Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Vida nas Ruas: Percepções de Meninos e Adolescentes em Goiânia, Provas de Metodologia

Este documento discute os aspectos determinados das representações sociais da rua e das relações que se estabelecem entre meninos e adolescentes com a instituição pública e suas famílias, a partir da perspectiva de um determinado grupo de crianças e adolescentes que viveram na rua de goiânia e estão sob a guarda do estado. O documento recorta as representações sociais das falas dos meninos, observações e fotografias produzidas por eles, analisando a qualidade de vida em goiânia em termos de educação, saúde, transporte, alimentação, oferta de emprego, lazer e habitação. Além disso, o documento aborda os traços de subdesenvolvimento na cidade e o impacto dessas condições na população pobre, especialmente naqueles que chegam em busca de melhores condições de vida e não encontram emprego, escola, habitação, obrigados a viver em locais insalubres e improvisados.

Tipologia: Provas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Lula_85
Lula_85 🇧🇷

4.5

(113)

224 documentos

1 / 22

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
Olhando a lua pelo mundo da rua: TERCEIRO CAPÍTULO
58
TERCEIRO CAPÍTULO: METODOLOGIA
1. REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO
Desenvolvemos esta pesquisa à luz do referencial qualitativo, que
se propõe a uma compreensão particular e profunda dos fenômenos - sociais -
em questão. Mais especificamente, nossa proposta foi trabalhar de acordo com
os pressupostos da Pesquisa Social, onde se refletem aspectos do
desenvolvimento e da dinâmica social assim como preocupações e interesses de
classes e de grupos determinados (MINAYO, 1993c). Este referencial está
fundamentado nos dados levantados através das interações interpessoais e
analisados a partir da significação que os atores envolvidos atribuem aos seus
atos. Portanto a Pesquisa Social não pode ser definida de forma estática ou
estanque e, nesse sentido concordamos com MINAYO (1993c) ao observar que:
“Ela só pode ser conceituada historicamente e entendendo-se
todas as contradições e conflitos que permeiam seu caminho. Além
disso, ela é mais abrangente do que o âmbito específico de uma
disciplina. Pois a realidade se apresenta como uma totalidade que
envolve as mais diferentes áreas de conhecimento e também
ultrapassa os limites da ciência.” (p. 27)
Portanto o pesquisador deve participar, compreender e interpretar
os eventos sociais de sua pesquisa, considerando o sujeito de estudo, gente, em
determinada condição social, pertencente a um determinado grupo ou classe
social com suas crenças, valores e significados sendo o objeto um dado que
possui significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações
(CHIZOTTI, 1991; HAGUETTE, 1992; MINAYO, 1993c; MINAYO, 1994).
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff
pf12
pf13
pf14
pf15
pf16

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Vida nas Ruas: Percepções de Meninos e Adolescentes em Goiânia e outras Provas em PDF para Metodologia, somente na Docsity!

TERCEIRO CAPÍTULO: METODOLOGIA

1. REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

Desenvolvemos esta pesquisa à luz do referencial qualitativo, que se propõe a uma compreensão particular e profunda dos fenômenos - sociais - em questão. Mais especificamente, nossa proposta foi trabalhar de acordo com os pressupostos da Pesquisa Social, onde se refletem aspectos do desenvolvimento e da dinâmica social assim como preocupações e interesses de classes e de grupos determinados (MINAYO, 1993c). Este referencial está fundamentado nos dados levantados através das interações interpessoais e analisados a partir da significação que os atores envolvidos atribuem aos seus atos. Portanto a Pesquisa Social não pode ser definida de forma estática ou estanque e, nesse sentido concordamos com MINAYO (1993c) ao observar que:

“Ela só pode ser conceituada historicamente e entendendo-se todas as contradições e conflitos que permeiam seu caminho. Além disso, ela é mais abrangente do que o âmbito específico de uma disciplina. Pois a realidade se apresenta como uma totalidade que envolve as mais diferentes áreas de conhecimento e também ultrapassa os limites da ciência.” (p. 27) Portanto o pesquisador deve participar, compreender e interpretar os eventos sociais de sua pesquisa, considerando o sujeito de estudo, gente, em determinada condição social, pertencente a um determinado grupo ou classe social com suas crenças, valores e significados sendo o objeto um dado que possui significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações (CHIZOTTI, 1991; HAGUETTE, 1992; MINAYO, 1993c; MINAYO, 1994).

