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Contribuição da Filosofia para a Ética: Análise Empírica do Ensino de Adela Cortina, Notas de aula de Ética

Uma investigação sobre a contribuição da filosofia para a reflexão sobre ética e moral, com ênfase na análise empírica da prática de ensino na escola. O autor examina as intervenções pedagógicas realizadas com alunos do ensino médio para validar as teses da filósofa adela cortina sobre ética mínima. O texto aborda a importância do ensino de filosofia no ensino médio e como ela pode trabalhar valores éticos-morais em sala de aula.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
MESTRADO PROFISSIONAL EM FILOSOFIA
FERNANDO JOSÉ ALVES
A DISCUSSÃO DOS VALORES ÉTICO-MORAIS:
A ética mínima no ensino de filosofia à luz do pensamento
de Adela Cortina
Recife
2020
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Baixe Contribuição da Filosofia para a Ética: Análise Empírica do Ensino de Adela Cortina e outras Notas de aula em PDF para Ética, somente na Docsity!

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

MESTRADO PROFISSIONAL EM FILOSOFIA

FERNANDO JOSÉ ALVES

A DISCUSSÃO DOS VALORES ÉTICO-MORAIS:

A ética mínima no ensino de filosofia à luz do pensamento

de Adela Cortina

Recife 2020

FERNANDO JOSÉ ALVES

A DISCUSSÃO DOS VALORES ÉTICO-MORAIS:

A ética mínima no ensino de filosofia à luz do pensamento de Adela Cortina

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Filosofia. Área de Concentração: Ensino de Filosofia

Orientador: Prof. Dr. Marcos Roberto Nunes Costa

Coorientadora: Profª. Drª. Célia Maria Rodrigues da Costa Pereira

Recife 2020

FERNANDO JOSÉ ALVES

A DISCUSSÃO DOS VALORES ÉTICO-MORAIS:

A ética mínima no ensino de filosofia à luz do pensamento de Adela Cortina

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco. Área de Concentração: Ensino de Filosofia

Aprovada em: 12 / 03 / 2020

BANCA EXAMINADORA


Prof. Dr. Marcos Roberto Nunes Costa (Orientador) Universidade Federal de Pernambuco


Prof. Dr. Junot Cornélio Matos (1º Examinador) Universidade Federal de Pernambuco


Prof. Dr. Marlesson Castelo Branco do Rêgo (2º Examinador) Instituto Federal de Educação de Pernambuco

AGRADECIMENTOS

Ao Pai Eterno, por ter me iluminado com este mestrado e também pela presença constante, fortaleza que me capacitou diante das inúmeras dificuldades e descrença dos homens. À minha linda família, em especial minha querida esposa Joana D’arc Gonçalves Alves e minhas filhas Juliana e Fernanda (minha mentora), e meus netos Júlia e K auã pela espera por minha presença, quando a ausência se fez necessária nos dias e noites, diante de livros e esperanças. Obrigado pelo apoio sincero e amoroso. Ao Prof. Dr Junot Cornélio de Matos, pela solidariedade, paciência e maestria na Coordenação do PROF-FILO, assim como pela amizade na qual promoveu uma prática afetuosa no grupo, possibilitando a concretude de uma relação dialógica entre o educador e o educando, contribuindo com a causa que abracei de uma educação humanizada e humanizadora. Minha gratidão e reconhecimento. Aos amigos colegas de sala de aula que foram verdadeiros companheiros e irmãos, sempre compartilhando as tristezas e alegrias, muitos vindo de lugares longínquos, mas todos promovendo um ambiente saudável e dialógico, onde direcionou a práxis pedagógica filosófica. Aprendi muito com cada um de vocês. Aos Mestres, Professores, Doutores, Alfredo Moraes, Itamar Nunes, Sérgio Ramos, Maria Betânia Santiago, Nélio Melo, Walter Matias, Evandro, pela orientação pontual, sempre dispostos e amáveis em responder nossas indagações. Tenham a certeza que cada texto ou tema trabalhado foi de grande valia na formação desse mestrando. Obrigado por acreditar em minha capacidade como estudante e ser humano. Ao Amigo Orientador Prof. Dr. Marcos Roberto Nunes Costa. Sem a sua orientação nada seria possível. O senhor deu a guinada inicial para o caminhar dessa obra. A sua sapiência colocou Adela Cortina com a sua tese da Ética Mínima, em busca de uma sociedade mais justa e menos desigual e que alavancou o pensar e a diretriz dessa dissertação. As suas orientações, tanto no projeto básico, assim como no transcorrer dessa escrita, me proporcionaram uma confiança e autonomia no conduzir dos capítulos e subcapítulos dessa obra. Meus sinceros agradecimentos. À minha querida Coorientadora Profª. Drª. Célia Maria Rodrigues da Costa Pereira. A sua simplicidade e presteza nas colocações, em especial no caminhar

