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Neste documento, o autor examina a bibliografia sobre a gramaticalização, um processo importante na criação de formas linguísticas novas que substituem as velhas e introduz categorias sem expressão anterior. O autor discute a importância da gramaticalização em relação à analogia, as alterações fundamentais que acompanham a passagem de uma palavra principal para uma palavra auxiliar/gramatical, e as categorias gramaticais e lexicais. Além disso, ele discute os fatores que contribuíram para o renascimento da gramaticalização, como a crescente insatisfação com os modelos estáticos de descrição gramatical, o interesse pela pragmática e pelos universais da linguagem. O documento também discute a persistência de traços do significado lexical original em novas formas gramaticais.
O que você vai aprender
Tipologia: Esquemas
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Não perca as partes importantes!
A GRAMATICALIZAÇÃO
DA PERÍFRASE CONJUNCIONAL
SÓ QUE
i
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Lingüística do Instituto de Estudos da Linguagem da
de Doutor em Lingüística. Área de Concentração: Semântica
Orientador: Prof. Dr. Rodolfo llari
Campinas Fevereiro/
N•CPO
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L86lg
Longhin, Sanderléia Roberta A gramaticalização da perifrase conjuncional 'só que'. I Sanderléia Roberta Longhin. --Campinas, SP: [s.n.], 2002. Orientador: Rodolfo Ilari Tese ( doutorado ) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem. L Mudança lingüística. 2. Funcionalismo (lingüística). 3. Teoria (lingüística). L Ilari, Rodolfo. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem. Ill Título.
Agradeço
especialmente ao llari, professor e amigo, pela orientação tranqüila e segura, pelo tempo dedicado às discussões, pelos incentivos recebidos, pelas muitas lições, e pela disponibilidade em acompanhar cada etapa do trabalho.
à minha mãe, pelo apoio constante;
ao llson, pela compreensão, pela paciência e pelos muitos favores;
aos professores Ataliba e Evani, pelas valiosas sugestões feitas por ocasião do exame de qualificação;
ao professor Luis Augusto Schmidt Totti, pela revisão da tradução dos exemplos do latim;
às amigas Graziela e Fabiana, pela carinhosa hospedagem em campinas; e,
à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior, CAPES, pelo auxílio financeiro.
v
vii
O propósito deste trabalho é investigar, a partir de amostras do português falado e escrito, o processo de grarnaticalização que originou a perifrase conjuncional "só que", partícula que tem a propriedade de estabelecer, entre os segmentos que articula, o sentido pragmático de quebra de expectativa. Para tanto, contemplo alguns objetivos mais específicos. Primeiramente, busco urna fundamentação teórica mais sólida a respeito do conceito de grarnaticalização, urna vez que nas discussões sobre o terna é possível reconhecer diferentes concepções para esse processo de criação lingüística. Numa segunda etapa, ainda teórica, recupero um pouco da história das conjunções, com o intuito de mostrar que elas tendem a sofrer transformações contínuas e que a formação de perífrases conjuncionais é um fenômeno bastante antigo. Em outra etapa, descrevo o comportamento lingüístico de "só que", considerando aspectos relacionados à orientação argurnentativa, à distribuição de informação e ao tipo de conexão estabelecido por "só que". Saliento, entre outras coisas, que o sentido de quebra de expectativa, explicado essencialmente em termos de cancelamento de pressuposição pragmática, pode ser especificado conforme as condições contextuais, do que resulta os diferentes usos que identifiquei para "só que", a saber, marcador de diferença, marcador de refutação, marcador de acontecimento inesperado, marcador da não-satisfação de condições e marcador de contra-argumentação. Por fim, as evidências da grarnaticalização de "só que" são reunidas, sincronicarnente, sobretudo a partir da análise dos vàrios usos do operador "só", da consideração das polissernias de "só que", e do confronto entre "só que" e a conjunção adversativa prototípica da língua portuguesa.
