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RolLo May A ARTE DO A CONSELHAMENTO PSICOLÓGICO Tradução de Waine Tobelen dos Santos Hipálito Martendal Tradução da edição revista Reinaldo Endlich Orth 1Y Edição I I N EDITORA VOZES / 3’ r © 1989 Gardner Press, mc. Todos os direitos estão reservados. Não é permitida a reprodução de nenhuma parte deste livro, sob qualquer forma, sem a permissão por escrito dos editores. Título original inglês: The art of couseling Direitos de publicação em língua portuguesa: Editora Vozes Ltda. Rua Frei Luís, 100 25689-900 Petrópolis, RJ Internet: http://www.vozes.com.br Brasil Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Editora ção e org. literária: Lúcia Endlich Orth ISBN 85.326.0415-3 (edição brasileira) Este livro foi composto e impresso pela Editora Vozes Ltda.
@@@ Este livro foi digitalizado por Naziberto Lopes de Oliveira, para uso exclusivo de pessoas com deficiencia visual, de acordo com a Lei 9610 dos direitos Autorais em seu artigo 46. @@@@@@
Um livro prático, um guia de aconselhamento em que a teoria vem após o estudo de casos concretos e demonstrações ilustrativas. A obra desenvolve palestras proferidas pelo autor nos “Seminários de Educadores” da Igreja Episcopal, na Carolina do Norte e Arkansas, EUA, e logo as maiores revistas de Teologia e de Educação Religiosa norte-americanas passaram a indicá-la como “livro de cabeceira” para educadores, psicólogos, confessores e orientadores espirituais. Entretanto, o seu campo não é estritamente religioso, como escreve o próprio autor: ‘não apenas o diretor de curso, que deve lidar com
alunos brilhantes, mas reprovados, ou o orientador, a quem recorrem os calouros timidos, oprimidos por um sentimento de inferioridade, mas também o ministro religioso que atende a domicílio, o chefe de acampamento com seus jovens junto ao lago, o professor com seus estudantes do sexto ano, ou formandos de faculdade, enfim, um número infinito de pessoas, em vocações inúmeras, se dá conta de que está sendo requisitado para o aconselhamento, para moldar personalidades, querendo ou não’. Para todos eles o autor escreveu este livro, fazendo apelo à sua profunda bagagem cultural e à sua conhecida qualidade de falar uma linguagem acessível aos não especialistas. “Utilizamos a nova forma de compreender a personalidade oferecida por autoridades modernas, o campo, os psiccterapeutas Freud, Jung, Rank e Kunkel. Esse debate deve muito particularmente à inteligência humilde e penetrante de Alfred Adier, com quem tive o privilégio de estudar, relacionar-me e travar conversas intimas. O autor Rollo May, psicoterapeuta ativo, iniciou seus estudos em Viena e completou seu doutorado e treinamento em Nova Yorque. Autor de dezenas de livros, entre os quais: Amor e vontade, O homem à procura de si mesmo, Minha busca da beleza, todos publicados pela Editora Vozes.
Princípios fundamentais A vida que não é analisada não vale a pena ser vivida. Sócrates Eu vi que todas as coisas que eu temia nada tinham de bom ou ,nau em si mesmas, exceto quando a mente era por elas afetada. Spinoza Ele é realmente um homem de lugar nenhumn, sentado emn sua pátria de lugar nenhum, fazendo seus planos de lugar nenhum para ninguém. Não tem opinião formada, não sabe para onde vai, não é ele um pouco você e eu? Homnemn de lugar nenhum, escute. Você não sabe o que está perdendo. Homem de lugar nenhumn, o mnundo está à sua disposição. Lennon & McCartney
influente dos instintos humanos, embora fosse uma posição muito extremada para ser aceita em seus detalhes, era uma reação inevitável ao moralismo vitoriano hipócrita, que supunha poder ignorar o fator sexo na vida, extirpá-lo e atirá-lo fora e então, alegremente, continuar a viver na “inocência”. Ao explorar as motivações do inconsciente das pessoas, Freud remexeu muita coisa que era feia demais para ser agradável a uma geração que tentava resolver todas as questões no “centro imediato da decisão”, protelando assuntos morais pela assinatura de documentos, e problemas internacionais pela assinatura de tratados. Freud nos mostrou o lado feio da natureza humana. Se alguém ainda não acredita que a natureza humana tem um lado feio - representado por lascívias primitivas e crueldades selvagens — que