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Representações da Pessoa Com Deficiência no Esporte: Análise da Mídia Brasileira, Exercícios de Jornalismo

Uma pesquisa sobre a representação da pessoa com deficiência no contexto do esporte e da mídia brasileira. O texto aborda a história da representação da pessoa com deficiência na sociedade, os tipos de representações presentes na mídia e a importância da autoadvocacia para o empoderamento de pessoas com deficiência. O documento também discute o modelo médico e o modelo social da deficiência.

Tipologia: Exercícios

2022

Compartilhado em 07/11/2022

PorDoSol
PorDoSol 🇧🇷

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Uberlândia - MG – 19 a 21/06/2015
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A mídia e o paradesporto: A representação do para-atleta no site Globoesporte.com
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Cíntia Aparecida de SOUSA
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Adriana Cristina OMENA dos Santos
3
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG
RESUMO
O presente estudo analisou a representação do paradesporto e do para-atleta presente no jornalismo
esportivo brasileiro. O corpus compõe-se com reportagens publicadas no site esportivo,
Globoesporte.com, entre os dias 01 e 07 de dezembro de 2013. O recorte temporal levou em
consideração o fato que no dia 03 de dezembro é comemorado o Dia Internacional da Pessoa com
Deficiência. A partir dos dados coletados e devidamente analisados sob a luz da análise de conteúdo, a
pesquisa investigou qual a representação do para-atleta e se o paradesporto possui espaço no veículo.
Os resultados mostram que a representação mais presente é a da superação, em que o esporte funciona
como um canal para a superação da deficiência, e o espaço do paradesporto ainda está relacionado à
divulgação dos resultados das competições paradesportivas.
PALAVRAS-CHAVE: paradesporto; representação; para-atleta; Globoesporte.com; jornalismo
esportivo.
1 INTRODUÇÃO
"Ela é cega, mas mora sozinha". Esta frase e outras presentes em nossos dias são
carregadas de preconceito em relação à deficiência. A atual sociedade preza pela
padronização entre os indivíduos, apesar dos dados do Censo Demográfico de 2010 do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelarem que 23,9% da população
possuem algum tipo de deficiência, seja visual, auditivo, físico ou intelectual.
As pessoas com deficiência representam quase um quarto da população brasileira e
estas são representadas de diferentes maneiras. Assim, a presente pesquisa nasceu da
inquietação sobre a abordagem do indivíduo com deficiência na mídia brasileira, a partir das
reportagens sobre o paradesporto, a prática de atividades físicas pelas pessoas com
deficiência, no jornalismo esportivo.
O paradesporto teve impulso com o fim da Segunda Guerra Mundial, momento em
que um grande número de combatentes sofreu graves lesões na coluna vertebral e ficou
paraplégico (perda dos movimentos dos membros inferiores) ou tetraplégico (perda dos
movimentos dos membros inferiores e superiores). Este cenário influenciou o início de um
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Trabalho apresentado no IJ 1 – Jornalismo do XX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste,
realizado de 19 a 21 de junho de 2015.
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Recém-graduada do curso de Comunicação Social: habilitação em jornalismo da UFU, email:
cintiaperdizes@yahoo.com.br.
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Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Comunicação Social: habilitação em jornalismo da UFU, email:
adriomena@gmail.com.br.
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XX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Uberlândia - MG – 19 a 21/06/ A mídia e o paradesporto: A representação do para-atleta no site Globoesporte.com^1 Cíntia Aparecida de SOUSA^2 Adriana Cristina OMENA dos Santos^3 Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG

RESUMO O presente estudo analisou a representação do paradesporto e do para-atleta presente no jornalismo esportivo brasileiro. O corpus compõe-se com reportagens publicadas no site esportivo, Globoesporte.com, entre os dias 01 e 07 de dezembro de 2013. O recorte temporal levou em consideração o fato que no dia 03 de dezembro é comemorado o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. A partir dos dados coletados e devidamente analisados sob a luz da análise de conteúdo, a pesquisa investigou qual a representação do para-atleta e se o paradesporto possui espaço no veículo. Os resultados mostram que a representação mais presente é a da superação, em que o esporte funciona como um canal para a superação da deficiência, e o espaço do paradesporto ainda está relacionado à divulgação dos resultados das competições paradesportivas.

PALAVRAS-CHAVE: paradesporto; representação; para-atleta; Globoesporte.com; jornalismo esportivo.

