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Esta monografia pretende aprofundar o tema das virtudes, compreendendo sua importância na vida humana e na educação.
Tipologia: Teses (TCC)
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Ananindeua - PA 2022
Monografia apresentado à Faculdade Católica de Belém, para a obtenção de Grau em Bacharelado em Filosofia. Orientador: Esp. Glaudemir Simplício de Lima. Ananindeua - PA 2022
Dedico aos fundadores da Comunidade Católica Sementes do Verbo, Diácono Georges e Marie-Josette Bonneval; aos meus pais, José Capitão e Isabel Teotónio e a todos que me inspiraram e ajudaram a desenvolver este trabalho.
O meu primeiro agradecimento é para com Deus, por me ter chamado a servi-Lo mais de perto e por me ter dado a oportunidade de responder ao Seu chamamento. Também quero agradecer à minha comunidade Sementes do Verbo por me ter acolhido em seu seio, formando-me para corresponder ao chamamento do Senhor através de tudo o que tenho vivido ao longo dos últimos sete anos. Um agradecimento também para a minha família que sempre me tem apoiado e motivado na minha jornada vocacional, mesmo estando distante. De uma forma muito específica quero agradecer ao Diácono Georges Bonneval por me ter ajudado e confirmado na decisão de estudar o tema proposto neste trabalho. Um agradecimento enfim para todos os meus irmãos de seminário que acompanharam ao decorrer deste caminho acadêmico me motivando e ajudando.
O presente trabalho pretende apresentar a ética das virtudes no pensamento do filósofo alemão Josef Pieper. Tendo em vista a explanação desta temática, o primeiro capítulo desenvolve o fundamento tomista do pensamento pieperiano, expondo o entendimento de Santo Tomás de Aquino sobre virtude, bem como seus pressupostos, suas ramificações e hierarquia. Inicia expondo os hábitos como o alicerce das atitudes morais do homem, podendo levar tanto à virtude como ao vício, logo após coloca a divisão entre virtudes morais e intelectuais, esclarecendo suas especificidades, assim como a relação das virtudes entre si. No segundo capítulo, é exposta a concepção pieperiana de virtude e são aprofundadas as sete virtudes fundamentais do pensamento de Pieper, as virtudes cardeais; prudência, justiça, fortaleza e temperança; e as virtudes teologais; fé, esperança e amor. Também se esclarecem as relações que as virtudes estabelecem entre si. No terceiro capítulo, é feita uma análise à sociedade atual, impregnada pelos vícios de forma generalizada através de uma busca pelo prazer egoísta que isola as pessoas e as aprisiona em si mesmas, deteriorando o ser humano e suas relações. Neste sentido é apresentada a ideia de uma educação para as virtudes como uma solução face à problemática dos vícios, sendo esta concebida de uma noção clássica de educação. Por fim analisam-se as virtudes da prudência e do amor como pilares na construção da educação para as virtudes; por suas características, as primeiras a serem trabalhadas na educação do ser humano. Palavras chave: Homem. Virtude. Vício. Prudência. Amor.
This paper intents to present the virtue ethics in the thought of the German philosopher Josef Pieper. Seeking the explanation of this theme, the first chapter develops the tomist fundament of pieperian thought, exposing Saint Thomas Aquinas understanding about virtue, as well as its presuppositions, ramifications and hierarchy. He begins exposing habits as the foundation of man’s moral attitudes, which can lead either to virtue or vice, and then he goes explaining the division between moral and intellectual virtues, clarifying their specificities, as well as the relationship of virtues between each other. In the second chapter, the pieperian concept of virtue is exposed and the seven fundamental virtues of Pieper’s thought; the cardinal virtues, prudence, justice, fortitude and temperance; the theological virtues, faith, hope and love, are explored in depth. The relationships that the virtues establish among themselves are also clarified. In the third chapter, an analysis is made of today’s society, impregnated by addictions in a generalized way through a search for selfish pleasure that isolates people and imprisons them in themselves, deteriorating the human being and his relationships. In this sense, the idea of an education for the virtues is presented as a solution to the problem of vices, which is conceived from a classical notion of education. Finally, the virtues of prudence and love are analyzed as pillars in the construction of an education for the virtues; for their characteristics, the first to be worked on in the education of the human being. Key words: Man. Virtue. Vice. Prudence. Love.