olhe apenas para o estado de nosso mundo moderno devastado pela guerra. O nosso narcisismo nos levou a condenar Freud como um incentivador da difamação e da pornografia. Mas, como diz Jung, “somente um grande idealista poderia ter dedicado sua vida a desenterrar tamanha imundície”. Freud foi um gênio analítico. Inventou um sistema para analisar a personalidade humana, chamada psicanálise, que ensina aos aconselhadores muita coisa valiosa sobre a função da mente humana 1. Ele observou que os ajustamentos dentro da mente do indivíduo podem entrar numa desordem caótica devido a “repressões”. Essas repressões, na realidade, significam que a pessoa está sendo desonesta consigo mesma. O processo é mais ou menos assim: um impulso instintivo força a passagem do interior do id (o caldeirão borbulhante de desejos, medos, tendências instintivas e toda sorte de conteúdos psíquicos do inconsciente) e busca expressão no mundo exterior. Mas o ego, localizado no limiar da consciência, a meio caminho entre o id e o mundo exterior, está ciente das proibições da sociedade contra a expressão desse desejo específico. Então ele recorre a algum ardil para reprimir o desejo. O ardil é um truque pelo qual o ego diz a si mesmo: “eu não quero exprimir esse desejo”, ou “ao invés daquilo, vou fazer isto”. Mas a repressão significa apenas que o impulso vai forçar novamente uma saída de outro modo — desta vez sob a forma de algum sintoma neurótico, como a ansiedade, o embaraço, ou o esquecimento, ou mesmo alguma forma mais séria de psicose. Quando um paciente neurótico se submete a um tratamento com algum psicanalista freudiano, o analista faz com que ele verbalize associações, procedimento conhecido como “livre associação”. Durante essa “confissão”, como é chamada, o analista fica à espreita de sinais de alguma repressão, como a hesitação do paciente em algum ponto crucial, ou o esquecimento, ou mostras de grande embaraço. Estas inibições ou bloqueios indicam uma falta de unidade na mente do paciente, uma falta de livre fluxo das tendências instintivas partindo de sua fonte inconsciente para a consciência e daí para a realidade. Esses sintomas são as bóias que indicam a existência de conflitos psicológicos subjacentes. Torna-se, então, função do analista identificar esses conflitos, trazendo-os do inconsciente para a claridade e, no caso de um conflito sério, aliviá-lo pelo processo da catarse psicológica, chamado ab-reação. O resultado visado é desemaranhar a mente do paciente, livrá-lo de seu “complexo” e restabelecer assim uma certa unidade funcional em sua mente. Isso o deixa livre para elaborar alguma expressão mais satisfatória de seus impulsos ihstintivos na realidade. Ou, se esta expressão for impossível, o paciente pelo menos será levado a aceitar, franca e conscientemente, a necessidade da renúncia. O processo central da psicanálie consiste em retirar o
conflito das trevas do inconsciente para a luz da consciência, onde ele pode ser reconhecido e razoavelmente manipulado. Freud diz: “Nossa utilidade consiste em substituir o inconsciente pelo consciente, em transladar o inconsciente para dentro do consciente”2. Dentre as valiosas contribuições que esse sistema de psicanálise traz para nossa compreensão da mente humana está, em primeiro lugar, o insight que ele nos dá da fabulosa extensão e potência do reino do inconsciente. A exploração dessa obscura hinter lãndia da qual surgem as grandes forças e motivações da vida, colocou nossa compreensão dos seres humanos em bases muito mais seguras. A psicanálise também mostra que devemos levar em consideração muito mais coisas que simplesmente o ego consciente. Este pobre “general”, na realidade, tem pouco poder de decisão, pois é batido de um lado para outro pelas forças instintivas do id, pelo mundo exterior e pelo superego (consciência). Por isso, a vida deve ser orientada para níveis bem mais profundos do que o da mera vontade consciente. Finalmente, a psicanálise freudiana prova que não podemos alcançar sucesso na vida moral através de um recurso tão simples quanto a mera repressão de qualquer tendência que a sociedade, ou o nosso próprio superego, acha intragável. Mas o perigo do sistema freudiano de análise surge quando ele é tomado como uma interpretação