RESUMO

A presente dissertação é um estudo sobre a discussão dos valores ético- morais, consoante o ensino da filosofia nas turmas do ensino médio, tendo como base teórica o conceito de Ética Mínima, desenvolvido pela filósofa espanhola Adela Cortina. A questão ética se insere no mundo contemporâneo de forma mais incisiva, tendo em vista a crise dos valores e o processo de dissolução das antigas certezas e instituições que sustentavam a sociedade Ocidental. O resgate da ética enquanto projeto de felicidade, porém atrelada à valorização das normas é um elemento fundamental do pensamento de Cortina. Se for verdade que os indivíduos devem perseguir seu ideal de felicidade, também é verdade que sua vivência em sociedade os impele a viver segundo regras mínimas, que possibilite a convivência em um mundo plural. O problema que dirige este trabalho dissertativo diz respeito à preparação dos jovens para lidar com as questões ético-morais. Estes valores estão presentes neles? Como lidar com essas questões na sociedade? na comunidade? na escola? Qual o papel da filosofia para a reflexão sobre a temática? Esta pesquisa também traça o papel do ensino da filosofia no currículo escolar e sua contribuição para o desenvolvimento da reflexão crítica, sobretudo no que diz respeito à ética e a moral. Este trabalho se serve das discussões teóricas e filosóficas sobre a ética, desde os gregos, passando pelos medievais, pela modernidade, até chegar ao conceito de ética mínima, tal como proposto por Cortina. O objetivo aqui é mostrar de que forma o ensino da filosofia pode contribuir para a reflexão acerca da ética e da moral, e especificamente verificar como o ensino da filosofia impacta na vida dos estudantes, além disso, evidenciar como os valores éticos-morais podem ser trabalhados em sala de aula. Adoção de uma metodologia de natureza qualitativa a partir do desenvolvimento do método descritivo. Também é feita uma análise empírica da sala de aula, através das intervenções pedagógicas que foram realizadas com os alunos, para validar ou não as teses da filosofa Adela Cortina acerca da ética mínima.

Palavras-chave: Ética Mínima. Moral. Filosofia. Educação.

ABSTRACT

This dissertation is a study on the discussion of ethical-moral values, according to the teaching of philosophy in high school classes, having as a theoretical basis the concept of Minimum Ethics, developed by the Spanish philosopher Adela Cortina. The ethical question is inserted in the contemporary world more sharply, in view of the crisis of values and the process of dissolving the old certainties and institutions that supported Western society. The rescue of ethics while the project of happiness, however, linked to the enhancement of standards is a fundamental element of Cortina's thinking. If it is true that individuals should pursue their ideal of happiness, it is also true that their experience in society compels them to live according to minimum rules, which makes it possible to live together in a plural world. The problem that drives this essay concerns the preparation of young people to deal with ethical-moral issues. Are these values present in them, in society, at school? What is the role of philosophy for reflection on this theme? This research also traces the role of philosophy teaching in the school curriculum and its contribution to the development of critical reflection, especially with regard to ethics and morals. This work serves the theoretical and philosophical discussions on ethics, from the Greeks, through the medieval, through modernity, until reaching the concept of minimal ethics, as defined by Cortina. The objective here is to show how the teaching of philosophy can contribute to the reflection about ethics and morals and how this teaching impacts on students' lives. The qualitative aspect of the research is shown from the discussion of the theories. An empirical analysis of the classroom is also carried out, through the pedagogical interventions that were carried out with the students, to validate or not philosopher Adela Cortina's theses about minimum ethics.

Keywords: Minimum Ethics. Moral. Philosophy. Education.

