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Um estudo sobre a incidência e efeitos cognitivos da personificação em textos acadêmicos-formais. O trabalho investiga as condições que permitem ou impedem tais construções no gênero acadêmico-formal, utilizando categorias analíticas e teorias oferecidas pela linguística cognitiva. O estudo conclui que a personificação serve para garantir a impessoalização em textos acadêmicos-formais, e identifica violações do princípio da invariância e a utilização de estruturas que se desviam das 'fórmulas' tradicionais como fatores centrais de interdição.
Tipologia: Resumos
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Dezembro de 2003
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Universidade Federal de Juiz de Fora – MG, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Lingüística, do Curso de Mestrado em Letras, Instituto de Ciências Humanas e Letras, UFJF, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Helena Martins.
Exame de dissertação
TORRES, Regina Celi Wenzel. A personificação no texto acadêmico-formal: uma abordagem cognitivista. Dissertação de Mestrado em Letras (área de concentração: Lingüística), apresentada à UFJF, 2.o^ semestre de 2003, 74 p.
Prof.ª Dr.ª Helena Martins (Orientadora -- PUC-RJ) Prof.ª Dr.ª Neusa Salim Miranda (Presidente -- UFJF - MG) Prof.ª Dr.ª Violeta S. T. Barbosa Quental (Membro Titular -- PUC- RJ)
Examinada a dissertação Em 12/12/2003, Juiz de Fora – MG Conceito:
A Clarice, luz! A Édimo, co-autor na vida.
O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel deenfim, uma soma de relações humanas, que foram metáforas, metonímias, antropomorfismos , enfatizadas poética e retoricamente, transpostas e enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias...(Sobre verdade e mentira, §1) Nietzsche
Este trabalho objetiva investigar a incidência e os efeitos do processo cognitivo da Personificação em textos de natureza acadêmico-formal. Parte-se da constatação de que, nesses gêneros textuais, algumas construções com personificação são aceitáveis, ao passo que outras não. O estudo busca determinar as condições de possibilidade e interdição de tais construções no gênero acadêmico-formal, e adota para tanto categorias analíticas e constructos teóricos oferecidos na Lingüística Cognitiva, com destaque para as proposições acerca de modelos cognitivos idealizados e de projeções entre domínios cognitivos. Com base nesse quadro teórico, reavalia-se o lugar da personificação no texto acadêmico-formal, demonstrando-se que essa funciona como um dos mecanismos importantes utilizados para garantir a impessoalização , o “apagamento” do autor característico de textos dessa natureza. Partindo-se de uma análise da incidência da personificação tanto em textos de autores já estabelecidos, quanto em textos de aspirantes ao ingresso na vida acadêmica, o estudo conclui que, entre os fatores centrais de interdição à personificação, estão (a) a violação do chamado princípio da invariância (Lakoff, 1987; Turner, 1996) , que governa e restringe as possibilidades de projeções entre domínios cognitivos; e (b) a utilização de estruturas que fogem às “fórmulas” tradicionais utilizadas em textos dessa natureza. Entre os fatores de “autorização” das construções com personificação estão, inversamente, o respeito ao princípio da invariância, o grau de convencionalização das estruturas utilizadas e o imbricamento entre os processos metafórico e metonímico.
Há uma lua dentro da qual nos agachamos duras perguntas dormem em nós. Edimilson de Almeida Pereira
O texto de natureza acadêmico-formal apresenta uma organização bastante peculiar. Entre os traços mais tipicamente associados a esse gênero discursivo estão a impessoalização , a objetividade e o predomínio da função referencial. No conjunto, essas características nos permitem afirmar que a linguagem desse discurso é a do afastamento. Associada ao ideal do texto “objetivo”, despojado de ambigüidades e de impressões “subjetivas”, está a convicção de que se pode suprimir a linguagem figurada do texto acadêmico ou de qualquer texto. Tal convicção depende de uma compreensão tradicional do que seja a linguagem figurativa – uma concepção que tem sido subvertida e combatida pelos desenvolvimentos da chamada Teoria Cognitiva da Metáfora, inaugurada com o trabalho já clássico de Lakoff e Johnson (2002[1980]). Como será visto no capítulo seguinte, a linguagem figurativa é, muito ao contrário, um fenômeno onipresente na linguagem de um modo geral, marcando presença em todos os gêneros textuais. No que tange ao texto acadêmico-formal, no entanto, é fato que o projeto de, por assim dizer, “controlar” o uso figurado da linguagem se mantém como recomendação implícita ou explícita, tendo relação com os julgamentos de aceitabilidade que se produzem em torno dos textos. Do choque entre a impossibilidade de supressão da linguagem figurada e a recomendação de seu controle resulta a seguinte situação no texto acadêmico-formal: algumas construções figurativas “passam no teste” e outras não. A decisão entre um caso e outro não parece ser de todo aleatória: por um lado, os clichês tendem a ser sistematicamente interditados e, por outro, construções por demais herméticas ou obscuras também tendem a
