Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

A criança de 6 anos, a linguagem escrita e o ensino fundamental de nove anos, Notas de estudo de Cultura

A criança de 6 anos, a linguagem escrita e o ensino fundamental de nove anos

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 28/08/2010

ivanilson-santos-7
ivanilson-santos-7 🇧🇷

10 documentos

1 / 124

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
Orientações para o trabalho com a Linguagem Escrita em turmas de seis anos de idade 1
O
rient
açõ
es
es
es
es
s
s
es
es
es
es
e
s
s
s
s
par
par
par
par
parpar
par
a
par
p
par
pa
par
par
par
a
a o
a
a o
a o
a
a o
a
a o
a o
a
a
a
a
a o
tr
r
r
t
aba
ba
aba
aba
aba
aba
aba
aba
aba
aba
aba
ab
ab
a
lho
ho
ho
lho
ho
lho
lho
ho
ho
ho
ho
ho
ho
h
co
co
co
co
c
c
co
co
co
co
co
co
co
co
co
m a
ma
ma
ma
ma
ma
ma
ma
m a
m a
m a
ma
ma
a
m
m
Li
Li
Li
Li
Li
Li
Li
L
Li
L
L
Li
L
L
L
L
ngungu
ngu
ngu
ng
gu
ngu
ngu
ngu
ngu
ngu
u
ngu
gu
ngu
gu
u
u
a
a
a
a
a
age
a
a
a
a
a
m E
E
E
s
s
scr
s
s
s
s
s
ita
em
em
em
em
em
em
em
em
em
em
em
e
em
m
em
tu
tu
t
t
t
tu
t
t
t
t
t
t
u
rma
s d
s d
s d
d
s d
s d
s d
s d
s d
s d
s d
d
d
s d
d
s d
d
d
e s
e s
e s
e s
e s
e s
e se s
e s
es
s
es
es
e s
s
e
e s
eis
eis
eis
eis
eis
eis
eis
eis
eis
eis
eis
eis
eis
e
eis
s
eis
an
os de idade
1
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Básica
Diretoria de Concepções e Orientações Curriculares para a Educação Básica
Coordenação Geral de ensino Fundamental
1ª edição | Brasília | 2009
1
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff
pf12
pf13
pf14
pf15
pf16
pf17
pf18
pf19
pf1a
pf1b
pf1c
pf1d
pf1e
pf1f
pf20
pf21
pf22
pf23
pf24
pf25
pf26
pf27
pf28
pf29
pf2a
pf2b
pf2c
pf2d
pf2e
pf2f
pf30
pf31
pf32
pf33
pf34
pf35
pf36
pf37
pf38
pf39
pf3a
pf3b
pf3c
pf3d
pf3e
pf3f
pf40
pf41
pf42
pf43
pf44
pf45
pf46
pf47
pf48
pf49
pf4a
pf4b
pf4c
pf4d
pf4e
pf4f
pf50
pf51
pf52
pf53
pf54
pf55
pf56
pf57
pf58
pf59
pf5a
pf5b
pf5c
pf5d
pf5e
pf5f
pf60
pf61
pf62
pf63
pf64

Pré-visualização parcial do texto

Baixe A criança de 6 anos, a linguagem escrita e o ensino fundamental de nove anos e outras Notas de estudo em PDF para Cultura, somente na Docsity!

Orientações para o trabalho com a Linguagem Escrita em turmas de seis anos de idade

Orientaçõesesesesesesesesesssssss parparparparparparparparpparpaparparparaa a oaa oa oaa oaa oa oaaaaa o trtrr abaabaabaabaabaabaabaabaabaabaababbaalholholholhohohohohohohohohohhoh cococococccococococococococom am am am am am am am am am am am am amm aLiLiLiLiLiLiLiLLiLLLiLLLL ngungungungungngungungungungungunguguguguuuuaaaaaageaaaaaa m EEEsssscrsssss ita emememememememememememeememm tututtttutttttturmas ds ds ds ds ds ds ds ds ds ds ds ddddddde se se se se se se se se se se se se see ssseiseiseiseiseiseiseiseiseiseiseiseiseiseeiseiss anos de idade

