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A «descoberta guiada» como processo de transmissão das ..., Notas de estudo de Literatura

A «descoberta guiada» como processo de transmissão das Ideias de Jogo para a concretização do «jogar». Estudo de caso na equipa sénior do Sporting Clube de.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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A «descoberta guiada» como processo de
transmissão das Ideias de Jogo para a
concretização do «jogar».
Estudo de caso na equipa sénior do Sporting Clube de
Espinho
Paulo Miguel Portela de Sousa
Porto, 2006
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A «descoberta guiada» como processo de

transmissão das Ideias de Jogo para a

concretização do «jogar».

Estudo de caso na equipa sénior do Sporting Clube de

Espinho

Paulo Miguel Portela de Sousa

Porto, 2006

A «descoberta guiada» como processo de

transmissão das Ideias de Jogo para a

concretização do «jogar».

Estudo de caso na equipa sénior do Sporting Clube de

Espinho

Monografia realizada no âmbito da disciplina de Seminário, na opção de Futebol, ministrada no 5º ano da licenciatura em Desporto e Educação Física da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

Orientador: Mestre José Guilherme Oliveira

Paulo Miguel Portela de Sousa

Porto, 2006

Agradecimentos

Paulo Sousa (^) iii

AGRADECIMENTOS

Ao Professor José Guilherme pela disponibilidade e orientação incondicional, mesmo atravessando um período de instabilidade profissional. Um grande professor define-se por um grande carácter e carisma… para os seus alunos será sempre um “Prof.” de “Top”.

Ao Professor Vítor Frade pela forma metafórica e peculiar com que me fez entender o Futebol, o jogo e o treino. Agora, realmente vi nos inúmeros artigos que nos disponibilizou e recomendou ler num local “específico”, a sua real especificidade, utilidade e sentido.

Ao Professor Vítor Pereira e ao Filipe pela permissão em “invadir” a privacidade duma equipa. Existem pessoas dedicadas à profissão que não têm constrangimentos em partilhar o saber fazer com “novatos”.

Aos meus pais, irmão e família com quem partilho um “referencial comum” e um amor eterno. Um especial obrigado pelo contributo pessoal e pelo amor incansável na minha educação.

À Marisa pelo amor intransponível, pela paciência e… paciência. Um agradecimento singular pela correcção gramatical e pelo seu ponto de vista crítico, tão exterior a este “meio”, mas tão valioso.

A todos que considero amigos pessoais e que viveram comigo momentos memoráveis. Até aos que se encontram longe, digo: existem pessoas em acontecimentos de vida que valem por tudo.

Ao Futuro por me fazer sonhar e acreditar que vou chegar lá. Quando somos coerentes, determinados e ambiciosos tudo é possível.

E a mim mesmo, pela minha dedicação e persistência…

Agradecimentos

Paulo Sousa (^) iv

Índice Geral

Paulo Sousa (^) vi

comportamentos: 2.2.3.1. Princípios de Jogo: os padrões de comportamento colectivo e individual, as «invariantes Específicas» e as «partes» que estão no «todo».

22

2.2.3.2. Alcançar uma Identidade de jogo… um primado do Modelo de Jogo. 23 2.2.4. A «Organização Fractal» 24 2.2.4.1. A «Organização Fractal» do processo de treino, em que tudo o que se fragmenta deve ser representativo da Especificidade da equipa, promove o desenvolvimento do conhecimento Específico do jogador

25

2.2.5. A tomada de consciência… na busca da identidade de jogo… 27 2.2.5.1. Quando o jogador atinge a «consciência de si»… 27 2.2.5.2. Quando o jogador atinge o «sentimento de si»… 28 2.2.5.3. Quando o jogador atinge «sentimentos conscientes»… 29 2.2.6. Notas finais da 2ª Parte. 30 2.3. Interpretação da realidade em função da preparação das Ideias de Jogo 31

2.3.1. A Comunicação como Princípio Metodológico: 32 2.3.1.1. Elogiar e motivar são estratégias de comunicação. 33 2.3.1.2. Exigência de coerência no discurso e crença no que se defende. 34 2.3.1.3. Treinador enquanto gestor do «aqui e agora». 35 2.3.2. A Contextualização dos exercícios como Princípio Metodológico. 35 2.3.3. A Especificidade como Princípio Metodológico. 38 2.3.3.1. Individualização… um conceito inerente à Especificidade. 39 2.3.4. Notas finais da 3ª Parte. 40

