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A Vida Tranquila de Eleanor Oliphant: Um Empregado de Escritório Anônimo, Resumos de Contabilidade

Este texto descreve as experiências pessoais e profissionais de eleanor oliphant, uma funcionária de escritório anônima que trabalha num escritório de design gráfico por quase trinta anos. Ela reflete sobre as preconceitos e estereótipos que as pessoas têm sobre pessoas que trabalham em escritórios e sobre sua própria identidade. O texto também descreve as rotinas diárias de eleanor, suas preferências culinárias e suas interações sociais limitadas.

O que você vai aprender

  • Quais são as rotinas diárias de Eleanor?
  • Por quanto tempo ela trabalha no escritório?
  • Quais são as interações sociais de Eleanor fora do escritório?
  • Quais são as preferências culinárias de Eleanor?
  • Qual é a profissão de Eleanor Oliphant?

Tipologia: Resumos

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Carnaval2000
Carnaval2000 🇧🇷

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GAIL HONEYMAN
A EDUCAÇÃO
DE ELEANOR
Tradução de Elsa T. S. Vieira
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GAIL HONEYMAN

A EDUCAÇÃO

DE ELEANOR

Tradução de Elsa T. S. Vieira

Oo

Dias bons

Quando as pessoas – taxistas, higienistas orais – me perguntam o que faço, respondo-lhes que trabalho num escritório. Em quase nove anos, nunca ninguém quis saber que tipo de escritório é, nem qual o trabalho que lá faço. Não consigo decidir se é porque encaixo na perfeição na ideia que têm de uma empregada de escritório, ou porque as pessoas ouvem a expressão «empregado de escritório» e preenchem sozinhas os espaços em branco de forma automática

  • uma senhora a tirar fotocópias, um homem a escrever no teclado do computador. Não estou a queixar-me. Fico feliz por não ter de detalhar as minúcias fascinantes das contas a receber. Quando co- mecei a trabalhar aqui, sempre que alguém perguntava, respondia que trabalhava numa empresa de design gráfico, mas isso fazia com que partissem do princípio que eu era do tipo criativo. Cansei-me de ver os seus olhos desfocarem-se quando explicava que só fazia trabalho de escritório básico, que não usava as canetas de ponta fina e os programas sofisticados. Tenho agora quase trinta anos e trabalho aqui desde os vinte e um. Bob, o dono, contratou-me não muito tempo depois de o es- critório abrir. Acho que teve pena de mim. Eu tinha uma licencia- tura em Clássicas e praticamente nenhuma experiência de trabalho, e apareci na entrevista com um olho negro, dois dentes partidos e um braço fraturado. Talvez ele tenha pressentido, na altura, que eu nunca teria aspirações a ser mais do que uma empregada de escritório mal paga, que me daria por satisfeita em ficar na empresa e lhe pouparia o trabalho de ter de recrutar alguém para me substituir. Talvez tenha

percebido também que eu nunca precisaria de me ausentar em lua de mel ou licença de maternidade. Não sei.

No escritório temos um sistema hierárquico de dois níveis: os cria- tivos são as estrelas do filme e os restantes, meros atores secundários. Basta olhar para cada um para perceber a que categoria pertence. Para ser justa, isso tem muito a ver com os ordenados. O pessoal do es- critório recebe uma miséria, por isso não podemos gastar muito em cortes de cabelo elegantes e óculos da moda. Roupas, música, gadgets

  • embora os designers estejam desesperados por serem vistos como livres-pensadores com ideias únicas, todos aderem a um uniforme rígido. Pessoalmente, não tenho qualquer interesse por design gráfico. Trabalho na contabilidade. Na verdade, podia estar a emitir faturas para qualquer coisa: armamento, Rohypnol, cocos. De segunda a sexta-feira, entro às oito e meia da manhã. Tenho uma hora de almoço. Costumava trazer sanduíches, mas a comida acabava sempre por se estragar antes que eu a conseguisse consumir, por isso agora compro qualquer coisa na rua. À sexta-feira, termino sempre a hora de almoço com uma visita à Marks and Spencer, que é uma boa forma de concluir a semana. Sento-me na sala dos funcioná- rios com a minha sanduíche, leio o jornal da primeira à última página e depois faço as palavras-cruzadas. Compro o Daily Telegraph não porque goste do periódico por aí além, mas porque tem as melhores palavras-cruzadas. Não falo com ninguém – depois de comprar a san- duíche, ler o jornal e acabar as palavras-cruzadas, a hora de almoço está praticamente no fim. Volto para a minha secretária e trabalho até às cinco e meia da tarde. Demoro meia hora de autocarro até casa. Faço o jantar e como enquanto oiço a radionovela The Archers. Geralmente, faço massa com molho pesto e salada – só sujo um tacho e um prato. Tive uma infância repleta de contradições culinárias, e, ao longo dos anos, tão depressa jantava vieiras apanhadas à mão como refeições pré-cozinhadas. Depois de muita reflexão sobre os aspetos políticos e sociológicos da cozinha, percebi que não tenho qualquer interesse por comida. Dou preferência ao género de ração que seja barata, rápida e simples de adquirir e preparar, fornecendo ao mesmo tempo os nutrientes necessários para manter uma pessoa viva.

