Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

A Autocensura e a Resistência à Mudança, Esquemas de Psicologia

O documento aborda a temática da autocensura e da resistência à mudança, explorando como os esquemas mentais e as profecias autorrealizadas podem influenciar o comportamento e a percepção das pessoas. Através de casos clínicos e exemplos práticos, o texto discute a importância de identificar e desafiar pensamentos irracionais, a fim de promover uma mudança adaptativa e uma visão mais positiva da realidade. A descrição enfatiza a relevância deste tema para a compreensão dos processos cognitivos e emocionais que moldam a experiência humana, sendo um conteúdo potencialmente útil para estudantes de áreas como psicologia, terapia cognitivo-comportamental e desenvolvimento pessoal.

Tipologia: Esquemas

2022

Compartilhado em 06/05/2022

vania-oliveira-48
vania-oliveira-48 🇧🇷

1 documento

1 / 135

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff
pf12
pf13
pf14
pf15
pf16
pf17
pf18
pf19
pf1a
pf1b
pf1c
pf1d
pf1e
pf1f
pf20
pf21
pf22
pf23
pf24
pf25
pf26
pf27
pf28
pf29
pf2a
pf2b
pf2c
pf2d
pf2e
pf2f
pf30
pf31
pf32
pf33
pf34
pf35
pf36
pf37
pf38
pf39
pf3a
pf3b
pf3c
pf3d
pf3e
pf3f
pf40
pf41
pf42
pf43
pf44
pf45
pf46
pf47
pf48
pf49
pf4a
pf4b
pf4c
pf4d
pf4e
pf4f
pf50
pf51
pf52
pf53
pf54
pf55
pf56
pf57
pf58
pf59
pf5a
pf5b
pf5c
pf5d
pf5e
pf5f
pf60
pf61
pf62
pf63
pf64

Pré-visualização parcial do texto

Baixe A Autocensura e a Resistência à Mudança e outras Esquemas em PDF para Psicologia, somente na Docsity!

TRADUÇÃO Sandra Martha Dolinsky

Para Eduardo, por tantos anos de cumplicidade e amizade verdadeira.

Assim como, quando você caminha, tem o cuidado de não pisar em um prego ou de não torcer o tornozelo, também deve ter o cuidado de não prejudicar a parte que é sua dona, a razão que o conduz. Se em todas as ações de nossa vida observarmos esse preceito, atuaremos com retidão.

EPICTETO

Embora possamos ser eruditos pelo saber dos outros, só podemos ser sábios por nossa própria sabedoria.

MONTAIGNE

O homem age de acordo com sua própria natureza quando entende.

SPINOZA

às vezes, no sono. Nessa última situação, pensamos de uma maneira abertamente distorcida, mas sem consequências graves, pois reconhecemos com facilidade as alterações induzidas pelos sonhos e, em geral, só lhes atribuímos um valor de mera curiosidade. Mas as irregularidades do pensamento durante a vigília não são evidentes nem fáceis de reconhecer. É evidente que as crenças arraigadas são verdadeiros motores que inspiram e movem a vida cotidiana. Sua validez e veracidade não costumam ser motivo de escrutínio ou de dúvida, mas seus efeitos podem gerar mal-estar e transtornos importantes. O pensamento, visto dessa maneira (como pensamento irracional), é um inimigo que vive dentro de nós, invadindo nossa mente, sem que o reconheçamos e sem que nos alertemos de sua capacidade destrutiva. Riso o expressa assim: “Uma vez que as crenças se organizem na memória, nós as defendemos até a morte, não importa qual seja seu conteúdo. Talvez seja essa a base da irracionalidade humana”.

Por ser a matéria-prima com a qual está construída a vida mental, as crenças irracionais são difíceis de ser reconhecidas. É muito mais simples apontar qualquer movimento corporal e corrigi-lo quando ele não se adapta ao fim pretendido. As crenças são intrínsecas ao sistema, como a temperatura. Mas os estragos da temperatura são fáceis de prevenir porque existem os termostatos físicos, como os que regulam o aquecimento da água, que evitam que o aquecedor exploda, ou os termostatos biológicos, que regulam a temperatura do corpo e evitam que a febre ou o frio nos consumam. Mas qual é o termostato que regula a irracionalidade do pensamento para conduzi-lo por caminhos adaptativos e para prevenir seus danos? Quem nos adverte se o processamento permanente que fazemos da informação externa e interna é correto ou distorcido?

