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Chamo a escrita de técnica, pois aprender a ler e a escrever envolve relacionar sons com letras, fonemas com grafemas, para codificar ou para decodificar.
Tipologia: Provas
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Não perca as partes importantes!
MAGDA SOARES*
ou tentar aqui defender a especificidade da alfabetização e a sua importância na escola, ao lado do letramento. O que poderíamos chamar de acesso ao mundo da escrita – num sentido amplo – é o pro- cesso de um indivíduo entrar nesse mundo, e isso se faz basicamente por duas vias: uma, através do aprendizado de uma “técnica”. Chamo a escrita de técnica, pois aprender a ler e a escrever envolve relacionar sons com letras, fonemas com grafemas, para codificar ou para decodificar. Envolve, também, aprender a segurar um lápis, aprender que se escreve de cima para baixo e da esquerda para a direita; enfim, envolve uma série de aspectos que chamo de técnicos. Essa é, então, uma porta de entrada indispensável. *Professora emérita da UFMG. Parte de palestra proferida na FAE UFMG, em 26/05/2003, na programação “Sexta na Pós”. Transcrição e edição de José Miguel Teixeira de Carvalho e Graça Paulino. Imagem: O fazedor de palavras - Lúcia Castelo Branco (poema) e Maria José Boaventura / Liliane Dardot (ilustração), p.
da, consiste em desenvolver as práticas de uso dessa técnica. Não adianta aprender uma técnica e não saber usá-la. Podemos perfei- tamente aprender para que serve cada botão de um forno de microondas, mas ficar sem saber usá-lo. Essas duas aprendizagens
pessoas. Se existem objetivos, temos de caminhar para eles e, para isso, temos de saber qual é o melhor caminho. Então, de qual- quer teoria educacional tem de derivar um método que dê um caminho ao professor. É uma falsa inferência achar que a teoria cons- trutivista não pode ter método, assim como é falso o pressuposto de que a criança vai aprender a ler e escrever só pelo convívio com textos. O ambiente alfabetizador não é suficiente. Minha hipótese é a seguinte: o construtivismo – aliás, o construti- vismo constitui uma teoria mais complexa do que a que está pre- sente no senso comum – nos trou- xe algo que não sabíamos. Permi- tiu-nos saber que os passos da criança, em sua interação com a escrita, são dados numa direção que permite a ela descobrir que escrever é registrar sons e não coi- sas. Então, a criança vai viver um processo de descoberta: escreve- mos em nossa língua portuguesa e em outras línguas de alfabeto fonético registrando o som das palavras e não aquilo a que as palavras se referem. A partir daí a criança vai passar a escrever abs- tratamente, colocando no papel as letras que ela conhece, numa ten- tativa de, realmente, escrever “casa”, sem o recurso de utilizar desenhos para dizer aquilo que quer. Então, depois que a criança passa pela fase silábica para regis- trar o som (o som que ela percebe primeiro é a sílaba), ela vai perce- ber o som do fonema e chega o momento em que ela se torna alfa- bética. Esse foi um grande esclareci- mento proporcionado pelo cons- trutivismo. Só que, quando a criança se torna alfabética, está na hora de começar a entrar no pro- cesso de alfabetização, de apren- der a ler e a escrever. Por quê? Por- que quando se torna alfabética, surge o problema da apropriação, por parte da criança, do sistema alfabético e do sistema ortográfico de escrita, os quais são sistemas convencionais constituídos de regras que, em grande parte, não têm fundamento lógico algum. E a criança tem de aprender isso. Ela tem de passar por um processo sis- temático e progressivo de aprendi- zagem desse sistema. Nesse campo, a grande colaboração é da Lingüística, ao tratar das relações
entre sistema fonológico e sistema ortográfico. Assim podemos de- terminar qual é o melhor caminho para a criança se apropriar desses sistemas e de suas relações. É a isso que eu chamo da espe- cificidade do processo de alfabeti- zação. Não basta que a criança esteja convivendo com muito material escrito, é preciso orientá- la sistemática e progressivamente para que possa se apropriar do sis- tema de escrita. Isso é feito junto com o letramento. Mas, em pri- meiro lugar, isso não é feito com os textos 'acartilhados' – “a vaca voa, ivo viu a uva” – , mas com textos reais, com livros etc. Assim é que se vai, a partir desse material e sobre ele, desenvolver um pro- cesso sistemático de aprendiza- gem da leitura e da escrita. Essa