Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

A EDUCAÇÃO FÍSICA NA REVISTA DO ENSINO.pdf, Notas de estudo de Educação Física

ed.fisica escolar

Tipologia: Notas de estudo

2013

Compartilhado em 17/03/2013

dicogg-8
dicogg-8 🇧🇷

3 documentos

1 / 145

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
Miguel Fabiano de Faria
A EDUCAÇÃO FÍSICA NA REVISTA DO ENSINO:
PRODUÇÃO DE UMA DISCIPLINA ESCOLAR EM
MINAS GERAIS (1925-1940)
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da Faculdade de
Educação da Universidade Federal de Minas
Gerais, como requisito parcial à obtenção do título
de Mestre em Educação.
Orientador:
Prof. Dr. Tarcísio Mauro Vago
Co-orientadora:
Profª. Dra. Meily Assbú Linhales
Belo Horizonte
Faculdade de Educação da UFMG
2009
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff
pf12
pf13
pf14
pf15
pf16
pf17
pf18
pf19
pf1a
pf1b
pf1c
pf1d
pf1e
pf1f
pf20
pf21
pf22
pf23
pf24
pf25
pf26
pf27
pf28
pf29
pf2a
pf2b
pf2c
pf2d
pf2e
pf2f
pf30
pf31
pf32
pf33
pf34
pf35
pf36
pf37
pf38
pf39
pf3a
pf3b
pf3c
pf3d
pf3e
pf3f
pf40
pf41
pf42
pf43
pf44
pf45
pf46
pf47
pf48
pf49
pf4a
pf4b
pf4c
pf4d
pf4e
pf4f
pf50
pf51
pf52
pf53
pf54
pf55
pf56
pf57
pf58
pf59
pf5a
pf5b
pf5c
pf5d
pf5e
pf5f
pf60
pf61
pf62
pf63
pf64

Pré-visualização parcial do texto

Baixe A EDUCAÇÃO FÍSICA NA REVISTA DO ENSINO.pdf e outras Notas de estudo em PDF para Educação Física, somente na Docsity!

Miguel Fabiano de Faria

A EDUCAÇÃO FÍSICA NA REVISTA DO ENSINO :

PRODUÇÃO DE UMA DISCIPLINA ESCOLAR EM

MINAS GERAIS (1925-1940)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação. Orientador: Prof. Dr. Tarcísio Mauro Vago Co-orientadora: Profª. Dra. Meily Assbú Linhales

Belo Horizonte Faculdade de Educação da UFMG 2009

Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Educação Programa de Pós-Graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social

Dissertação intitulada “A Educação Física na Revista do Ensino : produção de uma disciplina escolar em Minas Gerais (1925-1940)”, de autoria de Miguel Fabiano de Faria, analisada pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores:

_______________________________________________________________

Prof. Dr. Tarcísio Mauro Vago – Orientador

_______________________________________________________________

Profa. Dra. Meily Assbú Linhales – Co-orientadora


Profa. Dra. Ana Maria de Oliveira Galvão – FaE/UFMG

_______________________________________________________________

Prof. Dr. Marcus Aurelio Taborda de Oliveira – UFPR

_______________________________________________________________

Profa. Dra. Andrea Moreno – FaE/UFMG (Suplente)


Prof. Dr. Carlos Fernando Ferreira da Cunha Junior – UFJF (Suplente)

Belo Horizonte, 28 de agosto de 2009

Daniel, Cecília, Hércules, Rita Cafeu, Paola, Gabriel, Nela, Carol Mostaro, Ilton, Verona, Anderson, Juliana Hamdan, Raquel, Rita Lages, Surian, Mayara, Célia, Cida, quantas pessoas especiais. Muito obrigado pela amizade de vocês! Aos queridos amigos do CEMEF, pelas belas construções coletivas e pelo prazer do convívio. Em especial, Meily, Andrea, Tatá, Cristina Rosa, Vera, Joelcio, Carol Vimieiro, Cris Pisani, Rodrigo, Gino, Luciana, Kellen, Olívia, Priscila, Cássia, Mateus Carneiro, Luciano Jorge e Yuri. Obrigado meus amigos! Aos colegas do Instituto Federal de Minas Gerais, que participaram dos momentos finais desse mestrado. Obrigado pela acolhida e pelo companheirismo. Aos amigos Luciano Moreira e Roberval Oliveira, que durante a fase da escrita acompanharam de perto as minhas angústias, me dando força para seguir em frente. Aos amigos Juliana e Fred, por me acolherem tão bem na chegada em Belo Horizonte. Ao amigo Felipe Matos, parceiro dos tempos da graduação em Juiz de Fora e dos tempos do mestrado em BH. Aos companheiros das ‘repúblicas’ ao longo dos dois anos em Belo Horizonte, Ernane, Julio, Clebio, Heveline, Reginaldo, Adriana, Daniel e Tiago.