MINAYO (1993c) aponta cinco modalidades de Pesquisa Social de acordo com uma classificação alternativa proposta por Bulmer e, no sentido de melhor direcionarmos nossa investigação, acreditamos que a Pesquisa Estratégica seja a que melhor responde ao alcance dos objetivos que propusemos nesta investigação. A autora apresenta a Pesquisa Estratégica como aquela que:

“Baseia-se nas teorias das ciências sociais, mas orienta-se para problemas que surgem na sociedade, ainda que não preveja soluções práticas para esses problemas. Ela tem a finalidade de lançar luz sobre determinados aspectos da realidade. Seus instrumentos são os da pesquisa básica tanto em termos teóricos como metodológicos, mas sua finalidade é a ação. Essa modalidade seria a mais apropriada para o conhecimento e avaliação de Políticas, e segundo nosso ponto de vista, particularmente adequado para as investigações sobre Saúde.” (P.

Estamos nos propondo, assim, discutir e aclarar aspectos determinados sobre as representações sociais da rua e das relações que se estabelecem entre os(as) meninos(as) e entre estes com a instituição pública que os abriga assim como com suas famílias, sob a ótica de um determinado grupo de crianças e adolescentes que tiveram alguma experiência de vida nas ruas da cidade de Goiânia – Goiás e que encontram-se em um determinado abrigo sob a guarda do Estado.

Portanto não pretendemos, neste momento enquanto enfermeiros de Saúde Pública, estabelecer propostas de ações mas, ampliar e complementar a discussão e o debate e, consequentemente, o conhecimento já existente acerca da temática. Visamos com isso oferecer contribuição e subsídio para a

por que alguns problemas sobressaem numa sociedade e esclarecer alguns aspectos de sua apropriação pela sociedade, como os debates e os conflitos que se desenrolam entre diferentes grupos de atores.” (p. 27-8) Nesse sentido, ressaltamos como de fundamental importância para os procedimentos metodológicos a compreensão do conjunto das relações que se estabelecem entre os meninos, a instituição que os abriga e suas famílias.

2. CAMPO DE ESTUDO

Antes de apresentarmos a delimitação do nosso campo de estudo, optamos por rever algumas características do Estado de Goiás e da cidade de Goiânia, no sentido de melhor compreendermos o espaço em que foram desenvolvidas as atividades de pesquisa. O Estado de Goiás localiza-se ao leste da região Centro Oeste, ocupando uma área de aproximadamente 340.000 Km^2 , tendo como limites os Estados de Tocantins ao norte, Bahia ao Leste, Minas Gerais ao leste/ sudeste, Mato Grosso do Sul ao sudoeste e Mato Grosso ao Oeste. Segundo o DATASUS (BRASIL, 1997), no período de 1994, a população total do Estado era de 4.240.736 habitantes, distribuídos em 92. menores de um ano, 375.686 entre 1 e 4 anos, 492.529 de 5 a 9 anos de idade, 501.012 entre 10 a 14 anos, 465.943 na faixa de 15 a 19 anos e, outros 2.313.171 maiores de 20 anos de idade. A taxa de mortalidade infantil é aproximadamente 25 por mil habitantes. A economia, basicamente gira em torno do comércio, indústria, pecuária e agricultura, existindo muitos avanços nesta área nos últimos anos

sendo caracterizado por muitos como um Estado de economia emergente em processo acelerado, com vultuosos investimentos de capital nacional e estrangeiro.