2.4. Vivenciação da realidade perante a concretização das Ideias de Jogo 41

2.4.1. A «descoberta guiada»… uma forma de operacionalização eficaz mas pouco exercida no Futebol: 42 2.4.1.1. A «vertigem do piloto automático» versus a «descoberta guiada». 43 2.4.2. Pressupostos que incentivem a um processo de ensino- 44

Índice Geral

Paulo Sousa (^) vii

  • 2.4.3. A Descoberta Guiada… um Estilo de Ensino assumido. aprendizagem por descoberta. - necessidade de investigação, de descobrir. 2.4.3.1. A Dissonância cognitiva: um estado que cria a
    • 2.4.3.2. Então, afinal o que é a Descoberta Guiada?
    • 2.4.3.3. A Anatomia da Descoberta Guiada.
  • 2.4.4. Notas finais da 4ª Parte.
    1. Material e Métodos
    • 3.1. Justificação do estudo de caso
    • 3.2. Caracterização do estudo de caso.
    • 3.3. Objectivos
    • 3.4. Metodologia de investigação.
    • 3.5. Recolha de dados.
    1. Análise e Discussão dos Resultados
    • 4.1. Uma nota introdutória…
    • 4.2. A «descoberta guiada» …“apontar o caminho”…
    • 4.3. A coerência no processo de operacionalização
    • Específico comum 4.4. A «descoberta guiada»: processo aquisitivo de um conhecimento
    • 4.5. A «descoberta guiada» permite instalar um estado de crença
    • 4.6. “Manipulação Emocional”: gerir emoções nas aprendizagens
    • 4.7. Encaminhar pacientemente e gerir problemas no acto de ensinar
    • 4.8. Autonomia e responsabilidade no acto de aprender
    • 4.9. Escolha e destino: “liberdade” na tomada de decisões - ou exigida? 4.10. Exercícios e Feedback: uma relação permanentemente necessária
    • 4.11. A «descoberta guiada»: um culto à inovação
    1. Considerações finais relativamente à «descoberta guiada»
    1. Conclusões
    1. Sugestões para futuros trabalhos
    1. Referências Bibliográficas

Resumo

Paulo Sousa (^) ix

RESUMO

O jogo caracteriza-se por um cenário imprevisível, aleatório e ambíguo, em que o desconhecimento das Ideias de Jogo ou as ausências referenciais dos jogadores constituem uma ameaça acrescida à eficácia do treino e à forma de jogar de uma equipa. O treino visa criar um contexto de acção semelhante para todos os jogadores a partir da aquisição e organização do conhecimento que se prende com o «jogar» pretendido, portanto, que se quer Específico. As pesquisas realizadas têm dado pouco ênfase aos modos de operacionalizar esse conhecimento Específico. Esta temática será a nossa preocupação. O presente estudo é um trabalho de natureza conceptual. A ideia central deste trabalho é enunciar e caracterizar a «descoberta guiada» como processo de transmissão das Ideias de Jogo e de operacionalização do «jogar». A metodologia empregue para a concretização deste trabalho consistiu, primeiramente, na realização de uma revisão da literatura relativa à problemática em questão e, posteriormente, na realização de um estudo de caso que resultou da observação de dois microciclos semanais de treino, da equipa sénior do Sporting Clube de Espinho, e da realização e análise de uma entrevista ao treinador principal da equipa. Os principais objectivos do trabalho são testemunhar o processo de ensino-aprendizagem/treino utilizado pelo treinador em questão e verificar se o processo de operacionalização das Ideias de Jogo e do «jogar» é através da, ou se assemelha à, «descoberta guiada». Com o intuito de aprofundar e esclarecer as premissas que compõem a revisão da literatura procedeu-se à análise e discussão dos resultados. Numa perspectiva reflexiva e crítica, consideramos que o treinador observado, embora partilhe da maior parte dos princípios da «descoberta guiada», entenda do que se trata e apresente uma forma de operacionalizar algo semelhante a ela, detectam-se momentos no decorrer da sua operacionalização das Ideias de Jogo que nos permitem indicar algumas divergências com este processo.

Palavras chave : FUTEBOL – IDEIAS DE JOGO – ABORDAGEM SISTÉMICA – CONHECIMENTO ESPECÍFICO – MODELO DE JOGO – «DESCOBERTA GUIADA».