Por último, os agradecimentos mais especiais... Agradeço a Deus, por me abençoar a cada dia com essa linda história que é a vida. Aos meus queridos pais, Lucas e Ana Marlene, por sempre terem confiado em mim, me apoiando nas minhas escolhas. Obrigado pelo carinho, pela dedicação, por todo o amor. Obrigado pelo que sou. À minha querida irmã Giselly, pelo incentivo, zelo e pela amizade. A vocês, agradeço pela família que somos! À Juliana, meu amor. Principal incentivadora deste meu sonho. Obrigado pela compreensão das minhas ausências, por ter me ajudado dia após dia a seguir neste desafio. Sou intensamente feliz por estarmos realizando os nossos sonhos!

RESUMO

Este trabalho aborda a presença da disciplina escolar Educação Física na Revista do Ensino , impresso de formação de professores produzido pelo governo de Minas Gerais, nas décadas de 1920 e 1930. Investigou-se como este periódico educacional produziu e fez circular prescrições de práticas, representações de Educação Física e dos sujeitos escolares – especialmente professores e alunos – envolvidos com essa disciplina. A Revista do Ensino foi tomada como a principal fonte de pesquisa, compreendendo 175 números publicados entre 1925 (quando começou a circular) e 1940 (quando foi interrompida). Outro conjunto de fontes mobilizado foi a legislação educacional deste período, especificamente os regulamentos e os programas do ensino primário e normal, estabelecidos pelo governo de Minas, com proposições para a Educação Física. O entrecruzamento dos conjuntos documentais – legislação e Revista do Ensino – possibilitou verificar as correlações entre estes diferentes dispositivos prescritivos. Foi possível perceber uma intensa presença de questões relacionadas à Educação Física na Revista : investimentos para a formação de um professorado próprio para o ensino desta disciplina; proposições para a atuação destes professores; expectativas em relação à formação dos alunos e prescrições de conhecimentos e práticas de Educação Física. Todo este movimento, empreendido pela Revista , constituiu o que foi chamado neste estudo de um projeto de escolarização da Educação Física em Minas Gerais. Ressalta-se que essa produção de uma disciplina escolar não foi homogênea. Ao contrário disso, comportou ambigüidades, idas e vindas, lutas de representações. Todavia, o estudo permite afirmar que a Revista do Ensino, de fato, constituiu-se como uma estratégia de formação de professores para o ensino de Educação Física.

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – “Dois teams de Volley-Ball – Alumnas do I e II anno da Escola Normal Modelo”. Revista do Ensino , n. 9, dez. 1925 ...................................................................... 77

FIGURA 2 – “I e II teams de basket-baal. – Alumnas do III anno da Escola Normal Modelo”. Revista do Ensino , n. 8, out. 1925....................................................................... 78

FIGURA 3 – “Grupo Escolar ‘Barão de Macahubas’ – Alumnos em gymnastica.”. Revista do Ensino , n. 4, jun. 1925................................................................................................... 80

FIGURA 4 – “Grupo Escolar ‘Barão de Macahubas’ – Alumnos em gymnastica”. Revista do Ensino , n. 5, jul. 1925 .................................................................................................. 81

FIGURA 5 – “Grupo Escolar ‘Barão de Macahubas’ – Alumnos em gymnastica”. Revista do Ensino , n. 6, ago. 1925 .................................................................................................. 81

FIGURA 6 – “Alumnas da Escola Normal Modelo. – Aula de gymnastica rythmica.”. Revista do Ensino , n. 8, out. 1925 ...................................................................................... 84

