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Relações dos Missionários Presbiterianos EUA no Brasil (1859-1888) com autoridades, Provas de Diplomacia

Este capítulo explora o papel ativo de missionários presbiterianos norte-americanos no brasil entre 1859 e 1888, particularmente em relação às autoridades brasileiras e norte-americanas. A pesquisa examina como esses missionários buscaram proteção e estabeleceram relações, além de terem ocupado cargos diplomáticos temporários no brasil.

O que você vai aprender

  • Quais foram as interações entre missionários presbiterianos norte-americanos e diplomatas norte-americanos no Brasil?

Tipologia: Provas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Pamela87
Pamela87 🇧🇷

4.5

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MISSIONÁRIOS PRESBITERIANOS E DIPLOMACIA ENTRE
EUA E BRASIL
Neste capítulo chegamos de maneira mais direta ao objeto de estudo desta
dissertação: a atuação de missionários das Igrejas Presbiterianas dos Estados
Unidos no Brasil entre 1859 e 1888, e seu papel nas relações entre os dois países
no mesmo período.
Dentro do arcabouço teórico desse estudo, observa-se que atores
transnacionais (inclusive aqueles motivados principalmente por fins religiosos) e
idéias (incluindo as religiosas) podem ter importante influência sobre o sistema
internacional. A política externa de um país, por sua vez, não pode ser analisada
como se esta fosse resultado dos cálculos de um ator monolítico e racional, sendo
melhor definida como o resultado de intensos debates entre diferentes grupos e a
mesmo indivíduos, cada um deles com seus próprios interesses, idéias, objetivos e
estratégias.
Partindo desse arcabouço teórico e da avaliação preliminar da inserção do
presbiterianismo no Brasil realizada no primeiro capítulo, assim como da
avaliação da diplomacia norte-americana realizada no segundo, chegamos à
seguinte pergunta: qual foi o papel das Igrejas Presbiterianas dos Estados Unidos
nas relações entre estes dois países, Brasil e Estados Unidos?
De acordo com a avaliação preliminar realizada, os missionários parecem
ter feito da busca pelo aprimoramento das relações entre Brasil e Estados Unidos
uma de suas estratégias para que houvesse no Brasil as condições favoráveis para
seus objetivos de evangelização. Portanto, essa dissertação como um todo e este
capítulo em especial partem da hipótese de que as Igrejas Presbiterianas dos
Estados Unidos no Brasil foram incentivadoras de melhores relações entre Brasil
e Estados Unidos, tendo como objetivo a criação de um ambiente favorável à sua
atuação. Com isso, teriam contribuído para a aproximação entre os dois países.
Já foi observado nessa dissertação que Ashbel Green Simonton, ao chegar
no Brasil, estabeleceu a estratégia de aproximar-se dos norte-americanos
residentes no Rio de Janeiro em busca de proteção para sua pregação. Porém, esta
estratégia parece ter sido negligenciada posteriormente, na medida em que o
comportamento não “puritano” dos seus compatriotas afastou Simonton, levando-
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MISSIONÁRIOS PRESBITERIANOS E DIPLOMACIA ENTRE

EUA E BRASIL

Neste capítulo chegamos de maneira mais direta ao objeto de estudo desta dissertação: a atuação de missionários das Igrejas Presbiterianas dos Estados Unidos no Brasil entre 1859 e 1888, e seu papel nas relações entre os dois países no mesmo período. Dentro do arcabouço teórico desse estudo, observa-se que atores transnacionais (inclusive aqueles motivados principalmente por fins religiosos) e idéias (incluindo as religiosas) podem ter importante influência sobre o sistema internacional. A política externa de um país, por sua vez, não pode ser analisada como se esta fosse resultado dos cálculos de um ator monolítico e racional, sendo melhor definida como o resultado de intensos debates entre diferentes grupos e até mesmo indivíduos, cada um deles com seus próprios interesses, idéias, objetivos e estratégias. Partindo desse arcabouço teórico e da avaliação preliminar da inserção do presbiterianismo no Brasil realizada no primeiro capítulo, assim como da avaliação da diplomacia norte-americana realizada no segundo, chegamos à seguinte pergunta: qual foi o papel das Igrejas Presbiterianas dos Estados Unidos nas relações entre estes dois países, Brasil e Estados Unidos? De acordo com a avaliação preliminar realizada, os missionários parecem ter feito da busca pelo aprimoramento das relações entre Brasil e Estados Unidos uma de suas estratégias para que houvesse no Brasil as condições favoráveis para seus objetivos de evangelização. Portanto, essa dissertação como um todo e este capítulo em especial partem da hipótese de que as Igrejas Presbiterianas dos Estados Unidos no Brasil foram incentivadoras de melhores relações entre Brasil e Estados Unidos, tendo como objetivo a criação de um ambiente favorável à sua atuação. Com isso, teriam contribuído para a aproximação entre os dois países. Já foi observado nessa dissertação que Ashbel Green Simonton, ao chegar no Brasil, estabeleceu a estratégia de aproximar-se dos norte-americanos residentes no Rio de Janeiro em busca de proteção para sua pregação. Porém, esta estratégia parece ter sido negligenciada posteriormente, na medida em que o comportamento não “puritano” dos seus compatriotas afastou Simonton, levando-

