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Guias e Dicas
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Deus e a Exclusão Social: Perspectiva dos Marginalizados no Antigo Testamento e Evangelho, Esquemas de Metodologia

Este documento aborda a relação complexa entre deus, o povo marginalizado e a exclusão social na antiguidade. Os judeus acreditavam que somente aqueles que podiam participar de rituais e celebrações no templo e nas sinagogas eram dignos de acesso a deus. Porém, o povo marginalizado mantinha uma viva esperança na intervenção de deus, aguardando a vinda do messias que libertaria-os da opressão. Jesus apresentava uma visão diferente de deus, enfatizando o amor e a acolhida a todos, especialmente aos que sofriam e eram desprezados. O documento explora como jesus redefiniu o significado da mulher e desafiou os estereótipos da sociedade.

Tipologia: Esquemas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Gustavo_G
Gustavo_G 🇧🇷

4.6

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226 documentos

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A HUMILDADE DE JESUS

MARMITT, Michele^1 RU: 1359794 BACARJI, Arlene Denise^2 RESUMO O presente trabalho aborda aspectos da vida, ações e ensinamentos de Jesus Cristo. Apresenta aspectos sociais da vida Dele, bem como o contexto simples em que viveu e da ênfase de maneira detalhada a humildade manifestada por Jesus. Destaca como esta característica influenciava nas Suas relações com as pessoas daquela época, em especial os mais pobres e excluídos, pois percebiam que Jesus era um “mestre” diferente dos líderes que atuavam naqueles dias, líderes estes que oprimiam, exploravam e pode-se dizer “escravizavam” as pessoas; Jesus, diferentemente deles, acolhe e dá novas esperanças para o povo mais vulnerável. O trabalho faz memória do grande convite feito por Jesus: que todos seguissem Seu exemplo de humildade e serviço para com as outras pessoas. Elenca algumas atitudes cotidianamente utilizadas pelos seres humanos que devem ser abandonadas, e outras que facilitariam o diálogo e podem ser colocadas em prática para que as relações se tornem mais humanas, verdadeiras e fraternas a exemplo das relações de Jesus. Palavras-chave: Jesus. Humildade. Prática. 1 INTRODUÇÃO O trabalho traz como tema a humildade de Jesus e o reflexo em Suas relações. A questão norteadora é: de que maneira a humildade de Jesus, demonstrada em Suas ações e vivências pode se tornar relevante para os dias de hoje? O objetivo geral deste trabalho é explorar alguns aspectos da vida e sociedade em que Jesus viveu, bem como a maneira como se relacionava com as pessoas, principalmente os excluídos, deixando evidente assim, Sua grande humildade; e de que forma essa humildade demonstrada por Jesus pode contribuir para melhorar as relações nos dias de hoje. (^1) Aluna do curso de bacharel em teologia do Centro Universitário Internacional UNINTER. (^2) Professora no Centro Universitário Internacional UNINTER.

A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica, com foco em autores que tratassem historicamente da vida de Jesus, com ênfase em Sua humildade. A estrutura do trabalho é: introdução, desenvolvimento com fundamentação teórica, metodologia, considerações finais e conclui com as referências. 2 A HUMILDADE DE JESUS 2.1 O CONTEXTO Jesus nasceu em Nazaré, uma pequena e desconhecida cidade da Galileia. Segundo Pagola ( 2014 ), tão insignificante que nunca aparecia nos livros sagrados do povo judeu, o Talmud, que cita 65 povoados e nem é citada pelo historiador Flávio Josefo, que menciona 45 povoados, mas Nazaré é desconhecida por ele. Esta região e seu entorno estavam sob o domínio de Roma e seus soldados. A sociedade era prioritariamente agrária, havendo também alguns pescadores, mas o sustento de praticamente todas as famílias ali residentes era tirado do cultivo da terra. Jesus viveu do mesmo modo que a maioria das pessoas desta época: provavelmente em uma casa muito humilde, talvez, como muitas da região, escavada na pedra, com poucos ou apenas um cômodo onde dormiam todos os membros da família e seus animais. Apesar de haverem pouquíssimos relatos a respeito, tudo indica que Jesus teve uma infância muito simples e comum. Convivia com os demais membros da família, via as mulheres realizando seus afazeres domésticos como varrer, fazer o pão, costurar as roupas, testemunhava também os ofícios dos homens, como cuidado dos animais, o trabalho no campo, enfim, todos os afazeres diários de sua família. Jesus conviveu e conheceu muito bem a realidade dura vivida na Galileia. Havia inúmeros impostos e taxas exigidos por Roma, e as famílias, que em sua maioria sobreviviam do trabalho no campo, lutavam para subsistir. Para essas famílias era de extrema importância possuir um pedaço de terra para cultivar, pois dali tiravam o sustento de seus membros, os impostos devidos ao império e a parte que cabia ao dono da terra (quando a terra não lhe pertencia).