determinista da personalidade como um todo3. O sistema pode simplesmente tornar-se um esquema de causa e efeito: o impulso instintivo bloqueado leva à repressão, esta leva ao complexo psíquico e este, por sua vez, à neurose. E a cura consiste, teoricamente, na mera reversão do processo: observar o sintoma neurótico, identificar o complexo, remover a repressão e, em seguida, ajudar o indivíduo a exprimir mais satisfatoriamente seus impulsos instintivos. Não queremos dizer que a terapia freudiana em sua prática seja tão simples assim. A terapia tem aspectos muito mais criativos e consegue sucesso precisamente por não se prender, estritamente, à teoria da causa e efeito. O perigo reside na influência da teoria freudiana ao construir uma visão determinista e mecanicjsta da personalidade na mente do público mal informado. As pessoas acabam concluindo que são vítimas de seus impulsos instintivos e que sua única salvação está em dar livre curso à libido sempre que o impulso surgir. Certamente o sistema de causa e efeito é válido para certos aspectos da mente. Mas é um erro fazer generalizações partindo dessa área limitada, o que implicaria em dizer que os princípios deterministas e da causalidade explicam a personalidade em seu todo. Freud foi seduzido pela sistematização prática e acessível da ciência natural e usou-a como um leito de Prucusto, no qual ele deita a personalidade humana e a obriga a adaptar-se4. Essa falácia surgiu da incapacidade de reconhecer as limitações do método científico. Embora a objetividade da ciência nos auxilie enorme- mente a chegar a uma compreensão útil de certas fases dos fenômenos mentais humanos, imaginar que todos os aspectos criativos, muitas vezes imprevisíveis e certamente intangíveis da mente humana, possam ser reduzidos a princípios mecanicistas de causa e efeito é simples loucura. Conseqüentemente, a “psicologia da ciência natural” de Freud, como Rank a chama, desviou-se em suas teorias para um determinismo final da personalidade. Se um determinismo dessa espécie for aceito, a responsabilidade humana é destruída. O ladrão pode dizer: “Não fui eu que roubei a maçã, foi minha fome”. E o que dizer da intenção, da liberdade e da decisão criativa do indivíduo? Ora, estas coisas são básicas na personalidade, como veremos mais
característica que separamos os seres humanos dos animais, uma vez que o ser humano tem a capacidade de quebrar as fortes cadeias do estímulo-resposta que escravizam os animais. A mente sã é capaz de ter impulsos diferentes num estado de equilíbrio indeciso e, finalmente, tomar a decisão pela qual um dos impulsos prevalece. O primeiro pressuposto da personalidade humana é a posse dessas possibilidades criativas, que são sinõnimas de liberdade. Não é propósito desse livro penetrar nas provas filosóficas da liberdade humana, mas tão-somente notar que, do ponto de vista psicológico, é essencial acreditarmos na liberdade para termos um quadro adequado da personalidade e, assim, aconselharmos eficazmente. Isso não deve ser chamado “liberdade da vontade”, pois implicaria em que uma parte específica do homem é livre e resultaria em discussões infindáveis acerca do determinismo metafísico, o que não levaria a nada5. Ao invés, a pessoa possui a liberdade como uma qualidade de seu ser total. Mas isso não significa que não exista um número infindo de influências determinantes agfndo sobre o indivíduo de todos os lados e em todos os momentos - muito mais forças determinantes do que o século passado imaginava, ao dar ênfase ao simples “esforço”. Mas, adespeito do número de forças determinantes que afetam a John e Jane Doe, existe, no final, um elemento com o qual o senhor ou a senhora Doe moldam os materiais da hereditariedade e de ambiente dentro da sua estrutura própria e única. Tecer argumentos contra a liberdade só dá provas mais fortes dela. Pois um debate e qualquer tipo de discussão razoável, ou mesmo o simples formular perguntas, pressupõe essa margem de liberdade. Os estudantes vêm muitas vezes ao aconselhador defender certo ponto de vista inconseqüente, baseados num conhecimento superficial da ciência natural, conhecimento esse apenas suficiente para lhes permitir ver sua força, mas não suas limitações. Se vier à baila um