em união. Este é um perfil assustador porque está fortemente conectado a uma ideia de falta de capacidade leitora e crítica, na qual os alunos estão sendo ensinados a reproduzir, mas não a pensar, beirando uma realidade definida como analfabetismo funcional. Contrapondo a figura do ledor, o leitor se debruça sobre o texto com olhar atento e criativo, sendo capaz de estabelecer conexões com um mundo aberto, sem limites, repleto de possibilidades interpretativas e relações infinitas. É ele quem honra o título de ser pensante, quem compreende que o papel da literatura é o de “fazer pensar, questionar, com-preender e interrogar e, depois de nos exigir algum esforço, nos fazer sair dela diferentes, transformados de alguma forma. E para nos transformar, deve nos atrair, viver dentro de nós” (SOUZA e GIROTTO, 2008:69). O leitor consegue caminhar com/através do texto, penetrando nas entrelinhas e descobrindo os pensamentos profundamente escondidos na teia criativa que compõe a obra literária, nos quais poderá aplicar sua capacidade crítica para revelar um conhecimento novo, vivendo o constante ato de aprender. O processo de ler para o ledor é mecânico. E por esse motivo, professores em sala de aula não podem exigir que aconteça naturalmente uma leitura e análise com profundidade de obras que não despertam o interesse dos pequenos. Aparentemente os educadores se esquecem de que a leitura na infância deve ser vista como um processo lúdico. Mais do que

No transcorrer da leitura dos cinco volumes – além de O Ladrão de Raios , O Mar de Monstros (2006), A Maldição do Titã (2007), A Batalha do Labirinto (2008) e O Último Olimpiano (2009) – é apresentada ao leitor uma série de personagens míticas que marcam o encontro entre a história do passado com uma narrativa do presente, como, por exemplo, a figura do Minotauro, Centauros, Deuses e outros Semi-deuses; colorindo a ambientação de uma trama que seria apenas a repetição do mais do mesmo caso não possuísse seu caráter fantasioso emprestado da Mitologia. A fórmula parece ter dado certo se levarmos em conta que já foram vendidos mais de 20 milhões de cópias, traduzidas em diversas línguas, em pelo menos dez países. E aquela que parece ser a validação máxima para a literatura infanto- juvenil, a transposição para o cinema, também ocorreu, inaugurando uma franquia rentável em 2010 com a adaptação do primeiro volume e que continuará com a chegada às grandes telas em 2013 de O Mar de Monstros. Não bastassem as características formais do comportamento do público infanto- juvenil demonstradas em Percy e nas outras personagens da história, ele também representa um novo modelo de herói que pega de empréstimo os conceitos clássicos do arquétipo heroico e os molda para os padrões de interesse literários atuais. A normalidade na vida de Percy é marcada por questões atualíssimas, como o fato dele ter dificuldades de aprendizagem por sofrer com dislexia e transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Assim, a proposta de um super-herói, sem desvios de conduta e infalível, cai por terra. O que é criado no lugar é uma persona capaz de gerar laços de empatia com as crianças e adolescentes para quem os textos foram criados porque o personagem não é apresentado como superior a eles, não é um ser moralizante ou inimaginável, mas sim alguém que está em pé de igualdade, sofrendo as angústias típicas da faixa etária, no entanto assumindo um status de inspiração em função de ser dotado de poderes mágicos. A ação, a aventura, o risco e o esforço pessoal são os requisitos procurados numa narrativa ficcional. Embora impulsionada pelo sentido de coragem, de perigo, de audácia, necessita de justiça, exigindo verossimilhança e a possibilidade de veracidade nos relatos. Embora o cerne dos relatos de aventura seja o herói sobre-humanamente dotado, são suas características humanas que atraem a simpatia do leitor. O maravilhoso está no homem. Começando o leitor a configurar-se como um ser capaz de ele também realizar feitos notáveis, são as qualidades pessoas do herói – sua força física, inteligência, tenacidade, valentia e astúcia – que o fazem admirado e invejado pelo pré-adolescente (ALBERTON, 1980,21). Assumindo a importância ficcional de Percy Jackson , encontramos um mundo fictício que “(...) fala da circunstância infantil, de modo que emerge nele uma criança