Ministério da Educação

Secretaria de Educação Básica

Diretoria de Concepções e Orientações Curriculares para a Educação Básica

Coordenação Geral de ensino Fundamental

1ª edição | Brasília | 2009

A criança de seis anos, a Linguagem Escrita e o Ensino Fundamental de nove anos

A cA cA cA cA cA cA cAA cA cAA cccriariariarriariariariariariariariariançançançançançançnçnçançançançançançannçaçaçaççaçç dedededededededededdede ssesesesesesesesseisisisisiisissss ananoanoanoanoanoanoanoanooooos,s,s,ss,s,ss,ss,s a La La La La La Laa ingingingingngngnggggguaguaguaguaguaguaguaguagagememememememememeememem EscEscEscEEscEscEscEscEsEsEsE ritritritritritritrititta ea ea ea ea ea ea ea eaa e eee oooooooooooo EnsEnEnsEnsEnsEnsEnsEnEnsEnEnsEEn inoinoinoinoinoinoinoinononnonnnonnnnon FuFuFuFuFuFuFFFFFFFFuFF ndandandandandandandnda aamenmenmenmenmenmenmenmenmenmemmeneneee taltaltaltatataltaltttalttaa dedededdedededededed nononononononononnononooovevvvevevevvvevevee anoanoananoanoanoaaa ssssss

Presidência da República

Ministério da Educação / Secretaria de Educação Básica

Diretoria de Concepções e Orientações Curriculares para a Educação Básica

Coordenação Geral de Ensino Fundamental

Projeto Gráfico e Diagramação Marco Severo

Autores Sara Mourão Monteiro | Mônica Correia Baptista | Maria Zélia Versiani Machado | Juanice de

Oliveira Vasconcelos | Eliana Pereira Araújo | Arlete Alves Corrêa | Kely Cristina Nogueira Souto

Organizadoras Francisca Izabel Pereira Maciel | Mônica Correia Baptista | Sara Mourão Monteiro

Revisão

C928 A criança de 6 anos, a linguagem escrita e o ensino fundamental de nove anos:
orientações para o trabalho com a linguagem escrita em turmas de crianças de seis
anos de idade / Francisca Izabel Pereira Maciel, Mônica Correia Baptista e Sara Mourão
Monteiro (orgs.). – Belo Horizonte : UFMG/FaE/CEALE, 2009.
122 p.
ISBN: 978-85-7783-026-8 - Título.
1. Ensino fundamental. 2. Alfabetização. 3. Crianças – Linguagem. 4. Aquisição
de linguagem. 5. Escrita – estudo e ensino.
I. Título. II Maciel, Francisca Izabel Pereira. III. Baptista, Mônica Correia. IV.
Monteiro, Sara Mourão.
CDD- 372.

Catalogação da Fonte: Biblioteca da FaE/UFMG

Lúcia Helena Junqueira Maciel Bizzotto|Aricélia Ribeiro do Nascimento

Orientações para o trabalho com a Linguagem Escrita em turmas de seis anos de idade

OriOriOriOriOriOriOriOriOriOrOriOriOriOriOriOriOriOOOOOriririrrrrrrrrirrrriiiiiiiiiiiiiiii ententententenentententenenteenentententenenenententeeneneneeeeeneeeeneeeenteeneeeeeeeeeeeeeeeeeeeeenteeneeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeneeeeeeeennnnnnn açõaçõaçõaçõaçõaçõaçaçaçaçõaçõaçõaçaçõaçõaçõaçõaçaçõaçõçõõõõeseseseseseseseseseseseseseseseseseseseesssss parparparparparparparparparparparparparparparparparparparparparparpapppppararaarararaaarararaa rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrra oa oa oa oaa oa oaa oa oa oa oaa oa oa oa oa ooooo trtrtrtrtrtrtrtrtrtrtrtrtrtrtrtrtrtrtrtrtrtrttrtrtrrrrrrrrabaabaabaabaabaabaabaabaabaabaabaabaabaabaabaabaabaabaabaabaabaabaabaabaabaabaabaabababbabababbabbabaaaaaaaaaaaaa lholholholholholholholholholholholholholholholholholholllholllhohohhhohohhohhoho ooooooooooococococococococcocococcocococccocococcoco m am am am am am am am am am am am am am am amm am am am am am am am amm ammmmmmmmmmmmmmmmmm ammm aaaaLiLiLiLiLiLiLiLiLiLiLiLiLiLiLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLii ngunngunngungungungngngngungungunnnngungungngngngunngungngungunnnnnnngug ageageageagageageageageageageagageageaageaageageagageagaageageageageagge geggegegeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee m Em Em Em Em Em Em Em Em Em Em Em Em Em Em Em Em Em Em Em Emmmm Emmmmm Escrscrscrscrscrscrscrscrscrscrscrscrscrscscrscrscscrsscrscscsssssssssscrssscscscrccccccccccccccc rrrritaitaitaitaitaititaitaitaitaitatattatatatatatatatatattttttttttttttttaaaaaaaaaaaaaaa emememememememememememememeeemeeemeeememmmmm tututututututututututututututtutuuurmarmarmarmarmarmarmarmarmarmarmarmarmarmarrmarmarrmarmamamammammaaaa s ds ds ds ds ds ds ds ds ds ds ds ds ds ds ds dssss dssss ds ds ds dss dssss dddddddddddddddde se se se se se se se se se se see seeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee see ssssssseiseiseiseiseiseiseiseiseiseiseiseiseiseisissssssssssssssssssss ananananaanananananananaananananananaanaaaaaaaann ososososososooososooooooosososososoooss dedededededededededededededeeeee idaidaidaidaidaidaidaidaidaidaidaidaidaidaidididaidaddadada aaaaaadedededededededededededdededdddeddededdedededededdeeeeeeee