problema de personalidade, o aconselhador não deve discutir a questão diretamente — o aconselhamento nunca é um debate. Deve o aconselhador mostrar as Possibilidades e assim, gradativamen levar o estudante a uma aceitação da responsabj. lidade por sua conduta e seu futuro. O psicoterapeut Otto Rank já explicou de forma definitiva a importáncia da liberdade e da responsabilidade na psicoterapia6. Tendo sido um dos discípulos mais chegados a Freud, Rank foi finalmente forçado a romper com o mestre, por Freud não admitir a centralidade da vontade criativa no tratamento psicanalítico7 Rank sustenta que, em última análise, devemos admitir que o indivíduo cria sua própria personalidade pelo querer criativo e que a neurose é devida, precisamente, ao fato de o paciente não conseguir querer construtivamente É possível crescer na liberdade Quanto mais saudável mentalmente a pessoa se tornar, tanto mais será ela capaz de moldar criativamente os materiais da vida e, por conseguinte, mais senhora será de seu potencial de liberdade. Por isso, quando o aconselhador ajuda um aconselhando a Superar seu problema de personalidade, na verdade ajuda-o a tornar-se mais livre. Podemos resumir, sob a forma de um guia de aconselhamento, nosso primeiro princípio da personalidade, ou seja, a liberdade: É função do aconselhador levar o aconselhando a aceitar a responsabilidade pela direção e pelos resultados de sua vida. O aconselhador deve mostrar-lhe como são profundas as raízes da decisão e como toda a experiência passada e as forças do inconsciente devem ser levadas em conta. Mas, ao final de tudo, deve ajudar o aconselhando a apropriar-se de suas
Possibilidades de liberdade e usá-las
adianta dizer simplesmente à pessoa que “seja ela mesma”, pois o problema é precisamente ela não saber quem realmente é. O aconselhador percebe muitas vezes uma série de “si-mesmos” em conflito. Logo, dizer-lhe simplesmente que seja ela mesma, é piorar ainda mais a cofuso. Ela precisa em primeiro lugar achar a si mesma. E é aqui que entra o aconselhador. A função do aconselhador é ajudar o aconselhando a encontrar o que Aristóteles chama de “enteléquia”, o elemento singjlar existente dentro da semente do carvalho, que a destina a tornar-se um carvalho. Jung diz: “Cada um de nós traz em si sua constituição específica de vida, uma constituição indeterminável que não pode ser substituída por outra”2. Esta constituição de vida, o verdadeiro si-mesmo, alcança profundjd5 na mente do indivíduo muito maiores do que a mera consciência. A consciência pode até mesmo apresentar um reflexo distorcído dela, O indivíduo encontra-se a si mesmo ao unir seu si-mesmo consciente a vários níveis de seu inconsciente Nesse ponto torna-se necessário descrever e definir mais claramente esse importante domínio do inconsciente. Todos já experimentaram o fato de apenas uma pequena porção do seu conteúdo mental estar consciente num dado momento O conteúdo mental move-se através da consciência numa corrente — comparável, talvez, ao movimento do rolo de um filme que, atravessado pela luz do projetoi- projeta na tela uma imagem que muda constantemen te. Na antiga comparação, a porção consciente da mente está em relação à porção inconsciente assim como a ponta do iceberg que aparece acima da água está para sua massa muito maior sob a superffcje Certamente nossas mentes chegam a profundidades infinitamente maiores do que qualquer área momentânea da consCiência A profundidade exata não a podemos determinar, pois in 24 25 consciente significa “desconhecido”.,Podemos apenas postular o inconsciente e observar sua manifestação funcional. As pessoas que se habituaram a pensar apenas dentro dos termos limitados da ciência exata às vezes hesitam em postular o inconsciente. Mas não fazê-lo significa amputar a grande massa de nossa vida mental. Pois o que seria de todas as lembranças, experiências passadas e os conhecimentos ad iníinitum que não estão em nossas mentes conscientes neste determinado momento, mas que podemos evocar em qualquer ocasião? Teoricamente, nenhuma experiência se perde. Nada realmente se esquece e as experiências da infância deixam suas influências na pessoa, mesmo que ela se mostre indiferente e ache que o assunto morreu para sempre. O