FIGURA 7 – “Alumnas da Escola Normal Modelo, em exercicios gymnasticos de bastão, no dia 15 de outubro”. Revista do Ensino , n. 24, nov. 1927 ................................................ 88

FIGURA 8 – “Commemoração do centenario do ensino primario – Exercicios gymnasticos na Escola Normal Modelo”. Revista do Ensino , n. 24, nov. 1927 ....................................... 89

FIGURA 9 – Revista do Ensino , n. 19, dez. 1926............................................................... 96

FIGURA 10 – Revista do Ensino , n. 19, dez. 1926 ............................................................. 97

FIGURA 11 – “Membros do club sportivo “Jair Guimarães de Paula”, do Grupo escolar de Ubá, após uma partida de Volley-ball.”. Revista do Ensino , n. 118, set. 1935 .............. 103

FIGURA 12 – “Uma aula de educação physica no Grupo Escolar de Ubá”. Revista do Ensino , n. 118, set. 1935 .................................................................................................. 103

FIGURA 13 – “Grupo Escolar ‘Rio Branco’ (capital) – Aspecto de alumnas em exercicios de gymnastica rythmica”. Revista do Ensino , n. 20, abr. 1927 .......................................... 109

FIGURA 14 – Ginástica historiada: “Descansando...”. Revista do Ensino , n. 56,57,58, abr./mai./jun. 1931 ........................................................................................................... 113

FIGURA 15 – Ginástica historiada: “E as arvores balançavam, balançavam...”. Revista do Ensino , n. 56,57,58, abr./mai./jun. 1931 ...................................................................... 114

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Práticas Corporais e Educação Física na Revista do Ensino : 1925-1940 ...... 24

QUADRO 2 – Artigos sobre Educação Física na Revista do Ensino : 1925-1940 ................ 25

QUADRO 3 – Fotografias sobre Práticas Corporais na Revista do Ensino : 1925-1940 ....... 29

APRESENTAÇÃO

Esta pesquisa se desenvolveu no sentido de contribuir para a compreensão do movimento de inserção e afirmação da disciplina escolar Educação Física, nas escolas em Minas Gerais. Assim, o estudo contempla as décadas de 1920 e 1930, período ainda pouco investigado pela História da Educação e da Educação Física sobre esta temática. Para cumprir este objetivo, a principal fonte mobilizada foi a Revista do Ensino de Minas Gerais, um impresso oficial destinado à formação de professores, circulante nas escolas mineiras entre 1925 e 1940. Outro conjunto de fontes mobilizado foi a legislação educacional do período, especialmente os regulamentos e programas do ensino primário e normal, estabelecidos pelo governo de Minas, que traziam proposições para a Educação Física. O entrecruzamento entre a legislação e a Revista do Ensino possibilitou verificar as correlações entre estes dois dispositivos prescritivos. Além disso, é importante destacar que a própria Revista foi um produto da lei, sendo que esta estabelecia o que o impresso iria publicar. Nenhum tema de pesquisa é escolhido ou surge ao acaso, por isso, considero importante salientar um pouco do percurso de pesquisa que culminou na realização desta dissertação de mestrado. No ano de 2004, quando então cursava a Licenciatura em Educação Física, na Universidade Federal de Juiz de Fora, comecei a participar do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação Física e do Esporte – GEPHEFE^1_._ Naquela ocasião já me interessava por temas atinentes à área de educação, no entanto, não conhecia do que tratava o campo de pesquisa em História da Educação e da Educação Física. Ingressei no GEPHEFE , participando das reuniões de estudo e da pesquisa intitulada “Corpo e educação: uma história das atividades corporais nos Grupos Escolares de Juiz de Fora (1907-1950)”. Tinha início, naquele momento, meus primeiros contatos com a pesquisa histórica, com a prática dos arquivos, e com leituras específicas dos campos da História da Educação/Educação Física.

(^1) Na ocasião, fui convidado pelo professor Carlos Fernando Ferreira da Cunha Junior a participar das reuniões do grupo criado por ele, naquela universidade, em 2002, quando concluíra seu trabalho de doutoramento intitulado “Cultura escolar e formação da boa sociedade: uma história do Imperial Collegio de Pedro Segundo” – tese de doutorado defendida no Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, sob orientação do professor Luciano Mendes de Faria Filho.

