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Este artigo analisa a representação da educação na produção cinematográfica 'preciosa: uma história de esperança'. O autor aborda as representações da instituição escolar, sua importância na construção de identidades e os papéis dos professores. O texto também explora as representações da dependência social e as questões educacionais, como a relação professor-aluno, didáticas e metodologias de ensino.
Tipologia: Resumos
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Vanessa Raianna Gelbcke^1 Resumo: O campo da cinematografia tem possibilitado uma gama de reflexões que nos permite compreender aspectos da realidade social que muitas vezes passam despercebidos, ou não são problematizados. Isto é, a cinematografia age como um espelho, refletindo a vida em sociedade. A educação, em especial a educação escolar, possui uma filmografia significativa que nos permite compreender, ou olhar com outros olhos, o processo educacional e as relações que se estabelecem dentro das instituições. Nesta perspectiva, o presente artigo, busca problematizar a educação espelhada no filme “Preciosa: uma história de esperança”. Pode-se constatar que a instituição representada nesta trama, revela a incapacidade de a escola regular atender sujeitos tão peculiares como a jovem Preciosa, que aos 16 anos, ainda não havia aprendido a ler e escrever, devido à educação a qual estava submetida. Encontrando como solução, pelo sistema educacional, a transferência para uma instituição alternativa. Por outro lado, a trama também revela o papel que a educação exerce como emancipadora/libertadora de situações de opressão e vulnerabilidade da protagonista. Desta forma, pretende-se analisar os significados da instituição escolar apresentados no filme. Palavras-chave: Educação, Análise cinematográfica, Emancipação. (^1) Graduanda do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná e integrante do Grupo de Pesquisa Observatório do Ensino Médio da UFPR. E-mail: vanessagelbcke@gmail.com
As formas de se observar fatos educativos, dentro das instituições ou fora delas, podem ser descritos de diversas formas, através de pesquisas etnográficas, análises de documentos e também por meio de produções cinematográficas. Estas podem trazer em seus roteiros aspectos presentes na realidade, mesmo filmes de ficção científica, que geralmente abordam situações inusitadas, permitem análises sociológicas interessantes, uma vez que a produção destes está imersa em algum contexto, que será refletido nas cenas dos filmes. Desta forma, o cinema trouxe a possibilidade de transgredir os limites entre o real e o imaginário, ele consegue expressar situações de sonhos e esperanças, vitórias e derrotas, angústias, injustiças e felicidades presentes na sociedade. Assim, se estabelece uma relação de cumplicidade entre o real e o imaginário, dentro e fora da tela com o espectador. Entretanto pode-se questionar até que ponto o cinema é realidade ou ficção? O cinema estaria refletindo a realidade na forma como ela é vivida? Ou o contrário, o cinema não seria a construção de uma realidade feita pelas mãos dos produtores, que articulam os fatos segundo sua visão de mundo sobre os acontecimentos? Shohat e Stam (2006) discutem que a busca pela representação da verdade, propalada pelos produtores, reflete suas perspectivas particulares sobre as situações/fatos, pois não existem verdades absolutas, mas existem verdades contingentes construídas a partir de visões de mundo de certas comunidades.
fenômenos específicos, sobretudo com a literatura, mas na apreensão da complexidade do cinema a partir de dois vieses que interagem entre si: um, de valor pragmático, que entende a organização da produção cinematográfica como resultado do meio sociocultural no qual ele se insere, assim como expressão artística autônoma; e outro que compreende o cinema como uma técnica de reprodução cujos desdobramentos e avanços definiram um tipo de experiência constituída através de processos subjetivos. Com base nesta perspectiva, o presente trabalho busca analisar, brevemente, as representações da educação, em seu sentido amplo, as representações da instituição escolar, bem como seus significados presentes nas produções fílmicas, e em um segundo momento, aprofundar as análises com base nas representações presentes no filme “Preciosa: uma história de esperança” (2009) de Lee Daniels^2 , permitindo uma reflexão sobre a educação de uma jovem negra, obesa, mãe de duas crianças - frutos de estupros praticados pelo seu pai - e analfabeta aos 16 anos. Buscando compreender, que sentidos a escola tinha para essa jovem? Quais os objetivos da educação para a protagonista? Como a instituição a enxergava? Quais os caminhos encontrados pelo sistema educacional descrito no filme? Entre outros questionamentos. Cabe ressaltar que este projeto é um exercício de (^2) Lee Louis Daniels nasceu em 1959 na Filadélfia é um ator, produtor de filmes e diretor, mais conhecido por produzir Monster's Ball e dirigir Precious, a adaptação cinematográfica do romance Push, de Sapphire, que recebeu seis indicações ao Oscar, inclusive para Melhor Diretor e Melhor Filme, sendo a segunda vez que um Afro- americano foi homenageado.