esquecimento e a memória, além de outros problemas do inconsciente, são questões complexas sobre as quais ainda temos muito que aprender. Nossa interpretação funcional descreve o inconsciente como um grande celeiro, contendo todo tipo de material psíquico: temores, esperanças, desejos e todas as formas de tendências instintivas. Mas o inconsciente melhor se compara a um dínamo do que a um silo, pois dele saem os impulsos e as tendências aos quais a consciência apenas indica a direção. Jung diz acertadamente: “Via de regra, as grandes decisões da vida estão muito mais relacionadas aos instintos e aos outros fatores inconscientes e misteriosos dp que à vontade con ciente e à razão bem intencionada”13. O inconsciente pode ser visto como uma série de níveis. Esse conceito corresponde à experiência atual, pois uma experiência de infânc4a parece ser muito “mais profunda” do que uma ocorrida ontem. Freud
falou do “pré-consciente” como a porção do inconsciente imediatamente abaixo da consciência. Esse material pré- consciente que pode surgir com facilidade na consciência, somado às experiências da infância e ao material reprimido, podemos denominá-lo “inconsciente pessoal”. Na medida em que penetramos mais profundamente no inconsciente, achamos cada vez mais material que a pessoa tem em co- mum com outros indivíduos. Jung dá o nome adequado de “inconsciente coletivo” a esses níveis mais profundos, O francês, por exemplo, ou o cidadão norte-americano guarda muito material em seu inconsciente que não adquiriu por experiência pessoal, mas que absorveu de seu grupo nacional. Isso deverá ter certa correlação com a história de sua nação, mas que é transmitido através de vias mais profundas do que aulas de História e leituras de texto. Embora o americano moderno esteja várias gerações distante dos primitWos pioneiros de seu país, as experiências destes se fazem sentir com certa força no seu inconsciente. Nas sociedades primitivas, onde a consciência coletiva é maior, é difícil dizer onde terminam as experiências dos ancestrais e onde começam as experiências dos habitantes hodiernos. Uma camada mais profunda do inconsciente é a que temos em comum com os outros membros de nossa raça, ou mais profunda ainda aquela possuída coletivamente por todos os membros do mundo ocidental. E, finalmente, existem certas estruturas no inconsciente que o indivíduo possui em comum com toda a humanidade Jung as chama “arquétipos”, ou “imagens primordiais” — que são difinidos como as estruturas ou formas de pensamento que o ser humano -possui simplesmente por ser humano. Esses arquétipos relacionam-se às estruturas básicas da mente humana. Isso explica por que a mitologia, embora tendo surgido entre povos de diversas raças e em diversos períodos da História, apresenta certas características comuns. O inconsciente coletivo é herdado ou adquirido através da cultura? A resposta de Jung é direta: “Entendemos por inconsciente coletivo uma certa sedimentação psíquica, modelada pelas forças da heredjtarjedade»14 Na verdade, a origem do inconsciente coletivo não é o problema em questão. Observamos como ele trabalha funcionalmente Partindo desse ponto de vista, certamente é verdade que essas idéias básicas, como aparecem mesmo nas criações mitológicas das crianças, provêm de algo mais profundo, mais orgânico do que qualquer coisa que o indivíduo possa ter aprendido 26 27 de seus educadores. Idéias específicas naturalmente são adquiridas do meio ambiente, e não estamos afirmando que todas as idéias humanas sejam “inatas”. Contudo, deve haver algo de estrutural na mente, comparável à forma estrutural do corpo, que se desenvolveria obedecendo a certas linhas gerais, mesmo que o indivíduo fosse isolado na ilha de Crusoé. Platão já se debatia com esse mesmo problema difícil, ou seja, descrever a atividade do inconsciente coletivo, quando explicou mitologicamente que o homem nasce com certas idéias que traz de sua existência anterior nos céus. Assim, Platão julgava que o conhecimento fosse como que uma reminiscência, ou um processo de extração daquilo que já existe no inconsciente’5. Desse inconsciente coletivo da humanidade florescem as artes, a filosofia, a religião e a melhor poesia. O
de nossos amigos, quanto de nossos inimigos.
