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Paulo freire, um dos mais influentes pensadores educacionais do século xx, deixou um legado duradouro com a publicação de pedagogia do oprimido em 1968. Neste livro, freire apresenta uma visão transformadora de educação, baseada na autoconsciência, na solidariedade e na luta contra a opressão. A obra, inspirada pelo contexto histórico-político do brasil durante a ditadura militar, é uma chamada para a educação como ato político e uma forma de intervenção no mundo. Freire aborda a importância de uma pedagogia construída pelo próprio oprimido, que deve tomar a palavra para se contrapor à opressão. Além disso, a obra é uma referência fundamental para a concepção de educação em direitos humanos.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de estudo
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Não perca as partes importantes!
Paulo Roberto Padilha Janaina Abreu Moacir Gadotti Ângela Biz Antunes (Organizadores)
1ª edição São Paulo, 2019
Instituto Paulo Freire
Moacir Gadotti
Alessandra Polo
Elomar Castilho Barilli
Sheila Ceccon
OPRIMIDO Sonia Couto Souza Feitosa
Ângela Biz Antunes e Paulo Roberto Padilha
PREFÁCIO
Em 2018, o livro Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, fez seu 50º aniversário, levando em conta que ele assina os manuscritos datando-os na “Primavera de 68”.
Ernani Maria Fiori foi, talvez, o primeiro leitor dos manuscritos, depois da leitura de Elza Freire que acompanhou a sua escrita mais de perto. Fiori, no prefácio do livro, destaca neles que “não há palavra verdadeira que não seja práxis” e que “aprender a ler é aprender a dizer a sua palavra”, anunciando quase a síntese do livro.
Nesses 50 anos de existência muito foi dito e escrito sobre esse livro. Paulo plantou uma semente que deu muitos frutos, inspirando muita gente, como os 50 autores e autoras deste E-book, fruto da segunda edição do curso da EaD Freiriana, A escola dos meus sonhos.
Neste livro há uma variedade de abordagens da Pedagogia do Oprimido, como numa polifonia, um verdadeiro exercício de transversalidade e de cruzamento de fronteiras que só uma obra aberta, como a de Freire, poderia inspirar. Vi desdobrando-se os temas da autonomia, da cidadania e da utopia, tão caros a Freire, os círculos de cultura no mundo atual e as epistemologias freirianas.
Destaco ainda o tema da humanização, tão relevante frente à desumanização crescente na qual vivemos confrontados hoje. Pedagogia do Oprimido torna-se, assim, uma espécie de mapa de navegação em tempos nebulosos.
Encontramos neste livro também a forte marca pessoal do quanto esta obra tocou corações e mentes de seus leitores e leitoras, o que dá razão a Freire quando sustenta que não há palavra verdadeira que não se transforme em práxis. Surge o diálogo, a intersubjetividade, o esperançar, como exigências desses novos tempos se quisermos chegar mais longe nessa caminhada civilizatória.
Nos dias em que vivemos, precisamos muito exercitar a escuta, o diálogo entre diferentes, numa conectividade radical, para “tornar o mundo um lugar onde seja menos difícil amar”, como ele afirma no final da sua Pedagogia do Oprimido, como um apelo ao esperançar.
A esperança nos possibilita a superação, na prática, da visão mecanicista da História, na qual o futuro é pré-determinado e previsível. E isso não vale só para os docentes. Vale para todos os seres humanos. Como um pressuposto da existência humana, a esperança pode ser vivenciada em qualquer atividade: na prática do esporte, na prática jornalística, na política,
O QUE ESPERAR DA ESCOLA E
DO PROFESSOR DE HOJE
Pensar na missão Escola, remete-nos ao processo de maturação do indivíduo ao longo da vida, na relação com os seres e elementos da natureza. Essa construção é ação da educação transformadora com traços conservadores e críticos. Nessa perspectiva, conceituar o sistema escolar é valer-se da construção do conhecimento e dos saberes estruturados nos séculos precedentes e, também, no século XXI. Espera-se, portanto, que a escola e seus envolvidos, em tempo tecnológico e conhecimento facilmente disponibilizado, ajustem-se à geração conectada, a fim de reestruturar os objetivos da aprendizagem, a função social e o papel do agente formador, sendo esse, um grande desafio no quadro caótico em transições sociais, morais e políticas. Entretanto, a meta é a idealização do espaço escolar, com investimento na preparação de educadoras e educadores preparados para a reconstrução do conhecimento significativo, demolindo barreiras estruturais e um ensino apenas propedêutico, na defesa para solidez do fazer pedagógico e novos espaços educativos dinamizadores na revolução do pensar e agir dos educandos por meio de seus competências e acesso ao nível mais elevado do ensino. Historicamente, os talentos e a liberdade de expressão, ofuscados com total supremacia de uma educação tradicional e, até mesmo, rançosa, não eram manifestados, sendo as informações dominadas como absolutas e fidedignas, pautadas nos modelos conservadores e princípios religiosos pelas instituições patrísticas e escolásticas como referências morais e hierárquicas, que perduram durante séculos e ainda marcados na Educação Brasileira. Logo, a tendência tradicional, técnica e produtiva no mundo capitalista, condicionante à propagação de pensamentos na organização sistêmica, atravessam costumes e culturas, rompidos pelo pragmatismo e nova proposta para a estruturação social, dinamizados pela autonomia, experimento, pleno desenvolvimento do estudante, cidadania e preparo para o mundo do trabalho com igualdade de condições para permanência e conclusão de seus estudos. Vale ressaltar, que a desconstrução de padrões são intervenções necessárias, para romper o ensino bancário no contexto global e humanístico, priorizando os processos formativos garantidos pela educação pública, gratuita, inserindo o homem no mundo com pluralismo de conceitos e valorização de experiências.