o a depender prioritariamente do apoio de seus colegas missionários. Ao que parece, Simonton e seus colegas evitaram tanto quanto possível depender do apoio da população norte-americana residente na corte ou de autoridades brasileiras para cumprir sua missão entre os brasileiros. Isso não quer dizer, no entanto, que algum contato em busca de apoio não tenha sido realizado, especialmente entre diplomatas norte-americanos e políticos liberais brasileiros. Ao longo deste capítulo será analisada, sobretudo a influência dos missionários, um grupo transnacional, em duas instâncias: primeiro sobre a realidade doméstica brasileira, especialmente sua disposição política para com os Estados Unidos da América; segundo, sobre a política externa norte-americana em relação ao Brasil, representada aqui por seus diplomatas em serviço no Império. Uma segunda tarefa a ser realizada neste capítulo, seguindo a abordagem teórica proposta para essa dissertação, consiste em analisar o papel dos missionários como disseminadores de normas.

DIPLOMATAS E MISSIONÁRIOS NORTE-AMERICANOS

Será analisado aqui qual foi a forma principal de relacionamento entre os missionários em atuação no Brasil e seus representantes governamentais no mesmo país, os diplomatas norte-americanos. Teria sido esse um relacionamento de barganha mútua, com os missionários em busca de seus interesses junto aos diplomatas, procurando alterar suas políticas, sobretudo através da prática do lobby político, sem um confronto direto com Estado? Teriam os diplomatas respondido a essa estratégia de forma semelhante, estabelecendo diálogo e buscando soluções onde interesses mútuos fossem beneficiados, ou mesmo procurando incluir os missionários em seus próprios planos, visando benefícios próprios? Ou teriam os missionários competido com seus supostos representantes governamentais, contestando sua legitimidade? Neste caso, teriam os missionários agido pacificamente ou teriam eles adotado o confronto direto e mesmo violento? Conforme foi exposto no quarto capítulo dessa dissertação, essa última hipótese, embora improvável, não está descartada pela doutrina presbiteriana. Neste caso, teria sido a resposta dos diplomatas hostil ou indiferente? Por último, resta a possibilidade de que os missionários tenham adotado uma postura inteiramente

menos respeitada (acertou). Seus temores foram um pouco acalmados pela chegada de sua irmã Elizabeth e de seu cunhado Blackford em julho de 1860. 4 Mais detalhes a respeito de como Simonton lidava com os diplomatas de seu país podem ser observados em seus contatos com o Dr. Robert Kalley. Conforme já foi visto nesse estudo, Kalley havia se tornado descrente da proteção que os diplomatas ingleses poderiam oferecer a ele e a sua pregação no Brasil. Porém, conversando com o Rev. Simonton ainda em agosto de 1859, julgou oportuna a missão do jovem colega norte-americano, entre outros motivos porque acreditava que as autoridades diplomáticas dos EUA protegeriam seus cidadãos no Brasil.^5 Porém, o escocês recomendava ao missionário presbiteriano distância dos norte-americanos residentes no Rio de Janeiro. Neste último ponto Simonton discordou do colega. Não descartou, no entanto o conselho a respeito dos diplomatas. Assim ele se expressou em seu diário a respeito do encontro com o missionário escocês:

Quanto a serviços religiosos para os americanos, [o Dr. Kalley] inclina-se a desaconselhá- los. Não posso concordar com ele nesse ponto. Acredito que além de ser útil a eles, posso também adquirir uma posição segura e tê-los como aliados. Minha presença e meus objetivos aqui não podem ficar escondidos; portanto minha esperança está na proteção divina e no uso de todos os meios prudentes de defesa (grifo meu).^6

Simonton assumiu, portanto, a estratégia de buscar a proteção dos norte- americanos residentes na corte e o apoio dos diplomatas. Em pouco tempo, porém, ele percebeu que Kalley tinha razão a respeito dos norte-americanos: “Esses homens [os marinheiros para os quais pregava] têm vida muito frívola. Não posso invejá-los no presente; quanto ao seu futuro, se é que se preocupam com ele, apenas promete amargura”;^7 “Não acho bom misturar-me muito com os ingleses e americanos que vivem aqui. Depois de conhecê-los, ganhar sua confiança e amizade, sinto a necessidade, por escolha e por dever, de me afastar deles”.^8 Quanto aos diplomatas, Simonton dá indicações de que seguiu caminho diverso. Ao que parece manteve boa amizade com Scott e Meade e continuou

