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Uma divisão do trabalho em duas partes. A primeira parte introduz o leitor na teoria do fantástico, baseada na obra de tzvetan todorov e félix furtado. A segunda parte orienta a pesquisa para o desenvolvimento de temas relacionados à análise do livro 'fantástico, estranho e maravilhoso na literatura'. O texto discute as características do fantástico, sua relação com outros gêneros, como o estranho e o maravilhoso, e as condições necessárias para a construção de uma narrativa fantástica.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de estudo
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Escrever sobre o fantástico náo é trabalho fácil. A indefinição conceituai entre os teóricos mais abalizados não desapareceu ainda por completo, o que não permite oferecer qualquer resposta definitiva à apreciação de um texto. Esta pesquisa se originou da divergência de opiniões entre os críticos Abclardo Montenegro c Otacílio Colares sobre o romance A rainha do igno- to, de Emília hcitas. Procurou-se dividir o trabalho cm duas partes: a primeira visa a intro- duzir o leitor na teoria do fantástico, tendo como base os esc ritos de Tzvctan Todorov c Fclipc Furtado; a segunda orienta a pesquisa para o desenvolvimen- to dos seguintes it ens: a) introdução aos fundamentos da análise do li vro A
pensamento de Abclardo Mont eneg ro c Otacílio Colares dentro da teori a do fantástico; c d) breve apreciação sobre a repercussão da obra no conte xto de sua publica ção.
outra alternativa de percepção do texto.
Nas últimas décadas, um interesse maior tem sido despertado pelos teóricos da literatura sobre o es tudo do gênero fanGÍ stico. I lá ainda muita indefinição, no entanto ocorrem confusões com referência aos gêneros viz i- nhos: o esuanho c o maravilhoso. Essas imprecisões devem-se ao faro de que t anto o fantástico como seus adjace nt es trabalham com a cha mada literatura do sobrenfltural, ou seja, as "histórias de fantasmas", ligad as ao fantástico; as "narrativas maravilhosas" que se referem ao gênero maravilhoso, c as "narrati- vas de mistério" , do gênero estranho que, segundo M.R. James apud furtado (1980, p.S-9), englobam, portanto, os tr ês gêneros.
J Mesrre cm l.ctras/UFC: c Membro da Eq uipe de Rcdaçáo c Rcvis;io do TRE/C:E.
cotidi a no, pelo surgimento do sobrenatural. Isso quer dizer que o fantástico almeja e ncenar a coexistênci a de dois mundos irredutíveis, não substituindo totalmente o universo real por um mundo absolutamente m aravilhoso, mas trazer ao mundo racional o el em e nto sobrenatural, como afi rma Louis Vax
.Deve-se, aqui, fa zer um esclarecimento do que seja o elemento sobrenatural, visto que não se trata de tem a exclusivo do fantástico, m as , como já foi eirado, é utili za do com freqüência por outros gêneros, especialme nte o es tranho e o mar av ilhoso. Os temas do so br enatural, segundo Felipe Furtado (1980, p.20),
está para além do que é verificável ou cognoscívcl a partir da ex- periência, tanto por intermédio dos sentidos ou d as potencialida- des cognitivas da mente humana, como atr avés de quaisquer apa- relhos que auxiliem , de sen volvem ou supram essas faculdades. Co rno a literatura do sobrenatural abrange outro s gêneros além do fan- tás ti co, há de se concluir qu e alguns temas, mesmo traze ndo cm si a violação ou subve rsão das lei s da matéria ou da relação da causalidade existente entre
ou não à construção desse gê nero. Fclipc Furtado di v id e o so brcnamral cm dois tipos: o po sitivo (ligado ao co ncc iw do Bem) c o nega ti vo (li gado ao conceito do M al). Essa oposição maniqueísta é necessária, seg undo o autor, para que se compr ee nda o tipo de fenomen o logia mera-empíri ca qu e convém ao fantástico. Pa ra o autor, é o so br enatural negativo que mais se apropria à cons- tru ção da narrativa fantá s ti ca, porqu e "só através dele se realiza inteirament e o mundo alucinante cuja co nfront ação com um sistema de natur eza d e a parên- cia normal a narrativa do gênero tem de encenar" (HJRTADO, 1980, p.22) Com esse pensamento concordam, também, Maurice Lévy, Loius Vax e Monraguc Summcrs. No fantástico como no estranho, é predominante o uso do sobrena- tural negativo. Além disso , o insólito é sempre irreversível e de conseqüências nefas tas, tr aze ndo para o de s fe cho da obra um final trágico.