imaginária^2 com a qual a criança real (...) pode se identificar” (ZILBERMAN in KHEDÉ, 1986:21). Com esse emprego de espelho, o personagem ficcional assume sua função de modelo de comportamento. No entanto, não mais como um exemplar inferiorizante, que rebaixa o leitor à sua existência banal, mas como um arquétipo a ser buscado, havendo uma possibilidade plausível de atingi-lo. As dificuldades enfrentadas pelo personagem podem ser vistas como ritos de passagem. Uma representação fantástica para tantos processos de amadurecimento que também são comuns para crianças de todas as idades. “Através do livro e da leitura, a humanidade pode divinizar-se, homens e mulheres podem ser deuses (...)” (PERROTI, 1990:39). Logo, tanto Percy quanto o leitor, atravessam a vida em um constante procedimento no qual as escolhas que são feitas influenciam o destino, não importa se a ambientação seja numa batalha contra monstros da mitologia grega, ou na naturalidade de transformação de criança para adolescente. 3 A escola como passaporte para mundos fantásticos a serem descobertos Mesmo demonstrando seu caráter democrático, o mundo dos romances de fantasia não costuma ser o mais visitado nas salas de aulas brasileiras. O fato de que boa parte dos produtos literários fantásticos e que fascinam os jovens ser criação estrangeira, em especial dos Estados Unidos e Reino Unido, dificulta a entrada nas escolas, por causa de um “bairrismo” que dá preferência para textos de escritores nacionais. Mas a principal razão para o distanciamento existente entre professores e os livros seriados reside nesse infindável e irracional preconceito quanto àquilo que se torna sucesso de mercado, os tão repudiados Best Sellers. A escola sofre com o pânico trazido pela necessidade de ensinar literatura em sala de aula. No entanto, o que educadores de diferentes séries esquecem que antes de conhecer o texto clássico, é preciso ensinar o gosto pela leitura às crianças. No fundo, como em qualquer obra, ela precisa refletir a articulação de muitos elementos e pautar-se por um outro critério: o do respeito à inteligência e à sensibilidade que as crianças têm. Em todo o caso, a obra deve poder ser considerada em diferentes níveis e convidar o leitor á releitura. Uma boa história satisfaz as necessidades mais insuspeitas de quase todo leitor, sem diferenças de idade. Pode não dizer se o mundo é bom ou mau, porque nele coabitam a imaginação e o cotidiano, mas a obra oferece um distanciamento político e poético para contemplá-lo. Ela é um instrumento de libertação pela linguagem e, por isso, a (^2) Grifo do texto original.

ALBERTON, Carmen et. al. Uma dieta para crianças: livros – orientação para pais e professores. Porto Alegre: Redacta,1980. JACOBY, Sissa (Org.). A criança e a produção cultural. Porto Alegre: Mercado Aberto,

KHÉDE, Sonia Salomão. Literatura infanto-juvenil: um gênero polêmico. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986. MEIRELES, Cecília. Problemas da Literatura Infantil. São Paulo: Summos, 1979. PERROTTI, Edmir. Leitores, ledores e outros afins (apontamento sobre a formação do leitor). In: PRADO, J.; CONDINI, P. (Orgs.). A formação do leitor: pontos de vistas. Rio de Janeiro: Argus, 1999. p. 31-40. _______________. Confinamento cultural – infância e leitura. São Paulo: Summus, 1990. SOUZA, R.J.; GIROTTO, C.G.G.S. Literatura infantil e juvenil: seleção de livros e textos, justificativas das escolhas sob o olhar do professor do Ensino Fundamental. In: Letras de Hoje , Porto Alegre, v. 43, n. 2, p. 64-70, abr./jun. 2008. TOMACHEVSKI, Boris. Temática. In: EIKENBAUM, Boris et. al. Teoria da literatura – formalistas russos. Porto Alegre: Globo, 1973, p. 169-204. TURCHI, Maria Zaira; SILVA, Vera Maria Tietzmann (Org.). Literatura Infanto-Juvenil : Leituras críticas. Goiânia: UFG, 2002.