(^4) VIEIRA, D. G.. O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil. p. 138. (^5) VIEIRA, D. G.. O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil. p. 137. (^6) SIMONTON, A. G.. O Diário de Simonton. p. 127. Anotação de 31 de agosto de 1859. (^7) SIMONTON, A. G.. O Diário de Simonton. p. 128. Anotação de 12 de setembro de 1859. (^8) SIMONTON, A. G.. O Diário de Simonton. p. 132. Anotação de 8 de novembro de 1859.

preocupado em obter sua proteção: “Tive uma conversa com S. [aparentemente Scott] e me arrependi. Foi sobre escravidão; ele é absurdamente à favor e eu, contrariando-o, acabo perdendo poder e influência sobre ele”.^9 O missionário ainda fez a seguinte anotação em seu diário:

Tive longa conversa com o Sr. S. [Scott] e o Sr. W. sobre a liberdade religiosa no Brasil; tive uma noção muito interessante das opiniões e sentimentos dos homens de negócios a respeito de tentativas de pregar o Evangelho. Os missionários não devem contar com muita simpatia ou apoio dessa classe de homens. O Sr. S. tomou uma posição mais elevada e declarou o seu propósito de proteger todo cidadão americano no exercício de sua liberdade religiosa.^10

Kalley confidenciou ainda ao colega norte-americano que acreditava que havia sinais de que era chegada a hora de evangelizar o Brasil. Sabia de brasileiros prontos a aceitar a pregação evangélica, mas recomendava extrema prudência na pregação pública. Sobre esse último ponto, Simonton concluiu que havia um certo exagero da parte do pastor mais idoso, uma vez que logo encontrou grande receptividade entre os brasileiros e pouca oposição.^11 Essa impressão inicial de segurança, no entanto, não seria confirmada pelos missionários em todas as ocasiões, conforme será visto a seguir. Em junho de 1866, na cidade de Lorena, São Paulo, uma perseguição contra os missionários teve seu início. A princípio, em um evento bastante curioso, um mesmo delegado proibiu a pregação do Rev. Conceição, aparentemente seguindo exigências de autoridades locais, para logo depois ir ele mesmo ouvir a pregação do pastor brasileiro.^12 O caso não parece ter tido maior repercussão. Porém, em pouco tempo a pregação em Lorena começou a sofrer impedimentos muito mais sérios e constantes do que em outros lugares aonde os missionários haviam ido até então. Em novembro de 1868 os revs. Chamberlain e Conceição foram pregar nessa mesma cidade. Diversas pessoas instigadas pelo vigário local procuraram impedir as reuniões: em uma ocasião um indivíduo armado de pistola e em outra ocasião uma turma armada de porretes, que espancou os crentes na saída do culto. A maior perseguição aparentemente devia- se à presença do ex-padre Conceição. Chamberlain imediatamente dirigiu-se para

(^9) SIMONTON, A. G.. O Diário de Simonton. p. 129. Anotação de 28 de setembro de 1859. (^10) SIMONTON, A. G.. O Diário de Simonton. p. 138-139. Anotação de 24 de fevereiro de 1860. (^11) RIBEIRO, B.. Protestantismo e Cultura Brasileira. p. 20-21. (^12) RIBEIRO, B.. Protestantismo e Cultura Brasileira. p. 115.

retornar aos Estados Unidos.^19 Colocando de maneira mais clara, ainda que por um curto período de tempo, um missionário presbiteriano ocupou o cargo máximo da diplomacia norte-americana no Brasil naquele momento. Por orientação da Junta de Missões, Blackford não deu continuidade a seus serviços na diplomacia.^20 Embora a literatura utilizada não nos permita conhecer maiores detalhes a respeito desse interessante episódio e as fontes originalmente utilizadas para descrevê-lo estejam presentemente inacessíveis, é possível arriscar algumas conclusões: conforme já foi visto nessa dissertação, a Junta de Missões de Nova Iorque tendia para o modelo Velha Escola.^21 Blackford e seus colegas tendiam a ser conservadores quando o assunto era a participação da Igreja em reformas sociais. Aparentemente o emprego na diplomacia deveu-se às necessidades financeiras e nada mais, sendo prontamente abandonado sob as ordens da Junta e nunca mais comentado. Seria muito interessante, no entanto, saber como foram aqueles meses de 1861 com Blackford à frente da Legação. Além desses episódios mais dramáticos, outros de natureza mais corriqueira indicam que missionários e diplomatas mantinham contatos regulares. Em primeiro lugar havia a convivência dentro da “colônia” de norte-americanos em geral: logo ao chegar ao Brasil Simonton tornou-se professor dos filhos de um certo Sr. Ewbank, 22 possivelmente um parente ou o próprio Thomas Ewbank (um grande crítico daquilo que os evangélicos consideram idolatria católica romana na forma de imagens), autor de A Vida no Brasil , obra que o missionário indica, juntamente com o livro de Kidder, para norte-americanos interessados em estudar a respeito do Brasil.^23 Mary Dascomb, educadora que iria cooperar com os missionários, ao chegar ao Brasil pela primeira vez, em 1866, também empregou- se como preceptora, porém, dos filhos de James Monroe, cônsul norte-americano no Rio de Janeiro, que era presbiteriano. Ela voltaria ao país em 1869, como missionária. 24 Numerosos registros no diário de Simonton indicam que ele e seus colegas com alguma freqüência visitavam a sede da diplomacia norte-americana