consideradas ritualmente impuras, isto é, consideradas indignas de frequentarem o templo, de ir à “casa de Deus”. Diante dessa separação e extrema exigência de pureza por parte dos judeus, acentuava-se a falta de dignidade e desonra daquelas pessoas que, além de terem perdido suas terras e famílias, não podiam participar das celebrações e rituais nas sinagogas e no templo. Isso fez crescer uma enorme discriminação e marginalização de um grande número de pessoas: os leprosos, coxos, cegos, publicanos, doentes, prostitutas, eunucos e também as mulheres. Pagola salienta: São gente suja, muitos deles enfermos, com a pele do corpo ulcerada como Lázaro. Há entre eles mendigos, cegos e prostitutas. Sua vida de vagabundos impede a maioria deles de cumprir as normas de pureza e as purificações rituais. Já é muito ter que arranjar o pão de cada dia. Sua exclusão do templo parece mostrar que Deus os rejeita. Ninguém gosta de ter por perto pessoas sujas e desagradáveis. Certamente Deus também não. (PAGOLA, 2014, p.238). Dessa maneira, o entendimento dos judeus era o seguinte: estes setores da sociedade eram totalmente indignos de ter acesso a Deus, pois isso só era possível através do templo, onde por serem “impuros”, não podiam entrar. No templo viviam os seus funcionários – um número bastante elevado de pessoas – e as famílias sacerdotais, todos muito provavelmente sustentados pelos dízimos, ofertas e valores pagos pelos animais destinados aos sacrifícios (que eram comercializados lá mesmo). “O templo foi se transformando em fonte de poder e riqueza de uma minoria aristocrática que vivia às custas dos setores mais fracos”. (PAGOLA, 2014, p.431). Assim, o lugar que deveria ser usado para aproximar as pessoas de Deus, trazer-lhes esperança, paz e sustento espiritual, tornou-se mais uma fonte de exploração aos “menores” por parte dos líderes. 2.2 A ESPERANÇA DO POVO Mesmo sem poder fazer parte dos rituais e celebrações no templo e das sinagogas, o povo marginalizado mantinha uma fé viva no Deus de Abraão e de seus pais. Tinha firme a esperança que esse Deus viria livrá-los da opressão. Aguardavam a vinda do messias libertador anunciado pelos profetas, e que através dele, Deus faria