1 INTRODUÇÃO

"Ela é cega, mas mora sozinha". Esta frase e outras presentes em nossos dias são carregadas de preconceito em relação à deficiência. A atual sociedade preza pela padronização entre os indivíduos, apesar dos dados do Censo Demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelarem que 23,9% da população possuem algum tipo de deficiência, seja visual, auditivo, físico ou intelectual. As pessoas com deficiência representam quase um quarto da população brasileira e estas são representadas de diferentes maneiras. Assim, a presente pesquisa nasceu da inquietação sobre a abordagem do indivíduo com deficiência na mídia brasileira, a partir das reportagens sobre o paradesporto, a prática de atividades físicas pelas pessoas com deficiência, no jornalismo esportivo. O paradesporto teve impulso com o fim da Segunda Guerra Mundial, momento em que um grande número de combatentes sofreu graves lesões na coluna vertebral e ficou paraplégico (perda dos movimentos dos membros inferiores) ou tetraplégico (perda dos movimentos dos membros inferiores e superiores). Este cenário influenciou o início de um

(^1) Trabalho apresentado no IJ 1 – Jornalismo do XX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, realizado de 19 a 21 de junho de 2015. (^2) Recém-graduada do curso de Comunicação Social: habilitação em jornalismo da UFU, email: cintiaperdizes@yahoo.com.br. (^3) Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Comunicação Social: habilitação em jornalismo da UFU, email: adriomena@gmail.com.br.

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trabalho de reabilitação médica e social, que visava reestabelecer a saúde física e mental do indivíduo, por meio da prática esportiva. A temática se faz pertinente, primeiramente, por ser um tema pouco abordado na academia, em especial, se relacionada à comunicação. A escassez de pesquisas deve-se ao paradesporto ser estudado, principalmente, com foco nos benefícios físicos e sociais à pessoa com deficiência. Em contrapartida, esse trabalho analisou o espaço que o esporte adaptado possui dentro do jornalismo esportivo e como é a representação do para-atleta neste segmento especializado. A pesquisa também justifica-se socialmente pela questão de ser um trabalho que teve como objeto de estudo as pessoas que foram ou são excluídas do âmbito da sociedade pelo fato de possuírem uma deficiência. Com isso, o trabalho contribui para a compreensão de como acontece a representação da pessoa com deficiência na mídia. A concretização desse estudo pauta-se também no fato do esporte adaptado, apesar de ter mais de 100 anos de surgimento, ser abordado com mais intensidade em períodos de grandes competições, tais como os Jogos Paralímpicos ou Parapanamericanos. Deste modo, a pesquisa analisou qual o espaço que o paradesporto tem no jornalismo esportivo e como é feita a representação do para-atleta em um período sem a realização de um grande evento, visto que no ano de 2013, recorte temporal do trabalho, não houve os Jogos Paralímpicos ou Parapanamericanos. Assim, a delimitação temática proposta baseou-se no questionamento: Como é a abordagem do paradesporto e a representação do para-atleta no jornalismo esportivo?. Para respondermos nossa indagação, tomamos como objeto de estudo reportagens publicadas no site Globoesporte.com, um dos principais veículos especializados em webjornalismo esportivo do Brasil. O objetivo geral consistiu em analisar a representação do paradesporto e do para-atleta no site Globoesporte.com. Os objetivos específicos tinham em seu escopo a proposta de averiguar o espaço do paradesporto no site e identificar como o para-atleta é apresentado no jornalismo esportivo. A metodologia abordada refere-se no tratamento das reportagens sob a ótica da análise de conteúdo de Laurence Bardin (1977). Antes de mergulharmos na pesquisa, retomamos a frase inicial dessa introdução. A forma mais adequada é: "Ela é cega e mora sozinha", pois ter uma deficiência, não significa ser incapaz de realizar ações do dia a dia e nem mesmo de morar sozinha.