Logo foram se estreitando os laços com os dois grupos de pesquisa na UFMG, dos quais hoje faço parte, o CEMEF – Centro de Memória da Educação Física e do Esporte e o GEPHE – Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação. De outubro a dezembro de 2005, consultando o acervo do “Arquivo Público Mineiro”, deparei-me com a Revista do Ensino , um periódico educacional que me surpreendeu não só pelo longo período de publicação, mas principalmente pela riqueza de conteúdos vinculados à Educação Física. Os diversos artigos, figuras e fotografias que contemplavam a temática só fizeram aguçar, ainda mais, o interesse já existente em investigar a inserção e afirmação da Educação Física nas escolas. O amadurecimento da idéia de pesquisar sobre o tema teve contribuições de outros estudos que tiveram a Revista do Ensino como fonte ou objeto de investigação e também dos diálogos com Tarcísio Mauro Vago e Maurilane de Souza Biccas, que foram fundamentais para a elaboração do projeto que culminou nesta pesquisa. Com o ingresso no Programa de Pós-graduação em Educação da UFMG, em 2007, dei continuidade a este processo, agora como membro do GEPHE e do CEMEF, grupos que, pelo envolvimento em suas diversas ações, possibilitaram novas perspectivas nesta etapa da minha formação. Diversos estudos têm contribuído para a compreensão do processo de engendramento e enraizamento da Educação Física na escola.^2 Tarcísio Mauro Vago, em seu trabalho de doutoramento^3 , abordou a inserção da “Gymnastica” no ensino público primário da capital mineira, no período que vai da reforma do ensino de 1906^4 até 1920. Neste estudo, são apresentados os desdobramentos que esta prática teve na “correção, endireitamento e constituição dos corpos das crianças”^5. O presente estudo, por abordar um período seguinte – 1925 a 1940 – mostra um outro movimento da Educação Física em Minas. Por dentro das prescrições da Revista do Ensino , este movimento apresentou algumas permanências em relação aos primeiros anos do século XX, mas também apresentou reconfigurações, inovações, ambiguidades e contradições. A Revista do Ensino , neste estudo, foi uma fonte privilegiada na tentativa de apreender como foi possível ao governo mineiro produzir e fazer circular prescrições de práticas e

(^2) Dentre estes estudos, destaco: Tarcísio Vago (1999); Carlos Fernando da Cunha Júnior (2002); Marcus Taborda de Oliveira (2003a); Fernanda Paiva (2003) e Meily Linhales (2006). 3 4 Cf. Tarcísio Vago, 1999. Trata-se da reforma do ensino público primário e normal, realizada em 1906, que instituiu os Grupos Escolares em Minas Gerais. Sobre este tema, ver o trabalho de Luciano Mendes de Faria Filho (2000). 5 Cf. Tarcísio Vago, 1999.

sentido a Revista produziu expectativas de atuação para os professores e divulgou iniciativas para a formação e produção do professor específico para essa disciplina. Sobre os alunos, o impresso fez circular proposições a respeito de quem seriam os sujeitos esperados com a prática da Educação Física. O terceiro e último capítulo, Conhecimentos e práticas de Educação Física , está centrado nos conhecimentos e nas prescrições de práticas de Educação Física veiculados na Revista do Ensino no período analisado. O impresso fez circular múltiplos caminhos, dando visibilidade a determinadas proposições e silenciando outras. Assim, esse capítulo percorre os conhecimentos e as práticas prescritas, atinentes à Educação Física, que tiveram uma presença significativa na Revista do Ensino : a ginástica; os jogos e esportes; a “gymnastica rythmica” e a chamada “ginástica historiada”. Nas Considerações Abertas faço um apanhado da argumentação apresentada no trabalho e indico possibilidades para a continuidade dos estudos relativos à escolarização da Educação Física em Minas Gerais e à História das Disciplinas Escolares, tendo a Revista do Ensino como fonte.

