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A importância da literatura na formação do homem, Resumos de Literatura

Volvendo o olhar para o passado e para a história da humanidade, vê-se que a utilização pedagógica da obra literária não é novidade. Já na Antiguidade Clássica.

Tipologia: Resumos

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Adriana_10 🇧🇷

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A importância da literatura na formação do homem
Teatro e literatura dramatizada: uma perspectiva de leitura
Joana Amélia Sant’ Ana
1
RESUMO
A introdução ao texto literário conduz a universos que proporcionam reflexão e
incorporação de novas experiências, pois seu consumo induz a práticas
socializantes, que se mostram democráticas, porque igualitárias. Em termos
educacionais, o texto artístico é essencial para a formação do indivíduo, para seu
aprimoramento intelectual e, sobretudo, ético. É preciso que a escola exerça seu
papel de mediadora do conhecimento elaborado, propiciando condições para que
sua apropriação aconteça, por representar uma forma fundamental de elevação
cultural para quem dele se apodera, visto esse conhecimento referir-se a um meio
exterior que favorece a produção de uma nova síntese de entendimento do mundo e
da realidade. A autoconsciência do homem realiza-se a partir de sua determinação
em conhecer a si mesmo, de modo a encarar a responsabilidade de seu destino. O
texto literário pode funcionar como espelho no qual o leitor se percebe e formula
questionamento sobre a própria existência. A literatura mediada pela atividade
teatral conduzirá ao aperfeiçoamento e fluidez da leitura e da escrita, ao
desenvolvimento vocabular, ao estímulo das possibilidades intelectuais, ao
desenvolvimento da sensibilidade, do senso crítico e artístico, da sociabilidade e
trabalho coletivo. A linguagem é instrumento fundamental para as relações humanas
e a produção de cultura, é nela, por meio dela, que o homem lê o mundo e a própria
história. Ao abrir espaço para o trabalho corporal com o texto literário, alcançar-se-á
percepção da sociedade e a possibilidade de transformá-la, para que haja coesão
social.
Palavras-chave: Literatura. Cultura. Teatro.
ABSTRACT
The introduction to the Literary Text leads to universes that provide reflection and
incorporation of new experiences since its consumption induces to socialized
practices that show themselves as democratic because they are egalitarian. In
educational terms the artistic text is essential for the formation of the individual, for
his intellectual and ethic refinement above all. It is necessary that the school perform
its role as a mediator of the elaborated knowledge providing conditions so that the
appropriation occur since it represents a fundamental way of cultural elevation for all
the ones who can seize it, known that this knowledge refers to an external way that
helps the production of a new synthesis of comprehension of the world and reality.
Man self-consciousness takes place from his determination in understanding himself
1
Professora de Língua Portuguesa da Rede Estadual de Ensino do Paraná, participante do PDE
(Programa de Desenvolvimento Educacional) da SEED, em 2007/2008.
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A importância da literatura na formação do homem

Teatro e literatura dramatizada: uma perspectiva de leitura Joana Amélia Sant’ Ana^1

RESUMO

A introdução ao texto literário conduz a universos que proporcionam reflexão e incorporação de novas experiências, pois seu consumo induz a práticas socializantes, que se mostram democráticas, porque igualitárias. Em termos educacionais, o texto artístico é essencial para a formação do indivíduo, para seu aprimoramento intelectual e, sobretudo, ético. É preciso que a escola exerça seu papel de mediadora do conhecimento elaborado, propiciando condições para que sua apropriação aconteça, por representar uma forma fundamental de elevação cultural para quem dele se apodera, visto esse conhecimento referir-se a um meio exterior que favorece a produção de uma nova síntese de entendimento do mundo e da realidade. A autoconsciência do homem realiza-se a partir de sua determinação em conhecer a si mesmo, de modo a encarar a responsabilidade de seu destino. O texto literário pode funcionar como espelho no qual o leitor se percebe e formula questionamento sobre a própria existência. A literatura mediada pela atividade teatral conduzirá ao aperfeiçoamento e fluidez da leitura e da escrita, ao desenvolvimento vocabular, ao estímulo das possibilidades intelectuais, ao desenvolvimento da sensibilidade, do senso crítico e artístico, da sociabilidade e trabalho coletivo. A linguagem é instrumento fundamental para as relações humanas e a produção de cultura, é nela, por meio dela, que o homem lê o mundo e a própria história. Ao abrir espaço para o trabalho corporal com o texto literário, alcançar-se-á percepção da sociedade e a possibilidade de transformá-la, para que haja coesão social.