Somente uma espécie de “dúvida metódica pessoal” pode cumprir essa função de termostato cognitivo. Em minha opinião, Pensar bem, sentir-se bem nos delineia um método, um caminho, que é essa espécie de “dúvida metódica pessoal”, como a cartesiana, que não pretende nos arrastar pelo caminho do ceticismo, e sim pelas sendas da racionalidade.

Dificilmente descartamos ou transformamos as crenças que nos incomodam; talvez porque elas não tenham a capacidade de retroalimentação permanente ( feedback ), que só é possível alcançar

quando obtemos a metacognição: “Pensar sobre o que pensamos”. O feedback é básico para a adaptação e a evolução.

Essa nova maneira de pensar a que o livro de Riso nos conduz, emanada de uma análise científica sobre o funcionamento da cognição humana, pode constituir um feedback que nos possibilite agregar um pouco de ordem ao caos gerado por nossa irracionalidade. Essa proposta nos permite descobrir o autoengano e quando e como fazemos uso da economia cognitiva, tentando fazer a realidade se adequar a nossos pensamentos, por mais irracionais que sejam. Além de tudo, ajuda-nos a reconhecer o medo de mudar que sempre está presente e nos leva a evitar negar os fatos do mundo real.

A leitura deste livro de Walter Riso com certeza vai colaborar para que não aconteça conosco o que ocorreu com o jovem que foi capaz de conquistar a garota mais bonita da classe, só para concluir, depois, por conta da ação distorcida de suas crenças mal adaptativas, que se tratava de uma garota que tinha péssimo gosto, visto que havia reparado nele...

Luis Flórez-Alarcón Doutor em Psicologia Experimental Professor Associado do Departamento de Psicologia da Universidade Nacional da Colômbia

ou milhares de anos. Temos essa capacidade. Basta ver as “mutações mentais” que ocorrem em uma infinidade de pessoas que conseguiram sobreviver a situações-limite. Temos o dom da razão, da reflexão autodirigida, da auto-observação, de pensar sobre o que pensamos. Somos capazes de perceber os erros e desaprender o que aprendemos. Essa é minha experiência como terapeuta.

Este livro é fruto de anos de pesquisas na área cognitiva do comportamento, ou seja, do sistema de processamento de informação humano , tanto na atividade clínica quanto na vida acadêmica. Minha intenção é divulgar os avanços mais importantes em terapia cognitiva para que o público se informe e tente aplicar alguns princípios que provaram ser especialmente úteis em uma infinidade de transtornos psicológicos e dificuldades da vida diária. Acredito que a psicologia cognitivo- comportamental evoluiu muito no último quarto de século e já é hora de tentarmos fazer promoção e prevenção da saúde psicológica.

Pensar bem, sentir-se bem vai ao encontro dos antigos e representativos racionalistas sem opô-los à moderna terapia cognitivo- informacional. Acredito que o auge da Nova Era e certas correntes pós- modernas e pós-tradicionalistas (que pensam que a emoção prevalece sobre a razão) criaram uma série de mal-entendidos sobre a importância do pensamento racional no processo do bem-estar humano. Para alguns fanáticos (que nada têm a ver com o movimento da inteligência emocional, que respeito muito), “pensar racionalmente” é improdutivo e pouco recomendável. Mas, se o pensamento está out , não temos esperança de mudança. Toda a pesquisa atual em psicologia aponta para o mesmo: se pensássemos melhor, agiríamos melhor.

Isso não implica negar a importância que a emoção e o afeto têm no comportamento humano. Há ocasiões em que pensamos mal porque nos sentimos mal , e outras em que nos sentimos mal porque pensamos mal. A ênfase vai depender do caso. Quando uma mulher está sofrendo de tensão pré-menstrual, pensa mal porque se sente mal (é possível que o pessimismo a invada ou que ela comece a ver o marido como o pior dos idiotas). Mas quando você padece de um transtorno obsessivo- compulsivo, é muito provável que pensar mal fará que se sinta mal. Não se trata de negar o pensamento, e sim de aprender a usá-lo, de colocá-lo

em seu lugar e potencializar suas possibilidades.