aprendizagem não está acontecendo. Visito muitas escolas e tenho visto o que está de fato acontecendo. Além disso, venho acompanhando nos testes – SIMAVE, SAEB e outros – o fra- casso, a falta de orientação siste- mática da criança para se apropriar do sistema de escrita. Quando digo que se “desinventou” a alfabetiza- ção, é a essa falta de especificida- de da alfabetização que me refiro. Um sistema convencional tem de ser aprendido de forma sistemáti- ca. Desde que a criança tenha des- coberto que o sistema é alfabético, está apta a aprender esse sistema. E acaba aprendendo porque, feliz- mente, criança é bastante esperta. Mas ela leva muito mais tempo para aprender, e enfrenta muito mais dificuldades, se deixarmos que o processo ocorra de maneira aleatória e esparsa. A Lingüística fornece elemen- tos para se saber como devem ser trabalhadas essas correspondên- cias fonema/grafema com a crian- ça. Quando isso não é observado, o resultado é o fracasso em alfabe- tização, sob nova vestimenta. Não estou dizendo que o fracasso de agora seja novidade, pois sempre tivemos fracassos em alfabetiza- ção. Antes, a criança repetia a mesma série por até quatro vezes e havia o problema da evasão. Agora, e talvez isso seja mais grave, a criança chega à 4a série analfabeta. E por que talvez isso seja mais grave? Porque, quando a criança repetia o ano – pois tínhamos métodos que não estavam funda- mentados em teorias psicológicas, psicolingüísticas nem lingüísticas
des es t c pho tendê se tem f ções fonema/grafema. Ou seja, é a aprendizagem do sistema de escri- ta, aquilo que chamo alfabetização na sua especif icidade. Houve, então, uma determinação que cau- sou impacto: todos teriam de ensi- nar o que eles chamam de phonics. Se fôssemos traduzir para o português, seria alguma coisa como “fonismo”, um substantivo. Usamos “fônico” como adjetivo, mas não temos um substantivo para esse adjetivo “fônico”. O que os especialistas americanos defen- deram é que era necessário alfabe- tizar trabalhando-se as relações fonema/grafema. Eles não estabe- lecem método, eles estabelecem os princípios. A escola que busque retomar os trabalhos na linha das relações fonema/grafema. É a retomada da aquisição do sistema alfabético e ortográfico pela crian- ça nas suas relações com o sistema fonológico. Esta é a tecnologia da alfabetização que eles pretendem aplicar. E não foram só os EUA que fizeram isso. Na França aconteceu a mesma coisa. Nesse pais, um órgão chamado “Observatório Na- cional da Leitura” fez um estudo da alfabetização e chegou à con- clusão de que é necessário traba- lhar na linha do fônico, mas não no método antigo. Inglaterra e Cana- dá também chegaram à mesma conclusão. É importante saber o que vem acontecendo em outros países para não acharmos que esta- mos fazendo bobagem. Todos esta- vam enfrentando esse problema, e os países que se preocuparam com essa questão foram na mesma dire- ção, qual seja, insistir na especifi- cidade da alfabetização como aprendizado do sistema alfabéti- co/ortográfico e nas suas relações com o sistema fonológico. No Congresso Nacional for- mou-se uma equipe, da qual não faço parte, para estudar o proble- ma da alfabetização, levando em conta a literatura científica e a experiência internacional sobre o tema. Este fato já é um indicador muito pronto haverá significativo. Uma vez o relatório dessa equipe, um ciclo de debates na Câmara dos Deputados, na segun- da quinzena de agosto do corrente ano, o que significa que teremos alguma novidade nessa área da alfabetização No início de minha exposição, levantei algumas questões polêmi- cas, algumas preocupações e difi- culdades. Para terminar, proponho uma reflexão sobre o risco de reinventarmos a alfabetização. Embora ela esteja mesmo preci- sando ser reinventada e seja preci- so recuperar sua especificidade, não podemos voltar ao que já foi superado. A mudança não deve ser um retrocesso, mas um avanço. (^) • o método, de que se mé- odo tra- balhe a aquisi - ção do sistema alfabé- tico e ortográ- f ico, o hamad o nics. A ncia que ortaleci- do naquele país é a de
Referências biblográfi- cas CAPOVILLA, Alessandra & CAPOVILLA, Fernando. Alfabetização e método fôni- co. São Paulo: Mnemom, 2001 OLIVEIRA, João Batista Araújo. ABC da alfabetização. Belo Horizonte: Alfaed- ucativa, 2002 SCLIAR-CABRAL, Leonor. Princípios do sis- tema alfabético de português do Brasil. São Paulo: contexto, 2003. Guia Prático de alfabetiza- ção. São Paulo: Contexto, 2003.