Palavras-chave: Literatura. Cultura. Teatro.

ABSTRACT

The introduction to the Literary Text leads to universes that provide reflection and incorporation of new experiences since its consumption induces to socialized practices that show themselves as democratic because they are egalitarian. In educational terms the artistic text is essential for the formation of the individual, for his intellectual and ethic refinement above all. It is necessary that the school perform its role as a mediator of the elaborated knowledge providing conditions so that the appropriation occur since it represents a fundamental way of cultural elevation for all the ones who can seize it, known that this knowledge refers to an external way that helps the production of a new synthesis of comprehension of the world and reality. Man self-consciousness takes place from his determination in understanding himself

(^1) Professora de Língua Portuguesa da Rede Estadual de Ensino do Paraná, participante do PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional) da SEED, em 2007/2008.

so that he can face the responsibility of his own destiny. The Literary Text can work as a mirror in which the reader can feel and formulate queries about his own existence. Literature, mediated by the theatrical activity, will guide to the improvement and fluidity of reading and writing, to the lexical development, to the incentive of intellectual possibilities, to the development of critical and artistic sense sensibility, of the sociability, and it is a collective work. Language is a fundamental instrument for human relations and cultural production, it is in it, through it that man reads the world and his own history. In opening space for the corporal work with the literary theatre we will reach the perception of society and the possibility to transform it toward a social cohesion.

Key-words: Literature. Culture. Theatre.

INTRODUÇÃO

O dicionário Aurélio ((FERREIRA, 1988, p. 845) define literatura, no item 7º do verbete, como “... qualquer dos usos estéticos da linguagem: literatura oral”. A partir do conceito, é possível afirmar que os homens primitivos, ao produzirem/criarem palavras/linguagem para nomear objetos e ensinarem-nas para o grupo, ao sentarem ao redor do fogo e narrarem os fatos ocorridos durante a caçada – entremeando sons e gestos –, ou, ainda, ao detalharem crenças e mitos – berços da poesia, da religião e da filosofia – era literatura o que faziam, era teatro o que realizavam. A literatura e a arte teatral começam historicamente com o domínio que o homem, gradualmente, faz da linguagem. A história do homem, entretanto, recomeça em cada indivíduo que nasce, uma vez que a história da cultura humana é a incessante atualização dos conceitos elaborados desde os primórdios da humanidade, haja vista as descobertas e conseqüentes transformações que a prática humana realiza. Assim, à medida que o conhecimento evolui, cada indivíduo que nasce defronta-se com uma sociedade mais complexa, na qual deverá ser inserido. A sociedade atual, fruto da evolução constante do processo social, é determinada pela separação entre o trabalho manual e o trabalho intelectual, fator que gerou a pulverização da cultura, o conhecimento compartimentado. É a sociedade de mercado, da dissociação. Nela, o compartilhamento se dissolve, não há conexão com o outro. O homem culto, educado, associa valores de socialização e civilidade, proporcionados por valores morais e humanos. O homem preso à cultura

Assim, para que a escola alcance êxito em seu percurso educativo é preciso que a educação institucionalizada tenha como premissa o homem integral. Perrone- Moisés (2003) afirma que, no que tange à questão cultural, é momento de encontrar, entre os escombros deixados pela barbárie globalizada, alguma promessa de futuro que não seja apenas técnica e econômica. Segundo a autora,

A sociedade passa por um momento em que a luta não se trava mais entre concepções diferentes de cultura, entre cultura e a contracultura, alta cultura e cultura de massa, mas entre a cultura e a descultura pura e simples. (...) luta com as conseqüências muita mais diretas sobre o real, entre o poder econômico globalizado e as aspirações políticas e culturais localizadas. (...) Em termos filosóficos, é uma luta entre universalismo e particularismos (p. 203, 204).