9 INTRODUÇÃO As virtudes são um tema diretamente referente ao ser humano, elas dizem respeito à boa atitude humana que busca a forma correta de agir. Falar de ética das virtudes no pensamento de Josef Pieper é levantar a questão sobre como se dá a ação boa no homem, a má ação e como o ser humano progride para a perfeição do agir pela busca das virtudes. Elas não são algo distante da realidade, ao contrário, elas se realizam na vida concreta do quotidiano. Ao abordar a ética das virtudes no pensamento pieperiano, serão esclarecidos os fundamentos da virtude, sua conceituação e as origens da perspectiva de Pieper sobre o assunto. Partindo do entendimento sobre a virtude em si, analisa-se também que tipos de virtudes existem e como se relacionam, assim como que tipos de vícios existem e como se manifestam. Além disso, são aprofundadas as principais virtudes, as relações que existem entre si e de que forma isso atinge o homem. Como as atitudes virtuosas ou viciosas estão afetando o homem de hoje? Percebe-se na sociedade uma clara tendência aos prazeres egoístas e aos vícios explícitos. O problema que se nos apresenta é este: de que forma as virtudes podem constituir uma resposta para o homem desordenado e desorientado pelos vícios da sociedade atual? Podem as virtudes ser uma resposta concreta? No capítulo primeiro, pretende-se mostrar o fundamento tomista da ética das virtudes de Josef Pieper. Demonstra-se como Santo Tomás de Aquino fundamentou essa questão das virtudes, fornecendo luzes centrais para o entendimento do autor alemão sobre o tema. Com Santo Tomás de Aquino, também será abordada brevemente a sua base filosófica, o estagirita Aristóteles, um dos primeiros a falar sobre a questão das virtudes na antiguidade clássica. O segundo capítulo, parte central deste trabalho, evidenciará as sete virtudes fundamentais apresentadas por Josef Pieper, aprofundando cada uma delas, seus alicerces e suas relações mútuas. Neste ponto pretende-se abrir uma perspectiva aprofundada da teoria das virtudes de Pieper e sua relevância para o ser e o agir do homem. Por fim, no terceiro capítulo, faz-se uma análise da realidade atual da ética humana, aprofundado brevemente os problemas da sociedade atual que incentiva o homem a atitudes viciosas que o prejudicam, tanto individualmente como coletivamente. Neste sentido apresenta-se a ética das virtudes de Pieper como uma solução possível a estas problemáticas; isto através do exercício de uma educação para a virtudes no contexto social atual. Desta forma, apresenta-se o tema da ética das virtudes em Josef Pieper como uma perspectiva filosófica de relevante importância para o homem do século XXI.
10 CAPÍTULO 1 AS VIRTUDES EM PIEPER: O FUNDAMENTO TOMISTA Qualquer pessoa que deseje se dedicar ao estudo dos escritos do alemão Josef Pieper deve levar em consideração as bases sobre as quais ele assenta seu pensamento. A sua ética das virtudes seria incompreensível se fosse excluída de cena a figura do medieval Santo Tomás de Aquino. Pieper foi um homem da filosofia, mas se aprofundou claramente numa linha de pensamento centrada no cristianismo para aplica-lo ao seu contexto intelectual. De que forma seria possível estudar Pieper sem conhecer o pensamento de Aquino acerca das virtudes? Esse é precisamente o propósito deste capítulo, para que isso gere uma melhor compreensão das problemática e soluções filosóficas no pensamento pieperiano. Para Aquino, tanto as virtudes como os vícios nascem dos hábitos humanos, nesse sentido é necessário compreender o que são hábitos para depois entender o que são as virtudes e os vícios e sua diversidade de formas e classificação. 1.1. Fundamentação conceitual das virtudes em Santo Tomás de Aquino Para compreender o pensamento de Pieper é necessário perscrutar suas bases, encontrando clara e lucidamente Tomás de Aquino como referência primária da sua filosofia das virtudes. Por sua vez, o próprio Aquino tem bases num clássico grego, no seu pensamento encontra-se a forte influência do clássico Aristóteles, apelidado por este simplesmente de ‘O Filósofo’. Aristóteles tem uma visão da virtude como sendo um hábito, porém não apenas isso, deve ser necessariamente um hábito bom, contrapondo da mesma forma o vício como sendo um hábito mau. […] a virtude não é apenas um hábito, mas um hábito bom, que torna a coisa boa, no caso do homem, e também possibilita que ele desempenhe bem a sua função. Tal excelência se dá por certa mediania sobre um justo meio das suas atividades, entre dois vícios, um de excesso, outro de escassez […] (ARISTÓTELES apud VEIGA, 2017 , p. 52 ). Esta conceitualização de Aristóteles lança os fundamentos para a compreensão de Santo Tomás acerca das virtudes, principalmente no embasamento proveniente do conceito de hábito. Aristóteles exerce fortíssima influência sobre Santo Tomás de Aquino, tendo este
