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Este texto explora a concepção de 'dom' na perspectiva de rené girard, marcel mauss e outros pensadores. O documento aborda a estrutura econômica do dom, sua relação com a gratuidade e a reciprocidade, e como as relações humanas são inspiradas pela graça. Além disso, o texto discute a importância da amizade e a relação entre ela e o dom. A abordagem fenomenológica também é mencionada como uma possibilidade de compreender a economia do dom.
Tipologia: Notas de aula
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OLIVEIRA, Adelino Francisco de (Faculdade Salesiana Dom Bosco de Piracicaba)
1. Uma aproximação ao termo “dom”
O termo “dom”, não obstante a imprecisão e obscuridade de sua origem etimológica^1 , vincula-se à noção de dádiva, de doação natural a priori, desprovida de qualquer merecimento explicito. Assim, como dádiva, o dom assume a condição de presente, aquilo que é dado (e recebido) a alguém.
Neste sentido, dom é algo que se recebe ou mesmo se dá, independente de qualquer ato meritório. É neste ponto que o dom se desvela como dádiva. Pois, o dom doado (ou recebido) não é afetado por condicionantes inerentes ao donatário.
Não obstante os limites de uma definição conceitual que possamos vislumbrar neste incipiente artigo sobre o dom, talvez o que demais relevante e fundamental a ser dito foi explicitado por Jean-Luc Marion, ao argumentar que “o dom explica-se por si”^2. Tal perspectiva de compreensão situa-se em estreita relação com a expressão “o amor não se define, o amor se vive”. Talvez possamos parafrasear asseverando: o dom simplesmente se vive.
2. A problemática do dom cerimonial
O pensador René Girard^3 ao analisar a lógica do desejo mimético nos possibilita um interessante caminho para refletirmos sobre o dom que se manifesta no ritual cerimonial. Segundo Girard, o desejo mimético configura-se no desejo de ter e ser o que o outro possui e é. Tal desejo imitativo – o termo mimesis é de origem grega e pode ser traduzido como imitação – é também apropriativo: o sujeito desejante enxerga no outro o sentido e a plenitude que não encontra em sua própria existência; vindo a buscar, dessa forma, apropriar-se da vida desse outro. A lógica mimética – imitativa e apropriativa – lança o ser humano em um ciclo infernal de violência, no qual o desejo
somente alcança uma satisfação momentânea, não sendo nunca completamente saciado. Nesta lógica, na medida em que se realiza a apropriação e a identificação com o outro (objeto desejado), o mimetismo desencadeia um novo desejo, perpetuando o constante sentimento de falta e de vazio.
Girard considera que a dinâmica do desejo mimético envolve toda a sociedade em uma lógica de violência e caos. Tal situação apenas é aplacada, de maneira relativa e temporária, no ritual sacrifical. Neste caso, a sociedade acaba por apontar um responsável – identificado como o bode expiatório – pela violência e desordem, a desencadear a violência vitimaria. Assim, o ritual sacrifical, mediante a violência vitimaria, a promover o holocausto do bode expiatório, acaba por aplacar a lógica do desejo mimético. Neste ponto, para Girard, descortina-se a perspectiva da lógica do dom, a superar a dinâmica do desejo mimético. O exemplo mais evidente se encontra no âmbito do próprio cristianismo. Neste caso, a vítima se entrega livremente – fazendo-se dom de si –, desmascarando a violência sacrifical. Assim, apenas o dom desvela-se capaz de superar o dinamismo da violência mimética. Neste sentido, o ritual cerimonial^4 cumpre, então, a função de estabelecer a lógica do dom em superação à lógica da mimese.
4. A estrutura econômica do dom
A estrutura econômica do dom compreende três movimentos fundamentais: o doador, o dom doado e o donatário (aquele que recebe o dom).^5 Estes três momentos compõem a realidade da doação. O doador consiste naquele que doa o dom, o donatário configura-se naquele que recebe o dom e o dom é aquilo que se doa propriamente.
Neste ponto, Jean-Luc Marion explicita que a doação assume uma dimensão espontânea, na proporção em que afirma que “doamos a todo o momento, do mesmo modo que respiramos”^6. Isso significa que a doação contempla um aspecto fundamental e próprio do humano.