A FUNDAÇÃO IBGE (1997) apontou para Goiás, em 1996, cerca de 1.015.334 estudantes distribuídos em 37.465 na pré escola, 510.974 no primeiro grau, 62.419 no segundo grau e 18.295 no curso superior. No entanto, como já dissemos anteriormente, não foi possível acesso aos dados sobre número de escola da rede pública e privada assim como aos dados mais concretos e atualizados sobre os índices de evasão escolar. A capital do Estado de Goiás, conta hoje com aproximadamente 1.002.377 habitantes (FUNDAÇÃO IBGE, 1997). No entanto, até o final da redação deste trabalho, a FIBGE não havia divulgado a distribuição por faixa etária de acordo com o último censo. Recorremos ao de 1991 quando a população total era de 922.222, sendo 18.723 menores de um ano, 73.847 de 1 a 4 anos, 96.739 entre cinco e nove anos, 99.374 na faixa de 10 a 14 anos e 102.852 de 15 a 19 anos e 530.687 habitantes maiores de 20 anos (FUNDAÇÃO IBGE, 1991). Goiânia é também um centro educacional com cursos de nível superior qualificados, distribuídos nas Universidades Federal e Católica, faculdades isoladas – inclusive uma Estadual, instituições públicas e particulares de ensino pré escolar e elementar (primeiro e segundo graus), entre várias outras de nível técnico e profissionalizante. A economia do Estado se reflete na capital uma vez que esta concentra grande parte dos estabelecimentos comerciais e industriais, havendo

desenvolvido uma ampla investigação no sentido de conhecer esta realidade em um futuro próximo.

Elegemos enquanto espaço de pesquisa para este trabalho aquele em que pudemos encontrar os sujeitos da investigação. Buscamos inicialmente, através de contatos que antecederam o momento da coleta de material para análise, desenvolver a interação com os atores sociais em questão. Segundo MINAYO (1993c), esta etapa envolve também experiências e lastros de trabalho e de envolvimento que ultrapassam as preocupações lógicas do pesquisador. Assim sendo, procuramos pelos meninos e meninas em situação de rua na cidade de Goiânia em um espaço onde estivessem concentrados. Fez-se necessário, entretanto, estabelecermos uma estratégia de entrada em campo e uma das possibilidades mais viáveis foi conhecermos de um modo geral os programas assistenciais existentes na cidade. Entre eles, optamos pelo que se desenvolve através de convênio entre duas Instituições Estaduais distintas, porque este se adequava às nossas pretensões de estudo e à forma com que planejamos trabalhar no campo. A Casa Abrigo da Fundação da Criança, do Adolescente e da Integração do Deficiente de Goiás (FUNCAD), é um espaço destinado a adolescentes maiores de quatorze anos de idade e menores de dezoito, do sexo masculino, que estavam nas ruas e que foram encaminhadas pelo Conselho Tutelar, Ministério Público ou o “SOS” - Criança. Esta Casa especificamente, está construída na área da Academia de Polícia Militar do Estado de Goiás (PM- GO), abriga até dez adolescentes, os quais recebem suporte e apoio destas duas instituições públicas estaduais, isto é, FUNCAD e PM-GO. A FUNCAD supre de

material permanente e recursos humanos (educadores e assistentes sociais) e, a Academia de Polícia com o espaço físico, alimentação e, também com recursos humanos, destinando pessoal militar (um Soldado e um Cabo) revezando em turnos e que desempenham a função de educadores. A coordenação da casa está sob responsabilidade de uma assistente social da FUNCAD e um Tenente da Academia de Polícia Militar.

Para utilizarmos aquele espaço enquanto campo de pesquisa, solicitamos autorização por escrito (ANEXO – 1) ao Tenente coordenador, o qual nos atendeu prontamente colocando-se à disposição no que fosse possível. Neste pedido apresentamos sobre o andamento da pesquisa, os procedimentos para a coleta de dados e como serão apresentados no texto final da tese, respeitando a privacidade dos entrevistados e, no caso de alguma fotografia com elemento humano aparecer no corpo do trabalho, suas faces seriam adulteradas. No documento frisamos que no desenvolvimento da pesquisa partimos do princípio do respeito à dignidade do Ser Humano, o que está de acordo com as premissas do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA-90) bem como da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde que apresenta as diretrizes e normas que regulamentam pesquisa envolvendo seres humanos.