Ou seja, é momento de se pensar em uma educação solidamente assentada no saber proporcionado pela arte, que vise preservar e estimular nas crianças e nos jovens a criatividade, procurando prepará-los para resistir ao processo de uniformização e pensamento único, uma arquitetura de paralelismo sem igual que os mantém reféns da tecnologia e da ciência que, de primeira à última análise, são conquistas do homem e cujo objetivo deve ser, unicamente, trazer benefícios a ele, servi-lo e não dominá-lo. A intencionalidade humana gera cultura, que gera objetos que, por sua vez, transforma a cultura, em eterno círculo gerador. O papel do professor, assim, é de ser um meio nessa engrenagem de elaboração da cultura, o mediador que coopera para a elevação da qualidade de vida da sociedade. Urge que a escola exerça seu papel de mediadora do conhecimento elaborado, para que sua apropriação aconteça como forma fundamental de elevação cultural, haja vista esse conhecimento referir-se a um meio exterior que favorece a produção de uma nova síntese de entendimentos do mundo e da realidade. É preciso que a escola se constitua em espaço onde o indivíduo possa realizar a ruptura com a situação cultural anterior, ascendendo a novo patamar onde possa ressurgir como outro, resultante de elaboração personalizada, de pensamento e disposições próprias, livre de amarras, sujeito de si e de seu conhecimento. Volvendo o olhar para o passado e para a história da humanidade, vê-se que a utilização pedagógica da obra literária não é novidade. Já na Antiguidade Clássica grega, os aedes – narradores profissionais da palavra – declamavam os feitos bélicos

do passado com o intuito de divertir e contar a história do povo. Lançavam mão desse trabalho para propagar ideais como heroísmo, compaixão, coragem, ética relacional... Enfim, as tragédias tratam de conteúdos valiosos para a captação do processo histórico e dos valores humanos fundamentais que, na sociedade contemporânea, encontram-se gradativamente sendo desprestigiados. Não se pode dizer que o caráter educativo da literatura tenha surgido durante o período da civilização grega, no entanto, a tragédia foi o gênero que, nos transcorrer do século V, propagou os ideais democráticos formulados pelas polis, agrupamentos sociais (cidades) onde havia um espaço público, denominado scolae. Nesse local, os homens se reuniam para, assim como seu ancestral primitivo, após o dia de trabalho, conversar, contar as experiências e dividir o conhecimento. No mundo ocidental, a literatura é introduzida na escola na partir da instalação da República Francesa. Ainda que as escolas laicas surgidas nessa época se destinassem aos filhos da classe burguesa, em acordo com o caráter burguês da revolução, é o princípio do experimento cultural da divisão do conhecimento acumulado. A educação laica, assim, surgiu como vetor de prevenção da miséria cultural, como possibilidade de homogeneidade cultural e conseqüente supressão da divisão de classes. Para Zilberman (1990, p. 19),

... o texto literário introduz um universo que, por mais distanciado do cotidiano, leva o leitor a refletir sobre sua rotina e a incorporar novas experiências (...) o texto artístico talvez não ensine nada, nem se pretenda a isso; mas seu consumo induz a algumas práticas socializantes que, estimuladas, mostram-se democráticas, porque igualitárias.

O pensamento humano não é arbóreo, acontece por um sistema descontínuo, múltiplo, que sugere a metáfora do rizoma – sistema formado de inúmeras linhas fibrosas que se entrelaçam e, ao mesmo tempo, remetem-se de umas para outras e lançam-se para fora do conjunto, abrindo-se para mil possibilidades e ao trânsito livre entre os saberes. As estruturas conceituais tornam-se fluidas, escorregadias e é possível, finalmente, rompê-las e impedir a prisão do pensamento. O sabor das palavras cria novos saberes. Constitui-se, dessa forma, a metáfora do rizoma, que cresce lateralmente, ocupando espaços e transformando-se em outras compreensões, a partir do deslocamento de significados, que se confundem, que se