1. Integração social Assim, a terceira característica da personalidade saudável é a integração social. Esse aspecto é considerado tão importante que as pessoas adquiriram o hábito de julgar que problema de personalidade significa problema social e que, se um indivíduo é bem sucedido socialmente, deve já ter resolvido seus problemas de personalidade. Naturalmente isso pressupõe uma visão muito superfi. cial da personalidade — o que acontece quando a palavra é profanada em anúncios de cosméticos e de “como- ser-um-sucesso-social”, por exemplo. Contudo, encarando-se a questão em profundidade, um ajustamento social significativo é básico para a personalidade, pois é necessário que a pessoa se mova dentro de um mundo constituído de outras pessoas. 30 Uma das principais características da pessoa neurótica é sua incapacidade de lidar com outras pessoas. Desconfia demais dos outros, acha que a sociedade é uma inimiga e atravessa a vida como se estivesse dentro de um carro blindado. Recentemente um homem contou-me que passara as férias tentando afastar-se dos parentes e comentou por acaso: “Não confio em ninguém”. Embora seja uma observação comum, é um sinal seguro de uma atitude neurótica frente à sociedade. Um indivíduo desses está condenado a viver só, pois impõe a si mesmo o isolamento e a posição desagradável de um soldado que, colocado no topo de uma montanha com sua metralhadora, luta unicamente por si mesmo. No que se refere à integração social devemos muito a Alfred Adier’, esse outro vienense que, juntamente com Freud, fez de Viena o berço da psicoterapia. O Dr. Adler ressaltou em seus trabalhos psicológicos iniciais, nos primeiros anos deste século, que o neurótico se caracteriza especialmente pela incapacidade que tem de relacionar-se com as outras pessoas e o mundo social. Adier observou também que ninguém pode separar-se de seu grupo social e gozar de boa saúde, pois a própria estrutura de sua personalidade depende da comunidade. A criança não teria nascido, não fosse um ato social realizado pelos pais e não teria sobrevivido um dia sequer, não fossem os cuidados da família. A todo momento qualquer indivíduo depende de inumeráveis pessoas de seu tempo e do tempo passado. Para se ter uma visão mais viva dessa interdependência social, basta simplesmente recordar a longa fila de pessoas das quais dependemos para comer o pão de cada dia, ou para saber dizer a tabuada de multiplicar. Vivemos numa constelação social em que cada indivíduo depende do outro, assim como as estrelas das constelações solares se prendem às linhas de força gravitacional, emanada dos demais corpos celestes. De fato, essa teia de interdependência inclui, teoricamente, todos os indivíduos que vivem ou já viveram. Muito embora alguém possa negar essa interdependência e lutar contra ela, como o fez Nietzsche, ainda dependerá dela até mesmo no próprio ato de atacá-la. O senso de interdependência brota constantemente do inconsciente coletivo 31 do indivíduo misantropo que se recusa a admiti-la conscientemente. Adier chama essa interdependência de “o amor e a lógica que nos unem uns aos outros”. Opondo-se ao conceito da libido sexual de Freud, Adler vê a força dinâmica do indivíduo como a procura do poder. Existe um impulso dentro do indivíduo (no centro do si-mesmo, que denominamos “ego”) de
alcançar uma superioridade sobre seus semelhantes e de obter uma posição de segurança que não possa ser ameaçada 2. Esse conceito é semelhante, mas não idêntico aos conceitos de “vontade de poder” de filósofos como Nietzsche e Schopenhauer. A “vontade” de Adler é mais uma “vontade de prestígio”. É aquele impulso básico do indivíduo que faz com que ele tenda a romper a teia de interdependência social e, por ambição competitiva e vaidade, colocar-se acima de seus semelhantes3. Isso nos leva à mais famosa contribuição da psicologia adleriana ao pensamento moderno: o conceito de inferioridade. O sentimento de inferioridade é universal (Não devemos chamá-lo de “complexo”, enquanto não se tornar definitivamente neurótico). Todo indivíduo o possui como parte de sua condição