CAPÍTULO 1

SOBRE A REVISTA DO ENSINO E A EDUCAÇÃO FÍSICA

1.1 Surgimento de um impresso educacional

A década de 1920 tem sido anunciada na História da Educação brasileira como um período que acolheu duas grandes campanhas, que tiveram uma intensa relação entre si. Tratam-se das campanhas da saúde e da educação. Marta Carvalho^8 argumenta que a intelectualidade brasileira, naquele momento, formulou uma preocupação com a “questão nacional” vinculada a uma constituição da saúde pela educação. Segundo a autora, o movimento protagonizado por médicos e higienistas, em favor da reforma dos serviços de saúde, teve inúmeros pontos de contato com um outro movimento promovido por setores da intelectualidade em favor da chamada “causa educacional”. Para estes atores sociais, saúde e educação se apresentavam como questões indissociáveis, em grande medida por uma nova crença, a de que estes dois fatores seriam capazes de operar a “regeneração” das populações brasileiras.^9 Ainda segundo a autora, a década de 1920 ficou conhecida pela emergência de um entusiasmo pela educação que, nas palavras de Marta Carvalho, foi um “movimento que reuniu intelectuais de diferentes categorias profissionais – principalmente professores, médicos e engenheiros – na propaganda da ‘causa educacional’”.^10 Este movimento, no entendimento da autora, pode ser interpretado como um projeto modernizador que foi empreendido no decorrer dos anos 20, sob o impacto do interesse de estruturar mecanismos de controle do cotidiano das populações pobres nos grandes centros urbanos.^11

O aceleramento dos processos de industrialização e urbanização atraía para as grandes cidades populações que, provenientes de outras culturas (como era o caso dos imigrantes), ou de regiões muito pobres do país, não partilhavam os códigos comportamentais que regiam o quotidiano da convivência interclasses no espaço urbano. A imagem de uma cidade

(^8) Cf. Marta Carvalho, 1997. (^9) Cf. Marta Carvalho, 1997. (^10) Cf. Marta Carvalho, 1997, p. 303. (^11) Cf. Marta Carvalho, 2000, p. 232.

moderna obteriam melhores resultados com menos esforços, à semelhança de tais máximas, determinou o crivo principal de valorização das inovações pedagógicas. Seria essa a sua maior eficiência, comparativamente à chamada pedagogia tradicional.^16 Neste sentido, ainda segundo a autora, o tema da organização do trabalho esteve também associado a projetos de reestruturação do sistema escolar que melhor assegurassem a homogeneização e o disciplinamento das populações.^17 Uma outra característica atribuída à educação no período esteve relacionada com o foco na população. Para a intelectualidade, de nada adiantaria uma boa instrução nas escolas, se o povo fosse deixado de lado. Cynthia Veiga destaca a força desse ideal, em que

nenhuma política republicana se legitimaria sem o povo e, sem dúvida, esse foi o momento em que a população estava no centro dos debates. Médicos, juristas, educadores e políticos, todos se colocavam como qualificados para falarem ao povo brasileiro.^18

Assim, uma nova idéia era transformar a sociedade com a contribuição de transformações na educação, que seriam fundadas, intensamente, por meio de reformas educacionais realizadas em vários Estados brasileiros. Tais reformas constituíram um marco para a educação, pois reafirmaram a possibilidade de pensar novas formulações teóricas, metodológicas e pedagógicas para intervenção na população. Podem-se destacar importantes reformadores, com influências escolanovistas, como Lourenço Filho, em 1923 no Ceará; Anísio Teixeira, em 1925 na Bahia; Francisco Campos, em 1927 no Estado de Minas Gerais; Fernando Azevedo, em 1928 no Distrito Federal e Carneiro Leão, no ano de 1928 em Pernambuco. Foram nestas circunstâncias que Fernando Mello Vianna^19 assumiu o governo mineiro em 1924, com a tarefa de alavancar o Estado rumo à nova situação econômica, urbano- industrial, assumindo a instrução primária como a principal prioridade de seu governo. Realizou uma Reforma na Instrução Pública do Estado, coordenada por seu Secretário do Interior, Sandoval Soares Azevedo, e pelo Diretor da Instrução Pública, Lúcio José dos

(^16) Cf. Marta Carvalho, 1989, p. 61. (^17) Cf. Marta Carvalho, 1989, p. 63. (^18) Cf. Cynthia Veiga, 2000a, p. 56. (^19) Segundo Maurilane Biccas (2001), Fernando Mello Vianna nasceu em Sabará em 15.03.1878 e morreu em 01.02.1954. Foi advogado, promotor e magistrado; durante sua longa vida pública foi integrante do partido PRM e muitos anos depois do PSD. Ocupou o cargo de Secretário do Interior na gestão de Raul Soares e ganhou a eleição para presidente do Estado em 1924, ficando neste cargo até 31.03.1926. Sandoval de Azevedo foi nomeado Secretário do Interior em sua gestão.