justiça ao Seu povo, arrasando e castigando os opressores. “Todas as esperanças do povo estavam postas na intervenção poderosa de Deus, que imporia sua justiça destruindo os inimigos de Israel”. (PAGOLA, 2014, p.315) O “povo escolhido” acreditava na vinda de um Deus que, com Sua força e poder, arrasaria os inimigos devolvendo a liberdade à Sua gente, assim como fez libertando-os no Egito das mãos do faraó e conforme anunciado tantas vezes pelos profetas, bem como no livro de Isaías (Bíblia de Jerusalém, 2002 , p.1272): ...no temor de Iahweh estará a sua inspiração. Ele não julgará segundo a aparência. Ele não dará sentença apenas por ouvir dizer. Antes, julgará os fracos com justiça, com equidade pronunciará sentença a favor dos pobres da terra. Ele ferirá a terra com o bastão da sua boca, e com o sopro de seus lábios matará o ímpio. (BÍBLIA, Isaías 11,3-4) O povo esperava, com o coração em pedaços, tamanho eram os sofrimentos a que eram expostos, uma nova esperança, aguardavam um rei político que, com seu exército de soldados, destruiria Roma e assim teriam de volta à terra prometida que Iahweh havia lhes dado. As pessoas não suportavam mais esta situação: As pessoas mais simples, as classes mais populares, ansiavam por um acontecimento definitivo que pusesse fim às desigualdades sociais e à situação de injustiças em que viviam, agravadas pela incompetência e pela corrupção das próprias autoridades romanas: a libertação divina deveria implicar o fim repentino de todos seus males. (PUIG, 2006, p.126,127). Porém o rei libertador que viria não era bem o que eles esperavam: “Que a cruz houvesse de preceder o seu reinado como condição necessária, estava muito longe do pensamento deles”. (SHEEN,1959, p.228). 2.3 JESUS, O MESSIAS ESPERADO? Certamente Jesus não era exatamente o Rei libertador que o povo esperava. “Eles se imaginavam de “túnica”, usufruindo o status de realeza e desfrutando seus privilégios, fama, proeminência e muitas mordomias”. (ELMER, 2018, p.26). Aquele homem que nasceu e conviveu com eles, que partilhou da sua vida simples e muitas vezes miserável, via suas casas e terras sendo tomadas, suas vidas

Sem dúvidas esta novidade apresentada por Jesus trouxe insatisfação aos líderes religiosos, que monopolizavam e tinham, em seu ver, toda a autoridade de Deus sobre o povo (por isso foi perseguido e morto pelas autoridades judaicas e romanas). Jesus não suportava ver o sofrimento e penúria do povo. Os líderes políticos e religiosos que tinham poder e deveriam usá-lo em favor de todos, usavam-no em seu próprio benefício e de suas famílias. Justamente os que deveriam ser exemplo de serviço e lutar em favor dos mais excluídos, oprimia-os e se preocupavam apenas em viver no luxo, com seus privilégios e suntuosidade. Jesus sabia que não era este tipo de líder que Deus esperava. Buscava mostrar através de suas ações e ensinamentos a humildade esperada de um verdadeiro “rei”. A esse respeito Elmer nos diz: “os valores do reino de Deus são diferentes dos valores deste mundo. Para o mundo, ser grande é exercer poder sobre os outros. No reino de Deus, ser grande é servir aos outros”. (ELMER, 2018, p.30). A coragem e determinação de Jesus eram impressionantes, pois se preciso fosse desafiava os chefes e sacerdotes em defesa dos marginalizados: Sua firme defesa dos indigentes e famintos, sua acolhida preferencial aos últimos daquela sociedade ou sua condenação da vida suntuosa dos ricos das cidades eram um desafio público àquele programa sociopolítico estimulado por Antipas, favorecendo os interesses dos mais poderosos e mergulhando na indigência os mais fracos. (PAGOLA, 2014, p.50). Jesus condenava abertamente o sistema do templo, declarava os cultos “vazios” e chamava seus líderes de “hipócritas”, anunciando enfaticamente que isso não agradava a Deus; por isso adquiriu o apoio de grande parte do povo, o que causou grande desconforto aos líderes do templo, pois se “mexesse” com o templo, resultaria em mudanças para as famílias sacerdotais e os valores arrecadados com o “comércio” realizado dentro do mesmo. O povo então já estava começando a aclamá-lo “Rei”, pois falava o que queriam e precisavam ouvir e se posicionava a favor deles. Surgia então dois grupos: os que não acolheram Jesus e os que se identificaram com sua mensagem; e foi para estes que ele dedicou sua vida e ministério. 2.3.1 Os Excluídos – Principal alvo de Jesus