Crianças menores de sete anos,

aprendizagem da linguagem escrita

e o ensino fundamental de nove anos ....... 13

Apresentação ................................................ 7

Dimensões da proposta pedagógica para o ensino da

linguagem escrita em classes de crianças de seis anos ........ 29

2.1 O letramento^ ................................................................................

2.2 O desenvolvimento das habilidades de leitura

e escrita de palavras, frases e textos em sala de aula^ .................

2.3 A aquisição do sistema de escrita e o desenvolvimento

da consciência fonológica ............................................................

2.4 O desenho e a brincadeira - formas de linguagem a

serem exploradas no processo de alfabetização .........................

Um diálogo com práticas pedagógicas de alfabetização e

letramento de crianças de seis anos .................................... 71

3.1 Ouvir, ver, ler histórias: narrativas verbais e visuais

em práticas de letramento literário na infância ...........................

3.2 Alfabetizar letrando a partir da literatura infantil ...........................

3.3 O jogo linguístico: brincando com as hipóteses das crianças ......

3.4 A produção de textos e o desenho na sala de aula..................... 110

Considerações finais: professoras, crianças de seis anos

e o prazer de ler e escrever para aprender ...........................................

Orientações para o trabalho com a Linguagem Escrita em turmas de seis anos de idade

Apresentação

A inclusão das crianças de seis anos no

Ensino Fundamental amplia a escolarização

para uma parcela significativa da população

brasileira que se encontrava, até então,

privada da educação escolar ou sem garantia

de vagas nas instituições públicas de ensino.

Como único nível de ensino de matrícula obri-

gatória no País, o Ensino Fundamental, ao ter

sua duração ampliada de oito para nove anos,

traz para a escola um grupo de crianças que,

ao serem introduzidas nessas instituições,

entram em contato com uma cultura da qual

devem se apropriar. É importante também

considerar que, ainda que algumas das

crianças de seis anos já frequentassem

instituições pré-escolares, a entrada desse

segmento no Ensino Fundamental impõe

novos desafios, sobretudo pedagógicos,

para a área educacional. Como se sabe,

mesmo admitindo a expansão das vagas

como condição fundamental para a garantia

do direito à educação, é no âmbito das

práticas pedagógicas que a instituição educa-

tiva pode tornar-se ela mesma expressão ou

não desse direito. Para que esse direito se

cumpra, portanto, e para que se configure

como promotor de novos direitos, o acesso

das crianças às instituições educativas e

sua permanência nelas devem consolidar-se

como direito ao conhecimento, à formação

integral do ser humano e à participação no

processo de construção de novos conheci-

mentos. A construção dessa prática educa-

tiva deve ter a criança como eixo do processo

e levar em conta as diferentes dimensões de

sua formação.

Nesta publicação, sem ignorarmos a

relevância das demais dimensões, discu-

tiremos uma delas, que, por seu caráter

complexo, multifacetado e precursor,

cumpre um papel fundamental na garantia

do direito à educação: o desenvolvimento

da linguagem escrita.

Uma prática educativa comprometida

com o desenvolvimento da linguagem

escrita não se restringe à elaboração de

atividades dirigidas aos alunos. Exige, isto

sim, a superação da fragmentação dessas

atividades de ensino em sala de aula.