Na época do desenvolvimento desta pesquisa fomos informados pelos coordenadores da Casa Abrigo que não existiam documentos estabelecendo por escrito as propostas de trabalho naquele local. Dessa maneira, os detalhes da dinâmica de funcionamento e das atividades desenvolvidas com os meninos abrigados, fomos conseguindo de forma gradativa em nossas observações nas visitas regulares à Casa, assim como, através das informações fornecidas pelos profissionais que ali trabalhavam e pelos meninos.

aquela capaz de refletir a totalidade do problema investigado em suas múltiplas dimensões.

Portanto não nos baseamos no critério numérico para assegurar a representatividade da amostra mas nos preocupamos com o conteúdo das observações, fotografias e entrevistas realizadas para garantir que estas refletissem o conjunto das experiências de vida dos adolescentes. Também não procuramos generalizar os resultados mas conhecer através destes, de forma abrangente e aprofundada, as percepções, significados, as representações da rua e das relações ali desenvolvidas, sob a ótica do grupo.

3. TRABALHO DE CAMPO

Entendemos por trabalho de campo em pesquisa qualitativa a etapa em que nossas inquietações assumem caráter prático, sendo o momento no qual o pesquisador tem a oportunidade de interagir com os atores sociais envolvidos na investigação. Para tanto é necessário estabelecer determinadas técnicas e estratégias.

Neste trabalho elegemos as técnicas da entrevista semi-estruturada, fotografias com imagens captadas pelos meninos e a observação participante com registro das observações através de um Diário de Campo, de maneira que fossem complementares entre si. Obtivemos assim três corpi de análise que foram posteriormente confrontados no sentido de detectarmos as contradições e conflitos existentes, procurando delinear as representações sobre a rua pelos adolescentes.

A entrevista semi-estruturada consiste na combinação de um roteiro sistematizado com perguntas abertas e fechadas que permitem ao pesquisador se orientar ao elaborar as questões que pretende abordar. Tem como objetivo a descrição do caso individual, a compreensão das especificidades culturais mais profundas dos grupos e a comparabilidade dos casos. Para MINAYO (1993c), neste tipo de entrevista, não há necessidade de uma seqüê ncia rígida quanto aos assuntos a serem abordados porque esta é determinada, geralmente, pelas preocupações e ênfases que emergem da fala dos entrevistados ao se discutir o assunto em questão. De acordo com a autora suas qualidades consistem em:

“enumerar de forma mais abrangente possível as questões que o pesquisador quer abordar no campo, a partir de suas hipóteses ou pressupostos, advindos, obviamente, da definição do objeto de investigação.” (P. 121) Elaboramos um roteiro de entrevista contendo questões orientadoras que nos permitiram alcançar os objetivos desta pesquisa, visto que são bastante abrangentes e possibilitaram aos entrevistados responderem de acordo com seu quadro de referência. As questões devem ser entendidas como um guia contendo itens básicos que orientaram as entrevistas e facilitaram a abertura, ampliação e aprofundamento da comunicação e, também, asseguraram um espaço para que os interlocutores pudessem colocar seus pontos de vistas, suas opiniões e juízos. Foi, portanto, um importante instrumento orientador da conversa, garantindo que não perdêssemos de vista o que deveria ser abordado durante o diálogo e permitindo que através das entrevistas pudéssemos explorar o campo

como percebiam os aspectos bons e ruins da rua, isto é, questões relacionados à liberdade e à violência de um modo geral.

v Questão C: Você conhece algum programa que preste assistência a crianças e/ou adolescentes que estão nas ruas? O que você pensa sobre eles? Com esta questão acreditamos que foi possível saber se os programas eram e ainda são conhecidos e aceitos e, caso contrário, identificar os motivos do desconhecimento e da não aceitação. Estas questões não obedeceram a uma seqüência rigorosa para todos os entrevistados. Cada um deles determinou seu próprio ritmo, ficando livre para colocar suas próprias preocupações e ênfases. O roteiro, voltamos a dizer, foi um instrumento importante servindo como um guia de orientação para o pesquisador de forma que não cerceasse a fala dos entrevistados e estivemos atentos para que o conteúdo das respostas não se limitasse apenas ao que apresentamos acima. Ao realizarmos as entrevistas cuidamos para que fossem garantidos aspectos importantes frente aos entrevistados, tais como, a apresentação formal do pesquisador e seu real interesse pela entrevista, explicação dos motivos da pesquisa, justificativa sobre a escolha do entrevistado e garantia do anonimato e sigilo sobre a autoria das respostas que aparecerão no corpo do trabalho. Também não deixamos de propiciar no início de cada entrevista, um clima favorável de descontração, colocando o assunto a ser desenvolvido, solucionando dúvidas no sentido de estimular a conversa e assegurá-los quanto aos propósitos da atividade.