Se ele decide que as leis da realidade permanecem intact as c pe rmitem explicar os fenômenos descritos, dizemos qu e a obra se liga a um outro gênero: o estranho. Se, ao contrário, decide que devem admitir novas leis da natureza, pelas quais o fenô- meno pode ser explicado, entramos no gênero do maravilhoso (1992, p.48).
Nesse sentido, o fantástico é um gênero situado entre o estranho e o maravilhoso, nunca autónomo c sempre evanescente. Mas Todorov não encerra seu estudo com essas notas. Além dos gêne- ros citados (que ele batizou de estranho-puro c maravilhoso-puro), assegura ainda a existência dos subgêncros que são: fantástico-estanho e fantástico- maravilhoso. O fantástico-puro estaria no centro desses quatro tipos. O fantástico-estranho é a narrativa que, apesar de receber no final uma explicação racional, leva o leitor, pelo máximo tempo possível, a crer na inter- ferência do sobrenatural. Nesse caso, as obras têm caráter insólito. O estranho-puro relata acontecimentos que são explicados pelas leis da razão, mas são incríveis, extraordinários, chocantes, singulares e inquietantes. Já no fantástico-maravilhoso , as narrativas se apresentam como fantás- ticas c terminam com uma aceitação do sobrcnaLUral. O maravilhoso-puro se subdivide cm vários tipos:
acomo dar o fantástico dentro de um plano de rcgionalidadc, o que fàz de parte do romance, de quatro c meia centena de pági- nas, uma série de vindas c fugas do ima gi nário para o ponderável, do palpável, para o vcrossímil (1977, p.l9).
Para afirmar que o romance é fantástico, ele se fundamenta basicamen- te em dois argumentos: a irrupção do insólito num ambiente familiar, cotidia- no, cm que se observa: o romance de Emília Freitas começa (I 0 capítulo) com uma simplicidade c uma despretensão vizinhas do rrivial, mas, logo adiante, o leitor é surpreendido com a presença do fantástico (1977, p.19)
e a hesitação de uma personagem céptica diante dos acontecimentos extraordinários: Em ccrros passos de maior força encantatória, mesmo como lei- tores cautos c frios, sentimo-nos iguais ao personagem Dr. Ed- mundo, entre crentes c descrentes diante dessa ou daquela situ- ação ... Sim, porque, inteligentemente, em cada passo da estória cm que o fantástico ocorre, está sempre presente, ora céptico, ora levado a crer no inacreditável, o personagem Edmundo, douror cm leis pelo Recife, cevado no cientificismo positivista (1980, p.l5-16).
considerando-a pioneira do gênero fantástico no Brasil. Assim, sobre Fmília freiras ele assegura: "a sua estória que, a nosso ver pode ser apontada como a primeira do gênero eminentemente fantástico, em nossa literatura". Nesse
escrito pelo autor, demonstra, com segura fundamentação, que pertence ao
desfaz a pretensa reivindicação do crítico em favor de Emília heitas como a pioneira do fantástico no Brasil. Pergunta-se: será que os argumentos arrolados são suficiemes para ale-
Com efeito, tanto o insólito que irrompe no ambiente familiar quanto
2 Felipe Furtado chamou de recurso à autoridade os processos urilizados nos textos fantásticos para aumentar a plausibilidade do inverossímil. Entre esses recursos está o das personagms respeitáveis que inclui aquelas personagens geralmente incrédulas cm acontecimentos extra- ordinários c que só se fiam cm Íatos cicnrificamcnrc comprovados.