Portanto, a educação libertadora dissemina ideias voltadas para a maturação da capacidade do indivíduo por meio da diversidade e emancipação. Por conseguinte, o novo “olhar” da sociedade entrecruza etnias, crenças e cultura, na direção da escola como espaço de debate e menos segregadora e mais integrada.
Com base na construção da cidadania e da ética, o ensino é visto como instrumento de agregação e consolidação na construção da convivência em sociedade. É pertinente, portanto, um grande movimento entre os educadores, família e cidadãos na percepção da articulação participativa, sendo o aprendiz o sujeito de sua cognição, com necessidades especiais e assimilação do conhecimento por meio de atividades variadas, com o compromisso de erguer uma nova visão na organização da sociedade e atuação no contexto escolar impactada pelo progresso tecnológico, com aprendizagem que não se restrinja apenas ao espaço e instituições escolares. Nessa lógica, caminhamos para aprendizagem tendo como suporte, o currículo oculto, inclusão, promoção social, liberdade de aprender e divulgar criações, pensamentos e pesquisas, tendo como suporte à abordagem de conhecimentos prévios em estágios do desenvolvimento humano e sua formação integral na arte do bem viver.
pais deixam de ser meeiros e compram um sitio as margens do Rio Xingu. Viver de que? Pescar? Plantar mandioca para fazer farinha? Um ano, choque de cultura, crise econômica familiar. Vende-se o sítio e compra outro sítio; capim, pimenta, terra “ruim”. Criar gado? Conta-se nos dedos a quantidade cabeças de gado. Não se pode vender uma rês todo mês, mas, precisa-se “fazer a feira todo mês”. Dez anos, muito emocionadamente, bem vividos, primeiro ano escolar, alfabetização em escola rural, com educação, não tão rural assim.
Com três filhos para sustentar, a criação de gado de corte para quem entendia mesmo era de cacau; não deu muito certo. Garimpo é mais vantajoso. “Cuida da terra mulher! Vou fazer dinheiro!” Mais dois anos “perdidos”. A sina da nossa família é plantar cacau. Vende-se tudo e compra outro sítio, agora com oito mil pés de cacau. “Terra Boa”! A escola da Zona Rural “é fraquinha”, deixa esses meninos na cidade. Trabalha-se de sol a sol e põem esses meninos numa escola particular. “luta por bolsa de estudos”, todos os anos até se formar.
E assim foi minha adolescência; morando a sós na cidade com os dois irmãos adotivos mais novos para estudar, finais de semana, férias e feriado... Roça. Trabalhar para aprender a dar valor às coisas.
Aos vinte e dois anos concluí o Ensino Médio e ingressei na Universidade Federal do Pará no Campus de Altamira, no Curso de Pedagogia. Um ano depois, iniciei a carreira de magistério passando pela sala de aula, supervisão escolar, direção escolar e coordenação pedagógica de educação escolar indígena na qual até hoje estou e defendo com orgulho e solidez.
A aproximação das condições de vida em espaços tão diversos, tão precários e tão perversos me fez enxergar que a educação tem um papel terminante na vida das pessoas, todavia na vida das pessoas menos favorecidas economicamente, excluídas numa sociedade dominante, discriminadas por serem diferentes; a educação é a única ferramenta, o único meio e a única saída. É a própria emancipação; é a garantia de autonomia; é o direito obrigatório e necessário para transformar as pessoas e estas, mudarem o mundo. Isso tudo antes vivi. Isso tudo depois aprendi lendo Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire.
PEDAGOGIA DO OPRIMIDO, TANTOS
ANOS DEPOIS...