minha morada aos arquivos do pessoal. Calculo que acabariam por chamar a polícia, não? As autoridades arrombariam a porta do meu apartamento e entrariam, com a mão na boca, a conter os vómitos por causa do cheiro. Isso daria motivo de conversa no escritório. Eles odeiam-me, mas não me desejam a morte. Pelo menos, acho que não.

Ontem fui ao médico. Parece que a última vez tinha sido há sé- culos. Apanhei o médico mais novo, o tipo pálido e ruivo, o que me deixou satisfeita. Quanto mais novos são, mais recente é a sua for- mação, o que só pode ser bom. Detesto quando tenho consulta com a velha doutora Wilson; tem cerca de sessenta anos e não me parece que esteja muito a par dos mais recentes medicamentos e avanços da medicina. Mal sabe trabalhar com o computador. O médico estava a fazer aquela coisa em que falam connosco sem olhar para nós, a ler o meu processo no ecrã, a carregar com cada vez mais frenesi nas teclas para andar para baixo.

  • O que posso fazer por si desta vez, menina Oliphant?
  • São as dores nas costas, doutor – informei. – Tenho estado muito mal. – Continuou a não olhar para mim.
  • Há quanto tempo? – inquiriu.
  • Umas duas semanas – respondi. Assentiu com a cabeça.
  • Acho que sei o que está a causar o problema – continuei –, mas queria pedir a sua opinião. Ele parou de ler e lá olhou para mim.
  • E o que acha que lhe está a causar as dores nas costas, menina Oliphant?
  • Acho que são os meus seios, doutor – expliquei-lhe.
  • Os seus seios?
  • Sim – confirmei. – Sabe, estive a pesá-los e pesam quase três quilos… os dois juntos, não é cada um! – Ri-me. Ele olhou para mim com uma expressão séria. – É muito peso para uma pessoa carregar constantemente, não é? – perguntei. – Quer dizer, se eu lhe prendesse três quilos de carne ao peito e o obrigasse a andar assim o dia todo, se calhar também lhe doíam as costas, não acha? O médico olhou para mim e pigarreou.
  • Como… Como é que?…
  • Na balança da cozinha – respondi, com um aceno. – Simples- mente… pus uma em cima da balança. Não pesei as duas; presumi que teriam mais ou menos o mesmo peso. Não é um método muito científico, eu sei, mas…
  • Vou passar-lhe uma receita para mais analgésicos, menina Oliphant – interrompeu ele, começando a escrever no computador.
  • Mais fortes desta vez, por favor – pedi, com firmeza –, e muitos. Já me tinham tentado enganar com doses minúsculas de aspi- rina. Precisava de medicamentos muitíssimo eficientes para juntar às minhas reservas.
  • Posso pedir-lhe também uma receita do remédio para o ec- zema, por favor? Parece piorar em alturas de maior stress. Ele nem se dignou a responder a este pedido educado, limitando- -se a assentir com um aceno. Nenhum de nós falou enquanto a im- pressora cuspia a papelada, que ele me entregou. Olhou de novo para o ecrã e recomeçou a escrever. Seguiu-se um silêncio embaraçoso. As capacidades sociais deste médico eram penosamente inadequadas, em particular tendo em conta que tinha de lidar com pessoas no seu trabalho.
  • Então adeus, doutor – despedi-me. – Muito obrigada pelo seu tempo. O meu tom passou-lhe completamente despercebido. Ao que pa- recia, continuava absorvido nos seus apontamentos. É o único lado negativo dos médicos mais novos: não têm jeito nenhum para lidar com pessoas.