12 1.1.1. O pressuposto dos hábitos Facilmente se compreende a necessidade de assimilar o conceito de hábito para Aquino para a compreensão correta da virtude como também do vício. O termo apresentado faz a relação das ações humanas para perceber suas motivações e em que circunstâncias podem ser consideradas algo de usual, concentrando em si uma certa regularidade do agir do homem. […] Na Iª seção da IIª parte da Suma Teológica, antes de abordar acerca das virtudes, Tomás faz uma espécie de preparação, partindo da questão 49 até a questão 54, por meio de considerações muito relevantes acerca dos princípios dos atos humanos, dando ênfase neste caso a um princípio segundo ele intrínseco denominado de hábito […] (ALBERTUNI; ESPÍNDOLA; ROCHA, 2010, p. 1678). Faz-se necessário entender o que é um hábito, pergunta à qual Aquino busca responder partindo de seus antecessores. Desta forma Aquino afirma: “[...] o hábito é uma qualidade […]” (SANTO TOMÁS DE AQUINO, 2015, p. 38). Logo em seguida, o mesmo se justifica no próprio Aristóteles reforçando nessa perspectiva sua definição do hábito como sendo uma qualidade. “[...] Daí a afirmação do Filósofo: ‘chama-se hábito a disposição pela qual a coisa disposta se dispõe bem ou mal ou em si mesma ou em relação a outra coisa, de modo que a saúde é um hábito’. É nesse sentido que falamos agora de hábito e por isso deve-se concluir que ele é uma qualidade” (SANTO TOMÁS DE AQUINO 2015, p. 38 - 39). Compreendendo esse conceito de hábito de Aristóteles assumido por Aquino como disposição em relação a outra coisa pode-se fazer um contraponto com a perspectiva atual do senso comum. Hoje é comummente aceite que hábito, é algo que se tem o costume de fazer, está claramente associado a um agir, ainda que imperceptível publicamente. Santo Tomás, porém, faz a distinção de pelo menos duas compreensões do hábito: “A palavra hábito vem do verbo habere [haver-ter]. E deriva dele nos dois sentidos: o primeiro, em que do homem, ou de qualquer outra coisa, se diz que tem algo; o segundo, como algo ‘se tem’ em si mesmo ou em relação com outro” (SANTO TOMÁS DE AQUINO, 2015, p. 38). Desta feita, Aquino destaca primeiramente uma compreensão do hábito como uma posse de alguma coisa, a relação do homem com um objeto que lhe pertence e, de outro lado, uma relação que este mesmo tem na sua reação ao que acontece, ou seja, transparece uma característica mais comportamental, ou se assim for preferível colocar, uma característica mais moral. O homem reage para consigo mesmo, o outro, ou em relação a algum objeto com certo feitio. Finalmente, o primeiro modo é a posse e o segundo é uma forma de agir.
13 […] Quanto à razão de hábito, convém a todo o hábito, de certo modo, ser ordenado ao ato: é da razão de hábito implicar uma certa relação em ordem à natureza da coisa segundo o que convém ou o que não convém. Mas a natureza da coisa, que é o fim da geração, ordena-se ulteriormente a outro fim, que é ou a ação, ou algo feito, ao qual se chega pela ação. Por isso o hábito não implica só a ordenação à natureza da coisa, mas também, por consequência, à ação, enquanto é fim da natureza, ou conduz para o fim […] (SANTO TOMÁS DE AQUINO, 2015, p. 44). O doutor angélico vai mais a fundo na questão, explicando sobre a necessidade da existência do hábito e desta forma elucidando ainda mais o conceito. Ele afirma: “[…] o hábito implica uma certa disposição em ordem à natureza da coisa e à ação ou ao fim da mesma, conforme alguém se dispõe bem ou mal para isso. Para que uma coisa deva se dispor para outra, três requisitos se exigem […]” (SANTO TOMÁS AQUINO, 2015, p. 46). Desde logo, Aquino esclarece que o hábito aponta necessariamente para uma finalidade, seja de forma positiva, por uma boa disposição a tal, seja de forma negativa por meio de uma má disposição e consequente afastamento da finalidade. As três condições básicas necessárias para isto são, em primeiro lugar, a existência de uma potência no ser e não apenas ato: “[...] se há alguma coisa cuja natureza não é composta