Para se assegurar aos aprendizes o pleno

desenvolvimento de suas potencialidades,

é fundamental, dentre outros aspectos, que

a ação educativa se baseie em uma orien-

tação teórico-metodológica, que se definam

os objetivos de ensino, a organização do

trabalho pedagógico, o tipo de abordagem

que se quer dar ao conhecimento e, por fim,

que se considere a realidade sociocultural

dos alunos e o contexto da escola.

Para mobilizar os processos de aprendi-

zagem das crianças de modo a ajudá-las no

A criança de seis anos, a Linguagem Escrita e o Ensino Fundamental de nove anos

desenvolvimento das capacidades relacio-

nadas à leitura e à escrita e na construção

de representações sobre esse objeto de

estudo, as situações de aprendizagem

precisam ser sequenciadas, articuladas

e contextualizadas, ou seja, as crianças

precisam participar de um conjunto de

atividades caracterizado por um ciclo de

ações e procedimentos de ensino-apren-

dizagem – as chamadas Situações de

aprendizagem. Organizar esses ciclos de

Situações de aprendizagem fica mais fácil

quando as professoras^1 têm em mente

uma proposta de ensino na qual possam

buscar referências metodológicas para

projetar seus trabalhos junto às crianças.

Vale ressaltar, ainda, que, para uma proposta

de ensino tornar-se um referencial e se mate-

rializar em uma prática de ensino adequada,

ela deverá ser validada e reconstruída a partir

do conhecimento que se tem das crianças e

também das interações que se estabelecem

entre os participantes do grupo escolar e

deles com os objetos do conhecimento.

Dessa forma, a avaliação e o planejamento

são fatores determinantes para a consoli-

dação desta prática.

A avaliação diagnóstica é um procedi-

mento de ensino a ser adotado com o

objetivo de se estabelecerem relações

entre a proposta de ensino, o perfil peda-

gógico da turma e as necessidades de

aprendizagem específicas de cada aluno.

O planejamento pedagógico, por sua vez,

como projeto de trabalho do professor, só

se torna efetivo se elaborado a partir da

articulação entre a proposta de ensino e

os sujeitos da aprendizagem.

Uma prática de ensino consistente tem

em sua conformação esse conjunto de

elementos bem definidos e pressupõe uma

construção singular de cada professora com

seu grupo de alunos, ao mesmo tempo em

que requer um trabalho coletivo envolvendo

todo o corpo docente e os demais profis-

sionais na sua elaboração. Essa construção

cotidiana da prática educativa exige dos seus

profissionais a capacidade de fazer escolhas,

criar, recriar, pesquisar, experimentar e avaliar

constantemente suas opções. Em outras

palavras, somente uma prática pedagógica

autônoma garante as condições para o

exercício profissional competente e para a

construção de uma educação comprometida

com a qualidade referenciada socialmente.

Tomando como eixo o princípio da auto-

nomia docente como condição para a

concretização da prática pedagógica que

acreditamos ser de qualidade, preten-

demos, com esta publicação, não apenas

apresentar proposições ou diretrizes para

a construção do trabalho com a linguagem

escrita em classes de seis anos, mas

também articular essas proposições e

diretrizes às teorias que as informam.

O primeiro texto, que constitui a Parte

I desta publicação, pretende situar a

discussão acerca do ensino e da aprendi-

zagem da linguagem escrita, destacando

o acesso a esse objeto do conhecimento

como um direito da criança antes de

completar sete anos de idade.

Na Parte II, os textos discutem os

fundamentos teóricos e as propostas

pedagógicas, considerando algumas das

1 Nesta publicação, em lugar
do masculino genérico,
usaremos o feminino para
designar as professoras
por representarem a
maioria das profissionais
que atuam nesta etapa de
ensino.

A criança de seis anos, a Linguagem Escrita e o Ensino Fundamental de nove anos

Orientações para o trabalho com a Linguagem Escrita em turmas de seis anos de idade

Parte 1

Orientações para o trabalho com a Linguagem Escrita em turmas de seis anos de idade

Crianças menores de sete anos, aprendizagem da linguagem escrita e o ensino fundamental de nove anos.

Mônica Correia Baptista
* BAPTISTA, Mônica
Correia. Professora da
Faculdade de Educação
da Universidade Federal
de Minas Gerais – UFMG,
pesquisadora do Centro
de Alfabetização Leitura e
Escrita.