(^19) VIEIRA, D. G.. O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil. p. 139. (^20) RIBEIRO, Boanerges. Protestantismo e Cultura Brasileira , p. 121 (^21) RIBEIRO, Boanerges. A Igreja Presbiteriana no Brasil, da Autonomia ao Cisma. p. 199. (^22) SIMONTON, A. G.. O Diário de Simonton. p. 138. Anotação de 21 de janeiro de 1860. (^23) The Foreign Missionary , March 1864. Citado em RIBEIRO, Boanerges. Protestantismo e Cultura Brasileira 24. p. 173. RIBEIRO, Boanerges. Protestantismo e Cultura Brasileira. p. 261; MATOS, Alderi S. Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil (1859-1900). p. 67.

no Rio de Janeiro, por variadas razões. Portanto, a convivência entre as duas classes, diplomatas e missionários, parecia ser de fato coisa comum. Por último, cabe ressaltar que os missionários da PCUSA e da PCUS não foram os primeiros a serem defendidos por diplomatas de seu país. Conforme já vimos, Fletcher também estabeleceu relações com os diplomatas dos EUA (na verdade, relações aparentemente muito mais íntimas do que aquelas dos pioneiros do presbiterianismo no Brasil). Também o missionário metodista Daniel Parish Kidder pôde contar com a ajuda da diplomacia norte-americana, ao menos em uma ocasião. Em sua passagem pelo Pará ele sofreu algumas ameaças do bispo local, porém o cônsul norte-americano interveio junto ao presidente da província resolvendo caso e garantindo sua segurança.^25 Aparentemente o relacionamento de missionários e diplomatas gravitou entre a barganha mútua e a indiferença. Embora os planos de Simonton tenham sido de buscar proteção de representantes que considerava legítimos (seguindo nisso princípios observados na Teologia de Princeton), as Igrejas nos EUA preferiram deixar clara a diferença entre sua missão e a presença norte-americana no Brasil (algo que também pode ser compreendido à luz da Teologia da CFW na leitura de Princeton). Dessa forma, a troca de favores entre diplomatas e missionários esteve presente, mas ao que parece de maneira esporádica. Uma análise mais extensa de fontes, indisponíveis no momento, poderia responder melhor a essa questão.

A INFLUÊNCIA DOS MISSIONÁRIOS SOBRE A POLÌTCA EXTERNA

BRASILEIRA EM RELAÇÃO AOS ESTADOS UNIDOS NO IMPÉRIO

A RELAÇÃO ENTRE OS MISSIONÁRIOS E AS AUTORIDADES

BRASILEIRAS

Os diplomatas não eram as únicas autoridades civis com as quais os missionários interagiam. Políticos brasileiros também estavam entre seus interlocutores. As perguntas a respeito da relação entre missionários e autoridades governamentais brasileiras (e seu impacto sobre as relações entre EUA e Brasil) são basicamente as mesmas feitas a respeito da relação entre missionários e

(^25) FLETCHER & KIDDER. Brazil and the Brazilians. p. 561.

explorando as condições de inserção da religião evangélica em Minas Gerais. Lembrando, a Proposta de Missão no Brasil da PCUSA incluía em seus objetivos “explorar o território, verificar os meios de atingir com sucesso a mente dos naturais da terra, e testar até que ponto a legislação favorável à tolerância religiosa será mantida”. Neste relatório o missionário descreve a experiência negativa de ser interpelado por um vigário que queria lhe proibir o trabalho. Segui-se um jogo de empurra entre vigário e autoridades civis, que resultou no seguinte comentário da parte de Blackford:

Aí está um grande mal, e um de nossos maiores perigos no sistema brasileiro: o poder arbitrário de autoridades na execução da lei. E somente se obtém amparo pela influência de amigos poderosos, ou a poder de dinheiro. Consta que são raríssimas as exceções à corrupção oficial.^31