de potência e ato, e cuja substância seja sua ação, uma coisa que exista por si mesma, nela não há lugar para o hábito ou a disposição [...]” (SANTO TOMÁS DE AQUINO, 2015, p. 46), em segundo, o fato de que uma potência que se ordene naturalmente para uma finalidade sem outras opções, não poder ser considerada um hábito, por carecer da questão da disposição e seguir o curso natural: [...] o que está em potência para outro, possa ser determinado de muitos modos e para diversas coisas. Por isso, se algo está em potência para outra coisa, mas de modo que só esteja em potência para esta coisa, aí não há lugar para a disposição e o hábito; porque tal sujeito tem por sua natureza a devida relação com tal ato [...] (SANTO TOMÁS DE AQUINO, 2015, p. 46). Em terceiro e último, na argumentação de Santo Tomás, está a necessidade de que vários aspetos qualitativos concorram para que o potencial de um ser se desenvolva em vista de uma dita finalidade: “O terceiro requisito é: quando muitos concorrem afim de dispor o sujeito a um deles, para os quais está em potência; eles podem se comensurar de diversos modos, para que assim o sujeito se disponha bem ou mal para a forma ou a ação […]” (SANTO TOMÁS DE AQUINO, 2015, p. 46). Por fim Aquino reforça sua posição de forma categórica com a afirmação: “Como, pois, há muitos entes para cujas naturezas e ações é necessário que muitas coisas concorram, que podem comensurar-se de modos diversos, é necessário que haja hábitos” (SANTO
15 saber, ‘uma boa qualidade da mente pela qual se vive retamente, da qual ninguém faz mal uso e produzida por Deus em nós, sem nós” (SANTO TOMÁS DE AQUINO, 2015, p. 99). Partindo desta questão ele explica minunciosamente o conceito e a essência da virtude, apresentando suas causas formal, material, eficiente e final. Desta forma Aquino apresenta seu pensamento sobre a virtude com base na visão lógica do filósofo estagirita. Aquino é categórico, ele inicia sua explicação da referida definição dizendo: “A referida definição engloba perfeitamente toda a razão de virtude, pois a razão perfeita de qualquer coisa se deduz de todas suas causas. Ora, a definição apresentada abarca todas as causas da virtude […]” (SANTO TOMÁS DE AQUINO, 2015, p. 100) Aquino elucida as quatro causas aristotélicas, a saber, formal, material, final e eficiente, no referente à definição da virtude, esclarecendo que sua causa formal advém de ser uma boa qualidade, que a material é diretamente relacionada ao sujeito da virtude exercida, que a final é a ação virtuosa e que a eficiente é o próprio Deus, princípio de toda a virtude (SANTO TOMÁS DE AQUINO, 2015). É perceptivelmente que Santo Tomás de Aquino baseia suas elocubrações acerca das virtudes em Aristóteles. Desta forma, faz-se necessário recorrer ao próprio Filósofo para ir mais fundo na compreensão desta realidade. O ateniense dá uma visão muito pedagógica acerca do que seria a virtude e de como é ela distinguível do vício. [...] a virtude tem a ver com as paixões e ações, sendo erros os excessos e deficiências destas; a medida mediana, por sua vez, é louvada e constitui o êxito; que se acrescente que ambos são marcas da virtude [...]. Por outro lado, o erro é multiforme (com efeito, o mal é uma forma do ilimitado, como conjeturaram os pitagóricos, e o bem uma forma do limitado), ao passo que o êxito somente é possível de uma única maneira (razão pela qual aquele é fácil e este é difícil - fácil errar o alvo e difícil acertá-lo); eis aí uma razão adicional do porque o excesso e a deficiência são uma marca do vício e a mediania uma marca da virtude [...] (ARISTÓTELES, 2014, p. 92 - 93). Aquino corrobora com esta perspectiva de Aristóteles ao afirmar, “[...] evidentemente, entre o excesso e o defeito, o meio é a igualdade ou a conformidade e, por isso, é claro que a virtude moral consiste no meio-termo” (SANTO TOMÁS DE AQUINO, 2015, p. 189-190). O vício, por outro lado, é antagônico à virtude. Faz-se necessário uma reta compreensão do que realmente seja o vício. Será que vício é apenas adição em algum tipo de substância ou um tipo qualquer de dependência? Será que não tem um significado e raiz mais profunda? “O vício opõe-se à virtude. Ora, a virtude de cada coisa consiste em que esteja bem disposta segundo o que convém à sua natureza. Logo, deve-se chamar vício, em qualquer coisa, o fato de estar em disposições contrárias ao que convém à sua natureza [...] (SANTO TOMÁS DE AQUINO, 2015, p. 292-293). A afirmação de Santo Tomás traz uma nova luz à