análise, feito com o objetivo de alimentar um debate em curso, não pretendendo esgotar todas as problemáticas levantadas no filme. As representações escolares no cinema Longe de se pretender responder a indagação se o cinema representa o real ou a ficção, pode-se asseverar que as representações escolares no cinema contemporâneo abordam de forma contundente as relações estabelecidas dentro e fora das instituições, bem como criam significados para esta. Neste cenário, as produções Hollywoodianas ganham destaque quando o tema é a escola, muitos filmes desta rede possuem a escola como pano de fundo das tramas, algumas vezes como o espaço central, onde as situações mais importantes acontecem 3 . Assim, pode-se perceber que, de maneira geral, os significados transmitidos refletem a ideia de que a escola só é importante e interessante quando os/as estudantes se divertem ou quando estão fora das salas de aula, tais produções representam em geral estudantes de classe média. Entretanto, filmes caracterizados como de superação, com (^3) Cabe ressaltar que as discusões presentes neste artigo, foram construídas em conjunto pelo Grupo de Estudos “Olhares Sobre a Escola”, da Universidade Federal do Paraná. Assim, agradeço à Jessica Santos, Débora Tamires Porcel, Marilene Noriko Treider Otani, Marcelo Francisco, Aline Fernanda Carneiro, Andreia Bráz, Ana Caroline Ferraz, Janaína Felicio Stratmam, Claúdia Prestes, Giovana Fraron Oss e a coordenadora Lennita Oliveira Ruggi pela contribuição e socialização de ideias.
Com isto, pode-se assegurar que ao analisarmos as produções fílmicas a classe social representada desempenhará papel significativo na construção dos roteiros, determinando qual será a ênfase dada à escola, enquanto instituição, e ao papel do/a professor/a. Filmes como “Escritores da Liberdade” (2007) de Richard LaGravenese, ou mesmo na produção aqui analisada, por exemplo, retratam a classe baixa e os/as docentes desempenham papel crucial na construção indenitária de seus/suas estudantes, assim, identifica-se a imagem do/a docente como um/a profissional que vai além da sua função na escola, estabelecendo elos com seus/suas estudantes fora do âmbito educacional, tentando de todas as formas ajudá-los/as; ou ainda, como o/a professor/a herói/heroína e inovador/a que se desafia ao ensinar estudantes rebeldes, tentando implementar “novos” métodos de ensino, subvertendo a metodologia tradicional. Quando são analisadas as representações da escola no cinema brasileiro, observa-se a influência hollywoodiana nas produções cinematográficas. Com alguns adendos no tocante à forma de representações expressas, como no caso das produções brasileiras verdadeiro drama, o da angústia adolescente. (...) Em vez de se conformarem com os valores da classe média, os alunos de escolas de subúrbios devem rejeitar a conformidade de seus pares, a cultura da popularidade, e os constrangimentos da vida adulta para expressar suas verdadeiras identidades.” (Tradução da autora)
“Professora Maluquinha” (2011) de André Alves Pinto e César Rodrigues, ou “As melhores coisas do mundo” (2010) de Laís Bodansky, que podem facilmente ser identificados como brasileiros, a partir do ambiente (cenários) em que se passa a trama. É possível observar em filmes que retratam as escolas brasileiras significados semelhantes aos encontrados nas produções hollywoodianas, principalmente no que se refere à figura idealizada e romantizada do/a docente e o caráter “entediante” da escola enquanto espaço de aprendizado, supervalorizando os momentos de socialização, isto é, os episódios que acontecem fora da sala de aula. Embora a obra aqui analisada possa permitir um olhar para a questão educacional, o foco central não é a escola. Esta foi produzida dentro de uma perspectiva que buscava enunciar uma história de superação, englobando aspectos presentes no cotidiano de uma adolescente, e a educação escolar se configura como um destes, permitindo, assim, que as características até o momento apontadas possam ser identificadas. Preciosa: uma história de esperança Preciosa: Uma historia de esperança (2009), foi lançado pela Lionsgate e PlayArte, tendo como tema a superação. É uma produção