2.3.1.1 Mulheres No tempo de Jesus a identidade das mulheres era totalmente vinculada aos homens: seus pais, irmãos, maridos ou filhos. Elas não tinham direitos perante a sociedade, precisavam necessariamente que fossem representadas por um homem, mesmo assim não possuíam nenhuma propriedade, não tinha direito a decisões, inclusive quanto ao seu futuro, seus pais é que as “davam” em casamento. As mulheres eram consideradas pecadoras e mentirosas por natureza, por isso seus testemunhos não eram válidos. Não podiam participar das celebrações no templo, pois eram consideradas ritualmente impuras durante a menstruação e após o parto. A mulher dedicava-se somente à vida familiar. Fora dali elas não “existiam”. Sua função era ter filhos e satisfazer e servir seu marido. Os filhos deviam ser de preferência meninos. Uma mulher que não pudesse ter filhos era considerada amaldiçoada e estava condenada a viver na miséria e sozinha. A mulher era “propriedade” do homem, e este, a qualquer momento poderia repudiá-la e casar-se com outra. Jesus não viu as mulheres dessa forma. Escandalizava ao falar e relacionar-se com elas, era amistoso e gentil, acolhedor e amigo. Valorizava-as, citando-as em suas parábolas, fazendo menção aos trabalhos domésticos realizados por elas. Ele tinha plena convicção de que as mulheres também deviam ouvir a mensagem do “reino de Deus”. “Nunca aquelas mulheres haviam estado tão perto de um profeta. Jamais haviam ouvido falar assim de Deus. Mais de uma chora de gratidão”. (PAGOLA, 2014, p.261). Jesus sabia que não revolucionaria aquela sociedade patriarcal, mas precisava deixar claro que esta era a vontade de Deus: que vigorasse um reino de humildade, amor e acolhida a todos, principalmente aos que sofriam e eram desprezados, e as mulheres faziam parte deste propósito de Deus. O mais surpreendente talvez seja ver de que maneira tão simples e natural ele vai redefinindo, a partir de sua experiência de Deus, o significado da mulher, derrubando os estereótipos vigentes naquela sociedade. (PAGOLA, 2014, p.262).

O Deus que eles passam a conhecer e crer não se alegra com o sofrimento e o isolamento de ninguém. Jesus quer mostrar-lhes que é neste Deus que devem confiar. Um Deus Pai que quer a vida plena para seus Filhos. 2.3.1.3 Os Pobres Diante da ganância e luxúria dos governantes da época, crescia cada vez mais o número de pessoas que vivam em situação de extrema pobreza. Para dar andamento em seus projetos de construção o imperador aumentava cada vez mais as taxas e tributos cobrados dos camponeses. Muitas vezes sem poder pagá-los eles contraiam dívidas que se tornavam impagáveis, resultando na perda de suas terras, o que era a desgraça de toda a família, pois era seu único meio de subsistência. Império de Tibério, reino de Herodes ou tetrarquia de Antipas: o resultado era sempre o mesmo. Luxuosos edifícios nas cidades, miséria nas aldeias; riqueza e ostentação nas elites urbanas, dívidas e fome entre as pessoas do campo; enriquecimento progressivo dos grandes latifundiários, perda de terra dos camponeses pobres. Cresceu a insegurança e a desnutrição; as famílias privadas de terra desintegravam-se; aumentou o número de diaristas, mendigos, vagabundos, prostitutas, bandoleiros e pessoas que fugiam de seus credores. (PAGOLA, 2014, p.221). Grande parte destas pessoas tinha pouquíssima ou nenhuma formação, e também desconheciam as prescrições da Lei ou Torah, como era chamada, tão rigidamente observadas pelos fariseus (grupo de judeus que seguiam rigorosamente todas as prescrições desta Lei), o que os tornava impuros e por consequência eram afastados do convívio. “Os 613 mandamentos com os quais os doutores da Lei resumem a prática da Lei representam um objetivo inalcançável para as pessoas mais simples”. (PUIG, 2006, p. 420). Conforme nos relata Pagola (2014), muitas vezes estas pessoas viviam à margem, contando com a piedade e compaixão das outras pessoas e implorando por um pedaço de pão. Isso acontecia com a imensa maioria dos galileus. Jesus sabia como era dura esta realidade, tinha uma vida itinerante, não possuía nada de material, somente a fé em Deus e a determinação em anunciar seu reino de amor, humildade e igualdade.