novelas, romances, música popular – clássicos e contemporâneos da literatura nacional e estrangeira para os jovens do Ensino Fundamental e Médio. A leitura, a discussão sobre o texto, o trabalho de fundamentação histórica, geográfica, temporal e espacial, a adaptação para o gênero dramático, proporcionarão um novo pensamento a respeito do estudo de literatura. Essa nova perspectiva de leitura/entendimento da obra literária dependerá do trabalho aguçado e sensível do professor de sala, ou de um professor pertencente à área de Língua Portuguesa e Literatura que, em consenso com o professor de sala, atenda os alunos em contra-turno, no preparo com o texto e com a encenação. A organização escolar com vistas à formação de leitores e cidadãos é fator imprescindível para o sucesso de práticas pedagógicas que inovem e solidifiquem a relação do aluno com o texto literário. Essa condição é essencial para que os debates sejam pontuados por postura crítica e responsável quanto à organização, desenvolvimento e execução do trabalho e, principalmente, para que haja percepção da importância da troca de experiência com o outro e da possibilidade de superação de problemas a partir do trabalho intelectual coletivo. O redimensionamento da importância da arte literária na formação humana, a partir do trabalho teatral, implica não somente envolvimento físico e emocional com a obra artística, mas proporcionará, ainda, possibilidade de auto-análise e expansão em direção ao outro, uma vez que o conhecimento de si mesmo leva à descoberta do ‘tu’. Além da análise e interação com obras literárias clássicas e contemporâneas, a encenação de peças teatrais ou de textos narrativos e poéticos proporcionará o desenvolvimento da escrita, do senso crítico e artístico, da sociabilidade, do trabalho coletivo e o aperfeiçoamento da leitura. Esse aperfeiçoamento se dará em dois âmbitos, o subjetivo, no que tange à interpretação, cognição e percepção de textos complexos e da presença de intertextualidade, e o objetivo, no que se refere à articulação, pronúncia, entonação e desenvolvimento vocabular.

DESENVOLVIMENTO

A prática pedagógica da literatura mediada pelo teatro não deve ser encarada como mero exercício lúdico, é, antes, uma prática que demanda tempo, energia e

profunda paixão pelo trabalho didático-pedagógico, pelo texto literário com que se trabalha e, principalmente, pelo objeto do trabalho pedagógico. Para Brandão (2007), “o homem sabe sentindo e sente sabendo, ou seja, é sua consciência reflexiva que o faz ver e sentir ao viver a experiência que o ascende ao decifrar do significado; ele cria o símbolo e o significado a partir da visão. O mundo de símbolos e significados criados conduz à cultura”.^2 O mundo contemporâneo, entretanto, submete o homem à domesticação para o consumo, em gradativo processo de distanciamento de suas reais necessidade e valores, uma vez que no sistema econômico-social vigente o homem vale pelo que é capaz de possuir e, nesse sentido, homem e mercadoria se confundem. A grande máquina de controle social define a visão de mundo do homem e o afasta da verdadeira essência das relações sociais. É um cenário que supõe o homem globalizado, universalizado, com acesso aos meios tecnológicos que universalizarão seu conhecimento. Perrone-Moisés (1998, p. 204) argumenta que

Não há sinais de que as novas tecnologias da comunicação estejam contribuindo para a troca de informações culturais consistentes e significativas; o que se vê é uma proliferação de dados superficiais, relativos a todas as áreas e todas as culturas, embalados em invólucros vendáveis e perecíveis na memória dos usuários.

Ou seja, segundo seu pensamento, no interior dessa falsa universalização, os meios de comunicação desempenham o papel de “... unificar (não de unir), de indiferenciar os repertórios, produzindo a des-cultura”, uma vez que cultura “implica seleção, atribuição de sentido e de valor” (p.205). A educação objetivando o homem culto é fundamental para a observação de que, independente do poder unificador e de indiferenciação cultural entrevistas na sociedade de hoje, e a despeito das situações sociais diferentes, há alguma coisa na arte que permanece inalterada, durante o decurso de todo o processo civilizador por que a sociedade passou, e que expressa uma verdade permanente. É essa coisa, essa verdade permanente que possibilita a comoção perante pinturas pré-históricas das cavernas e com canções antigas. Não é outra a razão do por quê das tragédias gregas encontrarem, ainda hoje, espaço para representações e releituras.

(^2) Doutor em Ciências Sociais e Mestre em Antropologia pela Unicamp, SP, na palestra “A educação popular na escola cidadã e a educação como cultura”, proferida em 28/03/07, no Canal da Música, em Curitiba, PR.

Portanto, à ação cega do destino opõe-se a consciência gerada a partir do advento da purificação das emoções proporcionadas pelo drama, de maneira que o leitor, ao tempo em que se identifica com Édipo ou Zé do Burro, por exemplo, possa libertar-se da identificação erguendo-se acima do destino. Sobre essa qualidade libertadora da arte, Brecht (apud FISCHER, 1987, p. 14) disse:

Nosso teatro precisa estimular a avidez da inteligência e instruir o povo no prazer de mudar a realidade. Nossas platéias precisam não apenas saber que Prometeu foi libertado, mas também precisam familiarizar-se com o prazer de libertá-lo. Nosso público precisa aprender a sentir no teatro toda a satisfação e a alegria experimentadas pelo inventor e pelo descobridor, todo o triunfo vivido pelo libertador.