sentimentos passou a ser considerada como sinal de uma personalidade forte. Mostrar os sentimentos era uma bobagem (hooks, 2000. p 189). Este ato, de mascarar seus sentimentos, pode ser identificado nos momentos em que Preciosa discute com a mãe. Em uma destas cenas, permanece parada no topo da escada enquanto sua mãe lhe dirige ofensas. A expressão de seu rosto é intensificada pela posição da câmera, que torna a iluminação baixa e sombria, passando ao telespectador a impressão de que a qualquer minuto a protagonista irá se defender, dizer ou fazer algo. Tal atitude incomoda sua mãe que tenta subir a escada rapidamente, pronta para agredir Preciosa, que se direciona ao seu quarto, enquanto a mãe tropeça na escada. Além da relação difícil com a mãe, pode-se observar que Preciosa não tinha amigos/as, representando, em certa medida, uma adolescente sozinha, que passa por inúmeras situações adversas, apresentadas em geral dentro de casa. Cabe ressaltar que nestas cenas domiciliares a luz é baixa, e o cenário com cores frias, revelando o clima amedrontador e desacolhedor, em contraste com as cenas de fantasia, repleta de cores e luzes. Porém, apesar dos obstáculos encontrados, Preciosa enxerga na educação um caminho de melhorar a sua situação e a de seus filhos, representadas nas cenas em que dialoga com seu filho Abdu – ainda bebê – sobre a importância de se estudar e ser alguém esperto, como dito por ela, enquanto passava a noite na casa de sua professora: “ É bom que ele escute elas falarem, porque elas são
espertas ”, e ainda, em seus pensamentos narrados, menciona que conta histórias todos os dias para que ele se interesse pela leitura e tenha um futuro, revelando a esperança depositada na educação. Este fato contrasta com a crença na qual foi criada, sua mãe não acreditava na educação, diz repetidas vezes que a filha não aprende nada, considerando a escola como perda de tempo. A própria situação da protagonista revela que a instituição regular peca em aspectos fundamentais da formação do indivíduo, pois é de se esperar que um/a estudante matriculado no colegial saiba ao menos ler e escrever, habilidades não dominadas por Preciosa. Para, além disto, no plano emocional, como a maioria das adolescentes dessa faixa etária, a protagonista sustentava o sonho de ser famosa, sair em capas de revistas, ser adorada e glorificada pelas pessoas, sendo nas cenas em que representam a ilusão os momentos em que a protagonista aparece realmente feliz. Porém, um dos desejos, mencionado algumas vezes no decorrer da trama, diz respeito a namorar um homem branco, este fato remete às noções de racismo presentes na sociedade, à raça branca sempre pensada como um sonho. Pode-se ainda mencionar que a internalização da raça branca como superior, é construída pela educação, isto é, a escola muitas vezes perpetua um currículo que não enxerga as diferenças/diversidades, é nesta escola que nos educamos e aprendemos não apenas conteúdos escolares, mas são
trama percebe-se que tal situação se torna bastante cômoda para a mãe de Preciosa, pois não precisava trabalhar para sustentar a casa, entregou sua neta para a bisavó criar – só a via quando a assistente social fazia as visitas – e todo o serviço de casa ficava a cargo da protagonista. Da mesma forma, a mãe de Preciosa manipulava o sistema, se arrumando e encenando, durante a visita da assistente social. De uma primeira impressão pode-se caracterizá-la como oportunista, uma parasita do governo, porém, com o desenrolar da trama, percebe-se que na verdade, toda a história de vida dessa mulher a levou até esta situação, ela já desacreditava na vida. Não tinha forças para continuar, e encontrou na hostilidade e na agressividade um meio de sobreviver, de permanecer viva. Assim, a mãe se defendia de sua situação vulnerável atacando grupos mais estigmatizados que ela mesma, uma vez que, possuía preconceitos até com sua origem, por ser negra, considerava não ter direito a nada. Preciosa, embora não concordasse com a situação, participava e não contrariava a mãe, com o desenrolar da trama foi possível identificar que Preciosa precisou de coragem e ajuda para enfrentar a mãe e sair do programa de assistencialismo. Para Freire, o assistencialismo traz consequências para o ser humano, a longo prazo, lhe tirando a responsabilidade sobre a sua vida Opúnhamo-nos a estas soluções assistencialistas, ao mesmo tempo em que não aceitávamos as demais, porque guardavam em si uma dupla contradição. Em primeiro