A discussão acerca do ensino e da aprendizagem da leitura e da escrita

antes dos sete anos tem merecido a atenção de educadores e estudiosos

da área, em diferentes contextos da história da educação brasileira. Sobre-

tudo nas últimas décadas do século XX, com a divulgação da psicogênese

da língua escrita (FERREIRO E TEBEROSKY, 1985), muito se discutiu sobre

esse tema. Nos últimos anos, um novo impulso foi dado ao debate, estimulado

pela antecipação da escolarização obrigatória, concretizada com a entrada das

crianças de seis anos no Ensino Fundamental. Ao se discutirem os conteúdos

e as intervenções pedagógicas adequados tanto às crianças que passaram a

integrar o Ensino Fundamental, quanto àquelas que continuaram na Educação

Infantil, tem-se problematizado a adequação ou inadequação de se trabalhar a

aquisição da língua escrita nesse período da educação da infância. Sob nova

perspectiva e diante de novos desafios, o tratamento dado à questão vem

revelando sua complexidade e a necessidade de se explicitarem os diferentes

pontos de vista quanto aos pressupostos teóricos e práticos nela envolvidos.

Mesmo correndo o risco de uma excessiva simplificação, pode-se afirmar que,

em geral, este debate se circunscreve a duas posições hegemônicas e, ao mesmo

tempo, antagônicas. De um lado, argumenta-se acerca da inadequação do trabalho

com a língua escrita nessa faixa etária por considerá-lo uma antecipação indese-

jável de um modelo escolar típico do Ensino Fundamental. De acordo com essa

concepção, ensinar a ler e a escrever equivaleria a “roubar” das crianças a possibili-

dade de viver mais plenamente o tempo da infância. De outro lado, o trabalho com a

língua escrita desde a educação infantil é avaliado positivamente e incentivado como

uma medida “compensatória” ou propedêutica com vistas à obtenção de melhores

resultados nas etapas posteriores da educação básica.

Qualquer que seja a posição assumida, ambas, ao enfatizarem o objeto,

concedem ao sujeito da aprendizagem um papel secundário e submetido às

concepções e avaliações do adulto. As perguntas a serem formuladas e respon-

didas no sentido de se construir uma prática educativa de qualidade, sobretudo

considerando-se a complexidade que envolve essa temática, deveriam incidir

A criança de seis anos, a Linguagem Escrita e o Ensino Fundamental de nove anos

sobre a criança e suas formas de expressão e relação com o mundo: Que

significado possui a linguagem escrita para a criança menor de sete anos?

Como ela se relaciona com os bens culturais e em específico com esse objeto

do conhecimento? Quais são suas condições psíquicas, sociais, emocionais

e cognitivas para se apropriar dessa forma de linguagem? Seria desejável

e possível ensinar a linguagem escrita a essa criança e, ao mesmo tempo,

respeitar seus desejos, aspirações, possibilidades, competências e condições

de aprendizagem? Caso seja possível, que características teriam as práticas

educativas capazes de respeitar esses pressupostos?

Nesta publicação, pretendemos demonstrar que o aprendizado da

linguagem escrita, desde a mais tenra idade, se constitui numa ferramenta

fundamental para assegurar às crianças, como atores sociais que são, sua

inclusão na sociedade contemporânea. Antes, porém, de apresentarmos e

discutirmos conceitos, práticas educativas e aspectos metodológicos que auxi-

liem as professoras a construírem autonomamente sua própria prática, estabe-

leceremos, neste primeiro texto, algumas relações possíveis entre os termos

desta equação: crianças menores de sete anos, aprendizado da linguagem

escrita e Ensino Fundamental, agora com nove anos de duração.

Num primeiro momento, ressaltaremos uma característica distintiva das

sociedades contemporâneas: o fato de se constituírem em agrupamentos

sociais marcados e definidos pela cultura escrita. E, em seguida, coerentes

com a noção de infância como uma construção social, discutiremos como a

criança se relaciona com essa “sociedade mediatizada pela escrita” e como,

ao fazê-lo, ressignifica essa sociedade e esse objeto do conhecimento, ao

mesmo tempo em que é por eles ressignificada.