Sem dúvida a humildade de Jesus em se aproximar dessas pessoas sujas, impuras e degradadas causou muita estranheza, pois ninguém se aproximava nem se relacionava com eles. Os que possuíam algo viviam em um egocentrismo e arrogância extremos. ”Jesus, em contrapartida, deixa-se rodear por todos eles, recebe os “simples”, uma vez que a prática minuciosa da Lei não constitui, em si mesma, o objetivo da sua mensagem”. (PUIG, 2006, p.420). Ele os tratava diferente, como gente, como seus “irmãos”, filhos de Deus. Não os via como inferiores ou inimigos. Falava que Deus os amava e acolhia da maneira que eram. E que a situação vulnerável em que se encontravam não era uma “maldição” de Deus, mas sim culpa de seus governantes e líderes. 2.4 O VERDADEIRO PODER Jesus trouxe uma mensagem totalmente contraditória: a humildade e a serviço são os maiores sinais de poder. Desde Seu nascimento até Sua morte, Jesus comunicou humildade e serviço. Dedicou toda a Sua vida para amenizar e resolver os problemas e dificuldades das outras pessoas, nunca fez nada em benefício próprio. Quis mostrar um Deus simples, que não se importava com grandiosas ofertas e o luxo que tomavam conta do templo em Jerusalém, ao contrário, o Deus revelado por Jesus amava e se importava com os humildes e mais vulneráveis. E Ele demonstrava isso a partir de ações reveladas antes e durante Seu ministério. Uma vida que se resume a ser humilde e servir os outros, a esse respeito Elmer diz: Nossa primeira imagem terrena de Jesus, bem no início de sua vida, é a de um bebê nascido em uma estrebaria e cercado de animais. A cena revela simplicidade, humildade, vulnerabilidade, fragilidade, exposição. A última imagem que temos de Jesus, no fim de sua vida terrena, é a de um corpo ferido pendurado em uma cruz. A cena comunica humilhação, sofrimento, fracasso e, para muitos, derrota. (ELMER, 2018, p.27) Jesus foi o maior e mais extremo exemplo de humildade que já existiu. Pois mesmo sabendo de Sua natureza, que era verdadeiramente o Messias de Deus e que possuía todo poder, não usou isso para se exaltar ou ensoberbecer, pelo contrário: tornou-se o mais simples dos humanos, para mostrar qual era realmente o maior “poder” para Deus; fazer-se servo, fazer-se pequeno e estar a serviço dos demais.

2.6 O CONVITE

Elmer afirma: “Se Deus se ligou a nós como servo, é assim que devemos nos ligar as pessoas neste mundo”. (ELMER, 2016, p.25). Porém, a iniciativa de se fazer “servo” do próximo, não deve ser apenas uma iniciativa humana, pois naturalmente o homem não têm como essência servir o próximo: Quando decidimos nos tornar servos por esforço próprio, o serviço ao próximo será mecânico, artificial, forçado. Entretanto, se encaramos esse serviço com nossa mais profunda identificação com Cristo e isso habitar nosso ser, servir aos outros será uma expressão natural e muitas vezes inconsciente desse fato. Nesse sentido o serviço ao próximo não é somente aquilo que fazemos, mas o que somos. (ELMER ,2018, p.26) Jesus convida que também nós “vistamos” a Sua humildade, para perceber então o sagrado no próximo, e dessa forma, sermos capazes de abdicar de nós mesmos e de nossas prioridades momentâneas para participar da vida, sofrimentos e necessidades de nossos “irmãos”. Segundo o Papa Francisco (2013, p.212), Jesus vem inaugurar o reino de Deus, com Sua humildade e mansidão nos convida a abrir mão do sonho cômodo do poder e da vaidade para tornarmo-nos disponíveis e estar a serviço dos outros. Segundo Elmer (2018), a “toalha” – atitude de servir o próximo, dispondo-nos a auxiliar até mesmo alguém desconhecido, colocar os outros acima de nós mesmos, satisfazer as necessidades alheias antes das nossas, a exemplo do que fez Jesus – não nos atrai. Sempre será mais agradável estar em segurança, em nossa zona de conforto, vivendo e usufruindo das “posses” e “riquezas” de que dispomos sem nos preocuparmos com a “pobreza” e “miséria” do nosso irmão. Como já mencionado: não é da natureza humana abrir mão de si para servir e estar ao dispor dos demais. Viver em atitude de humildade, onde as outras pessoas sejam – ao menos em parte do tempo – nossas prioridades é algo totalmente impensável e fora da realidade atual. Relacionado a isso Anselm Grün, doutor em teologia nos diz: O orgulhoso despreza os outros, o humilde os respeita, valoriza-os mais do que a si mesmo. O respeito pelos outros, o reverente reconhecimento do mistério que cada um tem em si, é uma condição básica do verdadeiro amor. (GRÜN, 2014, p.32).