Neste sentido, a máxima de São Francisco, o pobrezinho de Assis, – “é dando que se recebe” –, a compor a dinâmica da reciprocidade, deve ser compreendida em uma chave mais profunda. O doador, ao doar – assumindo a dinâmica do despojamento –, não recebe em um movimento de troca, recebe sim na medida em que o ato de doar plenifica e realiza a sua própria essência. Nesta perspectiva, São Francisco explicita uma ética do humano, que somente se encontra em sua humanidade na medida em que assume a dinâmica da doação.
Superando e ultrapassando então a lógica da reciprocidade, alcançamos a genuína dinâmica do dom, alicerçada na Graça e na gratuidade. A Graça discernida como a dinâmica da ação de Deus e a gratuidade, por sua vez, a definir o critério das relações humanas^10. Assim, segundo o teólogo Hermilo Pretto, a gratuidade humana configura-se como o único espaço em que a Graça divina ganha consistência histórica.^11 Desvela-se, de fato, a lógica do dom: em perspectiva divina. O dom é manifestado e transmitido por meio da Graça; de maneira análoga, as relações humanas espelham tal realidade quando imbuídas do sentimento de gratuidade. Assim, a Graça, que é expressão do dom de Deus, inspira a gratuidade humana, a dinamizar o dom.
No intuito de aprofundarmos menos o tema da Graça e mais a questão da gratuidade, a nortear as relações humanas, retomaremos alguns elementos da filosofia antiga. Neste caso, Aristóteles, ao abordar o tema da amizade em sua obra Ética a Nicômaco , apresenta e analisa três perspectivas a dinamizarem a relação de amizade: a utilidade, o prazer e a virtude. As duas primeiras se assemelham, na medida em que engendram relacionamentos motivados por interessantes. A amizade, tendo como motivação a utilidade, ama pelo que é benéfico para si mesmo; a motivada pelo prazer, faz pelo que é prazeroso a si mesmo. Aristóteles considera ambas formas de amizades circunstanciais. Para o Estagirita, a amizade autêntica é aquela que tem como fundamento a virtude. Isso significa que a amizade tem como base a bondade entre os que são bons, fundamentando-se no desejo de querer o bem ao outro – pelo simples fato do bem e da bondade que tal postura contempla. O pensamento estóico articulado pelo filósofo Sêneca, também desponta como uma importante referência para o tema do dom. Ao trabalhar a questão da relação entre amigos, Sêneca fornece-nos – a partir
da tradição filosófica clássica – uma interessante compreensão do que seria a gratuidade. Para o estóico, na perspectiva de Sêneca, o sábio estabelece suas relações de amizade totalmente desprovidas de qualquer interesse, pois se basta a si mesmo^12. Isso significa que o sábio é aquele que está totalmente livre – na medida em que si basta – para viver a amizade, pois não guarda nenhuma motivação além da amizade em si mesma.
De fato, as reflexões de Aristóteles e as considerações de Sêneca nos fornecem elementos fundamentais para uma compreensão do sentido último da gratuidade. O dom somente se preserva enquanto dom, quando dinamizado por relações gratuitas. A gratuidade compõe a base fundamental para o dom. O tema da amizade articula-se ao tema do dom, quando se refere à perspectiva de não se esperar; se trocar; não fazer prevalecer os próprios sonhos e causas próprias; despojar-se de interesse; abrir-se ao outro como se fosse a si mesmo, não desejar o que está além do bem do outro; iluminar-se de um espírito gratuito e genuíno; lançar-se para alegria do outro, como se esta fosse, num momento, seu único motivo e sentido.
Essa dinâmica relacional articulada pela Graça e pela gratuidade, a delinear o estatuto do dom, desvela-se como um primeiro estrato da fenomenologia^13. Discerne- se que um fenômeno, para se manifestar, em um movimento primeiro, assume a perspectiva da doação. Assim, a doação caracteriza-se como manifestação fenomenológica. Neste sentido, a abordagem fenomenológica – tema caro ao pensador Martim Heidegger – configura-se como uma possibilidade de compreensão da economia do dom.
A manifestação do dom, por meio da Graça, revela, fenomenologicamente, o próprio Deus, que em Jesus – por sua paixão e morte –, se faz dom de si. Desvela-se, neste ponto, a essência do dom: o dom reside no próprio ato de doar-se. Em relação análoga, por meio da dinâmica da gratuidade, as relações humanas alcançam a plenitude. Nesta perspectiva, o dom manifesta o sentido do humano.