lugar, contradiziam a vocação natural da pessoa — a de ser sujeito e não objeto, e o assistencialismo faz de quem recebe a assistência um objeto passivo, sem possibilidade de participar do processo de sua própria recuperação. Em segundo lugar, contradiziam o processo de “democratização fundamental” em que estávamos situados. O grande perigo do assistencialismo está na violência do seu antidiálogo, que, impondo ao homem mutismo e passividade, não lhe oferece condições especiais para o desenvolvimento ou a “abertura” de sua consciência que, nas democracias autênticas, há de ser cada vez mais crítica (FREIRE, 1967. p 56). O fato de ser sujeito e não objeto de sua recuperação é revelado nos momentos em que aparece a mãe de Preciosa. A mãe é retratada sempre dentro de casa, à exceção das últimas cenas, quando ela não mais fazia parte dos programas assistencialistas, pois Preciosa havia contado a verdade à assistente social, de que sua mãe ficava assistindo televisão e comendo durante o dia todo. Isto é, ela não buscava melhorar, não procurava participar, se integrar à sociedade. No pertinente à corporalidade, o fato de Preciosa ser uma jovem obesa, e isto ser motivo de chacotas, aparece no momento da aula na escola alternativa, quando uma das alunas menciona esta especificidade da protagonista como sinônimo de feiura. Não se identificou, durante a trama, uma preocupação enfática/neurótica de Preciosa com seu peso, embora possa-se mencionar o seu comportamento agressivo quando outros/as mencionavam essa sua característica. Em momentos de reflexão (sozinha) seu peso não aparece como a maior preocupação da protagonista, como nas suas fantasias em que sonhava com a fama, as
A educação representada na produção de Lee Daniel Analisando as questões educacionais, foi identificado, desde o início da trama, que Preciosa era vítima de bullying pelos colegas da escola e, desta forma, não mantinha uma relação com eles/as, ficava sozinha e quieta no seu canto, não entendia o que seus/suas professores/as falavam, evidenciando uma dificuldade presente no âmbito educacional quanto à linguagem utilizada pelos professores/as, que nem sempre atingem a todos/as os/as estudantes. Segundo hooks, a linguagem é uma das formas de opressão presentes na sociedade, ao impor uma linguagem culta reprimem-se os estudantes que não têm acesso a ela, menosprezando a linguagem utilizada cotidianamente por eles/as. As desire, language disrupts, refuses to be contained within limits. She speaks against our will, in words and thoughts that intrude, even violate the most private spaces of mind and body. It was in my first year of college I read Adrienne Rich, "The Burning of Paper Instead of Children". This poem speaks against domination, racism and class oppression, graphically illustrate tries to stop political persecution and torture of living beings is a most vital issue than censorship, than burning books. A line from the poem that moved and disturbed something inside me: "This is the oppressor's language yet I need it to talk to you" I never forgot. Maybe I could not have forgotten, even if I tried to erase it from memory. The words are imposed, are rooted in our minds against our will. The
words of this poem led to a life in my memory that I could not abort or change. (hooks, 1994. p 167)^7. Desde a virada linguística, os estudiosos têm cada vez mais entendido a linguagem como um elemento formativo da experiência. hooks (1994) aborda o desafio de se falar radicalmente ao usar a língua do opressor. Ela fornece duas soluções possíveis para este problema: Primeiro, pode-se repensar as maneiras pelas quais usamos a linguagem, tornando-a uma linguagem de protesto. Podendo experimentar os atos de ouvir e compreender a linguagem como ferramenta do opressor, e depois "voltar a ouvi-lo como um local potencial de resistência" (1994, p.170). A segunda solução envolve a integração de outras formas de expressão, por exemplo, o vernáculo negro, na escrita formal. Embora esse processo possa ser mais difícil para aqueles/as que foram treinados para