XX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Uberlândia - MG – 19 a 21/06/ O esporte adaptado teve impulsão com o fim da Segunda Guerra Mundial. Em 1944, o neurocirurgião alemão, de origem judaica, Ludwig Guttmann, foi convidado pelo governo inglês para fazer parte do Centro de Lesionados Medulares de Stoke Mandeville. Na instituição, Guttmann realizou um trabalho de reabilitação médica e social de veteranos da guerra por meio de prática esportiva. O sucesso do trabalho motivou o médico a organizar a primeira competição para os atletas em cadeiras de rodas, em 29 de julho de 1948 - mesma data de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres (MARQUES et al_._ , 2009, p.370). Entretanto, a prática de atividade esportiva por pessoas com deficiência possui registro já no fim do século XIX, existem registros de aparições do esporte adaptado datados de 1871, na School of Deaf, de Ohio, Estados Unidos, que foi a primeira escola para surdos a oferecer beisebol. As primeiras notícias da existência de clubes esportivos para pessoas surdas datam de 1888, em Berlim, Alemanha. Porém, somente em 1924 é que foram realizados, em Paris, França, os primeiros "Jogos do Silêncio", com a participação de 145 atletas de nove países europeus. Essa foi a primeira competição internacional para pessoas com deficiência (MARQUES et al., 2009, p.370). Apesar da gênese do paradesporto estar relacionada ao movimento esportivo dos surdos, atualmente as pessoas com deficiência auditiva não participam das competições paralímpicas organizadas pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). "O movimento esportivo das pessoas surdas por questões culturais não ocorre de maneira conjunta com o paralímpico, tendo, desse modo, ações políticas, bem como os eventos que ocorrem em separado" (PARSONS; WINCKLER, 2012, p.03). No cenário brasileiro, o paradesporto foi introduzido pela iniciativa de Robson Sampaio de Almeida e Sérgio Serafim Del Grande que após sofrerem acidentes, buscaram nos Estados Unidos os serviços de reabilitação (ARAÚJO, 1997, p.16). No país norte- americano, o paradesporto desenvolveu-se quase ao mesmo tempo que na Inglaterra, o responsável foi Benjamim Lipton (FREITAS; CIDADE, 2000, p. 25). O marco inicial do paradesporto no Brasil aconteceu com "a apresentação da equipe de basquetebol em cadeiras de rodas 'Pan Jets', formada por funcionários deficientes físicos da companhia aérea Pan American World Airlines. Foram duas exibições em novembro de 1957, no ginásio do Ibirapuera (São Paulo) e no Maracanãzinho (Rio de Janeiro)" (CARVALHO LIMA, 2007, s. p.). De acordo com os pesquisadores Costa e Winckler (2012, p.17), o esporte adaptado "pode ser visto através de diferentes ângulos, que constituem suas diferentes formas de

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manifestação". Essas formas de manifestação são: Esporte Saúde, Esporte Educacional, Esporte Lazer e o Esporte Rendimento. O Esporte Saúde consiste em uma forma de ação terapêutica, ou seja, a atividade física contribui para "a profilaxia, a reabilitação ou a manutenção do estado de saúde do praticante" (COSTA; WINCKLER, 2012, p.17). Nessa abordagem, o paradesporto tem como intuito melhorar a qualidade de vida e o estado de saúde das pessoas com deficiência, e é nesse espaço acontece o primeiro contato com o universo esportivo. A segunda manifestação, o Esporte Educacional, tem como característica a questão do ensino-aprendizagem, isto é, o esporte é o canal para a troca de conhecimento. No caso da pessoa com deficiência, permite o acesso às possibilidades de novas formas de movimento ou interação com o meio, possibilitando ao praticante o acesso a novos contextos de inserção, que, por vezes, eram limitados pela falta de informação ou pelo preconceito pessoal das outras pessoas (COSTA; WINCKLER, 2012, p.18). É importante ressaltar que o Esporte Educacional não se restringe ao ambiente escolar, apesar deste ser o principal lugar em que acontece essa manifestação, pois a característica principal está no processo de aprendizagem e não no local. O Esporte Lazer foca a questão de a atividade esportiva ser uma ocupação do tempo livre, ou seja, uma forma de prazer. Segundo Costa e Winckler (2012, p.18), nessa manifestação é preciso locais adequados para a prática esportiva, fato que impede que mais pessoas com deficiência realizem atividades físicas. Por fim, encontramos o Esporte Rendimento, manifestação "mais conhecida e notória do esporte, já que é a que mais atraia a atenção da mídia e das pessoas" (COSTA; WINCKLER, 2012, p.18). No Esporte Rendimento, o resultado e a competição passam a ter uma grande importância no processo. Nessa manifestação, o esporte é visto como negócio, e "é possível ao atleta ser profissional e viver por meio de seus ganhos provindos do esporte" (COSTA; WINCKLER, 2012, p.18). O paradesporto como Esporte Rendimento teve a primeira participação de uma equipe brasileira em uma competição internacional no ano 1969, na segunda edição dos Jogos Parapanamericanos, em Buenos Aires, Argentina. Em 1972, uma equipe de para-atletas representou o país em uma Paralimpíada, na Alemanha. A primeira medalha paralímpica (prata) foi conquistada na bocha, em 1976, em Toronto, Canadá, pela dupla Luiz Carlos da Costa e Robson Sampaio de Almeida (CARVALHO LIMA, 2007, s. p.).