de ser humano. John Doe sente-se inferior às pessoas que o cercam numa de- terminada área de atividade social e fica embaraçado (esquecencose que eles também se sentem inferiores a ele). Os Brown sentem- se inferiores a seus vizinhos, os Jones, e daí seu esforço no sentido de “manter-se no mesmo nível deles”. A vendedora Black tem um sentimento de inferioridade em relação a seu emprego e passa então a invejar o sucesso das outras pessoas. E o mundo dos negócios, marcado pelo esforço de cada negociante superar os outros, torna- se uma escaramuça de competição impiedosa. São surpreendentes as formas olímpicas que o sentimento de inferioridade assume. Esopo diria que o cão que ladra mais ferozmente é o que sente mais medo. Esse sentimento de inferioridade universal tem suas raízes na verdadeira inferioridade da criança, que vê os adultos exercer uma força que ela não possui. Podemos também identificá-lo em p’arte no sentimento de inferioridade do homem primitivo em sua luta contra os animais ferozes. No dente por dente e pata por pata, o homem era uma presa fácil dos animais, daí a necessidade de o homem compensar sua fraqueza física com a agilidade mental. O desenvolvimento da civilização pode, até certo ponto, ser considerado compensativo, isto é, uma conseqüência do esforço do homem por superar sua inferioridade. Uma vez que todos nós possuímos o sentimento de inferioridade, este não deve ser considerado anormal em si mesmo. Na realidade, agindo juntamente com a vontade de prestígio, esse sentimento de inferioridade nos fornece a principal fonte de força motriz. O problema é utilizar essa força não em esforços anti-sociais, que destroem a constelação social, mas em esforços construtivos, que contribuem para o bem-estar de nossos semelhantes. Mas um sentimento de inferioridade exagerado conduz a um comportamento neurótico, pois o ego passa1a buscar o poder com um empenho anormalmente forte. Quanto mais “por baixo” ou menor o indivíduo se considera, tanto mais desesperadamente lutará no sentido de colocar-se “por cima”. O sentimento de inferioridade e a vontade de prestígio são meramente dois aspectos do mesmo impulso interno do indivíduo. Assim, podemos inferir que, por trás de uma, enorme ambição, oculta-se um profundo (embora possivelmente inconsciente) sentimento de inferioridade, A todo momento encontramos exemplos históricos que provam esse fato. O que se chama de “complexo de superioridade” é, pela mesma razão, simplesmente o reverso de um sentimento de inferioridade subjacente. Por sentir- se inferior, o ego assume uma fachada especial de superioridade e faz questão de mostrá-la a todos. Neste esquema de esforço por prestígio, a depreciação das outras pessoas é proporcional à elevação do próprio indivíduo, pois à medida em que elas descem, automaticamente o indivíduo adquire maior
ser falsos para com ninguém, É verdade que superficialmente pode haver certa tensão entre a individualidade e a integração social. Para conviver bem com o próximo, muitas vezes temos que inibir certas expressões superficiais de individualidade. Mas, examinando mais a fundo o problema, percebemos não existir a incompatibilidade que as pessoas julgam haver entre a individualidade e a vida social. Através do inconsciente coletivo estamos unidos a fossos semelhantes até dentro de nós mesmos5 Conforme será discutido mais tarde, existe, na verdade, um elemento egocêntrico no homem que dificulta sua socialização autêntica. Mas esse elemento egocêntrico destrói também sua unidade dentro do si-mesmo Na prática O aconselhador observará que, quanto mais integrado socialmente se tornar o aconselhando, mais ele descobrirá, no conjunto, sua indivjduajjda de própria e singular, Derivamos do terceiro princípio da personalidade, ou seja, a integraç0 social o seguinte guia de aconselhamento: É função do aconselhador ailiar O aconselhando a aceitar com alegria sua responsabilidade social, dar-lhe a necessária coragem para livrá 35 lo da com pulsão de seu sentimento de inferioridade e ajudá-lo a dirigir seus esforços para fins socialmente construtivos.