Resumo

Paulo Sousa (^) x

Introdução

Paulo Sousa (^) 2

como algo que se transforma a partir da idealização e modelização da mesma. Modela-se a realidade a partir da criação de um Modelo de Jogo, subordinado a várias características, na tentativa de se alcançar um conhecimento Específico. Na 3ª parte, apontamos a comunicação, a contextualização e a Especificidade como princípios metodológicos que permitem ao treinador interpretar a realidade à medida que prepara as suas ideias de jogo. Na 4ª parte, apresenta-se a «descoberta guiada» como o processo que permite a concretização das ideias de jogo e do «jogar» pretendidos, à medida que se vivencia a realidade em que se trabalha. No terceiro ponto, designado de “Material e Métodos”, são definidos os objectivos e apresentados o estudo de caso e a metodologia adoptada. No quarto, a “Análise e Discussão dos Resultados”, discute-se e caracteriza-se o objecto de estudo. No quinto ponto apresentam-se as conclusões. No sexto e sétimo pontos as considerações e recomendações finais, respectivamente, e por fim as referências bibliográficas. Na realização do estudo, partimos da premissa que não existe um único Futebol e, naturalmente, que não existem dois treinadores que preconizem duas formas de jogar iguais. A expressão «jogar» é entendida como a forma de uma equipa se comportar no jogo apresentando características que permitirão detectar singularidade, identidade própria e uma cultura de jogo, demarcando-a de outros «jogares» existentes. O «jogar» deve ser entendido como algo a construir, que surge a partir de uma idealização do treinador, mas que conta com a adequação à realidade e com o acrescento de algo vindo dos jogadores. Se o treinador é quem idealiza essa forma de jogar é a ele que cabe a sua operacionalização para que a interpretação e assimilação, dos jogadores, seja plena e se concretize num «jogar» regular e de “qualidade”. Na mesma medida em que existem várias formas de jogar existem várias maneiras de treinar ou de operacionalizar esse «jogar». A «descoberta guiada» é, precisamente, uma delas, uma parte (o processo) enquanto meio para se atingir o todo (o «jogar») enquanto fim. Ao contemplar a «descoberta guiada» como um meio para atingir um fim é evidente que está antecedida de algo e aponta no caminho de algo. Sendo o treinar a sistematização do que se quer concretizar, considero que o algo a que precede terá de ser o mesmo algo a que futura – o Modelo de Jogo.

Revisão da Literatura – Consciencialização da realidade como fase preliminar das ideias

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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. CONSCIENCIALIZAÇÃO DA REALIDADE COMO FASE PRELIMINAR DAS

IDEIAS

Este ponto consiste na procura de esclarecimentos para a ordem inerente à desordem aparente que observamos à nossa volta quando nos confrontamos com uma realidade que é o jogo de Futebol. Mediante a confusão e ambiguidade eminentes no jogo juntamente com o desconhecimento, por parte dos jogadores, do que é pretendido pelo treinador e de quais são as suas ideias de jogo, pretende-se enunciar a necessidade em se adquirir um conhecimento Específico e organizado. Este conhecimento vai proporcionar a oportunidade de saber como agir em ambientes desconhecidos, de imprevisibilidade, de aleatoriedade e de desordem e vai ao encontro da ordem que tem de existir. No fundo, pretende-se caracterizar e identificar o que de real tem o jogo no sentido de nos permitir constatar a necessidade de se organizar o conhecimento através da concepção das ideias de jogo.

2.1.1. O CARÁCTER CAÓTICO DO JOGO

“No jogo de Futebol, em muitos casos, a ordem parece nascer do caos” (Garganta & Cunha e Silva, 2000: 6)

2.1.1.1. O que é o Caos?

O caos não assume uma condição negativa, pois, este: “(…) não significa confusão total, ausência completa de forma, desordem geral, total falta de princípios e de leis que governem o comportamento (…) tem a ver com uma abordagem ordenada da desordem, com a forma como a desordem e a ordem estão interligadas e coexistem, e também com o papel que a desordem desempenha na criação da ordem” (Stacey, 1995: 448). Segundo este autor o caos é a ordem (modelo) dentro da desordem (comportamento ao acaso).

Revisão da Literatura – Consciencialização da realidade como fase preliminar das ideias

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Representando-se sistemas caóticos como o jogo de Futebol num espaço de fase^1 (espaço mental) é possível verificar que eles passam a exibir comportamentos com alguma regularidade, ou seja, que apesar de serem diferentes caem num universo de possibilidades (Cunha e Silva, 2002, 2003).