A autoconsciência do homem realiza-se a partir de sua determinação em conhecer a si mesmo, de modo a encarar a responsabilidade de seu próprio destino. O texto literário, narrativo, poético ou dramático, pode funcionar como espelho a partir do que, após o mergulho na leitura, o leitor se percebe e, estimulado ou provocado, formula questionamentos sobre a própria existência. A obra literária independe do pensamento filosófico ou do engajamento político do escritor, os significantes que constituirão a obra, a partir da qual aflora a língua, implicam no deslocamento de significados que emprestam à literatura um lugar indireto e precioso, de onde ela apenas sugere que sabe de alguma coisa. Ao leitor caberá resgatar no texto os significados, jogar com os signos, organizá-los sem destruir o sabor das palavras das quais emana o saber. Dessa forma, no trabalho de leitura e dramatização, dois objetivos são alcançados: a captação do pensamento humano no decurso de sua trajetória temporal, e o conhecimento que o jovem poderá fazer a respeito de sua própria existência e do seu estar no mundo, na sociedade que, em última análise, é fruto do conjunto de ações empreendidas no processo histórico de civilização. Fischer (1987, p. 14) alerta para o fato de que “... para ser um artista, é necessário dominar, controlar e transformar a experiência em memória, a memória em expressão, a matéria em forma”. Naturalmente, ao realizar a encenação de um texto dramático, ou a adaptação de um texto narrativo ou poético para uma encenação teatral, a pretensão não será outra que a leitura do texto literário e todo conhecimento dela advindo. Silveira (In Barreto Leite, 1976, p.63) afirma que:

... o objetivo do teatro na escola não é o de formação de ator, mas o de formação global do ser humano, seja qual for o caminho profissional que ele preferir, desaconselhando-se, terminantemente, a montagem, de peças com o fito de envaidecer os alunos, alegrar seus pais ou “mostrar serviço” à direção do colégio. Sou contra montagens para platéias adultas estranhas à vida escolar.

Porém, a sensibilidade adquirida na experiência do trato com o texto artístico e sua encenação, com certeza, contribuirão para que o jovem possa trabalhar outras áreas de sua vida de forma mais cuidadosa. Na peça Édipo Rei, de Sófocles, o herói busca obstinadamente a verdade, e vai às últimas conseqüências em busca da revelação, do conhecimento, ainda que sua mãe, Jocasta, tente impedi-lo. Ao conhecê-la, arranca os próprios olhos, símbolos da cegueira em que estivera, símbolos da verdade que, apesar de acompanhá-lo diariamente, ele não vira. Educação e cultura significam, no sentido grego, a criação e a experiência originária de uma formação consciente do homem. O conhecimento sobre si próprio e sobre o mundo que o cerca engloba a possibilidade do homem alcançar a consciência de sua fugacidade, grandeza e indestrutibilidade. O homem é finito, a humanidade não. A literatura, quando surgiu na Grécia antiga, chamava-se poesia e existia para divertir a nobreza e contar feitos bélicos do passado. O surgimento da Ilíada e da Odisséia deve-se a essa circunstância, porém sua permanência deveu-se ao caráter pedagógico que os dois poemas épicos passaram a ter, ao servirem como base explicativa para a origem do mundo helênico e para a diferença entre homens e deuses, além de justificar o modelo político adotado e arrolar para a população normas de comportamento na sociedade. Zilberman (1990, p. 12) registra que o fato de Psístrato, modernizador da sociedade ateniense do século VI a. C., organizar concursos de declamação das epopéias é comprobatório de que

... elas ofereciam ao povo padrões de identificação, imprescindíveis para ele se perceber como uma comunidade, detentora tanto de um passado comum, quanto de uma promessa de futuro, constituindo uma história que integrava os vários grupos étnicos, geográficos e lingüísticos da Grécia.