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1 INTRODUÇÃO

Uma das queixas mais comuns nos dias atuais é a de que o mundo está perdido, que os sublimes valores não são mais cultivados pelas pessoas e que se está caminhando na direção dos contra valores, em que o certo é visto como o errado e vice versa. O cidadão comum, aquele que paga seus impostos e que se enaltece por viver uma vida reta, costuma recordar os tempos passados, em que os pais e professores eram respeitados. Tempo em que as pessoas costumavam frequentar a Igreja nos finais de semana e onde os idosos eram respeitados. Tempos em que os filhos pediam bênção aos seus pais e, por conseguinte, a sociedade estava muito bem encaminhada, pois havia respeito às autoridades, disciplina, temor a Deus, valorização e respeito às normas. Neste sentido, uma espécie de saudosismo dos valores morais vai tomando conta das pessoas, que anseiam pela restauração da antiga ordem, em que o respeito, a moral e os bons costumes ditavam o comportamento das pessoas. Tudo isto vem acompanhado do sentimento de que estamos vivendo um período de degradação moral, onde a ética não é mais valorizada e cada um vive por si mesmo, deixando-se guiar por suas vontades. Esta seria, inclusive, a causa principal das crises econômicas e políticas. Um mundo que não tem Deus e não cultiva a moral e os bons costumes, só pode caminhar para o abismo. O que mais chama atenção neste rosário de lamentações do homem contemporâneo é a alusão à decadência moral da humanidade. Isto leva inevitavelmente a reacender a discussão a respeito da ética e da moral. O debate acerca dos valores morais aos poucos vai tomando conta de todos os setores da sociedade, numa espécie de corrida em busca do tesouro perdido e esquecido pela modernidade. Equivocado ou não, o grito pelo retorno aos valores morais tem sua razão de ser, pois o que se nota em um exame mais detido da realidade atual, é um cenário de inquietações, perturbações, mudanças repentinas, aceleração da vida, o que ocasiona cada vez mais incertezas quanto ao futuro de cada indivíduo. Para complicar ainda mais a situação, os indivíduos se veem cada vez mais sós, uma vez que os discursos de que cada um tem que resolver a sua vida por si mesmo, se espalha de maneira vertiginosa, seguindo a trilha da hipervalorização do indivíduo.

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Dentro deste quadro, a realidade aparece aos indivíduos mais como ameaça do que como condição de sua libertação. É sintomático que as pessoas se percam em seus projetos e não saibam interpretar os acontecimentos. A percepção que se tem é a de que, por um lado, nossas ações não alteram em nada o quadro da realidade local e mundial e, por outro lado, têm-se a sensação de que tudo o que fazemos repercute, ainda que de maneira indireta, nos destinos da humanidade. De fato, o impacto de nossas decisões, quer individuais, quer sociais, políticas, bem como de outra natureza, se estende muito além de nossas fronteiras locais. Elas se deslocam para além do tempo presente, afetando as gerações futuras, as quais herdarão os efeitos de nossas escolhas econômicas e políticas. Hoje somos confrontados, de um lado, por nossa imensa capacidade de interferir na vida do planeta terra e de nossos descendentes e, por outro, somos assaltados por uma sensação de impotência frente ao irrefreável processo de globalização, o qual libera forças inimagináveis, com alto poder de modificar nossas vidas, assim como de destruir qualquer projeto de civilização. O indivíduo passa a sentir-se refém do modelo de sociedade que se delineia à sua volta. Está aparente contradição pode ser descrita nos termos do que o sociólogo C. Wright Mills descreveu como as armadilhas da vida privada. Mills (1982) observa que hoje em dia os homens sentem que seus horizontes de ação estão limitados pelo pequeno círculo de suas relações privadas. Seu pensamento, compreensão e raio de ação estão cada vez mais circunscritos à sua vizinhança e aos espaços limitados nos quais se move e toma decisões. Entretanto, na contra face desta limitação subjaz uma realidade marcada por mudanças estruturais, de alcance continental e que escapa a qualquer possibilidade de controle e influência do homem comum e que, por sua vez, interfere sobremaneira nas suas escolhas e na elaboração do seu discurso e estratégias de ação. A consequência mais imediata deste processo é que se perde de vista o quanto a biografia e a história mundial estão interligados. O homem moderno sente que sua vida depende cada vez mais de processos que escapam à sua possibilidade de controle e, ao mesmo tempo, não se percebe como indivíduo histórico, capaz de delinear os contornos destas idas e vindas com que a sociedade se vê comprometida. Para tornar este quadro ainda mais instável, este homem comum se ressente da perda dos valores morais, vendo nesta dissolução a causa de todos os seus