2.1.1.3. A imprevisibilidade, a aleatoriedade do jogo e a sensibilidade às condições iniciais

O jogo de Futebol caracteriza-se pelo acaso e pelas suas próprias regras, sendo que “um acontecimento casual pode mudar o curso do jogo, lançando-o numa nova direcção” (Garganta & Cunha e Silva, 2000: 5). Assim, como refere Garganta (1997), na aparência simples de um jogo de Futebol está escondido um fenómeno complexo, consequente da elevada imprevisibilidade e aleatoriedade dos factos de jogo. O jogo representa-se como uma «sequência de sequências» onde os jogadores se encontram em condições de inventar “novos jogos” durante o jogo através de estratégias pessoais e colectivas, tentando resolver eficazmente as situações de jogo (Garganta & Cunha e Silva, 2000). A par deste acontecimento cria-se uma margem de imprevisibilidade correspondente às atitudes, às dificuldades e às decisões tomadas em cada momento (Bacconi & Marella, 1995, cit. por Garganta & Cunha e Silva, 2000). Enunciam-se três características que dão corpo ao carácter caótico do jogo de Futebol e que pretendemos destacar: a aleatoriedade , a imprevisibilidade e a extrema sensibilidade às condições iniciais (Cunha e Silva, 1995; Garganta, 1997; Garganta & Cunha e Silva, 2000). Assim, numa boa abordagem a estas três características, Guilherme Oliveira (2004) refere que a aleatoriedade se manifesta na ocorrência das situações sem uma lógica sequencial, surgindo de forma arbitrária, isto é, apresentando-se de forma não linear. A respeito da imprevisibilidade, menciona que esta acontece porque o jogo levanta problemas que podem ser resolvidos através de diferentes

(^1) Espaço de fase é um espaço não topológico que tem tantas dimensões, quantas as variáveis do sistema. Num ponto desse espaço e num determinado momento podemos obter toda a informação do sistema (Cunha e Silva, 1995).

Revisão da Literatura – Consciencialização da realidade como fase preliminar das ideias

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soluções, dependendo dos conhecimentos específicos que se tem, da própria interpretação que o jogador faz da situação e dos modelos de referência colectivo e individual que construiu. No que concerne à sensibilidade às condições iniciais, Guilherme Oliveira (2004) afirma que a sensibilidade a tais se relaciona com as ocorrências que surgem durante o jogo e com as acções realizadas pelos jogadores. No entendimento desta sensibilidade às condições iniciais, também Oliveira, Amieiro, Resende & Barreto (2006) dão o seu contributo, afirmando que qualquer acontecimento que ocorra durante o processo tem implicações nos acontecimentos que se seguem podendo modificar ou alterar a sequência, a lógica e o resultado do processo.

2.1.1.4. Análise conclusiva do carácter caótico do jogo

Um «sistema caótico determinista» apresenta padrões de acção que se repetem no tempo, denominados de invariantes ou regularidades, revelando uma ordem organizante (Oliveira; Amieiro; Resende & Barreto, 2006). Num sistema caótico irrompem-se padrões que denunciam o comportamento caótico à pequena escala, mas que denunciam à grande escala uma certa regularidade (Garganta & Silva e Cunha, 2000). Assim, o jogo de Futebol, enquanto sistema caótico, indica-nos que no meio do caos aparente é possível sustentar regularidades organizacionais, isto é, modelar e padronizar uma dada forma de jogar (Oliveira; Amieiro; Resende & Barreto, 2006). Sucintamente, baseando-nos em Guilherme Oliveira (2004), percebemos que dentro da imprevisibilidade que existe no jogo, o treinador e a equipa, através de processos de ensino e de treino, pretendem criar previsibilidades que sejam reconhecidas, que consigam interagir com as imprevisibilidades e que se relacionem com os constantes estados de equilíbrio e de desequilíbrio ou longe-do-equilíbrio^2 característicos destes sistemas. E é um facto que as equipas de Futebol, ao jogarem na fronteira entre o caos e a ordem, parecem

(^2) Os estados de equilíbrio caracterizam-se por momentos em que o comportamento do sistema é estável. O estado longe-do-equilíbrio é instável, pois regras simples e pequenas alterações dependentes do acaso podem gerar alterações importantes (Stacey, 1995).