Lembramos que como os atores envolvidos na pesquisa são adolescentes sob a guarda do Estado, solicitamos autorização para a realização das entrevistas através de um ofício ao coordenador da Casa Abrigo (ANEXO-1), que foi informado sob o conteúdo das questões a serem abordadas durante a entrevista. A atividade foi autorizada e acompanhada por um funcionário responsável pelo plantão porém de maneira que esta proximidade não interferisse na conversa.

As entrevistas foram gravadas com aquiescência de cada um dos entrevistados e posteriormente transcritas e digitadas pelo próprio pesquisador, de maneira que pudesse facilitar a leitura e análise através da técnica que explicitaremos adiante. Na transcrição foram abolidos erros gramaticais grosseiros da língua portug uesa porém tomamos o cuidado de preservar o sentido das falas de maneira que seu conteúdo não fosse descaracterizado. O processo de transcrição foi muito importante visto que ofereceu oportunidades de nos familiarizarmos com os conteúdos das falas e perceber as idéias, concepções e conceitos de cada um dos atores entrevistados.

Como segundo instrumento utilizamos material fotográfico produzido pelos próprios meninos. CRUZ NETO (1994), aponta que a fotografia também se apresenta enquanto um recurso de registro que permite documentar momentos e situações que fazem parte do cotidiano vivenciado pelos atores sociais em estudo. PERCY (1995), também utilizou este recurso ao estudar crianças desabrigadas nos Estados Unidos da América, onde, através das fotos, conseguiu descrever o que era especial para elas, o que existia de significativo em suas vidas enquanto abrigadas com suas famílias.

desaparecera. Segundo PERCY (1995), a má utilização das câmeras bem como a perda total do material é esperado, mas o retorno é obtido em sua maior parte.

Após um primeiro contato com o material procuramos descrever os conteúdos das fotografias, isto é, o foco de cada uma delas no sentido de identificar os elementos que mais se repetiam e o que era mostrado. Identificamos que dois grupos de significados estavam marcantes, a rua e as pessoas. Fizemos outra leitura procurando identificar o que existia no espaço público das ruas e para que apontavam e, quanto às pessoas, quem eram os atores presentes nas fotos, quais ações eram sugeridas por esses atores e o cenário em que se encontravam. Algumas fotos que não se encaixaram nestas duas categorias e que ainda assim nos chamavam a atenção, codificamos como ‘outros’. A partir daí extraímos uma síntese para cada menino e para cada uma dessas categorias, inclusive a primeira – conteúdos – para que pudéssemos construir uma síntese geral proveniente dessa leitura transversal. Portanto as fotografias constituíram-se em um outro ‘corpus’ de análise que serviu como suporte na análise das entrevistas.

Quanto à observação, esta ocupa lugar privilegiado nas pesquisas de abordagem qualitativa uma vez que possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno em estudo. Optamos pela observação participante porque permite maior abertura e flexibilidade, abrangendo informações importantes que possam surgir durante o processo de trabalho de campo. Estas observações foram registradas em um Diário de Campo. Este instrumento nos acompanhou em todos os momentos da rotina do trabalho que

propusemos realizar, isto é, desde nosso primeiro contato com o campo. Nele foram registradas nossas percepções, questionamentos entre outras informações não só para complementar o material obtido por meio das outras técnicas assim como fundamentar a análise das relações que se travam entre: os meninos com eles mesmos, os meninos com aquela instituição e também com suas famílias. No final, percebemos que a riqueza das anotações neste diário está diretamente relacionada com a abrangência e qualidade da análise do material coletado como um todo.