ser julgadas inaceitáveis (pelo menos nos casos em que o seu autor não goza de prestígio intelectual já estabelecido). Seja como for, no entanto, há muitos casos de construções figurativas que, comparecendo em textos acadêmico-formais, não se enquadram em qualquer desses dois casos mais claros de interdição. O fato de que algumas delas são, em geral, tomadas como aceitáveis ao passo que outras não permanece, pois, em larga medida, um mistério. Este trabalho debruça-se sobre essa situação misteriosa, discutindo o lugar de um tipo específico de construção figurativa no texto acadêmico-formal – a personificação. Um exame superficial das situações de Personificação no texto acadêmico-formal já mostra que, tratando-se do mesmo processo básico, há grande variação no grau de aceitabilidade das construções. Consideremos os exemplos (i), (ii) e (iii) abaixo: (i) “Os dados falam em favor de uma revisão porque em todas as sentenças o verbo ‘tecer’ teve um sentido diferente.” (ii) “(...) a abordagem formalista agrupa os elementos da frase em árvores hierárquicas.” (iii) “A hipótese de Sapir-Whorf considera que não existe uma língua mais completa que a outra, elas apenas descrevem a realidade de acordo com a cultura de seu falante.” Verificamos que em (i) não há nenhum veto à utilização da personificação. A construção (iii), por sua vez, produz um claro efeito de estranhamento. E, em se tratando de (ii), parece haver uma certa flutuação, ou seja, há dúvida quanto à sua aceitação. O objetivo deste trabalho é analisar o emprego da personificação no texto acadêmico-formal, com vistas à determinação de suas possibilidades e restrições de ocorrência. Desejamos testar a hipótese de que a aceitabilidade ou inaceitabilidade aparentemente misteriosa das construções com personificação seja, pelo menos em parte, explicável em termos dos princípios que governam as projeções entre domínios cognitivos em nossos sistemas conceptuais.
melhor as regras tácitas que autorizam ou interditam o uso de tais construções. O segundo grupo, no entanto, nem sempre com orientações tão claras acerca do emprego da linguagem figurada nesse tipo específico de discurso, poderá vir a utilizá-la de forma inadequada. A metodologia de análise dos dados foi basicamente a seguinte: selecionamos, inicialmente, todas as construções em que havia o processo da personificação para, posteriormente, classificá-las em três graus de aceitabilidade, a saber, aceitáveis , duvidosas e inaceitáveis (cf. Anexo). Em seguida, para determinar fatores de interdição/autorização das construções personificadas, analisamos os três grupos classificando os tipos de projeção entre domínios encontrados, conforme os aspectos lingüístico-conceptuais salientes em cada caso nos dois modelos cognitivos em jogo (o modelo Pessoa e o modelo Produção Intelectual ). Nosso trabalho está assim organizado: no segundo capítulo, apresentamos a base teórica do trabalho, destacando as categorias e os constructos teóricos da Lingüística Cognitiva que serão aqui pressupostos. No terceiro capítulo, reavaliamos o fenômeno da personificação no texto acadêmico-formal à luz da teoria cognitiva, demonstrando que, ao contrário do que se sugere em abordagens mais tradicionais, a personificação cumpre um importante papel na arquitetura desse gênero textual. No quarto capítulo, fizemos uma descrição dos domínios conceptuais tipicamente mobilizados no processo cognitivo da personificação e tentamos explicar por que alguns mapeamentos podem ser ou não interditados, a partir de uma descrição das regularidades lingüístico-conceptuais encontradas nas construções com diferentes graus de aceitabilidade. O quinto capítulo encerra algumas considerações finais acerca das estratégias da personificação em textos acadêmico-formais, e salientamos a relevância da visão de linguagem por nós adotada para a compreensão adequada do fenômeno em foco.
Lutar com palavras Entanto lutamos^ é a luta mais vã. mal rompe a manhã. Carlos Drummond de Andrade
2.1 - UM DESLOCAMENTO CONTEMPORÂNEO NA CONCEPÇÃO DO SIGNIFICADO: A VERTENTE COGNITIVISTA
Subjacente a todas as áreas do conhecimento, afetando, é certo, o campo do estudo da linguagem, está o chamado Paradigma Objetivista^1 , um modo de se compreender a relação entre pensamento, linguagem e realidade, cuja raiz encontra-se já na Antigüidade Clássica. De acordo com esse paradigma, o pensamento é basicamente um espelho do real, este sendo compreendido como possuidor de uma estrutura racional, autônoma, correta e unívoca (Johnson, 1987:xxii-xxv). O pensamento é, sob esse ângulo, proposicional, lógico e consciente. A linguagem, por sua vez, é também o espelho da realidade, sendo reduzida ao literal e ao declarativo. Entre as correntes de pensamento que contemporaneamente vêm reagindo a esse paradigma hegemônico na história do pensamento ocidental, destaca-se o cognitivismo , movimento intelectual que tem entre seus representantes maiores G. Lakoff (1987;1993), M. Johnson (1987), M. Turner (1996), G. Faucconnier (1994;1997) e outros. Esse modelo revê a relação entre realidade, pensamento e linguagem, abrindo espaço para uma visão de linguagem que confere valor central aos processos cognitivos de construção do sentido e
(^1) Termo empregado por Lakoff & Johnson (2002[1980]), Johnson (1987), Lakoff (1987), Lakoff e Turner (1989).