O comentário de Blackford parece combinar com a idéia que o Dr. Robert Kalley fazia das autoridades civis em geral. Porém, essa atitude negativa nem sempre estava presente. É possível que em alguns casos o temperamento dos pastores tivesse algum papel: Blackford costumava ser mais enérgico ou mais zeloso de suas funções.^32 A despeito dessas possíveis variáveis, o certo é que independentemente da vontade dos missionários as circunstâncias políticas levaram a um contato cada vez mais intenso entre estes e os políticos brasileiros com o passar dos anos. Em 1863, com o crescimento no número de conversões, Simonton considerou que havia chegado a hora de construir um templo para acomodar o crescente número de membros. Até então as reuniões eram realizadas em espaços alugados: de 12 de janeiro de 1862 a setembro de 1863, na Rua Nova do Ouvidor (hoje, Travessa do Ouvidor), 31, 2º andar; a partir de 5 de setembro de 1863 na Rua do Cano (atual rua Sete de Setembro), 72, 2º andar.^33 O número de reuniões semanais aumentava e a freqüência variava entre sessenta e noventa pessoas, com picos de cento e

(^31) Citado em RIBEIRO, Boanerges. Protestantismo e Cultura Brasileira. p. 35. (^32) RIBEIRO, Boanerges. Protestantismo e Cultura Brasileira , p. 165,167. (^33) A Igreja do Rio passaria ainda pela Rua do Regente (atual Regente Feijó), 42 – A e pelo Campo da Aclamação (atual Campo de Santana - Praça da República), 49 antes de chegar a sua sede definitiva na Travessa da Barreira, 11 em 9 de outubro de 1870. Ver “Um Pouco de História” em http://www.catedralrio.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=28&Itemid=39. Acesso em 22 de Dezembro de 2008; FERREIRA, Júlio Andrade. História da Igreja Presbiteriana do Brasil. Volume 1. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, pp. 78-79.

cinqüenta. A sala de reuniões lotava.^34 Escrevendo aos irmãos nos EUA o missionário assim se expressou:

Temos amigos e temos apoio; o governo e o povo nos consideram favoravelmente, se tivermos prudência a oposição do clero não nos prejudicará. Somos chamados a nos levantarmos diante da comunidade e da nação, como testemunhas da verdade de Cristo – e não devemos falhar (...) Ninguém nos negaria licença para construir Já estamos registrados pelo governo como pastores da Igreja Evangélica Presbiteriana do Rio de Janeiro.^35

Em 1873 Dom Pedro II interveio pessoalmente junto aos missionários na ocasião em que estes realizaram sua primeira aquisição de uma propriedade no Brasil, o terreno para construção do templo mencionado acima. Tratava-se do terreno na Travessa da Barreira, atual Silva Jardim, onde está localizada até hoje a Igreja Presbiteriana do Rio, ou Catedral Presbiteriana, em referência a seu estilo arquitetônico. A concessão da escritura dependeu da intervenção direta do imperador em razão do ineditismo do episódio. No ano anterior três missionários haviam se entrevistado com D. Pedro II e apresentado o caso: era até então impossível para um grupo evangélico adquirir terreno para construção de um templo. O caso foi, portanto, da maior importância para as transformações que se observavam no cenário religioso brasileiro,^36 e também um excelente exemplo das boas relações que os missionários tinham com as autoridades brasileiras. É importante destacar que esse bom relacionamento com as autoridades civis era encarado pelos missionários como um princípio a ser seguido. A investigação mencionada na Proposta de Missão da PCUSA a respeito da “legislação [brasileira] favorável à tolerância religiosa” e sua eficácia não incluía um confronto direto com opositores. Conforme pode ser exemplificado pelo caso de Blackford em Minas Gerais, os missionários adotaram uma atitude precavida diante da ameaça de perseguição religiosa. No caso da conversão do ex-padre José Manuel da Conceição, as precauções foram ainda maiores, para evitar a violência contra o novo evangélico e pastor. O que se pretendia com a investigação mencionada era “fazer uso discreto das franquias legais, e verificar, quando

(^34) The Foreign Missionary, XXII; March 1864, p. 255. Citado em RIBEIRO, Boanerges. Protestantismo e Cultura Brasileira 35. p. 57. The Foreign Missionary, XXII, 8; Jan. 1864, p. 204. Citado em RIBEIRO, Boanerges. Protestantismo e Cultura Brasileira 36. pp. 59-60. FERREIRA, J. A.. História da Igreja Presbiteriana do Brasil. Volume 1. pp. 137-140.