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Não obstante estes problemas, a escola ainda é um espaço privilegiado para se construir pontes e formar cidadãos comprometidos com valores essenciais à vida humana. Ao reintroduzir a filosofia como disciplina curricular, a escola ganha em qualidade e em possibilidade de responder às demandas por uma convivência mais sadia e respeitosa entre aqueles que são ou pensam diferente. Como ramo importante da filosofia, a ética tematiza a importância dos valores morais na vida humana e como ela só faz sentido no contexto desta construção de um espaço de convivência. Embora com características e conceitos diferentes, tanto a ética quanto a moral transitam na esfera dos valores. A ética, porém, traz em sua etimologia e em seus estudos clássicos, a noção de finalidade e busca do bem supremo, que seria a felicidade. Ser feliz continua sendo a meta mais importante do ser humano. Ao que tudo indica, mesmo passado tanto tempo após o advento da filosofia grega, o homem continua se perguntando sobre sua humanidade e felicidade. Destaque ao papel da educação, tendo como elemento central o ambiente escolar que congrega uma multiplicidade imensa de projetos, valores, visões de mundo, os quais podem entrar em conflito, já que os indivíduos são únicos e carregam dentro de suas particularidades. Não é exagero dizer que cada aluno é um mundo, uma gama variada de possibilidades. Isto pode ser um fato gerador de conflitos, que podem se resolver pela via da violência ou do diálogo. Digamos que o estudo da ética dentro da disciplina filosófica pode contribuir para ensinar aos alunos a construir soluções pacíficas e dialógicas para seus conflitos. Mas ainda faz sentido falar em valores neste ambiente de alta competitividade e no momento em que reacendem antigas rivalidades e intolerâncias que pareciam ter ficado no passado histórico? É preciso reconhecer que sim e isto apesar e por causa desta eclosão de conflitos e incompreensões que marcam as primeiras décadas deste novo milênio. Tempo em que os homens parecem ter desaprendido o sentido do termo civilização. Aqui, o papel da educação é fundamental. Não há como negar que a sociedade necessita retomar a reflexão sobre a ética e a moral. Entretanto, é necessário reconhecer que os tempos são outros, que não estamos mais vivendo na Grécia antiga, tampouco no mundo medieval, onde a certeza da presença de Deus garantia a ordem moral do universo. Somos filhos da

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modernidade, do projeto que retirou Deus da vida cívica e introduziu o homem como medida de todas as coisas. Neste sentido, a discussão e reflexão sobre a ética ganha um novo patamar e conta novamente com a ajuda da filosofia e da escola. Esta parceria pode render bons frutos, pois a escola é o lugar propício ao aprendizado e a filosofia possui ferramentas capazes de proporcionar a reflexão acerca dos valores morais. Mas aqui surge uma pergunta fundamental: como trabalhar a ética e a moral no ambiente escolar? Como os jovens estão sendo preparados para lidar com as questões ético-morais? Como lidar com essas questões na sociedade? Na comunidade? Na escola? E por fim, qual o papel da filosofia para reflexão sobre a temática? Uma resposta satisfatória seria fazer todo um percurso histórico e mostrar como cada filósofo tratou o tema da ética. Outra maneira de trabalhar este tema é utilizando uma chave de leitura, a partir de determinada problematização. É possível, por exemplo, questionar qual seria a melhor forma de pensar a ética em um mundo secularizado, que não apela mais a Deus para fundamentar a moral. Isto seria pensar uma ética que valorize a interpretação grega, em termos do máximo de felicidade e também a proposta moderna de reflexão sobre as normas e seu cumprimento, propondo um mínimo normativo capaz de orientar a ação dos indivíduos. Essa discussão aparece no pensamento da filósofa espanhola Adela Cortina, sob o título de Ética Mínima. Esta é a proposta de investigação que iremos aprofundar nesta dissertação, a qual versa sobre a discussão dos valores ético-morais na escola, à luz do conceito de ética mínima de Cortina. O foco da pesquisa são as turmas do primeiro ano do ensino médio da Escola de Referência (EREM) Desembargador “José Neves Filho” (modalidade integral), localizada na rua 10, S/N – Bairro de Cajueiro Seco, no Município de Jaboatão dos Guararapes – PE. Todo o trabalho de pesquisa, com adoção de questionários, intervenções didáticas, etc, foi realizado nesta escola. Direcionamos ainda, uma pesquisa bibliográfica em torno do tema em tela. O pensamento de Cortina gira em torno da possibilidade de congregar duas propostas filosóficas distintas, de modo a se reintroduzir a importância da ética sob novas bases, levando em consideração o pluralismo cultural e a necessidade de se ordenar a sociedade, até mesmo para que os projetos pessoais sejam viáveis. Reconstruir os projetos de vida a partir da discussão dos valores éticos máximo e mínimo.