Isto foi ontem de manhã, numa outra vida. Hoje, depois, o au- tocarro estava a andar bem no caminho para o escritório. Chovia e todos os passageiros pareciam infelicíssimos, encolhidos dentro dos seus sobretudos, com o hálito matinal a embaciar as janelas. A vida cintilava em direção a mim através das gotas de chuva no vidro, tre- meluzindo, perfumada, por cima do fedor a roupas molhadas e pés húmidos. Sempre me orgulhei muito de conseguir gerir a minha vida so- zinha. Sou uma sobrevivente solitária: sou Eleanor Oliphant. Não

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No escritório havia aquela sensação palpável de boa disposição das sextas-feiras, com toda a gente a acreditar na mentira de que o fim de semana seria espantoso e de que, para a semana, o trabalho seria diferente, melhor. Esta gente nunca aprende. Para mim, contudo, as coisas tinham mudado. Não dormira muito mas, apesar disso, sentia- -me bem, melhor, excelente. As pessoas dizem que quando encontra- mos «o tal», simplesmente sabemos. E tudo nesta ideia é verdade, até o facto de o destino o ter colocado no meu caminho numa quinta- -feira à noite, pelo que agora o fim de semana se estendia à minha frente, convidativo, repleto de tempo e de promessas. Era o último dia de um dos designers na empresa e, como de costume, a ocasião seria assinalada com vinho barato, cerveja cara e batatas fritas de pacote despejadas em tigelas de cereais. Com um pouco de sorte, a festa começaria cedo e eu poderia comparecer e, mesmo assim, sair a horas. Tinha de chegar às lojas antes da hora de fecho. Abri a porta e o frio do ar condicionado fez-me estremecer, apesar de ter o colete vestido. Billy estava a falar, rodeado pelos ou- tros e de costas para mim; os restantes pareciam demasiado atentos para darem pela minha entrada.

  • É maluca – declarou.
  • Bom, que é maluca sabemos nós – acrescentou Janey –, isso nunca esteve em dúvida. A questão é: o que terá ela feito desta vez? Billy soltou uma risada desdenhosa.
  • Sabem que me convidou para ir ao estúpido do concerto, certo? Janey sorriu.

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  • A rifa anual que o Bob organiza com os brindes que os clien- tes lhe dão. Primeiro prémio, dois bilhetes. Segundo prémio, quatro bilhetes… Billy suspirou.
  • Pois. Uma noite de quinta-feira absolutamente horrorosa… Um concerto de caridade num pub, protagonizado pela equipa de marketing do nosso maior cliente, mais vários grupinhos constran- gedores de amigos e família? E, para agravar a situação, com ela? Todos se riram. Eu não pude discordar daquela avaliação; não fora propriamente uma noite de glamour e excessos dignos de um Gatsby.
  • Na primeira parte havia só uma banda… Johnnie qualquer coisa e os Pilgrim Pioneers… e até nem eram maus de todo – conti- nuou Billy. – Tocaram originais e algumas covers também, músicas antigas e clássicas.
  • Eu conheço-o… Johnnie Lomond! – exclamou Bernadette.
  • Era do mesmo ano do meu irmão mais velho. Veio a uma festa em nossa casa uma vez, quando os meus pais estavam em Tenerife, mais alguns amigos do meu irmão. Se bem me lembro, entupiram o lava- tório da casa de banho… Virei costas, pois não queria ouvir falar das loucuras da juven- tude dele.
  • Seja como for – prosseguiu Billy (eu já tinha reparado que ele não gostava de ser interrompido) –, ela detestou a banda. Ficou ali sentada, paralisada; não se mexeu, não bateu palmas, nada. Assim que acabaram, disse que tinha de ir para casa. Nem sequer aguentou até ao intervalo e tive de ficar ali sentado sozinho o resto do con- certo, literalmente abandonado.
  • Que pena, Billy… Sei que querias levá-la a beber um copo de- pois; talvez até dar um pezinho de dança – escarneceu Loretta, dando- -lhe uma cotovelada.
  • Muito engraçadinha, Loretta. Não, ela desapareceu num tiro. Já devia estar enfiada na cama, com uma caneca de cacau e uma revista feminina, antes de a banda acabar sequer de tocar.
  • Oh, não sei porquê, mas não me parece que ela leia revistas fe- mininas – notou Janey. – Deve preferir coisas muito mais esquisitas, muito mais estranhas. Sobre pesca? Autocaravanas?