Em decorrência da instauração de uma crise no Paradigma Objetivista, emerge a Alternativa Experiencialista (Lakoff, 1987:xv), ocorrendo, assim, um deslocamento do foco de atenção da realidade em si para a experiência humana da realidade. Na visão cognitivista, a experiência deixa de se restringir, como tradicionalmente, às nossas impressões sensoriais e passa a ser entendida não apenas a partir de nossas dimensões perceptuais e motoras, mas também a partir de nossas dimensões emocionais, históricas, sociais e lingüísticas. Reconhecendo a amplitude do termo “experiência”, cognitivistas como Lakoff e Johnson (1999:22) elegeram uma dimensão como aquela que é cognitivamente mais básica: a dimensão corporal. A partir de suas proposições, podemos compreender o quão fundamentais são as nossas experiências corporais e reconhecermos a idéia de que o pensamento nasce no corpo, não podendo mais ser concebido à maneira objetivista, como abstrato, “desencarnado” e transcendental (op. cit.:04). No tocante a esse aspecto, uma das teses básicas do cognitivismo diz respeito à postulação de estruturas pré-conceptuais de nossa experiência, padrões básicos que emergem espontaneamente da experiência de nossos corpos no mundo. Dois tipos básicos de interação corpórea com o mundo seriam (a) o deslocamento no espaço e (b) a manipulação de objetos. Esses dois tipos de experiência seriam estruturados em um nível pré-conceptual, no sentido de que aconteceriam de acordo com padrões recorrentemente experimentados por nós. Da nossa experiência de deslocamento no espaço, emergiriam os chamados esquemas imagéticos , os quais, nas palavras de Johnson (1987:29), seriam ...gestalts experenciais minimamente estruturadas que permitem a organização de um númeroindefinidamente grande de percepções, imagens e eventos.
Da nossa experiência de manipulação de objetos, emergiriam as chamadas categorias de nível básico. Nas palavras de Lakoff (1987:13), essas seriam
...organizadas para que as categorias que são cognitivamente básicas estejam no “meio” da hierarquia geral-para-específico. A generalização se processa de forma “ascendente” a partir do nível básico e a especialização se processa de forma “descendente”. Esses dois tipos de estruturas pré-conceptuais da experiência teriam um estatuto fundamental em nossos sistemas de conceitos, funcionando como a base ou “âncora” desses sistemas -- a sua “dupla fundação” (cf. Lakoff, 1987:280-281). Por serem pré -conceptuais, não teríamos em relação a tais conceitos fundadores qualquer possibilidade de um acesso introspectivo direto. No entanto, eles formariam a base para todos os nossos outros conceitos: nossa experiência teria uma estrutura subjacente, mais concreta, que daria sentido aos demais conceitos mais abstratos. A noção de esquema imagético tem uma importância especial para este trabalho, razão pela qual vamos agora nos deter um pouco em sua discussão. Turner (1996:16) dá uma contribuição importante para a construção desse conceito, ampliando um pouco a versão estritamente “espacial” de Johnson, citada acima. Turner compreende esses esquemas como micro-histórias ou proto-narrativas , que se estruturam a partir de nossas experiências perceptuais e interacionais. Nos termos do autor (1996:45): A imaginação narrativacapacidade racional dela depende. É a nossa forma de olhar o futuro, de predizer, de planejar, – a história – é o instrumento fundamental do pensamento. A de explicar. Através dessa base mais estável da cognição, especificam-se esquemas imagéticos, tais como, trajetória , recipiente, centro/periferia etc., que sintetizam os padrões estruturais recorrentes em experiências básicas, ou pequenas histórias que vivenciamos, tais como andar de um ponto a outro, entrar e sair de ambientes, estar no centro ou na periferia de um espaço demarcado etc. Tomemos a título de exemplificação o esquema imagético de TRAJETÓRIA, cujos elementos estruturais são ORIGEM/TRAJETO/DESTINO/PONTO DE REFERÊNCIA e que apresenta como base corporal a história do deslocamento espacial de um agente ao longo de