2. A fonte do espírito Já falamos neste capítulo a respeito do ponto de vista psicanalítico que afirma consistir a doença mental em urna dissociação da mente do paciente e dos conflitos psicológicos daí resultantes. Mencionamos também que o objetivo da psicanálise é reunifidr a vida mental, trazendo o conflito do inconsciente para a consciência. A partir da ênfase que a psicanálise dá à unidade mental, muitas pessoas acham que o indivíduo será tanto mais saudável quanto mais unidade alcançar em sua personalidade. Concluem daí que o ideal é uma unidade final e que, por conseguinte, os conflitos psicológicos são doentios por si mesmos. A ênfase dada por Jung à unificação da consciência do indivíduo com os vários substratos de seu inconsciente e a meta adleriana de alcançar a integraçã5 do indivíduo na sociedade dão igualmente margem à interpretação de que o objetivo último é uma unidade na mente do indivíduo. Não há dúvida de que a pessoa neurótica sofre um colapso na unidade de suas funções mentais. Da mesma forma, é evidente que orientá-la para um ajustamento mais efetivo, que virá acompanhado de um estado de nova unidade, constitui um passo no processo de sua cura. Mas não é correto dizer que a simples Jdefinitiva unidade no interior da personalidade é o ideal. Os devotados amadores da psicoterapia e parte do público em geral, que têm noções superficiais de psicanálise, interpretam mal a psicoterapia e simplificam demais a personalidade quando consideram que o objetivo é um estado de completo relaxamento, no qual a pessoa pode expressar prontamente todos os desejos instintivos e viver a vida ctos comedores de lótus ou dos habitantes do céu maometano. Certas pessoas tendem a pensar que o objetivo da psicoterapia é colocar a todos num Jardim do Éden, onde todas as necessidades são sa tisfeitas e onde elas vagam num estado de felicidade perfeita que não pode ser perturbada por conflitos de ordem psicológica ou moral. Naturalmente, tudo isso é bastante estranho à condição humana e nenhum psicoterapeuta conceituado admitiria um ideal
desse tipo. Uma unidade definitiva da personalidade humana, além de impossível, é indesejve Sabemos muito bem que uma existência no Jardim do Éden ou nos céus do tipo plácido e feliz significaria a morte daquilo que entendemos por personalidade, pois a personalidade é dinâmica e não estática, criativa e não vegetatjv Em vez de qualquer unidade definitiva, o que desejamos é um ajustamento novo e construtivo das tensões. Não desejamos extinguir totalmente o conflito, o que seria a estagnação Desejamos, sim, transformar os Conflitos destrutivos em conflitos construtivos. Deve-se admitir que os psicoterapeutas deram margem ao desenvolvimento dessa errônea interpretação popular. Freud contribuiu para isso com seus pressupostos de ciência natural e com sua tendência de reduzir a personalidade a um determinismo de causa e efeito. De modo semelhante Adler errou em sua crença racionalista de que o conhecimento conduz à virtude. Por trás do desenvolvimento histórico da psicoterapia existem certas Pressuposições racionalistas, românticas e naturalistas, que se prestam a essa suPersimplificação. A tentação é encarar a personalidade como algo que cresce simples e naturalmente como plantas, como vem exemplificado pela afirmação de um terapeuta da escola adleriana, que assim definiu a função do psicoteapeuta. “Remover os obstáculos do caminho da personalidade, assim como se removem as pedras que dificultam o crescimento de uma flor, permitindo desta forma que ela se desenvolva naturalmente em direção ao sol”. Tal confiança no desenvolvimento natural do ser humano em direção a um estado perfeito nos lembra Rousseau e, certamente, deve ser vista como uma fé romântica, carente de suficiente realismo. Nota-se com clareza essa tendência à supersimplificação quando se lida com o problema do sentimento de culpa. Alguns psico 37 terapeutas procuram eliminar completamente o sentimento de culpa, tratando-o como um sintoma de doença mental e censurando a religião por intensificar o sentimento doentid de culpaem muita gente. Na verdade, estão certos no que se refere ao fato de que um sentimento de culpa exagerado está muitas vezes relacionado à neurose, e também de que a religião não devidamente esclarecida já favoreceu inúmeras vezes um sentimento de culpa mórbido em seus adeptos. Um exemplo é o caso de um ministro religioso que viveu durante vinte e sete anos atormentado por uma obsessão de pecado, que se revelou afinal puramente subjetiva, sem relação alguma com a realidade. É perfeitamente compreensível que Freud, especialista em fenômenos sexuais, tenha considerado doentio o sentimento de culpa, pois o século XIX atribuíra uma enorme taxa de culpa mórbida aos fenômenos sexuais6. Psicoterapeutas e aconselhadores devem unir-se no esforço para libertar as pessoas de sentimentos doentios de culpa. Mas o sentimento de culpa nunca pode ser eliminado totalmente, o que nem seria desejável. O sentimento de culpa é muitas vezes o reverso do nosso senso do espírito, e neste sentido pod ser saudável e construtivo. O sentimento de culpa é a percepção da diferença en&eo que uma coisa é e o que esta coisa devia ser. Todos experimentamos algum sentimento de culpa muitas vezes ao dia. Quando uma’ pessoa passa por um aleijado mendigando na rua, ou por um bêbado na sarjeta; quando por ato consciente ou por