A complexa capacidade de raciocinar com que contamos nos afasta de nossos antecessores animais, não importa o que digamos e as analogias que pretendamos estabelecer com base nas similaridades bioquímicas encontradas com os primatas. O problema não é só quantitativo, é qualitativo. Ninguém nega que alguns primatas também têm certo nível de autoconsciência, mas no ser humano a capacidade de autorreflexão atinge um grau notável de expansão que, entre muitas outras coisas, lhe permite perguntar o sentido da vida, transcender psicológica e espiritualmente e revelar uma criatividade sem limite.

A mente inventa a cultura, ou melhor, é a cultura. Como dizia Erich Fromm1, temos a capacidade de viver em uma contradição permanente entre o que realmente somos e o que gostaríamos de ser. Viemos da natureza, mas nos afastamos dela, já que somos indivíduos que pensam sobre si mesmos, capazes de amar e de dar a vida por um ente querido ou por um ideal, contradizendo o mais elementar instinto de sobrevivência. Amor e razão, os motores da humanização. Ódio e irracionalidade, a força desumanizadora, o retrocesso, a involução.

Este texto consiste em três partes e dois anexos práticos. A Parte I se refere à “Teimosia da mente e sua resistência à mudança”. Aqui, com base nos achados mais recentes sobre o processamento da informação em humanos, tento mostrar como a mente é um sistema que se autoperpetua e que, por tal razão, rejeita, ignora ou distorce as informações que não concordam com suas crenças. No Anexo I, por meio de exemplos e casos concretos, você encontrará sugestões práticas para atacar as distorções ou os erros cognitivos e facilitar uma atitude voltada para a mudança.

A Parte II faz referência aos “Maus pensamentos”, e nela analiso e discuto seis pensamentos negativos típicos que afetam nosso bem-estar emocional. No Anexo II você encontrará sugestões práticas para modificar esses pensamentos mediante técnicas cognitivo-comportamentais de fácil aplicação.

Na Parte III, “Esquemas saudáveis”, conecto-me com o tema da qualidade de vida e com os estilos que impedem seu desenvolvimento

PARTE I

A teimosia da mente

e sua resistência à mudança

A mente humana é preguiçosa. Ela se autoperpetua , é levada por seu parecer e tem uma alta propensão ao autoengano.2, 3, 4^ Em certo sentido, criamos o mundo e nos trancamos nele. Vivemos presos em um diálogo interior interminável no qual a realidade externa nem sempre pode entrar. Buda dizia que a mente é como um chimpanzé faminto em uma selva cheia de reflexos condicionados. Sua mente, assim como a minha, é hiperativa, inquieta, astuta, contraditória. A mente não é um sistema de processamento de informação amigável, previsível e facilmente controlável, como ocorre com muitos computadores; nosso aparato psicológico tem intencionalidade, motivos, emoção e expectativas de todo tipo. A mente é egocêntrica, busca sobreviver a qualquer custo, mesmo se o preço for se manter na mais absurda irracionalidade.

Carlos, um jovem de 17 anos, acredita que seu rosto parece um balão, porque, segundo ele, seu pescoço é muito largo em relação a sua cabeça. Carlos não está louco nem sofre de nenhum dano neurológico; contudo, detesta-se e se vê monstruoso cada vez que vê a própria imagem no espelho. Quando sua proporção cabeça-pescoço foi medida para lhe “provar” que estava dentro dos parâmetros normais, rejeitou enfaticamente o procedimento. Disse que as estatísticas estavam erradas e que o terapeuta queria enganá-lo para evitar seu sofrimento. Carlos padece de um transtorno dismórfico corporal , cuja característica é uma distorção da autoimagem expressa como: “Preocupação por algum defeito imaginado ou exagerado do aspecto físico”.^5 É desnecessário dizer que Carlos não tem nenhum defeito físico.

Nesses casos, o erro na percepção da imagem corporal é evidente para todos, menos para aquele que padece do transtorno, que se empenha em defender seu ponto de vista mesmo sabendo que essa crença está destruindo sua vida.