5. Elementos aproximativos à Teologia da Retribuição
da mídia e dos meios de comunicação – as imagens, os sons, o apelo fotográfico etc. A expressão midiática da Igreja rompe com o aspecto ritualístico e tradicional dos cultos, ao possibilitar à gama de fiéis o contato restrito e único da pessoa devota e religiosa com a pregação através das imagens e ondas de rádio, poupando-lhe tempo e presença nos cultos, missas e momentos de oração. A televisão e o rádio passam a se conflagrar como principal mecanismo de persuasão e conquista de fiéis, aplacando territórios diferenciados e um público suscetível à influências dos meios de comunicação de massa, propulsores de uma linguagem simplista, apelativa e demarcada pela ilusão das imagens e do impacto.
O contexto histórico da utilização midiática, alavancada pela igreja, apresenta-se diversificado, seguindo uma linha cronológica, intensificada a partir da dédaca de 60. O impulso da mídia caracterizou-se como estratégia adotada pelas igrejas pentecostais e neopentecostais norte-americanas. Utilizando de um conteúdo moralizador e conservador, as igrejas aplacavam fiéis, apelando para sermões severos, exorcismos – carregados de imagem e diálogos impactantes – e pregações de caráter de salvação/redenção. Em geral, de 1970, os espaços da televisão e do rádio brasileiros passam a contemplar a população, atentando para o público evangélico e pentecostal, em franca ascensão. As Igrejas Renascer, Deus é Amor e Assembléia de Deus tomaram os mecanismos televisivos e radiofônicos para pregarem seus princípios de fé e persuasão. Angariando espaços em uma linguagem agressiva e ostensiva – beneficiada por fortes imagens, de caráter apocalíptico –, a Igreja Pentecostal passa a discursar em torno das articulações de demônio e de um forte código de conduta moral. Verdadeiras cenas de exorcismo e descarrego são manipuladas, a fim de persuadir o fiel da relevância da fé e da boa conduta. Claramente, a utilização midiática pela Igreja recorre à fortes recursos, alcançando imagens, símbolos, gestos, articulações corporais, linguagens, de forma a colocar o fiel na condição de telespectador de um evento, um show de purificação e salvação da alma. Soergue a forte tendência a que o dom da palavra (pregação) conceda possibilidades de emergência e conflagração do espetáculo das imagens. Os cultos ficam reduzidos e encerrados enquanto que a vivência da imagem reflete a tendência midiática da Igreja. A fé desvela-se como a vivência de um espetáculo, marcado por efeitos múltiplos – comoção, alegria, ódio, e entrega. Salienta-se que tal expressão midiática gera a economia de espaço/tempo do
culto, rompendo com a pregação e a palavra – quando do vínculo do telespectador à exposição de imagens e seu conteúdo apelativo.
A tendência midiática da Igreja desloca-se do universo pentecostal para a Igreja Católica. Conduzida pela forte tendência da fé em se apropriar de expressões midiáticas, a Igreja Católica vê-se na iminência de preservação e proteção de seus fiéis. Nesta confluência, mecanismos midiáticos são assumidos e instrumentalizados pela Instituição, colocando o ideal da pregação e da palavra na perspectiva dos meios de comunicação de massa. A transmissão das missas e dos cultos seguem a lógica da mídia, desencumbindo o telespectador de sua presença física e locomoção. Mais uma vez, reproduz-se a condição de uma cultura contemporânea em apoloia à economia tempo/espaço/presença. O contexto midiático da religião desencadeia e aguça a reprodução de ídolos/imagem/figuras marcantes. A televisão e seus instrumentos de controle e convencimento capacitam-se a recriar o ideal do herói/ídolo, a conceder a redenção do fiel. Os ídolos reconstruídos são adorados e amados pelo telespectador, transportando uma imagem de comoção, persuasão e poder. Há claro apelo para a idolatria do herói religioso – acenando para as possibilidades da música, da encenação e do carisma. Os produtos – das reconstruídos – tornam-se passíveis de comercialização, recrudescendo a referências ao mercado e ao capital. Há que reconsiderar a gama de cd’s, lp’s, fitas, dvd’s à disposição para o consumidor católico, o qual se dispõe à possibilidade da escolha e da oferta, em conformidade a sua capacidade de consumo e aquisição de bens.