Somente com olhos e atitudes humildes poderemos, a exemplo de Cristo, ver as outras pessoas também como obras de Deus e amadas por Ele. A humildade nos permitirá enxergar os outros de maneira contemplativa e não “condenativa”, pois passaremos a ver a sua humanidade e beleza (antes ofuscada pela tendência de nos considerarmos melhores) ao invés de apontar, mesmo que mentalmente, seus defeitos, erros e pecados. Permitirá que não nos sintamos melhores que o próximo, ao contrário, seremos capazes de enxergar todos defeitos e pecados que temos para que desta forma passemos a respeitar os outros, e nos sentirmos parte e responsáveis também pela vida deles. “A humildade não nos dá apenas o sentimento de sermos humanos entre humanos, mas nos une profundamente, pelo respeito a todas as criaturas, a toda criação”. (GRÜN, 2014, p.34). A humildade nos torna capazes de confiar nas outras pessoas, de enxergar neles um apoio, um alento, um conforto, um conselho, pois permite que vejamos neles o próprio Deus. ...nas relações humanas a humildade consiste em respeitarmos e aceitarmos as pessoas, em valorizá-las mais que a nós mesmos, porque nelas reconhecemos o mistério de Deus, porque nós, conscientes de nossas dolorosas limitações, de nossas fraquezas e nossa condição de pecadores, vemos nos outros a possibilidade de encontrar Deus e, por meio deles, ouvir o clamor de Deus. (GRÜN, 2014, p.39) As grandes diferenças culturais, sociais e étnicas de hoje são grande exercício para a humildade, podendo ser consideradas inclusive desafios, como diz o Papa Francisco (2013), saber reconhecer, aceitar e conviver com as diferentes formas de ser e de pensar das outras pessoas não implicará em renunciar as nossas crenças e valores, mas sim, será grande exemplo de amor, humildade e acolhida, pois podemos ser nós mesmos sem que isso implique em “anular” o outro. Ainda sobre isso nos diz Bergoglio: Enquanto vemos que todos tipos de intolerâncias fundamentalistas se apossam das relações entre as pessoas, grupos e povos, vivamos e ensinemos nós o valor do respeito, o amor mais além de toda diferença, o valor da prioridade de filho de Deus de todo ser humano sobre quaisquer que sejam suas ideias, sentimentos, práticas e mesmo seus pecados. (BERGOGLIO, 2013, p.107). A atitude humilde de aceitar as pessoas da maneira como são, independente da sua cor, raça, sexo, cultura, etc., sem ter a presunção de modificá-las e adaptá-las