A pergunta que surge é óbvia: por que, em determinadas situações, continuamos defendendo atitudes negativas e autodestrutivas apesar de evidências contrárias? Por que permanecemos amarrados à irracionalidade

As teorias ou as crenças que elaboramos durante toda a vida sobre nós mesmos, sobre o mundo e sobre o futuro se aderem a nossa psique, mimetizam-se com todo o fundo informacional, e as transformamos em verdades absolutas. Levamos muito a sério as crenças que nos inculcaram quando pequenos. Se na vida lhe disseram que você é um inútil, é provável que sua mente acredite nisso e organize uma base de dados sólida ao redor da incompetência percebida.

Então, dizer “sou inútil” é muito mais que uma opinião, é uma revelação transformada em dogma de fé. O slogan educativo, com o passar dos anos, se transforma em uma imposição difícil de ignorar: “Se meus pais e amigos dizem, deve ser por alguma razão”. Assim nasce o paradigma , ou seja, a certeza incontroversa de que sou como me disseram que sou.

Desde pequena, Clara sempre havia sido considerada a “menos capaz da família”, tanto pelas irmãs como pelos pais e professores. Quando menina, não havia sido disciplinada, estudiosa nem obediente como espera a maioria das escolas, e sim hiperativa e impulsiva. Aos trinta anos mostrava-se distraída, rebelde e pouco convencional. Seu espírito criativo e inquieto a havia levado a estudar artes plásticas e dança, enquanto suas duas irmãs haviam preferido carreiras mais tradicionais. Para orgulho do pai, um empresário bem-sucedido e de grande reconhecimento social, a irmã mais nova havia estudado engenharia de sistemas e a mais velha havia obtido um mestrado em administração.

Clara não era exatamente uma ovelha negra, mas parecia de outra família. Vestia-se de maneira extravagante, gostava de New Age, lia poesia, não havia se casado e tinha atividades que seu núcleo familiar considerava “pouco normais”. Em certa ocasião participou de uma manifestação a favor do casamento entre homossexuais, o que levou sua mãe a pensar que Clara precisava de ajuda psicológica e a marcar uma consulta com um psiquiatra, que além de tudo era padre.

Clara incorporou desde a tenra infância mensagens negativas relacionadas a seu desempenho e desenvolveu um esquema de incapacidade com o qual lutava de vez em quando, sem muito sucesso. Em certa ocasião, o pai me manifestou sua preocupação diante da

possibilidade de que ela sofresse de certas limitações intelectuais.

Quando o esquema de insegurança estava desativado, ela aceitava a si mesma de maneira incondicional, era alegre e esbanjava senso de humor. Mas se o esquema negativo se ativava (por exemplo, se fracassava em algum projeto ou se alguém a comparava com as irmãs, ou se o pai a ignorava), deixava de ser a mulher feliz e vivaz para se transformar em uma pessoa insegura, retraída e irritadiça. Quando a ideia de incapacidade se impunha, não havia razões nem argumentos que a pudessem fazer mudar de opinião. Nesses momentos “escuros”, como ela os chamava, duvidava de tudo e pensava que a vida não tinha sentido; buscava desesperadamente a aprovação do pai e odiava as irmãs.

Um dia qualquer, um acontecimento inesperado modificou a relativa calma familiar: o pai de Clara recebeu um diagnóstico de câncer de próstata. A mãe e as duas irmãs desabaram. A engenharia de sistemas e os negócios internacionais não podiam fazer muito para ajudar o pobre homem. Contra todo prognóstico, foi Clara quem encarou a adversidade e liderou a questão.

Durante o ano e meio que durou o tratamento, a “filha limitada” se transformou no principal suporte afetivo da família. Ensinou-os a meditar, impôs o saudável costume de expressar emoções e defendeu o direito do doente de saber a verdade. Entendeu-se com os médicos e com a depressão do pai, estudou o tema do câncer profundamente e “gerenciou” todo o processo de cura. Enfim, Clara mostrou que tinha o dom de uma “fortaleza gentil” e uma excelente aptidão para enfrentar as situações difíceis, uma qualidade que havia passado despercebida para todos, inclusive para si mesma. O mais interessante é que pela primeira vez agiu sem buscar a aprovação de ninguém. Seu argumento era irrefutável: “Sai espontaneamente”.

As situações-limite sempre nos confrontam, e, se formos capazes de aproveitá-las, poderemos reavaliar nossa mente a fundo. As situações- limite podem nos afundar ou nos trazer à tona, gerar uma síndrome de estresse pós-traumático ou formatar o disco rígido. As crenças mais profundas cambaleiam quando nossos sinais de segurança desaparecem, e então a mudança é inevitável.

difícil assumir uma atitude racional diante dos problemas? Somos masoquistas, ignorantes ou teimosos?