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Culturais e exemplificaremos as representações da pessoa com deficiência mais recorrentes na mídia brasileira.

3 UM OLHAR PARA O SUJEITO: A representação nos Estudos Culturais

"O que importa são as rupturas significativas - em que velhas correntes de pensamento são rompidas, velhas constelações deslocadas, e elementos novos e velhos são reagrupados ao redor de uma nova gama de premissas e temas". Esta é afirmação feita pelo teórico Stuart Hall (2006a, p.123) ao discorrer sobre os pressupostos dos Estudos Culturais, proposta teórica a qual esta pesquisa se debruça. A escolha dessa teoria atende as especificidades da pesquisa no que diz respeito a observar a representação do sujeito e soma-se também o fato de que os Estudos Culturais florescerem no mesmo período em que as Organizações das Nações Unidades (ONU) proclamaram a Declaração de Direitos Humanos (1948), em que todos da sociedade, sem exceção, são iguais perante a lei. Nesse contexto, é importante ressaltar, no entanto, que "a história ilumina que desde a sua proclamação, os direitos humanos não tem se efetivado de maneira igualitária. O grupo social constituído pelas pessoas com deficiência tem permanecido imerso, ao longo dos séculos, em um contínuo processo de segregação, negação de direitos e exclusão social" (DANTAS, 2011, p.03).

3.1A representação da pessoa com deficiência

O indivíduo com deficiência é abordado de diferentes maneiras na sociedade, desde seres incapazes até heróis. Segundo Carvalho Lima (2007, s.p), "contar a História das pessoas portadoras de deficiência desde os primórdios da humanidade é, acima de tudo, fazer uma narrativa das atrocidades geradas pela aliança entre o desconhecimento e o preconceito". Por essa razão, ainda que o foco da pesquisa seja a representação do paradesporto e do para-atleta na mídia, é importante destacar as diferentes abordagens da pessoa com deficiência na história, pois estas influenciaram a representação realizada pelos veículos midiáticos, uma vez que, a representação é construída a partir do contexto cultural e social, em que o indivíduo está inserido. Na Antiguidade (500 a.C. e 400 d.c), havia duas formas de tratamento à pessoa com deficiência. Na Grécia e na Roma era permitido o extermínio, pelo fato delas não estarem

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aptas à guerra. Já, na cidade de Atenas, "a influência do pensamento de Aristóteles criou um sistema semelhante à previdência social, que tinha a função de proteger os portadores de deficiência" (CARVALHO LIMA, 2007, s.p). Em ambas abordagens, a pessoa com deficiência é representada como inferior, pois ou era punida com a morte ou iria depender do assistencialismo dos governantes. Na Idade Média, por influência do cristianismo, "os indivíduos com deficiência passam a ser 'guardados' em casas, vales, porões e, principalmente, sobre a proteção dos monastérios, ou seja, dos padres. Nesse período, ainda persiste a ideia de possessão demoníaca, que terminava em longas sessões de exorcismo" (CIDADE; FREITAS, 2002, p.14). Assim, a pessoa com deficiência seria um indivíduo amaldiçoado, o qual deveria ficar à margem do convívio social. Na Idade Moderna com os ideais iluministas, que defendiam a substituição das crenças religiosas e do misticismo pelo pensamento racional, a sociedade passa a se preocupar com o indivíduo com deficiência. "Surge a representação da normalização, do modelo médico em que a deficiência é representada como uma doença, assim a medicina procura a cura, eliminando-a" (MAVIGNIER; TARAPANOFF, 2013, p.03). No século XX, pelo fato dos combatentes retornarem das Guerras Mundiais (1914 a 1918 e 1939 a 1945) e da Guerra do Vietnã (1955 a 1975) com alguma deficiência, a visão da pessoa com deficiência na sociedade alterou-se. "Em vez de inválidos ou seres menos capazes, os deficientes passaram a ser vistos como heróis que haviam dado suas pernas, pés, mãos ou braços pelo bem da nação" (CARVALHO LIMA, 2007, s.p). Deste modo, podemos perceber que a representação da pessoa com deficiência é influenciada pelos sistemas culturais. As pesquisadores Mavignier e Tarapanoff (2013), ao realizar um trabalho sobre a representação da pessoa com deficiência no cinema, elencam quatro tipos de representação presentes nos veículos midiáticos. São elas, a de assistencialismo (como 'coitadinhas' que precisam de ajuda); da normalização (a deficiência é representada como uma doença, para qual procura-se a cura); da cidadania (a pessoa com deficiência é vista como um ser humano completo, um cidadão com deveres e direitos) e da superação (a pessoa com deficiência é representada como vencedora, mito). Entretanto, Hilgemberg (2013) afirma que ao analisar a representação da pessoa com deficiência, percebe-se que geralmente esses indivíduos são retratos de forma irreal e estereotipadas, pois