Em um segundo momento, partindo da noção de que a cultura infantil se constitui

na inter-relação entre sujeitos de diferentes grupos sociais e entre os bens culturais

produzidos por esses sujeitos, discutiremos não apenas o fato de que a apropriação

da escrita se constitui em um instrumento de inserção cultural e social, mas também

de que maneira, durante esse processo de apropriação, a criança vai introduzindo

modificações, experimentando e transformando este objeto, imprimindo-lhe sua

forma própria de se relacionar com o mundo.

Finalmente, após essa discussão acerca dos significados que a aquisição

do sistema de escrita adquire tanto para o indivíduo quanto para o grupo social

que dele se apropria, esperamos contribuir com a consolidação de um trabalho

pedagógico com a linguagem escrita, capaz de respeitar as crianças como

sujeitos com direitos e membros ativos de uma sociedade grafocêntrica.

A criança de seis anos, a Linguagem Escrita e o Ensino Fundamental de nove anos

não os aspectos presentes no mundo social nem tão pouco a forma como

esse mundo exerce influência no desenvolvimento mental da criança. O processo

de desenvolvimento é, a partir dessas construções teóricas, uma espécie de monó-

logo. A criança enfrenta solitariamente a tarefa de construir uma representação do

mundo e o faz graças a algumas propriedades lógicas que subjazem o pensamento

e que caracterizam seu estágio de desenvolvimento. Resumidamente, pode-se

afirmar que as investigações piagetianas, baseadas no método clínico, jogavam luz

sobre o que as crianças eram capazes de realizar autonomamente e, a partir daí,

identificavam o seu estágio de desenvolvimento psíquico.

Ainda que pesem as indiscutíveis contribuições de Piaget, a centralidade

atribuída à análise da interação da criança com o mundo físico impôs, em certa

medida, a ideia de que o desenvolvimento humano era um desafio a ser alcan-

çado individualmente, a partir de progressos naturais. De outra parte, implicou

uma compreensão da infância como um universo isolado, como se adultos e

crianças não compartissem práticas culturais comuns. Gouveia (2000) lembra

que essas contribuições teóricas estruturaram a escola moderna ocidental,

cujas práticas, técnicas e modelos pedagógicos se erigiram a partir da distinção

entre o universo adulto e o infantil. Ao tratar de estabelecer “o quê” - a que

informação e práticas culturais as crianças poderiam ou deveriam ter acesso; “o

quando” - a partir de que faixa de idade; e “o como” - que modelo pedagógico

de transmissão deveria ser adotado, ocorreu uma “artificialização” da cultura e

de seu acesso, em uma relação que, efetivamente, excluiu a criança da cultura

mais ampla da qual fazia parte. Gouveia (2000) destaca, ainda, o fato de se haver

tomado como referência certa dimensão lúdica para caracterizar a infância, o

que acabou por conformar uma representação infantilizada da criança. Alguns

produtos culturais, tais como: jogos, canções e brincadeiras, transmitidos

através de gerações, foram transformados em um conjunto descontextuali-

zado de práticas culturais. A cultura infantil se empobreceu e esse patrimônio

cultural foi transformado em um conjunto de signos e símbolos organizado a

partir da ideia que o adulto possui da infância e de seu universo simbólico.

Assim como Piaget, Vygotsky também deu importância ao papel do sujeito na

aprendizagem. Entretanto, se para o primeiro os suportes biológicos que funda-

mentam sua teoria dos estágios universais receberam maior destaque, para o

segundo, a interação entre as condições sociais e a base do comportamento

humano foram os elementos fundamentais para sua teoria sobre o desenvolvi-

mento. Vejamos, a seguir, por que, para este teórico, as condições sociais são os

fatores determinantes do comportamento considerado tipicamente humano.

Orientações para o trabalho com a Linguagem Escrita em turmas de seis anos de idade

Para Vygotsky, o que distingue o desenvolvimento biológico e psicológico dos

animais mais evoluídos do desenvolvimento humano é a diferença que se estabe-

lece entre as funções psicológicas naturais, que caracterizam os primeiros, e as

funções psicológicas superiores, que aparecem somente com o ser humano^4. A

passagem dos processos naturais aos processos superiores, questão perseguida

por Vygotsky e colaboradores, é o elemento estruturante da consciência e do inte-

lecto humanos. E como ocorre essa passagem? Segundo os estudos de Vygotsky,

ao nascer, os seres humanos dão respostas adaptativas por meio de estruturas

mentais denominadas “elementares”, tais como: os reflexos condicionados e incon-

dicionados, as reações automatizadas, os processos de associação simples. Tais

estruturas mentais são condicionadas principalmente por determinantes biológicos.