A autora esclarece que é importante “... realçar a origem religiosa do rótulo histórico, porque ela já aponta para a natureza dos valores ideológicos que servem de diretriz aos textos literários que surgem nessa aurora da literatura ocidental” (1985, p. 20). A Idade Média, fruto de longo processo histórico-cultural fomentado durante os dez séculos, é período em que se fundiram,

... aquecidos pelo fogo espiritualista cristão, a vitalidade rude, a violência instintiva e o sangue novo-primitivo dos bárbaros, com os valores civilizadores da Antigüidade Clássica Greco-Romana. Esse período foi registrado pela palavra escrita em numerosos manuscritos que permaneciam nos conventos, sob a guarda dos primitivos padres da Igreja (COELHO, 1985, p. 21).

O traço marcante da literatura da época é, pois, justamente o caráter moralizante, didático e sentencioso provocado pela fusão dos lastros oriental e ocidental. No Renascimento, entre as reformas mais importantes está a que ocorreu na área pedagógica. O ideal da educação humanista – liberal, com base na formulada pelos gregos e adaptada aos romanos – era a valorização do eu e de suas possibilidades físicas e intelectuais. Entre os filósofos que propuseram o ideal humanista, encontram-se Erasmo, Rabelais e Montaigne. A Reforma, que por um lado reafirma a liberdade de pensamento, incrementa o ensino elementar e defende a obrigatoriedade escolar, por outro provoca o recrudescimento das lutas religiosas e o setor do ensino será o mais visado na luta ideológico-religiosa que se desencadeia com o movimento da Contra-Reforma. É criada a Companhia de Jesus, por Ignácio de Loyola, com o intuito de instruir e, através da catequese, extirpar as heresias. Além dessa, outras ordens são criadas com a intenção de expandir a fé e, com a instauração do Santo Ofício (a Inquisição), os textos literários passam a ser censurados. Impede-se o livre curso das novas idéias e os estudos das Humanidades transforma-se em “mero formalismo erudito e estéril”. Subordinam-se as “belas letras” à “... obra pia de salvar as almas” (COELHO, 1985, p. 48) Atacado pelos puritanos, o teatro, da metade do século XVI à metade do século XVII, era apenas tolerado nas escolas, e com a imposição de ser moralmente sadio e apresentado somente em latim.

No Brasil, os jesuítas, ainda que de forma não institucionalizada, realizavam representações escolares, a exemplo de sua prática na Europa, para que alunos de seus colégios pudessem praticar o latim e, em sua prática catequizadora, incluem o tupi com o intuito de atrair as populações indígenas para a religião cristã. Com esse propósito, José de Anchieta produzia autos, com motivação de origem religiosa, empregando, ora o português, ora o tupi, conforme o interesse ou o grau de compreensão do público a doutrinar e, quanto à forma, prende-se à tradição ibérica dos vilancicos – gênero de canção do século XVI, cujo tema é amoroso ou encomiástico, ou seja, de louvor – cantados por ocasião das festas religiosas. Os autos por ele elaborados materializavam nas figuras fixas dos anjos e dos demônios, os pólos do Bem e do Mal, da Virtude e do Vício. Na segunda metade do século XVIII, o teatro passa a ser visto como “... escola onde os povos aprendem as máximas sãs da política, da moral, do amor à pátria, do valor, do zelo e da fidelidade” (CARVALHO, apud MARTINS, 2003, p. 47). Em sua obra Emílio, de 1762, Rousseau advoga que a primeira fase de educação da criança deveria ser quase inteiramente baseada em jogos. Ele elabora uma proposta pedagógica baseada no retorno à natureza, na espontaneidade do sentimento, a fim de evitar os preconceitos que corrompem a vida moral. É a teoria do Bon Sauvage, o homem é puro até que a sociedade o corrompa. A história da educação é eivada de teorias que buscam esclarecer como se produz o aprendizado e a assimilação do mundo para o homem, mas no que se refere à participação do teatro na educação, a literatura com abordagem específica sobre essa relação passou a existir somente a partir da segunda metade do XIX, com a difusão das idéias de Rousseau. Entre elas, a observação direta dos objetos de estudo, adequação do ensino às faculdades da criança, o ensino ativo e a formação moral pelo exemplo e não pela punição. Em decorrência de suas idéias, surgiu um movimento intitulado Escola Ativa, seguido por educadores como Freinet, John Dewey, Montessori, Piaget, Vygostsky, entre outros e, no Brasil, Anísio Teixeira que, como entrara em contato com as idéias de John Dewey no Teacher’s College of Columbia University (USA), entre os anos de 1927 e 1929, trouxe para o primeiro plano a expressividade, a compreensão e o respeito pelo processo de aprendizagem do aluno. O movimento Escola Ativa, no Brasil, passou a ser conhecido como Escola Nova. “O ensino de teatro na escola foi revolucionado a partir do movimento da