Santos^20 , baixando decretos que regulamentaram o ensino primário e investindo na difusão e expansão das escolas primárias por todo o Estado^21. Outro importante investimento de Mello Vianna para a reorganização da Instrução Pública, foi a reformulação da Revista do Ensino , no ano de 1925. Criada em 1892, três anos após a proclamação da República, no governo do então presidente de Minas Gerais, Affonso Penna, e no momento em que era realizada a primeira reforma do ensino no período republicano^22 , a Revista de Ensino foi desativada logo em seguida. De acordo com Maurilane Biccas, quando foi criada a Revista não possuía um caráter formativo, seu objetivo não era prescrever práticas escolares. Ela se dirigia aos professores com função de tornar-se instrumento jurídico-administrativo, de informação e de defesa.^23 Ainda conforme a autora, neste período foram publicados apenas três números. A publicação, de forma mais efetiva, somente ocorreria a partir de março de 1925, quando foi inteiramente reformulada como parte da Reforma na Instrução Pública do Estado, de Mello Vianna. Em 1940 ocorreria mais uma interrupção em sua publicação devido à Segunda Guerra Mundial.^24 Neste período, que correspondeu ao ciclo mais regular de publicação, foram produzidos 175 números. A Revista voltou a circular em 1946, porém de maneira irregular, e continuou existindo até janeiro de 1971, quando o número 239 deste periódico encerrou as suas publicações. Conforme já previa o Regulamento do Ensino^25 , a partir de 1925 a Revista do Ensino passaria a circular mensalmente, sob responsabilidade da “Directoria de Instrucção Publica”, sendo “destinada a orientar, estimular e informar os funccionarios do ensino e os particulares interessados”. Ainda, segundo o mesmo regulamento, a estrutura da Revista deveria constar de “uma parte doutrinaria” cujas funções seriam: “dirigir o professorado publico do Estado, harmonizando seus esforços”; “pol-o ao corrente da evolução do ensino primario em todos os seus aspectos” e “publicar-lhe os trabalhos ou extractos destes, quando de evidente interesse didactico”^26. Esta “parte doutrinaria” deveria ainda “limitar-se á publicação de pequenos

(^20) De acordo com Maurilane Biccas (2001), Lúcio José dos Santos, orador, autor, professor de ciência, jornalista e um católico fervoroso, esteve à frente da Diretoria de Instrução Pública no governo de Fernando Mello Vianna (1924-1926). No governo de Antonio Carlos e Francisco Campos foi diretor da Escola de Aperfeiçoamento. Foi, ainda, um dos grandes colaboradores da 21 Revista do Ensino nos primeiros quinze anos de sua existência. O Decreto n. 6.555, de 19/08/1924, regulamentava o Ensino Primário e o Decreto 6.758, de 01/01/1925, dispunha sobre o Programa do Ensino Primário. 22 Trata-se da Lei n. 41, de 03/08/1892, que além de criar a Revista do Ensino , previa também mudanças nas escolas normais, como a ampliação no número de cadeiras a serem cursadas pelos professores. 23 24 Cf. Maurilane Biccas, 2001. 25 Cf. Maurilane Biccas, 2001. 26 Cf. MINAS GERAIS, 1924, art. 479. Cf. MINAS GERAIS, 1924, art. 480.

de professores e de conformação do campo educacional mineiro.^37 Corroborando a argumentação da autora, a análise de Ana Maria Peixoto já afirmava o caráter formativo do professorado mineiro, configurado pela Revista do Ensino :

A mobilização através do Minas Gerais e da Revista do Ensino – O Minas Gerais , órgão da Imprensa Oficial do Estado, e a Revista do Ensino constituíram veículos muito importantes de divulgação das novas tendências junto ao professorado, devido ao seu poder de penetração (não havia escola, por distante que fosse, que não os recebesse). [...] Na elaboração da Revista do Ensino , a Inspetoria Geral de Instrução preocupava-se não só com os aspectos de formação geral e específica do professor, mas também com a divulgação de materiais didáticos capazes de auxiliar o professor no dia a dia da sala de aula. [...].^38