XX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Uberlândia - MG – 19 a 21/06/ É importante ressaltar que as atividades esportivas Mixed Martial Arts (MMA) e a Fórmula 1 também possuem abas específicas, isto deve-se ao fato do MMA estar em ascensão no cenário brasileiro e da Fórmula 1, como apresenta Bezerra e Rangel (2006), ser uma atividade que sempre tem espaço na mídia esportiva. É válido destacar que no site , especificamente no menu inicial, não encontramos nenhum aba que faça referência explícita às modalidades paralímpicas. Nem mesmo na aba "esportes de A a Z", que tem como objetivo apresentar todas as modalidades de esporte, as atividades exclusivas do paradesporto, como o goalball , fazem-se presentes. Este fato comprova a restrição de espaço do paradesporto, visto que, não há nenhuma seção para as modalidades adaptadas.

5 O PARADESPORTO NA MÍDIA: A representação da pessoa com deficiência

Essa pesquisa, com a finalidade de aplicação direta na sociedade, fundamenta-se em uma análise da representação do paradesporto e do para-atleta na mídia. Os objetivos referem- se a uma proposta exploratória, no sentido de analisar como a pessoa com deficiência é abordada no veículo midiático Globoesporte.com e se essa abordagem promove ou não o indivíduo com deficiência na sociedade. Os procedimentos para a realização do estudo caracterizam-se por um levantamento documental qualitativo. A pesquisa documental foi utilizada tendo em vista que "caracteriza- se pela busca de informações em documentos que não receberam nenhum tratamento científico, como relatórios, reportagens de jornais, revistas, cartas, filmes, gravações, fotografias, entre outras matérias de divulgação" (OLIVEIRA, 2007, p.69). Além disso, uma pesquisa qualitativa "não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc" (SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009, p.32), e atende, portanto, o objetivo desta pesquisa, que visou analisar e compreender a representação do paradesporto e do para-atleta no jornalismo esportivo. Deste modo, não nos atrelaremos à quantidade de notícias dedicadas ao paradesporto em relação ao esporte convencional, mas, sim, como essas matérias contribuem para a construção da representação do esporte adaptado na mídia brasileira. O corpus do trabalho refere-se a reportagens divulgadas no site Globoesporte.com. A escolha do veículo deve-se por ser um dos sites mais procurados pelos internautas (SILVA; GUIMARÃES, 2012), por fazer parte das Organizações Globo, uma das principais empresas de telecomunicações do país, e também pela facilidade na coleta dos dados, visto que a

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própria mídia disponibiliza uma ferramenta de busca. Com os dados coletados, deu-se início ao tratamento das reportagens sob a ótica da análise de conteúdo de Laurence Bardin (1977).

5.1 A representação do paradesporto e do para-atleta: descrição e análise dos dados O intuito desse trabalho foi investigar como o site Globoesporte.com aborda o paradesporto. Assim, realizou-se uma pesquisa aplicando a análise de conteúdo nas notícias veiculadas no veículo midiático. A amostra foi coletada na quadragésima oitava semana do ano de 2013, ou seja, entre os dias primeiro e sete de dezembro. Optamos por esse recorte pelo fato de que no dia três de dezembro é comemorado o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência^4. A coleta das reportagens aconteceu com o auxílio da ferramenta de busca disponibilizada pelo próprio site Globoesporte.com. Os critérios para a seleção foram as matérias em formato de notícia, publicadas no período delimitado e que tivessem pelo menos uma das palavras-chave, a saber, deficiência(s), deficiente(s), para-atleta(s) ou paratleta(s), paradesporto, paralimpíada(s), paralímpico(s), elencadas pelo estudo. Cabe ressaltar que algumas matérias, apesar de possuírem as palavras-chave, não foram selecionadas para a análise, visto que elas não tinham como intuito apresentar um conteúdo sobre o universo paradesportivo. Após essa seleção, o corpus ficou delimitado em vinte e duas reportagens. Com o material organizado, partimos para o processo de categorização. A partir de uma pré-leitura das reportagens e com o intuito de compreender a representação do paradesporto e do para-atleta elencamos sete categorias: data, título da matéria, terminologia, tipo de deficiência, representação do para-atleta, posicionamento sobre o paradesporto, juntamente com a categoria prova validativa, que consiste em um trecho do texto que confirme a inferência dos resultados.