Há, portanto, condições mais que suficientes para que novos conceitos de ensino da literatura sejam colocados em prática. A escola representa local privilegiado para o cultivo de valores humanos fundamentais encontrados nas obras literárias, sejam os clássicos gregos, sejam os clássicos da literatura romântica, realista ou contemporânea. Além disso, e nunca é demais reforçar, o teatro proporciona momento inestimável para o trabalho com a linguagem – instrumento fundamental para as relações humanas e para a produção de cultura. É nela, e por meio dela, que o homem faz a sua leitura de mundo e de sua própria história. No mundo de sons e imagens, o homem interpreta, decodifica e transforma, permanentemente, a matéria oferecida pelo mundo da natureza e da cultura em algo significativo. Ou seja, a penetração na realidade é sempre mediada pela linguagem e por sistemas simbólicos. Introduzir o aluno nessa possibilidade de mergulho é dever do professor. Aos que argumentam que não se deveria fazer teatro com crianças ou adolescentes porque o nível artístico não seria o ideal, pode-se contra argumentar que “... o teatro com crianças e adolescentes deveria ser entendido como parte de uma educação para (pela?) arte, em que o resultado não é o mais importante: o relevante é o processo, a experiência vivida e recriada a cada momento” (CUNHA, 1999, p. 136- 37). As atividades que levam à apresentação teatral – exercício de linguagem, expressão corporal, pesquisa para idealização de cenário, fundo musical, figurino, conduz, “... na pior das hipóteses, (...) à formação do público do espetáculo dramático” (idem, idem). O estímulo à atividade teatral na escola é essencial para a formação de crianças e jovens, uma vez que o teatro tem sido fonte de educação e cultura desde a mais remota antiguidade. Além disso, o professor que se dedica a esse trabalho percebe que as compensações não se limitam, tão somente, ao prazer de elaborar uma brincadeira, mas atingem o próprio crescimento dos alunos, nas áreas afetiva, ativa e intelectual. Esses resultados devem-se ao fato de que as crianças e os jovens se interessam profundamente pela atividade teatral, porque nela se ocupam de muitos serviços diferentes; por essa razão, o teatro com crianças e adolescentes deve ser pensado não em termos de resultado, mas, essencialmente, em termos de processo, de experiência vivida e recriada.

É preciso lembrar que a dramatização faz parte da vida humana, está presente na mais tenra idade, na infância, na juventude e na idade madura. Quando a criança brinca de boneca ou de mocinho e bandido, está representando, essas incursões no mundo da fantasia são acompanhadas de jogos dramáticos e independe da existência de platéia, o mergulho nesse mundo é encarado como verdade, o teatro, portanto, não é mero passatempo, é atividade séria. As peças devem ajustar-se à faixa etária com que se trabalha. As pantomimas, histórias de lendas e folclore são muito apreciadas por crianças de 4 a 7 anos. Peças mais longas, que tratam de fatos e personagens da vida real satisfarão a curiosidade de crianças e pré-adolescentes de 8 a 12 anos. A partir dos 12 já se pode pensar em adaptações das obras de Gil Vicente e Martins Pena, por exemplo, além de todo o teatro de Maria Clara Machado. O trabalho com teatro na escola, entretanto, deve ser iniciado com a proposição de cenas curtas e esquetes criados pelos próprios alunos, a partir de um estímulo que o professor considere importante para ser desenvolvido, em acordo com a faixa etária e o conteúdo que se deseja trabalhar. Podem ser quadros com situações do cotidiano escolar, com situações de vida dos próprios alunos, com acontecimentos importantes vivenciados pela comunidade em que a escola se localiza etc. Assim, nas atividades iniciais – jogos dramáticos que serão o sustentáculo necessário para a práxis de desenvoltura e sensibilização – seriam introduzidas as primeiras noções de mímica, de expressão corporal, de improvisação, de entonação e de dicção. Percorrida essa etapa, será possível pensar em peças a serem levadas pelos alunos, tanto no que tange à dramaturgia voltada para o público infantil e jovem (séries iniciais e 5ª a 8ª do Ensino Fundamental), quanto no que tange à dramaturgia clássica e contemporânea voltada para o público adulto (1ª a 3ª séries do Ensino Médio). Ao chegar-se a essa fase, o fundamento para o trabalho de encenação – seja de textos dramáticos ou adaptações de gêneros poéticos ou narrativos para o dramático – é a escolha do texto. Para tanto, é preciso que o professor conheça profundamente as obras oferecidas e, escolha feita, realize a leitura com a turma e discuta, profundamente, os aspectos estéticos, objetivos e subjetivos da obra.