2.1 Propostas para análise de MAS ...... ............... ......... ....... ............ ....... ....... .... 11 O
I
Introdução
Este trabalho tem por objetivo investigar, em dados do português falado e escrito, o processo de criação lingüística pelo qual se combinaram o operador SÓ e a partícula QUE, para a formação de um item conjuncional novo - a perifrase SÓ QUE -que, como mostra o exemplo (01), tem a propriedade de estabelecer contraste entre os segmentos que articula. (01) A número 1 !!! A muSlca é a mesma, o mesmo o ritmo febril das imagens que se sucedem, o mesmo o gesto de jazer o número 1 erguendo o dedo indicador. Tudo como no anúncio da cerveja. SÓ QUE, em vez da cerveja, o que se tenta vender é a candidata. Sai a Brahma, entra Roseana Sarney. (Veja, ano 35, n.• 05, p.114)
Este processo faz parte de um mecanismo de produção de conjunções muito mais amplo, que vem se definindo há séculos e que, a qualquer momento, pode produzir conjunções novas, a partir da reinterpretação de material lingüístico disponível no repertório da língua. Processos similares a este vêm sendo referidos, na literatura lingüística, como casos legítimos de gramaticalização, entendendo-se por "gramaticalização", em termos muito simplificados, o processo de mudança que leva um item menos gramatical a assumir uma função mais gramatical. Para alcançar esse objetivo maior, é necessário realizar outtos objetivos mais específicos. O primeiro deles é fundamentar teoricamente uma opção a respeito do conceito de grarnaticalização, uma vez que, nas discussões sobre o tema, é possível reconhecer diferentes concepções para o fenômeno. Esse é o assunto do capítulo inicial, no qual examino criticamente uma extensa bibliografia, que inclui não só trabalhos de autores como Heine, Hopper, Traugott e Sweetser, que estão diretamente envolvidos com o estudo da gramaticalização, mas também trabalhos de outros pesquisadores que, de uma forma ou de outra, elaboraram representações para esse processo de criação lingüística.
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O segundo objetivo também é de natureza teórica: além do próprio conceito, aprofundo outras questões relacionadas aos processos de gramaticalização como, por exemplo, aspectos relativos à motivação, aos estágios mmfossintático e semântico, e aos caminhos percorridos pelo item em mudança. Isso será feito no segundo capítulo, no qual questiono, entre outras coisas, a unidirecionalidade da mudança, que tem sido considerada o princípio mais fundamental da gramaticalização. O terceiro objetivo especifico consiste em explicitar quando e por quê a língua portuguesa começou a produzir perífrases conjuncionais, justapondo a partícula QUE a palavras de diferentes categorias, principalmente advérbios e preposições. Esta é a meta do terceiro capítulo, que recupera um pouco da história das conjunções, partindo das formas de conexão empregadas no latim clássico e no latim vulgar. Por meio desse levantamento histórico, pretendo esclarecer que as conjunções tendem a sofrer transformações contínuas e até mesmo a desaparecer; e que a formação das perífrases conjuncionais é um fenômeno bastante antigo, que teve início no latim antigo. A investigação do comportamento lingüístico de SÓ QUE é o objetivo do quarto capitulo, no qual identifico os vários usos da perifrase e descrevo as condições gerais - semânticas e pragmáticas - que regem cada um desses usos_ Como se verá, essa descrição depende, em grande parte, da consideração de aspectos relacionados á orientação argumentativa e à distribuição de informação. A exposição mostrará ainda que SÓ QUE apresenta cinco acepções de sentido que, embora tendo caracteristicas lingüísticas distintas, preservam o sentido básico de quebra de expectativa. Tendo em vista que as conjunções típicas são classificadas, conforme o tipo de conexão que estabelecem, em coordenativas ou subordinativas, meu quinto objetivo é verificar em qual dessas duas formas de conexão a perifrase SÓ QUE pode ser enquadrada. Esta é a tarefa do capítulo cinco, no qual busco parâmetros para sustentar a tese de que os segmentos unidos por SÓ QUE são externos, ou seja, que SÓ QUE é uma conjunção de natureza essencialmente coordenativa. Para tanto, recorro a uma proposta teórica que lança mão não só de critérios sintáticos, mas também semânticos.