O diário da funesta c julgou rcr encontrado a história real da vida daquela mulher extraordinária que se chamava funesta. Mas como, se a sua história era tão ignota como seu próprio reino' Alguém poderia ter dela um fragmento, um fato isolado; tudo era impossível ( 1980, p. 317).
Com efeito, as elucidações sobre a vida dessa mulher aparecem no livro
fala um pouco de sua família, mas para afirmar que a teve no passado c, na- quele momento, é um ser só: "Família adorada, que me foi arrebatada, às procelas, pela morte, pelas distâncias, e até pelos sentimentos ... " (1980, p.207). Outro fragmento da vida da personagem está no capítulo "Um episó- dio da vida da Rainha do Ignoto", na página 305, onde ela revela um pouco de sua adolescência c um amor que não foi possível de se realizar. Um outro capítulo que trata da família e traz esclarecimentos sobre a
nhum desses, ocorre uma total explicação; no penúltimo capítulo "A morte da rainha do ignoto", o mistério permanece:
Mas nenhuma das Paladinas do Nevoeiro pronunciou o verda- deiro nome da Rainha do Ignoto; elas só conheciam os benefí- cios que com ela haviam praticado. A história de sua vida era semelhante às hipóteses feitas sobre os habitantes de outro pla- neta. O que se disse dela foram meras conjecturas fundadas cm observações longínquas, cm falsas aparências ( 1980, p. 356). Entretanto, reconhecer mais essa característica do fan l<Ístico na obra
do que, existem outras evidências que inclinarão mais o texto no sentido de ourro gênero. O ceticismo do Dr. Edmundo, já afirmado por Otacílio Colares ( 1977, P 31 ), provém da hesitação, da dúvida ante acontecimentos extraordinários. Nesse sentido, o crítico acertadamente invoca Todorov para cmbasar seu pen- samento. Note-se que, em várias passagens, percebe-se a hesitação:
foi naquela hora que ele considerou no passo que tinha dado' Se aquela gente fizesse pane de uma quadrilha de salteadores, o que seria de si ) ...Caminhava nas trevas, sem saber para onde ia ...
Ele já não sabia se es tava aco rd ado; julgava-se cm um pesade lo. (FREITAS, 1980, p. 147, 148 c 149).
Mas o que o crítico deixou escapar foi exa tamente a cons e qüência da dúvida a nte o extraordinário que é o medo. Para Lovecraf apud Furtado (1980, p.8'Í), o medo mais forte e o mais antigo do homem é o medo do desconhecido , e o teste que avalia a presen ça do verdadeiro sobrenatural num texto é a capacidade de provocar ou não no leitor uma profunda sensação de medo. Ora, não estaria o texto tentando produzir no leitor a sensação de medo
mom e nto en1 que a person agem penetra no "mundo estranho", até então des- conhecido para o leitor , que o me do impera. Atente -se para a narrativa: "O
experimentado na travessia do caminho subterrâneo; mas era arrastado por
tico pela reaçáo d e medo que o texto possa provocar no leitor. Concorda-se com ele c considera-se que , mesmo somado esse moti vo aos já relacionado s, não é possível qualificar o romance de fantástico. Vale ressalta r, também, uma última observação que pode confundir um leitor incauto c le vá- lo a declarar apressadamente que o texto remete ao fan- tástico. Trata-se do enfoque realista qu e é acentuado em a lgumas d esc rições. Esse motivo está associado ao primeiro alegado por Otacílio Colar es,
insistent e da aurora em expressar, de modo extremamente realista, o fato ex- traordin ár io. N ão há clima onírico como as narrativ as de Murilo Rubi ão, o realismo se sobre ssa i de faro.
descri ção do tr aje usado pela l;unest a, que, no dizer de Oracílio Colares ( 19 77,
do", é exemplo da tentativa de destacar o possível que se junta ao impossível. Em outra ocasião, para conv e ncer o leitor de qu e o palácio do ignoto
... a idéia que ocorreu à aurora de A rainha do ignoto ... a nosso ver, pode ser apontada como a primeira do gênero eminente- mente fantástico, cm nossa literatura, visto tratar-se de um en- trecho de ficção longo, cm que a lenda praticamente não existe, a não ser como ponto de partida para roda uma série de situações que afastam o enredo do campo do terror para situá-lo, ousada mas equilibrada e seguramente, no campo do maravilhoso, ou seja, do fantástico (COLARES, 1977, p. 28).