  • Elenco = com o texto estudado, os atores iniciarão os ensaios (primeiramente com o texto na mão) e, também, farão exercícios de voz, de expressão corporal, de sensibilidade e de imaginação.
  • Direção = deverá orientar os atores na movimentação pelo palco, na marcação de espaço e na expressão oral e corporal, em acordo com as rubricas.

3º passo

  • Cenário, figurino, maquiagem, sonoplastia, iluminação = fase de montagem do palco, dos camarins, do som e da luz.
  • Elenco = ensaio final, já com figurino e maquiagem, no cenário montado e com últimos retoques na luz e no som.
  • Direção = últimas recomendações e estímulos.

4º passo

Encenação do texto e, após efusões, cumprimentos e excitação decorrentes da realização material de todo o trabalho feito para se chegar ao palco, é hora de reflexão e auto-avaliação a respeito do todo. O professor, durante todo o processo, deverá orientar os alunos em suas tarefas e mediar possíveis problemas das equipes, como trocas e desavenças internas, com o intuito de superar conflitos e desenvolver o trabalho coletivo.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Para dar início à implementação do projeto no Colégio Estadual do Paraná houve uma conversa com a equipe de Língua Portuguesa para apresentar a idéia. Para tanto, foi ofertado material escrito para leitura dos docentes e, após reflexão sobre possibilidades de efetuação do trabalho, optou-se por realizar a intervenção com uma 1ª série e uma 2ª série do Ensino Médio, do turno da manhã. Tornou-se, então, possível uma primeira conversa com as turmas para apresentação do projeto e saneamento de dúvidas sobre como se dariam os trabalhos.

A opção conduziu à escolha do texto mais adequado ao trabalho, em acordo com o conteúdo e programação curricular das turmas. Assim, os professores, após conversa com seus alunos, optaram por:

1ª série: representação da peça Sonho de uma noite de verão, de William Shakespeare, uma vez que além de ser um clássico da literatura dramática, trata-se de uma comédia que vai ao encontro da energia e ansiedade da faixa etária dessa classe, além de ser nessa série que se entra em contato formal com o estudo do Gênero Dramático. 2ª série: adaptação de um texto poético do Primeiro Momento do Romantismo brasileiro, o poema épico Y-Juca Pirama, de Gonçalves Dias, também um clássico da literatura brasileira que abre espaço para discussões sobre normas, cultura e pensamento diversos do conhecido nas cidades, assim como a ética relacional desses diferentes grupos étnicos etc.

As professoras regentes, seguindo orientações da professora PDE, procederam à divisão de equipes para os trabalhos, com base em seu trato diário com as turmas e manifestações dos próprios adolescentes. Organizou-se, então, um calendário para ensaios, que deu origem à agenda de locais e horários para que os estudantes pudessem realizar seus encontros, em contra-turno, para pesquisas e ensaios. Os pais foram informados – via bilhete organizado pela professora PDE, com o aval da equipe pedagógica do colégio – com detalhes sobre o porquê de seus filhos permanecerem no colégio, em acordo com o calendário anexado ao bilhete, após seu período normal de aulas. Durante esse período, além dos ensaios normais, foram praticados alguns exercícios vocais, com o objetivo de salientar a necessidade de saúde vocal, de expressão corporal, sensibilidade e imaginação, com o fito de estimular e proporcionar maior desenvoltura na ocupação espacial. Ofereceu-se aos alunos a oportunidade de realizarem os exercícios de:

  1. Aprender a relaxar – o nascimento da árvore.

O ator finge que é uma semente. Deita no chão e fica encolhido, com em posição fetal.