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Uma resenha do livro 'a retórica da perda', de josé reginaldo santos gonçalves, que aborda a interpretação dos discursos dos idealizadores do patrimônio brasileiro e como eles objetificaram a construção da identidade e memória da nação. A resenha é escrita por elizabete r. De c. Martins, professora assistente na fau-ufrj.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de aula
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Resenha por Elizabete R. de C. Martins Professora Assistente – PROUB/FAU-UFRJ. Doutoranda EHESS – Paris Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/ PROURB/UFRJ.
No final deste século, as proposi- ções pertinentes ao tratamento das cidades voltam à questão da Requalificação dos lugares públicos, onde se desenvolvem as práticas sociais cotidianas. Podemos citar, como exemplo, o caso concreto dos proje- tos destinados aos diferentes bairros “for- mais” da cidade, incluindo também aque- les cuja pretensão é a de se transformarem de “informais” em “formais”, tal como a que se apresenta nas tão conhecidas favelas do Rio de Janeiro. Com isto, tornaram-se usuais estudos minuciosos, que buscam a continui- dade morfológica da cidade, apagando-se os diferentes “refrães” da tabula rasa desencadeada no início deste século por Pereira Passos. O século iniciou-se com a destruição, mas finaliza com a recuperação. Neste “avanço” reflexivo, preocu- pações especiais recaem sobre o tratamen- to dos fragmentos da cidade que, na déca- da de oitenta, se particularizaram com sua
transformação em “Áreas de Proteção Ambiental e Cultural” — APACs. Estas susci- taram, ou deveriam tê-lo feito, a “antiga” questão do tratamento de espaços “pa- trimoniais”, já que a heterogeneidade de suas conformações, históricas ou tipológicas, dentre outras, indica naturalmente que seus tratamentos devam ser individualizados, geradores, portanto, de metodologias espe- cíficas — cada área é uma área. Isso nos induz à busca do conhecimento apro- fundado das intenções que permearam todo o processo de estruturação e constru- ção do nosso tão polêmico, complexo e contraditório Patrimônio Nacional. E, para o aprofundamento da ques- tão, A Retórica da Perda , de José Reginaldo, constitui bibliografia essencial, pois, como indica o próprio subtítulo, ele aborda esta interpretação dos discursos dos idea- lizadores do patrimônio brasileiro, identifican- do-os como intelectuais e exibindo suas
concepções de “identidade” e “memória” durante o processo, quando arquitetavam a construção que frutificaria no Patrimônio Cultural Brasileiro como tradução da ima- gem da nação. O autor é cientista social, doutor em antropologia pela Universidade da Virgínia e é a partir de sua tese, num lon- go processo de amadurecimento, que foi gerado A Retórica da Perda. O fio condutor de sua diretriz teóri- ca é a definição de que as construções discursivas são consideradas como“atos”, o que lhe permite contextualizar a maneira como estes intelectuais, ao definirem “iden- tidades” e “memórias” para a nação, fazi- am-no segundo determinados códigos socioculturais, com“propósitos pragmáticos e políticos”, por ele definidos como “estra- tégias de objetificação cultural”, para, en- tão, logo a seguir, usar a idéia de Kenneth Burke das“telas terminológicas”. O autor não somente descortina o processo, como tam- bém assinala as conseqüências deste pro- cedimento, ou invenção cultural, “em ter- mos de práticas sociais”, ou em termos de “ação simbólica”. Subdividido em seis ca- pítulos, é um livro com extensa bibliografia de referência. O primeiro capítulo — O Patri- mônio cultural e narrativas nacionais — é inteiramente dedicado ao desenvolvimen- to do campo conceitual, que, por sua vez, se subdivide em cinco partes, procedimen- to usual nos demais capítulos. Nessas cinco partes deste capítulo, ele expõe, passo a passo, sem“hermetismos”, as noções empre- gadas na construção global da obra. É tam- bém neste capítulo que coloca as principais questões:
— Quem tem autoridade para di- zer o que é e o que não é patrimônio cultu- ral brasileiro? — Quem tem autoridade para preservá-lo? — Como esta autoridade é cultu- ralmente constituída? Perseguindo seu objetivo, no segun- do capítulo — A Identificação do Brasil —, ele mostra como os intelectuais responsáveis pela criação do patrimônio cultural identifi- caram a representação da nação brasilei- ra, o que faz, elegendo, dentre estes intelec- tuais, os dois nomes indicados para imple- mentação das políticas que visavam à iden- tificação da nação: Rodrigo Melo Franco de Andrade e Aloísio Magalhães. Explora as diferentes estratégias discursivas desta inven- ção cultural, explicitando como “o Brasil é objetificado de certo modo e segundo de- terminados propósitos” por estes “guardiães desse patrimônio”. Contrapondo, portanto, a veracidade das estratégias, esclarece suas utilizações para “autenticar a existência do Brasil”. No terceiro capítulo — A Apropria- ção da cultura nacional — identifica-se o modo como eram percebidos e “apropria- dos” os bens indicados para salvaguarda patrimonial, que se constituiriam na imagem da cultura nacional. Este capitulo é dedica- do à reafirmação da dualidade destes olha- res ou intenções de apropriação: “Ao ex- plorar o modo como as narrativas de Rodrigo e Aloísio descrevem as políticas oficiais de preservação, focalizo o papel da apropria- ção enquanto estratégia concebida para se contrapor ao que, nesse contexto narra- tivo, representa dispersão e destruição da
não oficiais, entendidos como“fatos sociais” cria um novo espectro de estudos que per- seguem a linha analítica dos aspectos socioculturais. As partes enquanto fatos so- ciais sublinharão suas diferenças e des- cortinarão a heterogeneidade da forma material que se traduz na cidade. Esta, pois, será entendida não somente sob o aspecto frio de sua forma material, mas também será aquecida com o casamento de seu par imprescindível — a forma social.“A cidade, mais do que um conceito de análise, é sem duvida uma categoria da prática social”, escreveu Marcel Roncayolo. Um caso a pensar!