escrever na forma “culta”, (^7) “Como o desejo, a linguagem rompe, recusa-se a ser contida dentro de limites. Fala a si mesma contra a nossa vontade, em palavras e pensamentos que se invadem e até mesmo violam os espaços mais privados da mente e do corpo. Foi no meu primeiro ano de faculdade que li um poema de Adrienne Rich, “The Burning of Paper Instead of Children” (Queimar papel em vez de crianças). Esse poema, fala contra a dominação, contra o racismo e a opressão de classe, tenta ilustrar de modo claro que parar a perseguição política e tortura de seres vivos é uma questão mais vital do que a censura, do que queimar livros. Um verso desse poema que comoveu e perturbou algo dentro de mim: "Esta é a língua do opressor, mas preciso dela para falar com você". Eu nunca esqueci. Talvez não pudesse ter esquecido, mesmo se tentasse apagá- la da memória. As palavras se impõem, se enraízam na nossa memória contra nossa vontade. As palavras desse poema geraram uma vida na minha memória que eu não poderia abortar ou mudar.” (Tradução da autora)
educação mais inclusiva e um relacionamento mais próximo e respeitoso o que, juntamente com as novas amizades, vão ajudar Preciosa a dar um rumo novo em sua vida. Na escola alternativa, a metodologia era essecialmente participativa, todas as alunas participavam das atividades orais e de escrita no quadro negro. Um apontamento interessante de ser mais explorado refere-se à metodologia do diário. No filme analisado, a professora deu um diário para todas, para que colocassem o que sentiam, o que faziam e também pedia para que escrevessem estórias, com o intuito de além de refletirem sobre suas vidas, praticassem a escrita e sistematização de ideias. Além disto, a prática de exposição de seus diários às colegas – uma turma heterogênea, com estudantes imigrantes, negras, homossexuais – possibilita o compartilhamento de experiências e contato com diferentes realidades, valorizando desta forma as diversidades presentes na sala de aula. Outras produções cinematográficas, como Escritores da Liberdade e Entre os muros da escola , por exemplo, também abordam esta metodologia com o intuito de ensinar os/as estudantes “rebeldes” a partir de suas histórias de vida. Tal prática remete a duas interpretações, uma compreende que os estudantes subversivos/rebeldes, o são devido a suas vidas, é como se a condição em que vivem e a vida que levam, fosse tão traumática que os/as levava a agir de forma descompromissada, e ao fazer com que refletissem sobre isso
entenderiam a importância da educação e o processo de ensino- aprendizagem, desenvolver-se-ia de forma facilitada. Ou seja, quanto mais estudantes vitimados há em uma sala de aula, mais dificuldades o/a docente terá para ensinar, principalmente quando se trata de indisciplina e em instituições de segundo grau (ensino médio), pois há uma cultura, do senso comum, que prega que os/as jovens 9 , principalmente os/as oriundos/as da classe baixa ou pertencentes a grupos sociais estigmatizados, não “querem nada com nada”, não se comprometem com assuntos importantes (para os adultos) e não possuem perspectivas de futuro. E ao se trabalhar com a sua realidade, permitindo que reflitam sobre ela, poder-se-ia permitir que estes jovens compreendessem que a única forma de se obter sucesso na vida é incorporando a cultura valorizada socialmente, ou seja, a cultura dominante. De outro lado, identificaram-se autores como Paulo Freire, defendendo que trabalhar a partir da realidade do/a estudande permite que haja uma conscientização quanto as suas condições de vida. Fazendo-os compreender porque estão em tal situação e proporcionando reflexões para que se motivem a mudá-la. Para isso, o professor deve se (^9) O conceito de juventude/jovens vêm sendo discutido fortemente dentro do campo educacional, segundo Dayrell (2003, p. 24) podemos entender a juventude como parte de um processo mais amplo de constituição de sujeitos, mas que tem especificidades que marcam a vida de cada um. A juventude constitui um momento determinado, mas não se reduz a uma passagem; ela assume uma importância em si mesma. Todo esse processo é influenciado pelo meio social concreto no qual se desenvolve e pela qualidade das trocas que este proporciona.