É importante comentar mais uma vez nessa dissertação que a despeito de todo o auxílio que vários políticos liberais se dispunham a prestar à causa presbiteriana e ao protestantismo em geral, os missionários da PCUSA e da PCUS costumavam apelar para os políticos amigos somente em casos de verdadeira emergência.^42 Ainda assim, pode-se concluir essa seção com o seguinte comentário: os missionários parecem ter experimentado uma ótima reputação junto às autoridades brasileiras, algo muito diverso dos diplomatas e norte- americanos em geral residentes no Brasil. As evidências demonstram, portanto, que houve intenso contato entre missionários e autoridades brasileiras em busca de benefícios mútuos. Seguimentos liberais do governo brasileiro acreditavam possuir nos missionários aliados para suas causas contra a Igreja Católica e favor do “progresso”. Os missionários, por sua vez, embora não totalmente convencidos do ideal liberal de “progresso” (e dos expedientes para obtê-lo), acreditavam ter nos liberais bons aliados para suas causas particulares. Em outras palavras, embora possuindo objetivos diversos, liberais e missionários encontraram um campo de ação comum no qual podiam auxiliar-se, o que pode ter cooperado no melhoramento das relações entre EUA e Brasil.

7.2. A INFLUÊNCIA DOS MISSIONÁRIOS PRESBITERIANOS SOBRE IMIGRAÇÃO DE CONFEDERADOS PARA O BRASIL

Tendo chegado a uma conclusão a respeito da relação entre missionários e autoridades governamentais brasileiras e norte-americanas, cabe a esse estudo questionar também qual teria sido a relação entre missionários e Sociedade Civil, bem como quais teriam sido as implicações desse relacionamento para as relações entre os dois países. Esta seção será trabalhada a partir das três opções apresentadas no capítulo teórico desse estudo a respeito da relação entre atores transnacionais e Sociedade Civil: reactive linkages (correlações reativas), com a Sociedade Civil reagindo espontaneamente (e de forma não prevista) aos atores transnacionais; emulative linkages (correlações emuladoras), com a Sociedade Civil emulando o

(^42) VIEIRA, D. G.. O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil. p. 161.

comportamento dos cidadãos de outro país; e por último, penetrative linkage (correlação penetradora), com os missionários apresentando uma intenção deliberada de influenciar a Sociedade Civil. Conforme já observado nesse estudo, a opção de penetrative linkage parece a princípio ser a mais válida para reações do governo brasileiro à atuação de missionários estrangeiros em seu território, e a opção de reactive linkage pode corresponder à possibilidade de reações norte-americanas à atuação de missionários oriundos dos EUA no Brasil. No entanto, nenhuma das opções deve ser previamente descartada, uma vez que cada uma delas contém elementos que a princípio as tornam bastantes viáveis para nosso caso de estudo. Conforme também já foi visto nessa dissertação, um dos episódios de maior destaque nas relações entre Brasil e Estados Unidos durante o século 19 foi a emigração de ex-confederados para o Brasil após a Guerra de Secessão nos EUA. Este foi também um episódio de grande importância para a implantação do presbiterianismo no Brasil, conforme provavelmente já pôde se notar, especialmente pelos planos da Missão da PCUS. Aparentemente, ao contrário de Fletcher, Simonton, Morton e seus colegas não estavam interessados em envolver-se profundamente em todas as questões das relações entre Brasil e EUA. Também não estavam interessados em questões políticas, e sim naquilo que entendiam como questões espirituais. Mas tiveram envolvimento em algumas importantes questões diplomáticas, conforme possivelmente pôde ser visto ao longo do capítulo dedicado a Fletcher. As evidências indicam que a imigração dos confederados teve grande destaque entre essas. Considerando-se essas evidências e trabalhando dentro dos limites que o acesso às fontes impõe à pesquisa, faço a escolha de utilizar o exílio de confederados como caso de estudo para analisar as relações entre missionários e Sociedade Civil e seu impacto sobre as relações entre EUA e Brasil. Passado pouco tempo de sua chegada no Brasil, Simonton comunicou à Junta de Nova Iorque que estava de acordo com o Dr. Kalley: os tempos eram propícios para a pregação evangélica no Brasil. Entre outras razões observadas pelo missionário estava o fato de que, com a proibição do tráfico em 1850, o Brasil clamava por imigrantes. Por amor a imigração, prosseguia Simonton, o