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memória. O desconhecimento a que nos referimos aqui trata-se exclusivamente de um desconhecimento perante as ideias do que se pretende. Não obstante, destacamos uma afirmação de Dias (2005) quando considera que os seres humanos embora iguais, são diferentes, pois apresentam atitudes distintas, o que lhes permite fazer aprendizagens diferenciadas e ter percepções próprias face aos mesmos estímulos, percepcionando a informação de forma dissemelhante. Nesta linha de pensamento, encontra-se Guilherme Oliveira (2004: 90) ao referir: “Jogadores diferentes perante situações idênticas solucionam e executam de forma divergente. Também jogadores diferentes confrontados com as mesmas ideias, do treinador e da equipa, têm interpretações distintas, originadas pelos conhecimentos já formados pelas experiências que ocorreram ao longo das respectivas vidas e pelas emoções associadas a todos estes processos”. Também Garganta & Cunha e Silva (2000) defendem que cada jogador pode perceber o jogo e as suas configurações em função das aquisições anteriores e do estado presente. Assim, pressupõe-se a necessidade de compreender o jogo pela captação dos elementos que o configuram na sua complexidade. No entanto, para compreender o jogo, o jogador deve ser capaz de organizar os seus comportamentos, a sua acção, em função de um projecto (Menaut, 1974, cit. por Garganta, 2002). Um “projecto” que envolve ideias, pois, relativamente ao jogo salientam-se “as ideias que sustentam um projecto, uma manifestação colectiva de Futebol” (Guilherme Oliveira, 2004: 4). As ideias juntamente com outras premissas (capacidades, características e conhecimentos dos jogadores, realidade e cultura da equipa, organizações estruturais e funcionais, etc.) darão corpo a um Modelo de Jogo. Portanto, aliando o nosso pensamento ao de Menaut (1974, cit. por Garganta, 2002), serão estas ideias que invocarão uma necessidade de organizar o conhecimento e permitirão a sistematização dos comportamentos, levando os jogadores a agir na complexidade do jogo. Segundo Garganta & Pinto (1998) a relação de cooperação/oposição constante no jogo de Futebol, manifesta a realização de acções individuais, de grupo e colectivas, específicas e congruentes com os objectivos em cada

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momento do jogo, segundo regras de acção e princípios de gestão bem definidos. Para os mesmos autores, o jogo de Futebol ao ser jogado com elevada qualidade requer o desenvolvimento de um pensamento táctico operacional , para responder à imprevisibilidade das situações de jogo. Recordamo-nos de ler Dias (2005), na página anterior, ao mencionar que os seres humanos podem perceber a informação de forma dissemelhante perante os mesmos estímulos. Mas, o mesmo autor (2005: 8) completa esse seu raciocínio ao dizer que “os indivíduos não fazem as mesmas escolhas das mensagens a menos que não lhes sejam dadas alternativas para tal”. Assim, consideramos fundamental os treinadores proporcionarem aos seus jogadores alternativas para desenvolverem um “pensamento táctico operacional” e para que ocorram as “mesmas escolhas”. Acreditamos que são estas alternativas que permitirão um entendimento do jogo de Futebol, tanto no plano do jogador como do treinador. Este entendimento deve realizar-se a partir da emergência duma constelação conceptual construída a partir do compromisso estabelecido (as regras, os princípios) e a inovação (Garganta & Cunha e Silva, 2000). O que entendemos por “constelação conceptual” é a emergência de um Modelo de Jogo^4 composto por regras e princípios de jogo que permitirão superar o desconhecimento. Para que o desconhecimento das ideias e a «ausência referencial» se superem transcendendo-se em qualidade de jogo será importante, como defende Guilherme Oliveira (2004), os jogadores serem capazes de percepcionar, interpretar e concretizar em jogo as ideias decorrentes do Modelo de Jogo. Em conclusão, não será propriamente indigesto ou considerado adulteração da mente de um «leigo» referir que as referências (individuais e colectivas), que permitem o conhecimento das ideias de jogo, estão bem evidentes aquando a concepção do Modelo de Jogo.

(^4) O modelo de jogo é um complexo de referências individuais/colectivas que são os princípios de jogo concebidos pelo treinador (Oliveira; Amieiro; Resende & Barreto, 2006). Estes termos serão abordados no ponto 2.2. desta revisão.