O elemento central que faz com que às chamadas estruturas elementares de bases

biológicas se sigam outras chamadas “superiores” é o uso de signos ou de outros

instrumentos psicológicos^5. Tais instrumentos psicológicos servem para ordenar

e reposicionar externamente a informação. Um exemplo clássico que nos ajuda a

entender essa proposição é o significado que adquire um barbante amarrado no

dedo para memorizar algo que não se pode ou não se quer esquecer. Nesse caso,

esse instrumento psicológico empregado permite ampliar uma função mental, a

memória, e lhe confere uma abrangência muito mais ampla do que sua condição

natural. Nesse exemplo, o barbante é um signo, ou seja, uma marca externa que

fornece suporte concreto para a ação do homem no mundo (OLIVEIRA, 1997).

A partir do exemplo acima, fica fácil compreender que o desenvolvimento das

funções psicológicas superiores é fruto do desenvolvimento da cultura e não do

desenvolvimento biológico. Atribuir sentido a um objeto é uma condição dada cultu-

ralmente, assim como também o é a capacidade de transmitir a outras gerações

esses significados. Como veremos a seguir, essa capacidade de usar signos foi,

ao longo da história da humanidade, sofrendo duas mudanças qualitativas funda-

mentais. Importante destacar que essas mesmas transformações pelas quais a

humanidade passou se verificam ao longo da história de cada ser humano.

A primeira dessas mudanças é que os signos, as marcas externas, vão se

transformando em processos internos de mediação. Vygotsky denomina esse

mecanismo de processo de internalização. Como explica Oliveira (1997),

ao longo do processo de desenvolvimento, o indivíduo substitui as marcas

externas e passa a utilizar “signos internos”, ou seja, representações mentais

que substituem os objetos do mundo real. Por exemplo, a ideia que possuo

acerca de um objeto, como a cadeira, me permite lidar mentalmente com ela,

mesmo na sua ausência:

4 As funções psicológicas
superiores ou processos
mentais superiores são os
mecanismos psicológicos
mais sofisticados e
complexos, típicos dos
seres humanos, que
lhes permitem o controle
consciente do comporta-
mento, a ação intencional e
a liberdade do indivíduo em
relação às características
do momento e do espaço
presentes. Graças a essas
funções, o ser humano
pode pensar em objetos
ausentes, imaginar eventos
nunca vividos, planejar
ações a serem realizadas
em momentos posteriores
(OLIVEIRA, 1997).
5 Os instrumentos psico-
lógicos são “(…) todos
aqueles objetos cujo uso
serve para ordenar e
reposicionar externamente
a informação, de modo que
o sujeito possa escapar da
ditadura do aqui e agora
e utilizar sua inteligência,
memória ou atenção no
que poderíamos chamar
uma situação de situações,
uma representação
cultural dos estímulos que
podemos operar quando
queremos ter estes em
nossa mente e não só e
quando a vida real nos
oferece”. (VYGOTSKY apud
ALVAREZ; DEL RÍO, 1990,
p. 98). Ou seja, Vygotsky
se fixa naqueles apoios
externos que permitem aos
sujeitos mediar um estí-
mulo, ou seja, representá-
lo em outro lugar ou em
outras condições.

Orientações para o trabalho com a Linguagem Escrita em turmas de seis anos de idade

A primeira delas é que o ensino da escrita deveria ser transferido para a pré-

escola, sob o argumento de que as crianças menores são capazes de descobrir a

função simbólica da escrita. Baseando-se em pesquisas de autores contemporâneos

seus, Vygotsky (2000) menciona o fato de que oitenta por cento das crianças com

três anos de idade seriam capazes de dominar uma combinação arbitrária de sinais e

significados, enquanto que, aos seis anos, quase todas as crianças seriam capazes

de realizar essa operação. Conclui, ainda, com base nas observações feitas por

essas investigações, que o desenvolvimento entre três e seis anos envolve não só o

domínio de signos arbitrários, como também o progresso na atenção e na memória.