Capítulo 01
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No presente capítulo, busco uma fundamentação teórica mais sólida a respeito do conceito de "gramaticalização". Para tanto, faço uma análise crítica da bibliografia relevante, a fim de mostrar que é possível reconhecer, nas discussões sobre esse tema, diferentes concepções para o fenômeno lingüístico que vem sendo chamado "gramaticalização".
01. Três exemplos característicos Para começar, apresento três fenômenos, respectivamente, do Francês, da língua africana Ewe, e do Português, que são amplamente reconhecidos como exemplos característicos de Gramaticalização.
1.1 A gramaticalização da negativa, no Francês (OI) Je nevais un pas > Je ne vais pas > Je ne peuxpas le faire.
Segundo Wartburg (1946), no francês antigo, a negação era feita por meio da partícula ne, colocada antes do verbo. Supõe-se que, com o tempo, os falantes passaram a empregar junto ao ne itens nominais, do tipo mie, point, pas, gout(t)e,
princípio, o pas era empregado apenas com verbos de movimento, em que seu significado básico "passo" era particularmente apropriado (Je ne vais pas), mas depois ele foi estendido analogicamente para todos os verbos, tornando-se um componente fixo e necessário da construção negativa, que se cristalizou na perífrase
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descontínua ne...pas. No francês de hoje, o ne vem sendo progressivamente abandonado e são cada vez mais freqüentes construções como ll sait pas, em que o
exemplifica um "processo de gramaticalização", pelo qual o item nominal pas, em contextos específicos de negação, tem seu significado básico transformado, ao mesmo tempo em que migra da categoria nominal para a de partícula negativa.
1.2 A gramaticalização da conjunção integrante, no Ewe (a) me-bé (^) me-wo-e eu-dizer eu-fazer-isso "eu disse, eu fiz isso/ Eu disse que eu fiz isso" (b) me-gblo bé me-wo-e eu-dizer dizer eu-fazer-isso "eu disse que eu fiz isso"
O exemplo (02), do Ewe, foi extraído de Hopper & Traugott (1993: 14). Trata- se de um caso em que um verbo de dizer é gramaticalizado em conectivo introdutor de oração encaixada. No Ewe, conforme (02a), quando o verbo da oração matriz é bé ("dizer"), não é necessária a presença de conectivo. No entanto, conforme (02b ), se algum outro verbo de dizer, diferente de bé, aparece na matriz, então bé é empregado como conectivo. Esse emprego se expandiu a ponto de bé ser usado depois de qualquer tipo de verbo.
1.3 A gramaticalização de 'estar', no Português Vários estudiosos, entre eles Silveira (1980), Mattos e Silva (1989, 1994), Mendes (1999) e Kewitz (2002alb), se esforçaram para explicar o processo de gramaticalização do verbo estar no português do Brasil. Os exemplos em (03), retirados do trabalho de Mendes, mostram que de verbo pleno, com o sentido de "ficar de pé", estar se gramaticaliza em construções locativas e atributivas, e, mais recentemente, passa a integrar perifrases de gerúndio, nas quais funciona como um verdadeiro auxiliar.