Lembro-me de um homem que temia engolir a própria língua. Dormia sentado, só se alimentava de líquidos e mal conseguia se comunicar com os outros, pois tentava manter a língua quieta (o órgão mais móvel de nosso corpo!). Como esse objetivo era praticamente impossível de alcançar, o homem se sentia o tempo todo na iminência de morrer asfixiado. O pensamento automático que o invadia sem parar era terrível: “Se engolir a língua, vou morrer”. Obviamente o temor fazia parte de uma síndrome mais complexa que não detalharei aqui. O que me interessa é apontar que nenhuma explicação lógica e racional sobre a impossibilidade de engolir a língua funcionou. A única estratégia que mostrou resultados positivos foi expô-lo ao medo: “Engula a língua, tente, vamos ver se consegue!” Depois de vários ensaios infrutíferos, a retroalimentação foi concludente: “Sim, você tinha razão, não dá”, disse evidentemente aliviado.

Que processo interveio para que meu paciente finalmente conseguisse modificar sua crença irracional? A realidade ; ela se impôs de maneira corretiva, os fatos lhe mostraram, de maneira irrefutável, quão absurda era sua crença. Uma experiência de vida vale mais que mil palavras (ou muitas horas de consulta). A informação que chega da experiência direta é muito mais terapêutica que a teoria, embora as duas sejam necessárias. Como veremos na terceira parte do livro, a primeira é a fonte da sabedoria, e a segunda, o fundamento da erudição. Conheço muitas pessoas que esbanjam conhecimento científico, mas não têm bom senso.

O caminho é aquietar a mente e induzi-la a olhar para si mesma de maneira realista. Uma mente madura, equilibrada e que aprenda a perder. Uma mente humilde, mas não tola. Uma mente aberta para o mundo, vigorosa, com os pés na terra.

Pelo menos três aspectos influem para que a mente se feche em si mesma e viva no autoengano: (a) a economia mental ou cognitiva, (b) as profecias autorrealizadas e (c) as estratégias evasivas e compensatórias. (No “Anexo I: Aplicações práticas da Parte I”, darei algumas indicações de como atacar essas distorções). Vejamos cada uma detalhadamente.

ECONOMIA COGNITIVA, OU A LEI

DO MÍNIMO ESFORÇO

Como já disse, a mente humana é extremamente conservadora.^8 O princípio que rege nosso aparato psicológico é impactante: quando a informação que chega ao organismo não coincide com as crenças que temos armazenadas na memória, resolvemos o conflito em favor das crenças ou dos esquemas já instalados, ou seja, trapaceamos.^9 Levamos muito a sério as crenças, porque é mais cômodo não questionar a nós mesmos.

A mente humana autoperpetua constantemente a informação que armazena.

Suponhamos que um professor racista tenha a certeza de que os estudantes negros são menos inteligentes que os brancos ( crença ou esquema segregacionista ), e nas últimas provas as pontuações mais altas corresponderam aos estudantes negros. Como consequência disso, sua mente entrará em uma forte contradição, já que os fatos não batem com a expectativa gerada por seu esquema racista: os estudantes brancos obtiveram as pontuações mais baixas! Para resolver o conflito, o homem tem pelo menos três opções:

a) Reavaliar a crença e substituí-la por outra: “Os alunos negros são tão ou mais inteligentes que os alunos brancos”. b) Calibrá-la ou criar exceções à regra: “ Nem todos os alunos negros são menos inteligentes que os alunos brancos”. c) Negar-se a reavaliar a crença ou arranjar desculpas: “Com certeza trapacearam”; “A prova foi muito fácil”; “Foi pura sorte”.

O surpreendente é que a maioria de nós escolhe a opção (c). Deixamos passar aquilo que coincide com nossas expectativas e o recebemos com beneplácito; ignoramos o que é incongruente com nossas crenças ou nossos estereótipos, consideramos “suspeito” ou simplesmente o alteramos para que concorde com nossas ideias preconcebidas.

A economia mental parte do seguinte princípio: é menos gasto para o sistema conservar os esquemas já armazenados do que mudá-los.