Estamos no fantástico-maravilhoso, ou em outros termos, na classe das narrativas que se apresentam como fantásticas c que terminam por uma aceitação do sobrenatural. Estas são as nar- rativas mais próximas do fantástico puro, pois este, pelo próprio faro de permanecer sem explicação, não-racionalizado, sugere- nos realmente a existência do sobrenatural. O limite entre os dois será então incerto; entretanto, a presença ou a ausência de certos detalhes permitirá sempre decidir (grifo nosso) (TODO- ROY, 1992, p.58)
t o segundo fator que fundamenta essa argumentação contra a inclu-
(FREITAS, 1980, p. 177)
Para não faltar-lhe mais nada do que sublevar é cspírita! ... Oihc, aqui na ilha não há templo católico nem de religião alguma, há somente sessões espíritas, na biblioteca, onde ela possui todas as obras de Alan Kardcc, de Flammarion e outros malucos como ela (1980, p.l66).
-Odete é um bom medium; tragam-ma, quero invocar o espírito do abade Saint-Pierre para consultar sobre um me io que desejo opor à guerra.
Ela fez a invocação, e ouviu-se um rumor semelhante a uma ra- jada de ventos; os jornais c os papéis que estavam sobre as mesas voaram. Odete, com um impulso frenético na mão, corria o lápis sobre o papel com celeridade.
Ela terminou sem saber o que tinha escrito, entregou à rainha do ignoto c ela leu alto : " -o abade de Saint-Pierre não pode se manifestar porque não é Odete ... " (FREI1AS , 1980)
O dia ia findando como hoje: triste assim. Minha pobre filha semelhava a imagem do desespero. Tinha uma chaga no peito. Entrou cm casa sem dar uma só palavra. Caiu sobre o leito ata- cada por uma febre horrível. Delirou roda a noite, c me cortava o coração ouvi-la dizer : -Henrique, meu bom irmão, já não sei mais onde pairam as tuas
do li vro. t exemplo, o capítulo "A noite de S. João da fazenda do poço do
ALME I DA FI SC H E R. Es tud os sobre litera tur a c ea rense. ln: CO LAR ES , O tac íli o. Lembrados e esquecidos I V (Ensaio; ;obre literatura cearense). Fortaleza: Im p ren sa U ni - vc rsi t<Ír ia do C eará, 19 79. 2 14p. B ESS ILRF, Irene. !.e récitjàntrútique. Pa ri s: Laroussc, 1971. BRAV O, V icto r. Los poderes de la Jiccion. Caracas Venezuel a: Ed itora Mo nte Áv il a, 1 985. CA RP EN TIER , A lc jo. A literatura do maravilhoso. (Trad. Rub ia Prat es c Sé rgio Mo li- na). São Paul o: Ed. R cv. Do s Tribu na is Ltda ., Edições Vénice, 1 98 7. COLA RES, Otací li o. Lembrados e esqu ecidos [[[ (Ensai os sobre lite ra tura cearense). fo r- ta le za: I mpre nsa Uni ve rsitá ri a do Cea rá, 19 77. 2 16p. __ _. Prefácio. ln: fR E ITAS , Emíli a. J! ra inha do ignoto: romance psicológico. 2" c d. Fortaleza: Impr ensa Oficial do Cear á, 1980. 359 p. FREITA S, Emíli a. J! ra in ha do ignoto: romance psicológico. 2" ed. Fo rtaleza: Im p rensa Oficial do Ce ará, 1980. 359p. FU R TADO , Fc lip c. A construção do fant ás tico na narra ti va. Li s bo a: Livros Ho ri zo nt e,
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