tem nada a ver com a minha vida, e não queria ter de explicar ao Bob porque viera trabalhar num fim de semana e mesmo assim não con- seguira reduzir a pilha de faturas à espera de processamento. Além disso, em casa podia ir fazendo outras coisas ao mesmo tempo, como praticar os pratos que cozinharia no nosso primeiro jantar juntos. Há muitos anos, a mamã disse-me que os homens perdem a cabeça por folhados de salsicha. A melhor forma de conquistar o coração de um homem, assegurou-me, é um folhado de salsicha caseiro, a massa quente e estaladiça, carne de boa qualidade. Há anos que não cozinho mais nada a não ser esparguete. Nunca fiz um folhado de salsicha. No entanto, não me parece que seja assim tão difícil. É apenas massa folhada e carne picada. Liguei o computador e introduzi a minha palavra-passe, mas o ecrã encravou. Desliguei e voltei a ligar o computador, e desta vez nem chegou ao ecrã da palavra-passe. Que chatice! Fui falar com Loretta, a gerente do escritório. Loretta tem ideias exageradas sobre as suas próprias capacidades administrativas e, no tempo livre, faz joias hediondas, que depois vende a idiotas. Informei-a de que o meu computador não estava a funcionar e que não conseguia falar com Danny da informática.

  • O Danny foi-se embora, Eleanor – declarou Loretta, sem tirar os olhos do ecrã. – Agora temos um técnico novo. O Raymond Gibbons? Entrou o mês passado? – Disse-o como se eu devesse ter conheci- mento. Ainda sem erguer os olhos, escreveu o nome e a extensão telefónica num Post-it e deu-mo.
  • Muito obrigada, Loretta, foi extremamente prestável, como de costume – agradeci-lhe. Como é óbvio, a ironia passou-lhe desper- cebida. Liguei para o número e atendeu-me o gravador:
  • Olá, daqui fala o Raymond, mas não fala o Raymond. Como o gato de Schrödinger. Deixe uma mensagem após o sinal. Abanei a cabeça, indignada, e falei lenta e claramente para o gra- vador.
  • Bom dia, senhor Gibbons. Fala a menina Oliphant, a funcioná- ria da contabilidade. O meu computador não está a funcionar e agra- decia-lhe que arranjasse tempo para o ver ainda hoje. Se precisar de

mais pormenores, pode encontrar-me na extensão cinco-três-cinco. Muitíssimo obrigada. Esperava que a minha mensagem clara e concisa lhe servisse de exemplo. Esperei dez minutos, arrumando a secretária para passar o tempo, mas ele não ligou. Depois de duas horas a arquivar papelada sem qualquer comunicação do Sr. Gibbons, decidi ir almoçar mais cedo. Passara-me pela cabeça que devia preparar-me fisicamente para um potencial encontro com o músico, nomeadamente com alguns melhoramentos. Seria melhor uma transformação de dentro para fora, ou deveria trabalhar de fora para dentro? Fiz uma lista mental de todo o trabalho relacionado com a aparência que tinha a fazer: cabelos (cabeça e corpo), unhas (mãos e pés), sobrancelhas, celulite, dentes, cicatrizes… Todas estas coisas precisavam de ser atualizadas, realçadas, melhoradas. Por fim, decidi começar por fora e trabalhar em direção ao interior – afinal de contas, é o que acontece com mais frequência na natureza. A muda da pele, o renascimento. Animais, aves e insetos podem fornecer-nos revelações muito úteis. Sempre que não tenho a certeza do rumo a seguir, penso O que faria um furão? ou Como é que uma salamandra reagiria a esta situação? e en- contro sempre a resposta certa. Todos os dias, a caminho do trabalho, passo pelo salão de beleza Julie’s Beauty Basket. Por sorte, tinham uma vaga de última hora. Demoraria cerca de vinte minutos, seria atendida por uma Kayla e custaria quarenta e cinco libras. Quarenta e cinco! Mas ele mere- cia-o, recordei a mim própria enquanto Kayla me conduzia a uma sala no piso de baixo. Tal como as demais funcionárias, Kayla vestia uma bata branca que fazia lembrar a do equipamento cirúrgico e calçava socas também brancas. Aprovei esta indumentária pseudo- médica. Entrámos numa sala acanhada e desconfortável, onde mal cabia uma marquesa, uma cadeira e uma mesinha.

  • Muito bem – disse ela –, agora tem de despir as suas… – fez uma pausa e olhou para a metade inferior do meu corpo – … ah, calças e a roupa interior, e subir para a marquesa. Pode ficar nua da cintura para baixo ou, se preferir, pode vestir isto. – Pousou um pequeno pacote em cima da marquesa. – Tape-se com a toalha e eu volto já, está bem? Acenei afirmativamente. Não antecipara tanto veste e despe.