O ideal do mercado e da igreja midiática revela-se na esteira dos meios de comunicação de massa. Ou seja, não há mais como se atentar para a relevância dos rituais, da interação entre a comunidade e seu sacerdote, do cotidiano mais significativo das missas e cultos. A igreja eletrônica – reconstruída no contexto dos meios de comunicação de massa – perde-se em imagens efusivas e instigantes, em ações rápidas e gloriosas, em encenação de atores – a prender a atenção de um público passivo e atônito. Toda a expressão da televisão em condição de templo, soerguendo uma economia de tempo, quando da não necessidade de locomoção. O fiel constituir-se-á como o adorado telespectador – a estar contemplado por imagens alucinantes e sedutoras (uma bela pintura, um belo cenário, uma linda gesticulação e colocação de corpo, um palco organizado etc). a tomada de imagens contagiantes
(^1) Cf. GILBERT, Paul. O dom. In. Síntese , Revista de Filosofia, volume 30, número 97, maio/agosto de 2003. pp. 160. (^2) MARION, Jean-Luc. The reason of the Gift. In. LEASK, Ian e CASSIDY Eoin. Givennness and God: questions of Jean-Luc Marion. New York, Perspectives in Continental Phiplosophy, 2005. p. 102. (^3) GIRARD, René. A violência e o sagrado. 2ª ed. São Paulo, Paz e Terra, 1990. Nessa obra Girard analisa a dinâmica de desencadeamento do desejo mimético como processo originário da experiência religiosa e do próprio desenvolvimento da civilização. (^4) O tema do dom cerimonial é trabalhado na obra de Marcel Mauss. Neste ponto, Marcel Hénaff, na obra Lê prix de la vérité: lê don, l’argent, la philosophie , desenvolve um interessante capítulo intitulado Lê don cérémoniel comme problème: la leçon de Mauss. Cf. HÉNAFF, Marcel. Lê prix de la vérité: lê don, l’argent, la philosophie. Paris, Seuil, 2002. pp157 -173. (^5) Cf. MARION, Jean-Luc. The reason of the Gift. In. LEASK, Ian e CASSIDY Eoin. Givennness and God: questions of Jean-Luc Marion. New York, Perspectives in Continental Phiplosophy, 2005. p. 101. (^6) Ibidem. p. 101.
(^7) Ibidem. p. 102.
(^8) Cf. Cf. MARION, Jean-Luc. The reason of the Gift. In. LEASK, Ian e CASSIDY Eoin. Givennness and God: questions of Jean-Luc Marion. New York, Perspectives in Continental Phiplosophy, 2005. p. 104. (^9) Ibidem. p. 103.
(^10) Os temas da Graça, como ação divina, e da gratuidade, a compor as relações humanas, são abordados na obra PRETTO, Hermilo E. Em busca de vida nova: vida religiosa como exigência cristã. São Paulo, Paulinas, 1997.
(^11) Cf. PRETTO, Hermilo E. Em busca de vida nova: vida religiosa como exigência cristã. São Paulo, Paulinas, 1997. p. 5. (^12) SÊNECA. As relações humanas: a amizade, os livros, a filosofia, o sábio e a atitude perante a morte. São Paulo, Landy, 2002. pp. 45-52. (^13) MARION, Jean-Luc. Esquisse d’um concept fhénoménologique du don. In. Archivio di filosofia 14 , anno 62, 1994, pp. 75-94. LIBANIO, João Batista. Cenários da Igreja. 3º ed. São Paulo, Loyola, 2001, p. 54.
CASSIDY Eoin. Givennness and God: questions of Jean-Luc Marion. New York, Perspectives in Continental Phiplosophy, 2005.
GILBERT, Paul. O dom. In. Síntese , Revista de Filosofia, volume 30, número 97, maio/agosto de 2003.
GIRARD, René. A violência e o sagrado. 2ª ed. São Paulo, Paz e Terra, 1990.
HÉNAFF, Marcel. Lê prix de la vérité: lê don, l’argent, la philosophie. Paris, Seuil, 2002.
KLEIN, Alberto. Imagens de culto e imagens da mídia: interferências midiáticas no cenário religioso. Porto Alegre, Sulina, 2006.
LIBANIO, João Batista. Cenários da Igreja. 3º ed. São Paulo, Loyola, 2001.
MARION, Jean-Luc. Esquisse d’um concept fhénoménologique du don. In. Archivio di filosofia , anno 62, 1994, pp. 75-94.
PRETTO, Hermilo E. Em busca de vida nova: vida religiosa como exigência cristã. São Paulo, Paulinas, 1997.
SÊNECA. As relações humanas: a amizade, os livros, a filosofia, o sábio e a atitude perante a morte. São Paulo, Landy, 2002.