Para melhor compreendermos os significados do material coletado através das técnicas que acabamos de explicitar, fundamentamos a análise no método hermenêutico– dialético proposto por MINAYO (1993c), o qual está baseado nos debates de Habermas e Gadamer, apresentando-se, assim, como um encontro entre as ciências sociais e a filosofia. Esta forma de tratamento dos dados considera o intérprete e o objeto de estudo como atores de um mesmo contexto e a fala dos atores sociais em questão deve estar situada em seu contexto para ser melhor compreendido. Sobre esta proposta GOMES (1994) coloca que:

“Essa compreensão tem como ponto de partida, o interior da fala. E, como ponto de chegada, o campo da especificidade histórica e totalizante que produz a fala.” (P. 77) Consiste, portanto, basicamente em confrontos, pressupondo a articulação entre o material proveniente das falas, das imagens fotográficas e da observação e o contexto social, no sentido de levar-nos à compreensão dos depoimentos como resultado de um processo social e de conhecimento. De acordo com MINAYO (1993c):

operacionalizar a interpretação dos dados, esquematicamente procedemos da seguinte forma:

Primeiro: Ordenação dos dados iniciando-se pela transcrição das gravações em fitas cassetes; leituras do material depois de transcrito e organização dos relatos, das fotografias e dos dados da observação; Nesta fase transcrevemos todas as entrevistas gravadas em fitas cassete, quando pudemos ter um primeiro contato com a totalidade dos discursos dos atores em questão, assim como já identificarmos alguns aspectos mais genéricos ali contidos. Também foram reveladas as fotografias em um laboratório especializado e as anotações do diário de campo foram organizadas de maneira que facilitassem o processo de análise. Com isso obtivemos um plano geral de todo o material o que nos permitiu, após algumas leituras, construir um esboço da classificação dos dados.

Segundo: Leituras repetidas e exaustivas do material coletado; classificação dos dados construída a partir das nossas questões, fundamentação teórica e dos pressupostos da investigação; identificação das estruturas de relevância e das categorias empíricas; Esta etapa da análise foi desenvolvida da mesma maneira para os três corpus que obtivemos no trabalho de campo, isto é, as entrevistas, as fotografias e as observações através dos apontamentos no diário de campo. Destacamos que o corpus central da análise são as entrevistas sendo os outros dois, as fotografias e as observações, complementares. Mas, ressaltamos que no

momento da interpretação, dialogam entre si e com a fundamentação teórica. Assim, trabalhamos com o material coletado em três momentos didaticamente distintos que detalhamos em seguida.

Inicialmente, partindo da leitura das entrevistas, identificamos no conjunto das falas, alguns tópicos que foram agrupados de acordo com a semelhança de significados ou ainda aspectos que se destacavam. Foram então recortados e colados em um Painel - A. Em seguida, com base em nosso referencial teórico, nos pressupostos e objetivos desta investigação, “enxugamos” esta primeira classificação buscando encontrar as estruturas de relevância, as quais foram recortadas e coladas em um segundo painel (B). Estas estruturas refletiam o conjunto de relações existentes na fala dos sujeitos assim como continham questões relacionadas ao que era destaque para eles próprios, isto é, aspectos sobre a violência, o ilícito, a diversão e o desconforto presentes nas experiências de vida dos sujeitos.

Procedemos então às leituras verticais deste segundo painel com o intuito de refinar a classificação e chegar à identificação das categorias empíricas, ou seja, as expressões classificatórias, em torno das quais giram idéias construídas a partir da ótica dos próprios sujeitos. Assim, no conjunto das falas identificamos as categorias empíricas “curtição”, “lei do cano”, “humilhação” e “a gente não tem”, nas quais convergem as representações que os meninos têm da rua. Elaboramos o terceiro painel com estas categorias para que novamente pudéssemos retornar às entrevistas e recortar destas os fragmentos, ou unidades de registro, que tivessem relações com estas categorias empíricas para, daí, proceder a leitura transversal e elaborar a interpretação. Portanto, através deste último painel é que desenvolvemos a interpretação dos discursos.