5.2.1 O espaço do paradesporto e do para-atleta na mídia

Com as análises das sete categorias selecionadas, percebemos que as vinte e duas reportagens nos apresentam um esboço da presença do universo paradesportivo no site Globoesporte.com. A representação do para-atleta de maior abrangência é a de superação. Como defende Woodward (2008), a representação influencia na construção do sujeito. Sendo assim, a pessoa com deficiência é vista, na maior parte, como aquela que precisa superar as

(^4) A data foi estabelecida pelo World Programme of Action concerning Disabled Persons e adotada pelas Nações Unidas em assembleia geral, em 1982 (INTERNATIONAL, 2013, s.p).

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modelo médico da deficiência, em que "as pessoas com deficiência não são vistas como indivíduos independentes, e os impedimentos são sempre construídos pela deficiência" (HILGEMBERG, 2013, p.04). Assim, os para-atletas são vencedores, porque superaram as barreiras da deficiência. Carvalho Lima (2007), ao estudar a presença do paradesporto, afirma que o fato de focar apenas os resultados, deixa de lado aspectos relevantes da prática paradesportiva, fato que foi comprovado pelo nosso corpus. Deste modo, verificar o tratamento dado ao paradesporto em uma época sem um grande evento foi o intuito desse trabalho. Porém, o nosso recorte temporal, foi posterior a uma competição nacional: os Jogos Paralímpicos Escolares, que apesar de não ser um evento mundial é uma das mais importantes competições paradesportivas do país. Os Jogos Paralímpicos Escolares aconteceram entre os dias 26 e 30 de novembro e a temática esteve presente em nove reportagens do corpus. Como defendem Oliveira, Rodrigues e Peil (2009), verificamos que é apenas na época de eventos, em que o paradesporto é abordado nos veículos midiáticos com maior intensidade. Assim, concluímos que a divulgação das notícias sobre o paradesporto estão relacionadas às competições e que em raras vezes o trabalho do dia a dia é abordado. Este estudo, por seu viés exploratório, não pretendeu esgotar a temática, que carece ainda de mais investigações. Apesar disso, as conclusões apontam para pistas que permitem traçar um panorama da representação do paradesporto e do para-atleta no jornalismo esportivo praticado pelo site Globoesporte.com. Tal indicativo pretende contribuir com as discussões no campo de estudos do jornalismo, visto que o trabalho evidenciou a escassez de pesquisas voltadas para universo do paradesporto, em especial para as questões da representação e identidade. Em suma, a escolha da temática sobre o paradesporto permitiu uma reflexão crítica sobre a necessidade de se pensar no papel social que o jornalista deve representar na sociedade. Muitas vezes deixamos nos levar pelo deslumbramento da profissão e esquecemos que um dos objetivos do jornalismo é abordar questões de cunho social.

REFERÊNCIAS

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CARVALHO LIMA, Marcos Henrique. A Mídia e o Paradesporto: a percepção da deficiência visual pelos meios de comunicação.2007. 68 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo). Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: <http://jornalismo.ufma.br/denise/files/2011/04/m%C3%ADdia-e-paradesporto-monografia- UFRJ1.pdf>. Acesso em: 01 fev. 2013.

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DINIZ, Débora. Modelo social da deficiência: a crítica feminista_._ In: SérieAnis 28. Brasília: LetrasLivres, julho, 2003. p. 01-08. Disponível em: <http://www.anis.org.br/serie/artigos/ sa28(diniz)deficienciafeminismo.pdf>. Acesso em: 15 nov.2013.

______. O que é deficiência. São Paulo: Brasiliense, 2007. (Coleção Primeiros Passos).

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