esvaziar-se de si mesmo, abrir-se e estar acessível aos outros, que foi ao que se resumiu a vida de Cristo. “A humildade é um estilo de vida, e não episódios isolados. É um comportamento em relação a Deus, a nós mesmos e aos semelhantes que permeia nossos pensamentos e atitudes”. (ELMER, 2018, p.40). Cada pessoa, cada ser humano, foi criado à imagem e semelhança de Deus, desse modo então, estamos todos incluídos neste contexto e precisamos manifestar este “Deus” que habita em nós de tal forma que as pessoas com quem tivermos contato sejam marcadas profundamente, de maneira positiva, por nossa acolhida, hospitalidade e abertura. Elmer define “abertura” da seguinte forma: “é a habilidade de acolher as pessoas e fazê-las se sentirem à vontade em nossa presença”. (ELMER, 2018, p.50). Jesus, sem dúvidas foi o maior mestre em se tratando de “abertura”, pois as pessoas queriam estar próximas a Ele e sentiam-se bem em Sua presença. Segundo os relatos bíblicos, Jesus nunca “se fechou” a uma pessoa que o estivesse procurando e seguindo de coração aberto. Jesus não fazia julgamentos ou “rotulava” as pessoas com quem tinha contato, o que é hoje uma tendência natural nas relações humanas. Julgamos, rotulamos e selecionamos as pessoas com as quais queremos nos relacionar, muitas vezes apenas por sua aparência física ou até por uma ou duas frases trocadas. Criamos barreiras e colocamos obstáculos para nos relacionarmos com os demais, certas vezes sem ao menos saber seu nome já definimos se é ou não uma pessoa de boa índole e se que merece ou não nossa atenção. “Estereótipos, sejam baseados em experiências passadas ou aprendidos de terceiros, geralmente nos impedem de estarmos abertos a pessoas de outros grupos” (ELMER, 2018, p.63) 2.7 O AGIR Em tempos em que a soberba e o egoísmo imperam, onde afogados em nossos relativismos e preconceitos, em que a vida corre sem percebermos sua passagem, urge a necessidade de contemplarmos o olhar e agir humilde e fraterno de Cristo. Aprender a ver com os olhos de Jesus, que mesmo sendo Deus, vestiu-se de toda humildade, para amar e acolher a todos. Diante dos mais severos sofrimentos e ultrajantes humilhações, manteve-se sereno, terno e compassivo; não por estar

impossibilitado de revidar – pois sendo Deus tudo lhe era possível – mas porque o “reino” que anunciava e inaugurava, não era de violência, vingança e opressão, mas de amor, humildade, justiça e igualdade, e esta era a forma como queria que fosse lembrado após Sua morte. Papa Francisco ressalta: Quando vemos um Deus que se enamora de nossa pequenez, que se faz ternura para acariciar-nos melhor; um Deus que é todo mansidão, todo vizinhança, todo “proximidade”, não nos resta outra coisa se não abrir nosso coração e dizer-lhe: Senhor, se você assim o fez, ajude-nos, dê-nos a graça da ternura nas penosas situações da vida, dê-nos a graça da “proximidade” diante de toda necessidade humana; dê-nos a graça da mansidão diante de todo conflito. (BERGOGLIO, 2013, p.172). Faz-se necessária uma conscientização global de que todos dependem uns dos outros para todos os aspectos da vida, mesmo contra a vontade. Desde o acordar até o deitar usamos e usufruímos objetos, alimentos e serviços desenvolvidos e fabricados por outras pessoas. Não fomos criados para vivermos sozinhos ou isolados, ao contrário: nossa essência é “social”, é interagir e se relacionar com as outras pessoas. Cabe a cada um perceber e reconhecer quanto o “outro” é importante e necessário em sua vida. Diálogo, amizade e solidariedade exigem certa dose de interdependência. Embora tanto na independência quanto na dependência existam aspectos negativos, a interdependência nada mais é do que admitir que precisamos uns dos outros para termos família, igreja e bem-estar social. (ELMER, 2018, p.129). Jesus deixou uma grande missão: que sigam Seu exemplo de humildade, acolhida, abertura e amor, sem distinção: Você, eu, o vizinho, o pobre, o indivíduo com HIV/AIDS, e até o pior dos bandidos guardam semelhança com Deus. O Senhor foi generoso. Ele compartilhou com cada pessoa algo de si mesmo que a torna absolutamente única – diferente de qualquer outro ser criado. Deus espera que vejamos o rosto Dele quando olhamos para os outros. (ELMER, 2018, p.80). Por isso urge a necessidade de que aprendamos a valorizar mais todas as pessoas que passam em nossas vidas, pois cada uma delas nos faz próximos de Deus. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

SCOTT, Steven K. O método de liderança de Jesus: as quatro tarefas que ele deixou para você cumprir. Rio de Janeiro: Vida Melhor, 2016. SHEEN, Fulton. Vida de Cristo. Porto: Educação Nacional, 1959.