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valer de sua terminologia) equivale à transição de estruturas pragmáticas para sintaxe. Em outra linha de investigação, referida como paradigma da "Gramática Emergente", Hopper (1987, 1996) propõe, entre outras coisas, que o termo "gramaticalização" seja usado como sinônimo de "gramática". Segundo ele, não há gramática sincrônica estável, mas sim uma estruturação contínua, de modo que só existe gramaticalização. Essas poucas referências, aliadas aos três exemplos acima, estão longe de dar conta da bibliografia sobre o assunto, mas são suficientes para mostrar que há consenso sobre o caráter processual da gramaticalização, mas não sobre a natureza de tal processo, o que justifica uma incursão pela história da noção de gramaticalização. No que segue, procuro identificar as possíveis explicações para o fenômeno da gramaticalização, partindo da análise dos trabalhos de diversos autores, antigos e atuais, alguns deles bastante conhecidos pelos estudiosos do assunto (como Reine, Hopper, Traugott, Sweetser) enquanto outros (como Paul e Halliday) sequer são relacionados às teorias que tratam da gramaticalização. As discussões variam em extensão, o que não significa que dediquei maior importância a um ou outro trabalho. Sem me preocupar com a dimensão, meu único objetivo foi o de expor, em cada caso, as informações que julguei mais relevantes. Antes de prosseguir, quero ressaltar que os estudos na perspectiva da gramaticalização tiveram ao longo do tempo diferentes graus de importância na teoria lingüística. Se, por um lado, representaram preocupação central para os pesquisadores empenhados em desvendar a etimologia das línguas, por outro, foram deixados de lado por aqueles que, adeptos do modelo saussureano, defendiam uma descrição lingüística estritamente sincrônica. Em virtude dessa variação de interesse, a história dos estudos sobre gramaticalização é caracterizada pela formação de "focos" de pesquisa, que privilegiavam diferentes dimensões do fenômeno. Um desses focos emerge no final do século XIX e inicio do século XX e tem em Meillet uma de suas maiOres expressoes ..^ -^2
(^2) Um trabalho fundamental, anterior ao de Meillet (e que muito influenciou este autor) foi realizado pelo neogramático alemão Gabelentz (1891), que tinha um profundo conhecimento sobre as linguas indo-européias. Entre outras contribuições, Gabelentz propôs a noção de um espiral evolucionário para descrever o processo de recriação de categorias gramaticais. Graças a seu trabalho, tomou-se trivial em lingüística a idéia de que 'o que hoje são afixos eram, no passado, palavras independentes'.
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02. A contribuição de Antoine Meillet: O léxico alimenta a gramática Os trabalhos sobre gramaticalização realizados na última década citam freqüentemente o clássico L 'évolution des formes grammaticales (1965 [1912]), de A. Meillet, e reservam para o autor um papel pioneiro no processo de definir gramaticalização e de justificar a relevância de seu estudo como um tópico importante em lingüística. Na realidade, naquele trabalho, o que Meillet faz é distinguir dois aspectos da dinâmica das línguas, já conhecidos e investigados há bastante tempo. A saber, ele trata de separar dois procedimentos que, resultantes do
na criação de uma forma nova a partir do modelo de outra já existente no sistema da língua. Esse tipo de criação é muito freqüente entre as crianças, na aquisição de primeira língua. Como exemplo, retomo de Meillet as considerações sobre o verbo dire, do francês, cuja segunda pessoa do plural é vaus dites. O autor diz que as crianças francesas, quando aprendem a falar, são levadas a formar vaus disez, em lugar de vous dites, mesmo sem nunca ter ouvido aquela forma antes. Isso se explica pelo fato de que todos os verbos regulares fazem o plural de segunda pessoa em -ez, como por exemplo finissez, rendez, lisez, e as crianças tendem a seguir essa regularidade. O segundo procedimento, para o qual Meillet cunhou o termo
uma palavra previamente autônoma. Para Meillet, a gramaticalização, diferentemente
detalhes das formas, em nível superficial, a gramaticalização cria formas novas que substituem as antigas já desgastadas pelo uso e, além disso, introduz categorias para as quais não havia expressão lingüística antes, podendo, assim, transformar o sistema lingüístico como um todo. De um ponto de vista mais estrito, a Gramaticalização, na concepção de Meillet, equivale a um processo de mudança lingüístic!l, principalmente diacrônico e gradual, no qual palavras em algum sentido plenas são pressionadas, em determinadas circunstâncias, a funcionar como elementos em algum sentido gramaticais. Tal