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tomadas em conjunto e individualmente por cada pessoa, ao passo que temos que decidir como interagir com os outros, com o meio e conosco. Refletir sobre o papel da educação, consoante a reintrodução do ensino da filosofa no currículo escolar é algo de suma importância, uma vez que nos possibilita delimitar o alcance e relevância da reflexão para a formação do estudante. As turmas do ensino médio oferecem um bom exemplo, pois congregam uma categoria de jovens que estão na fase crucial de decisão acerca de suas carreiras profissionais. Compreender como o ensino da ética e da moral fornece instrumentos teóricos e práticos para a formação dos jovens é extremamente relevante, já que estamos vivenciando um tempo de incertezas. Ademais, o cenário político, econômico e social do momento presente tem incitado toda sociedade a falar e discutir sobre ética, principalmente no caso brasileiro, em que a atividade política e pública em geral tem sido alvo do constante escrutínio da sociedade que, de certa forma, tem sido intolerante com a corrupção, não admitindo que a mesma faça parte do cotidiano da política, por exemplo. O modelo de vida pública, tal como apresentado nas discussões e nos espaços midiáticos, pode contribuir para desgastar a imagem da vida pública, gerando descrença nos jovens quanto à construção de um futuro auspicioso. Por outro lado, esta mesma situação de degradação da vida pública pode servir de estímulo para se rediscutir um novo modelo de sociedade e a redefinição da esfera pública em termos de respeito à diversidade, combinada com a vivência e obediência às normas mínimas que são válidas para todos. Esse é o escopo deste trabalho de investigação. Para tornar mais claro este itinerário conceitual, esta dissertação foi dividida em três capítulos. O primeiro comporta a parte mais teórica. Nela, traçaremos as principais caraterísticas da ética e da moral, diferenciando a ética de máximos da ética de mínimos, discutindo desta forma as principais ideias de Cortina. Na segunda parte será analisado o papel da educação neste processo formativo, destacando a importância da reintrodução da filosofia no currículo e como é possível ensiná-la na escola. Por fim, no terceiro capítulo será apresentado o relatório de intervenção, mostrando e analisando as práticas que foram vivenciadas pelos alunos em relação à compreensão e vivência da ética mínima. Aqui serão apresentados os resultados obtidos com as práticas pedagógicas implantadas nas

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turmas do primeiro ano do ensino médio. Com isto será possível traçar o perfil deste aluno e, mais relevante ainda, compreender como se processa a discussão dos valores morais na escola. Optou-se aqui pela adoção de uma metodologia de natureza qualitativa e bibliográfica a partir do desenvolvimento do método descritivo. O percurso metodológico envolveu: leituras de obras filosóficas, pedagógicas e artigos que versam sobre a temática proposta; realização de uma pesquisa empírica; elaboração de um questionário como técnica de pesquisa e realização de uma intervenção didática, composta de cinco aulas direcionadas à discussão dos valores ético-morais, onde se buscou analisar a teoria da filósofa Adela Cortina e aplicando seus conceitos e pensamento à realidade das turmas de primeiro ano do ensino médio da escola integral Desembargador “José Neves Filho”, no qual foi o objeto da pesquisa. Partindo do recurso metodológico conhecido como tipo ideal, proposto por Max Weber, nos propusemos a validar as teses de Cortina a partir de um processo de intervenção, ministrando aulas sobre Ética Mínima, estimulando os alunos ao debate, elaborando um questionário e propondo formas de apresentação do tema, o que gerou um engajamento satisfatório e a possibilidade de poder verificar a plausibilidade das teses de Cortina acerca das éticas de máximos e das éticas de mínimos.