É importante considerar que estes estudos sobre a Revista do Ensino não compreendem um movimento isolado. Desde a década de 1980, a historiografia educacional brasileira vem experimentando um processo de reconfiguração, ocasionado pela emergência de novos interesses, novos problemas, novos objetos e novos critérios de rigor científico, impactando no campo da História da Educação. Segundo Marta Carvalho:

No bojo dessas transformações é abolida a rígida demarcação das fronteiras que, anteriormente, bipartia o campo da História da Educação, dissociando a história das instituições escolares da história do pensamento ou das idéias pedagógicas. [...] ganha espaço um multifacetado campo de investigações sobre impressos de destinação pedagógica e seus usos escolares. São essas investigações que dão sólido suporte a uma história cultural dos saberes pedagógicos interessada na materialidade dos processos de difusão e imposição desses saberes e na materialidade das práticas que deles se apropriam.^39

Sobre este processo de “reconfiguração da historiografia educacional brasileira”, cabe também destacar que nas três últimas décadas a pesquisa sobre impressos pedagógicos tem-se apresentado como um novo campo de investigação em diversos países do mundo e, mais recentemente, também no Brasil. Maurilane Biccas^40 indica alguns pesquisadores europeus

(^37) Cf. Maurilane Biccas, 2001. (^38) Cf. Ana Maria Peixoto, 1983, p. 180. (^39) Cf. Marta Carvalho, 1998, p. 4. (^40) Cf. Maurilane Biccas, 2006.

que desenvolveram investigações sobre impressos pedagógicos, como Pierre Caspard^41 , Antônio Novoa^42 , Pierre Caspard e Penélope Caspard^43. No Brasil, comenta os trabalhos de Denice Catani e Cyntia Souza^44 , Isabel Frade^45 , além do livro organizado por Denice Catani e Maria Bastos^46 , com o título Educação em Revista: A Imprensa Periódica e a História da Educação , que reúne pesquisas sobre o tema, de estudiosos da História da Educação no Brasil e o no Exterior. Neste contexto, esta pesquisa está inserida no campo da história cultural dos saberes pedagógicos que, a partir de um impresso de destinação pedagógica, circulante nas escolas mineiras das décadas de 1920 e 1930, busca compreender como foi possível ao governo mineiro prescrever e divulgar práticas e representações de Educação Física. Práticas e representações estas, que deveriam ser absorvidas e aplicadas pelos professores atuantes nas escolas de Minas Gerais. Ao analisar as prescrições de práticas e representações de Educação Física em um impresso educacional que teve por objetivo principal a formação de professores, opero com a hipótese de que a Revista do Ensino foi mobilizada como uma estratégia para a formação do professorado, para o ensino de Educação Física nas escolas. Porém, mais que isso, investigo em que medida a Revista contribuiu para a afirmação da Educação Física nas escolas, e neste sentido, que projeto ela estaria produzindo e fazendo circular. As fontes indicam que houve sim na Revista a circulação de um projeto para a Educação Física, no entanto, o mesmo esteve longe de ser uniforme, constante, nos discursos. Foi imbuído de muitas permanências, tensões e ambiguidades, próprias de um campo de conhecimento em processo de produção e afirmação. A estratégia editorial empreendida pela Revista , analisada detalhadamente por Maurilane Biccas^47 , pode ser considerada como o que Certeau chama de “postulado de um poder”^48. A Revista imprime em suas páginas – tanto pelo conteúdo, como pela forma de se organizar – diretrizes e metodologias para a conformação de um projeto de Educação Física nas escolas. Deste modo, a Revista do Ensino foi produzida objetivando atingir uma comunidade específica de leitores – professores do ensino público de Minas Gerais – e, com isso,

(^41) Cf. Pierre Caspard, 1981. (^42) Cf. Antônio Novoa, 1993 e 1997. (^43) Cf. Pierre Caspard; Penélope Caspard, 1997. (^44) Cf. Denice Catani; Cyntia Souza, 1999. (^45) Cf. Isabel Frade, 2000. (^46) Cf. Denice Catani; Maria Bastos, 1997. (^47) Cf. Maurilane Biccas, 2001. (^48) Cf. Certeau, 1994.