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simultaneamente vários componentes da língua, a sintaxe, a morfologia, a fonologia e a semântica. Para Meillet, o desejo de obter palavras mais expressivas dispara processos de gramaticalização, à medida em que palavras independentes são recrutadas para a ênfase. Essas palavras, com o tempo, sofrem determinados tipos de mudança e, na etapa final desse processo, se transformam em simples instrumentos gramaticais. Alternativamente, para a ênfase, o falante pode lançar mão da combinacão de palavras autônomas, fazendo surgir novas unidades lingüísticas, carregadas de expressividade. É isso o que provavelmente motivou a formação da perífrase laissez venir, em sentenças do tipo: laissez venir à moi les petits enfants. Meillet explica que as palavras laisser e venir constituíam, a princípio, duas palavras semanticamente distintas, mas que houve um momento, na história do francês, em que se tornou hábito agrupar o laisser com um infinitivo, o que resultou em um enfraquecimento dessa palavra, que perdeu seu significado próprio e começou a funcionar como um tipo de auxiliar. Nessa acepção, a gramaticalização equivale então a um processo em CUJO ponto de partida há um item de natureza lexical/expressiva e, em cujo final, há um item de natureza gramatical. Portanto, podemos dizer, seguindo Meillet, que o léxico continuamente alimenta a gramática. Relembremos o exemplo (01), no qual um elemento do domínio lexical, o nome pas, é selecionado para enfatizar a negação e termina por se gramaticalizar em marcador de negação, depois de perder sua semântica nominal. Embora não faltem na literatura lingüística escritos sobre a separação entre o léxico e a gramática, trata-se de um tema que ainda requer reflexão. Segundo Melo (1967) a preocupação é bastante antiga. Há tempos, diz ele, são distinguidos dois grupos nos quais as palavras podem se enquadrar: o grupo das palavras categoremáticas, que designam seres ou ações do mundo real, e o grupo das palavras sincategoremáticas, que designam "acidentes" ou modificações que afetam os seres ou as ações. Mais tarde, a lingüística contemporânea apropriou-se dessa classificação, especificando que as categoremáticas, também denomínadas lexicais ou de significação externa, são palavras que têm semântica por si mesmas, que existem em
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número ilimitado na língua e que facilmente podem passar de uma língua para outra, ao passo que as sincategoremáticas, também denominadas gramaticais ou de significação interna, são palavras que, como o próprio nome sugere (o prefixo "sin-" denota a idéia de junção), só têm sentido quando relacionadas com outras palavras. Castilho (1997a:58) ressalta que por trás do entendimento da gramaticalização como a passagem de um item lexical para uma categoria gramatical está o pressuposto de que há uma separação clara entre "itens lexicais", como integrantes do Léxico da língua, componente em que predominam as idiossincrasias, e "categorias gramaticais", do tipo morfemas ou palavras funcionais (auxiliares, nexos), que integram a Gramática da língua, componente em que predominam as regularidades. Na verdade, adverte Castilho, a questão é muito mais complexa, pois é preciso ter em conta que mesmo fora do enunciado (em "estado de dicionário··, no feliz achado de Carlos Drummond de Andrade), as palavras jQ dispõem de propriedades gramaticais (fonológicas, moifológicas e sintáticas), semânticas (referencialidade, predicati- vidade, dêixis,Joricidade) e discursivas (topicalidade, coesividade). Mas voltando à exposição do trabalho de Meillet, deve estar claro a esta altura que, do ponto de vista desse autor, a gramaticalização é produto de um procedimento de renovação lingüística muito mais amplo, que não tem fim: a todo momento a necessidade de imprimir expressividade à linguagem cria palavras mais surpreendentes que, em decorrência do emprego freqüente, vão gradativamente perdendo seu valor expressivo e significação plena, passando a funcionar como simples formas gramaticais, destituídas de força. Les langues, diz Meillet, suivent ainsi une sorte de développement en spirale: elles ajoutent des mots accessoires pour obtenir une expression intense; ces mots s 'qffaiblissent, se dégradent et tombent au niveau de simples outils grammaticaux; on ajoute de nouveaux mots ou des mots différents en vue de l'expression; l'qffaiblissement recommence, et ainsi sans fin. (p.l40-141) Antes de terminar seu artigo, Meillet abre a possibilidade de estender a noção de gramaticalização para o nível da sentença. Pensando mais especificamente na ordem das palavras, Meillet sustenta sua argumentação no percurso histórico que caracterizou a evolução do Latim ao Francês. Em tal percurso, o autor identifica o