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2.1 ÉTICA E MORAL E A NOÇÃO DE FELICIDADE

É muito comum se iniciar a discussão sobre a ética diferenciando seu âmbito do campo da moral. Ambas transitam na esfera dos valores, o que por si só torna a tarefa da sua definição bastante complexa. Entretanto, existem algumas distinções que podem esclarecer melhor o objeto de estudo da ética e sua diferenciação em relação à moral. A ética e a moral estão relacionados ao campo dos valores. Ainda que a definição de valores seja complexa e multifacetada, Marilena Chauí (2010) alega que a conexão dos valores relativos à ética e moral estão vinculados a terminologia da palavra costumes, que em grego significa éthos e dependendo do alongamento ou encurtamento da vogal “e”, respectivamente, aufere aos sentidos de costumes, propriamente dito, e ao de caráter, os quais remetem a algumas concepções do que seja, por exemplo, correto, bom e justo. A etimologia sugere a ideia de costume. Porém, dependendo da grafia, pode indicar também a noção de morada humana, conforme aponta Adolfo Sánchez Vázquez (2017). Ao estabelecer a distinção entre estes dois conceitos, Adolfo Sánchez Vázquez (2017) distingue os problemas morais dos problemas éticos, até chegar ao objeto da ética. Os problemas prático-morais são específicos e remetem às escolhas que os indivíduos fazem em determinada situação, recorrendo a uma norma específica. Por sua vez, os problemas éticos, afirma Adolfo Sánchez Vázquez (2017, p.19): Caracterizam-se por sua generalidade e isto os distingue dos problemas morais da vida cotidiana, que são os que se nos apresentam nas situações concretas. Mas, desde que a solução dada aos primeiros influi na moral vivida – sobretudo quando se trata de uma ética absolutista, apriorística ou puramente especulativa -, a ética pode contribuir para fundamentar ou justificar certa forma de comportamento moral. De acordo com tal distinção, a moral se relaciona com questões particulares, que dizem respeito à ação dos indivíduos em determinadas situações, de acordo com certas normas e também com os valores que estão presentes em sua formação. A ética volta-se para questões mais teóricas, daí seu caráter de universalidade. Neste sentido, afirma Adolfo Sánchez Vázquez (2017, p. 21): A ética é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos homens, o da moral, considerado porém na sua totalidade, diversidade e variedade. O que

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nela se afirme sobre a natureza ou fundamento das normas morais deve valer para a moral da sociedade grega, ou para a moral que vigora de fato numa comunidade humana moderna. É isso que assegura o seu caráter teórico e evita sua redução a uma disciplina normativa ou pragmática. O valor da ética como teoria está naquilo que explica, e não no fato de prescrever ou recomendar com vistas à ação em situações concretas. A ética se relaciona então com o campo da filosofia prática. Ela é a ciência da moral, a reflexão filosófica deste aspecto do agir humano, que é a moral. Em sentido amplo, nos dizem Maria Lúcia Aranha e Maria Helena Martins (2009, p. 261) “a moral é o conjunto das regras de conduta admitidas em determinada época ou por um grupo de homens”. Por esta perspectiva, o homem age moralmente quando respeita as regras de seu grupo. Por sua vez, a ética ou filosofia moral, prosseguem Maria Lúcia Aranha e Maria Helena Martins (2009, p. 261) “é a parte da filosofia que se ocupa com a reflexão a respeito das noções e princípios que fundamentam a vida moral”. A forma ou o viés assumido por esta reflexão irá depender das várias escolas de pensamento que embasam as concepções éticas (cf. ARANHA; MARTINS, 2009). Ao retomar a discussão sobre o conceito de ética, Adela Cortina propõe distinção semelhante àquela adotada por tais autores. Com efeito, o lugar da ética se encontra no fato dela corresponder à área do conhecimento chamada filosofia moral. Adela Cortina (2009, p. 35) chama a atenção para o fato de que a ética, nos tempos atuais, tem sido uma incompreendida, e isto “simplesmente porque ninguém sabe claramente o que fazer com ela”. De um lado ela foi introduzida nas aulas do ensino médio como substituta da religião, uma espécie de mora para descrentes (cf. CORTINA, 2009). Por outro lado, ao fim de evitar prescrever receitas práticas em um mundo marcado pela pluralidade e relativismo nos valores, tem levado muitos docentes a não propor uma reflexão sobre os mínimos necessários para se constituir um espaço de discussão na sociedade. Neste sentido, evita-se discutir questões relativas à felicidade e ao estabelecimento de regras que carreguem o mínimo de convergência e consenso entre os homens. É neste ponto que a autora introduz o conceito de ética no âmbito da filosofia moral, como reflexão sobre o agir humano. A ética não se prende a um único modelo, aceito por determinado grupo, o qual pretende universalizar sua visão de mundo e do homem. Tampouco tende ao ecletismo, caminhando para a justificação das atitudes