também se tornou uma igreja.^47 Em diferentes momentos na década de 1860 Emerson e Baird escreveram à sua denominação pedindo para que fosse iniciada uma Missão no Brasil e que eles fossem nomeados missionários da mesma. Os pedidos desses dois pastores aparentemente tiveram alguma influência sobre a decisão final da PCUS em estabelecer a dita Missão. Com a chegada de George Nash Morton e Edward Lane ao Brasil, os pastores Emerson e Baird e as igrejas que haviam organizado se uniram aos esforços missionários da PCUS. As famílias de ambos, bem como os membros de suas igrejas em São Paulo, tiveram grande participação no trabalho missionário no Brasil. O Dr. James McFadden Gaston, um presbítero^48 auxiliador de Emerson e Baird, cooperou decisivamente com a evangelização de brasileiros e com a imigração de confederados. Em 1867 ele publicou o livro Hunting a Home In Brazil , e liderou a vinda de mais de sessenta famílias sulistas para o interior de São Paulo.^49 O Rev. Robert Lewis Dabney, já mencionado nesse estudo como incentivador da Missão da PCUS no Brasil, foi também um incentivador da migração norte-americana no mesmo eixo internacional. Embora fosse uma pessoa de grandes qualidades cristãs, Dabney criou um sentimento de extrema aversão pelos yankees , algo que dividia com diversos outros presbiterianos sulistas. Aparentemente Dabney gostaria de transplantar a Virgínia inteira para o Brasil.^50 É importante observar aqui que a Guerra de Secessão, embora tenha sido um conflito principalmente político, não deixou de possuir um elemento religioso associado a si: ambos os lados beligerantes acreditavam estar defendendo o princípio cristão correto em relação à escravidão. As diferentes posições teológicas predominantes entre nortistas e sulistas também podem ser observadas, por exemplo, na polarização velha/nova escola ou PCUSA/PCUS já discutidas aqui. Apesar de toda a sua propaganda, Dabney nunca veio ao Brasil. Seu

(^47) Em geral nas igrejas presbiterianas uma “igreja” é uma comunidade de cristãos com um certo grau de autonomia local, expresso especialmente em sua independência financeira e administrativa. Várias igrejas juntas podem formar presbitérios e sínodos, conforme já foi visto. “Congregação” é um nome geralmente usado para indicar uma pequena comunidade de cristãos em fase de crescimento e organização, sendo dependente de uma igreja já plenamente organizada. Suponho que este seja o caso das comunidades de Santa Bárbara e água Branca mencionados aqui. 48 Nas igrejas presbiterianas presbíteros e pastores foram os concílios que governam as igrejas. Criteriosamente falando, as igrejas presbiterianas possuem apenas dois tipos de oficiais: presbíteros, responsáveis pela pregação, ensino e organização administrativa, e diáconos, responsáveis pela ação social. Pastores são também presbíteros, ou mais precisamente, presbíteros docentes, enquanto que os outros são presbíteros regentes. 49 50 MATOS, Alderi S.^ Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil (1859-1900). pp. 165-170. VIEIRA, D. G.. O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil. pp. 212-215.

sobrinho John L. Dabney, no entanto, chegou ao país em 1879, como missionário da PCUS (embora não seja certo que o sobrinho e o tio tivessem as mesmas opiniões a respeito da imigração e dos yankees ). Vemos que de modo geral a atuação dos primeiros missionários da PCUS e a imigração de confederados caminharam bem próximas. Já os brasileiros encontravam-se divididos quanto à pertinência da chegada de um grande número de norte-americanos ao império. Um grande número de liberais, encabeçados por Tavares Bastos, recebeu os confederados de maneira entusiástica, acreditando que aquele grupo seria a solução dos problemas de “atraso” do Brasil e a chave para o “progresso” que tanto almejavam. A boa recepção pode ser explicada ainda por uma série de outros fatores: pela necessidade de ajuda militar na Guerra do Paraguai, pela simpatia que os escravocratas brasileiros guardavam pelos sulistas e até mesmo, conforme Simonton observou, pela insatisfação de parte do clero católico brasileiro com as relações entre a Coroa e a Igreja. Antes mesmo que qualquer sulista colocasse seus pés no Brasil, o missionário observou que importantes representantes da Igreja Católica no Brasil estavam ansiosos pela chegada dos confederados, uma vez que “os americanos trariam a república” e com isso acabariam com “a opressão do império” sobre os conventos. 51 Essa observação obviamente não se aplicava ao clero ultramontano e seus associados, que movimentaram-se intensamente contra o exílio dos confederados no Brasil, conforme será visto aqui. Deve ser levado em conta que grande parte da propaganda anti-americana perpretada no Império era na verdade antes anti-protestante do que contra os EUA propriamente. Essa propaganda contra a imigração de confederados era levada a cabo principalmente por elementos ultramontanos, que tinham mais problemas com o protestantismo e com os protestantes do que com os EUA em si. De qualquer forma, o resultado dessa propaganda era a disseminação de um sentimento negativo que de maneira não distintiva atacava o protestantismo, os protestantes, os EUA e a imigração dos confederados. Deve ser considerado, no entanto, que o regalismo de Dom Pedro II e a ação dos liberais evitaram de várias formas que os partidários de Pio IX e de sua encíclica Quanta Cura tivessem uma maior influência sobre os rumos da política de imigração brasileira. Católicos

(^51) VIEIRA, D. G.. O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil. pp. 209-211.