16 compreensão do problema aqui colocado, segundo ele, vício está ligado a uma perversão do estado natural das coisas, ou seja, é algo que vai contra o curso natural da realidade prejudicando-a. Aquino apresenta uma perspectiva em que o que define o vício não é a aparência da ação interna ou externa do homem mas a sua falta de conformidade com a natureza, um certo desequilíbrio, particularmente da ordem racional das coisas, contrapondo desta forma virtude e vício; “[...] a virtude humana, a que faz com que o ser humano seja bom e boa também sua obra, está em conformidade com a natureza humana, na medida em que ela está em harmonia com a razão. E o vício é contra a natureza humana, na medida em que é contra a ordem racional” (SANTO TOMÁS DE AQUINO, 2015, p. 293). Conclusivamente, o estagirita dá seu entendimento nesta questão apresentando as virtudes e os vícios como disposições: “Há, assim, três disposições - duas destas, vícios (um em função do excesso e o outro em função de deficiência) - e uma virtude, que é a mediana; e cada uma delas, de uma certa forma, se opõe às outras [...]” (ARISTÓTELES, 2014, p. 99). Estando todas estas disposições em oposição entre si, não poderão se unificar em concordância, ao contrário, apenas a virtude tende à reta razão e à perfeição, enquanto os vícios se encaminham em caminhos opostos desviando-se da mesma reta razão, alcançando erros diferentes, mas igualmente errados no agir. Elucidadas as noções de virtude e vício para Tomás de Aquino e entendido seu fundamento em Aristóteles, faz-se necessário compreender como e de que forma se formula a divisão das virtudes e se esse processo tem algum tipo de relevância para o bom entendimento da problemática das virtudes.
18 o hábito dos primeiros princípios da demonstração […] (SANTO TOMÁS AQUINO apud VEIGA 2017, p. 83 - 84). Todas as virtudes intelectuais têm sua particularidade, complementando-se na busca pela verdade, sua finalidade última. A arte remete para uma dimensão do pensamento que gera uma forma. A ciência como reflexão acerca da natureza das coisas, busca as verdades do mundo físico. A prudência, peça essencial deste conjunto, ordena a reta forma de agir e é o elo de ligação das virtudes morais. Embora ela seja uma virtude intelectual, ela existe com e para as virtudes morais, uma vez que sem o fundamento da razão (fundamento intelectual), não é possível ter ações virtuosas, como o próprio Santo Tomás de Aquino (2015, p. 199) afirma; “[…] nenhuma virtude moral poder existir sem a prudência, porque é próprio da virtude moral, como hábito eletivo, fazer retas escolhas […]” e ainda que “[…] não se pode ter prudência sem possuir as virtudes morais […]” (SANTO TOMÁS DE AQUINO, 2015, p. 199). A sabedoria busca os fundamentos primeiros de tudo, logo, busca o conhecimento do transcendente, o próprio Deus. Por fim o intelecto, esta é a virtude que se encontra em todas as outras virtudes intelectuais e que as fundamenta, pelo intelecto se dá a racionalidade que permite o desenvolvimento das diversas virtudes intelectuais pela razoabilidade da demonstração. Estas virtudes são próprias da vida contemplativa do homem, tendo esta como finalidade a contemplação da verdade. “A vida contemplativa se consuma finalmente em um único ato, a contemplação da verdade, mas há outros atos intelectuais que se referem a ela por preparação, como a aquisição dos princípios e a sua aplicação […]” (SANTO TOMÁS DE AQUINO apud VEIGA, 2017, p. 193) É perceptível que Aquino não se refere a uma verdade aleatória, ao contrário, ele coloca como meta uma verdade suprema, algo de absoluto que em última instância é o objeto de busca de todos os homens, mesmo que de forma indireta: […] Deve-se esclarecer que Tomás não fala da contemplação de qualquer verdade, mas apenas daquela principal, do supremo bem inteligível, que é Deus. Todas as outras proposições verdadeiras são objeto da contemplação enquanto possuem certa relação com Deus, mas de modo secundário […] (VEIGA, 2017, p. 193). As virtudes intelectuais são a forma de vivenciar a vida contemplativa do homem, sendo esta última a parte mais importante na vida humana, porém não é possível separar as virtudes intelectuais das virtudes morais, nem a vida contemplativa da vida ativa. Estas realidades, apesar de serem distintas, possuem elos de ligação e de interdependência.
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