A segunda conclusão prática a que chega é resultado desse reconhecimento

de que é mais do que possível, mas, sobretudo, adequado se ensinar leitura e

escrita às crianças pré-escolares. Vygotsky ressalta, a partir dessa constatação,

que esse ensino deve organizar-se de forma que a leitura e a escrita se tornem

necessárias às crianças. O autor se contrapõe claramente a um trabalho

pedagógico no qual a escrita seja concebida puramente como uma habilidade

motora, mecânica, pois toma como pressuposto central o fato de que a escrita

deve ser “relevante à vida”, deve ter significado para a criança e conclui: “Só

então poderemos estar certos de que se desenvolverá (a escrita) não como

uma habilidade que se executa com as mãos e os dedos, mas como uma

forma de linguagem realmente nova e complexa.” (VYGOTSKY, 2000, p.177).

Finalmente, a terceira conclusão prática a que chegou Vygotsky, a partir da inter-

pretação de estudos acerca do desenvolvimento da escrita nas crianças, foi quanto

à necessidade de esta ser ensinada naturalmente. Ao referir-se a Montessori,

salienta que essa educadora demonstrou que os aspectos motores podem ser

acoplados ao brinquedo infantil e que o escrever pode ser “cultivado” ao invés de

“imposto”. Por esse método, segundo avalia Vygotsky, as crianças não aprendem

a ler e a escrever, mas, sim, descobrem essas habilidades durante as situações de

brincadeiras nas quais sentem a necessidade de ler e escrever. Vygotsky sugere

que o que Montessori fez com relação a aspectos motores deveria ser feito

igualmente em relação ao que ele definiu como sendo os aspectos internos da

linguagem escrita e de sua assimilação funcional:

“[…] assim como o trabalho manual e o domínio do desenho são,

para Montessori, exercícios preparatórios para o desenvolvimento

da habilidade da escrita, também o jogo e o desenho deveriam ser

estágios preparatórios para o desenvolvimento da linguagem escrita

das crianças. Os educadores deveriam organizar todas essas ações

e todo o complexo processo de transição de um tipo de linguagem

A criança de seis anos, a Linguagem Escrita e o Ensino Fundamental de nove anos

escrita para outro. Deveriam seguir todo o processo através de seus

momentos mais críticos até a descoberta de que não somente se

podem desenhar objetos, mas que também se pode representar a

linguagem. Se quiséssemos resumir todas essas exigências práticas

e expressá-las em uma só, poderíamos dizer simplesmente que às

crianças dever-se-ia ensinar-lhes a linguagem, não a escrita das letras”.

(VYGOTSKY, 2000, p. 178)

A infância e a aprendizagem da escrita como prática sociocultural

Se, por um lado, como vimos anteriormente, a escrita introduz importantes

modificações cognitivas para o indivíduo que a adquire, por outro, ela implica

alterações nas práticas sociais que passam a caracterizar o grupo que dela

se apropria. Conforme assinala Britto (2003), participar de uma cultura escrita

significa atuar em uma sociedade constituída por um desenho urbano, por

formas de interlocução específicas no espaço público, expressões de cultura

particulares, princípios morais, leis, que se apoiam nesse modo de produção

de cultura. Por tudo isso, o autor conclui que pertencer a essa sociedade signi-

fica mais do que estar inserido em uma cultura cuja constituição seja a soma

dos conhecimentos e capacidades individuais no uso da leitura e da escrita.

Significa estar submetido à ordem da cultura escrita.

Ao considerarmos as crianças como membros efetivos dessa sociedade,

devemos ter em conta não apenas que a linguagem escrita está presente no coti-

diano desses sujeitos, mas também e, sobretudo, que ela confere um significado

distinto a suas práticas sociais. Assim, ao reconhecermos a infância como uma cons-

trução social inserida em um contexto do qual as crianças participam efetivamente

como atores sociais de pleno direito, devemos, igualmente, considerá-las sujeitos

capazes de interagir com os signos e símbolos construídos socialmente, bem como

de construir novos signos e símbolos a partir dessa interação. Para Sarmento e Pinto:

As culturas infantis não nascem no universo simbólico exclusivo da

infância, este universo não está fechado – muito pelo contrário, é mais

que qualquer outro, extremamente permeável - tão pouco está dis-

tante do reflexo social global. A interpretação das culturas infantis, em

síntese, não pode realizar-se no vazio social, e necessita sustentar-se

na análise das condições sociais nas quais as crianças vivem, intera-

gem e dão sentido ao que fazem. (PINTO, SARMENTO: 1997, p. 22).