primeiros anos após a Guerra, os sulistas parecem de modo geral ter concluído que sua situação nos EUA não era tão ruim que justificasse o exílio,^57 o que provavelmente é uma das melhores explicações para o número relativamente reduzido de imigrantes confederados, em comparação com as primeiras estimativas. Ainda em 1859 (ou seja, logo que chegou ao Brasil), Simonton observou que os brasileiros ansiavam pela imigração. Escrevendo ao Conselho da Missão ele reportou que a imprensa vinha reagindo contra ataques feitos aos evangélicos no Brasil. A razão disso, ele explicou, era que os brasileiros sentiam que tinham que incentivar a imigração a qualquer custo, pois desde a proibição do tráfico de escravos o país encontrava-se sob a ameaça de estagnação econômica. A imigração de germânicos protestantes parecia ser a solução desse problema àquela altura dos acontecimentos. Por essa razão, o missionário continuava, os brasileiros ficavam “nervosamente sensíveis sob qualquer acusação de intolerância mostrada a um colono”. Ainda, Simonton informava que esse era “um poderoso argumento a favor da tolerância e é o fio da meada para entender-se muito do que ocorre aqui”.^58 A associação entre presbiterianos e liberais nas décadas de 1860 e 1870 em torno da imigração de confederados possuía um antecedente na história brasileira. Na década de 1830 uma associação semelhante já havia se estabelecido entre o Regente Padre Diogo Antônio Feijó e o missionário metodista Daniel Parish Kidder. Feijó desejava afastar Roma daquilo que considerava “questões brasileiras”, solicitando inclusive a ajuda dos Irmãos Morávios^59 nesse processo. Um programa semelhante foi proposto pela Sociedade Internacional de Imigração na década de 1860.^60 Conforme já foi visto nessa dissertação (quando a trajetória de James Cooley Fletcher no Brasil era analisada), os presbiterianos discretamente apoiaram a ala estritamente pró-confederados da Sociedade Internacional de

(^57) VIEIRA, D. G.. O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil. p. 253. (^58) VIEIRA, D. G.. O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil. p. 234. Contendo referências à relatório de Simonton ao Conselho da Missão. 59 Os Irmãos Morávios, juntamente com a Igreja Valdense, são os únicos grupos protestantes atuais de origem anterior à Reforma Protestante do século 16. A origem dos Irmãos Morávios remonta aos pré-reformadores John Wycliff (da Inglaterra) e mais especificamente a João Hus (da Boêmia), no final século 14 e início do 15. 60 VIEIRA, D. G.. O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil. p. 239.

Imigração de 1866.^61 Convém lembrar que Tavares Bastos, o “amigo a toda prova” dos presbiterianos foi aparentemente o principal articulador brasileiro da migração confederada.^62 O político alagoano era crítico de outros fomentadores da imigração, que a seu ver serviam apenas como “guias turísticos” para os confederados, sem oferecer condições reais de colonização. A sociedade por ela liderada, e pelos presbiterianos apoiada, propunha, sobretudo, modificações nas leis do Império concernentes à liberdade religiosa, ao casamento e ao registro civil. Estas eram, no entender dos membros da Sociedade Internacional de Imigração, mudanças essenciais para atrair os confederados. Para os missionários, eram mudanças particularmente benéficas para a evangelização dos brasileiros. A mesma liberdade religiosa que beneficiaria os confederados beneficiaria também os brasileiros que se tornassem evangélicos.^63 Diante das circunstâncias, os missionários acompanharam com grande interesse as atividades da Sociedade Internacional de Imigração e a movimentação em geral em torno do exílio dos confederados. Durante o ano de 1866 Simonton esteve presente a todas as reuniões da Sociedade. Em relatório à Junta de Nova Iorque, ele observou que o Dr. Antônio Francisco de Paula e Souza, o Ministro da Agricultura brasileiro, havia se comprometido “a dar urgência à liberalização das leis” que restringiam as atividades religiosas, civis e políticas dos acatólicos. Curiosamente, o missionário reportou também que o ministro era assinante da Imprensa Evangélica. Ele registrou ainda que Paula e Souza havia demonstrado interesse na pregação evangélica.^64 Para alguns membros da Sociedade Internacional de Imigração e outros liberais, o aspecto racial desempenhava um papel importante dentro dos argumentos favoráveis à imigração. De acordo com David Gueiros Viera, percebe-se também no Dr. Gaston uma insinuação racial em Hunting a Home in Brazil. Entre os brasileiros, eram numerosos aqueles que atacavam os latinos e exaltavam os anglo-saxões. Newton Bennaton, a despeito do nome enganador, era um desses brasileiros racistas. Em 1866, Simonton relatou ao Conselho da

(^61) VIEIRA, D. G.. O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil. p. 224. (^62) VIEIRA, D. G.. O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil. pp. 223-224; 242-243. 63 VIEIRA, D. G.. O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil. pp. 224-227; 230-231. 64 VIEIRA, D. G.. O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil. pp. 225-226;