O título da obra flui da própria complexidade da desumanização como realidade histórica, causada pelo opressor aos seus oprimidos sem que eles tenham consciência de si e de classe. Freire (2005)^5 faz uma análise política, ética, gnosiológica e ontológica do ser humano ao denunciar a desumanização, ao mesmo tempo em que anuncia a conscientização e a libertação dos oprimidos. E é justamente nesse movimento contínuo de busca que os homens se questionam sobre outra probabilidade: a humanização. Para o referido autor, a humanização e a desumanização “[…] são possibilidades dos homens como seres inconclusos e conscientes de sua inconclusão”^6. Ainda segundo Freire, a condição humana é entendida como inacabamento, incompletude; logo, estamos em processo permanente de ser mais. Ele sintetiza que essa é a nossa vocação, compreendida como desejo de liberdade e de justiça, pois implica em mudança de paradigmas
PEDAGOGIA DO OPRIMIDO E
A MINHA PRÁXIS
Minha trajetória acadêmico-profissional sempre esteve estreitamente relacionada a concepção de educação emancipatória e humanizadora (Paulo Freire). Na crença de que a escola não é o único, mas um importante meio para a instrumentalização necessária a processos de humanização e transformação da pessoa e consequentemente da sociedade. Inclusive, o primeiro livro de Paulo Freire que tive a oportunidade de ler foi Pedagogia do Oprimido. E foi ao ler e reler Pedagogia do Oprimido que compreendi a importância de se conhecer, de se entender e dialeticamente compreender o outro, compreender o mundo. Como nos diz Paulo Freire a consciência do mundo e a consciência de si se desenvolvem juntas, uma é guia da outra. Minha prática de pesquisa e pedagógica está e busca estar permeada pelos fundamentos da Metodologia da Mediação Dialética (passagem da síncrese a síntese). A reflexão é uma constante em meu fazer. Por isso, a defesa da escola pública, da universalização da escola pública e do conhecimento socialmente produzido, a luta pela transformação social da sociedade. Concordo e acredito no que é dito por Paulo Freire, que ao mudarmos, mudamos o mundo. Tudo isso, não faz sentido, senão no constante recriar de nossas práticas por meio da ação, do estudo, reflexão e ação. Na relação professor aluno pautada pelo respeito e postura profissional ética, estética, política, social. No sentido que se descubram sendo, no mundo, em uma sociedade que está sendo e que portanto, somos sujeitos de nossa destinação histórica. Considero estar contribuindo, em minha práxis, para efetividade daquilo que é o principal da escola: construção e desenvolvimento do conhecimento produzido pela humanidade e que precisa ser dialogado, socializado, universalizado, recriado de maneira solidária, ética, justa, inclusiva na escola. Tento refletir e me apropriar continuamente da visão de mundo dialética, por meio do conceito de praxiologia de Gramsci. Meus principais aportes teóricos são, portanto, Paulo Freire e Vygotski e outros autores em conformidade. Paulo Freire precisa estar presente nas instituições escolares e nas universidades. Nas práticas de ensino, pesquisa, extensão e inovação. A obra Pedagogia do Oprimido continua atualíssima. Nos instiga para constante reflexão de nossa práxis. Práxis essa que precisa ser constantemente problematizada, o que requer e implica a necessidade de mediações pedagógicas intencionais, com vistas a superação da concepção de mercantilização da educação escolar. Por isso, precisamos refletir sobre o perfil do Pedagogo que trabalha nos anos iniciais. Precisamos estar
abertos a conhecer, ler, dialogar, relacionar o conhecimento das ciências às problemáticas da realidade, do conhecimento do educando, no sentido de ampliar nossa visão de mundo, fundamentar nossa práxis em termos de emancipação nossa e de nossos educandos em busca das transformações estruturais, necessárias e essenciais, na educação e na sociedade.
Pedagogia do Oprimido nos instiga da importância em expressarmos nossa voz. Falar, ouvir, identificar e lutar por nossas pautas populares, da classe trabalhadora. A importância da autoria de professores e de alunos. Expressar nossas vivências, criações e recriações, nossa práxis de inserção no mundo. De nos sentimos provocados a ocupar espaços sociais e nas políticas existentes na perspectiva de participação na construção das políticas públicas que de fato favoreçam a construção de uma sociedade mais sustentável, mais justa para todos e todas.
Paulo Freire continua presente com suas obras e ideário a nos provocar para a luta por nossa democracia em nossos tempos atuais, por uma sociedade efetivamente democrática. E a democracia só se legitima pela incorporação das demandas específicas, preservando-se a ideia de igualdade real a ser assegurada pelo Direito. Daí questionar e lutar contra tudo o que é estruturante da sociedade capitalista: machismo, fascismo, homofobia, racismo. Em favor de uma educação pública crítica, problematizadora, do oprimido, aberta a participação das famílias, dos movimentos sociais, da classe trabalhadora.
O PODER DA TRANSFORMAÇÃO
O livro a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire, comemora 50 anos de publicação. No decorrer desses anos tiveram diversos testemunhos das suas possibilidades de criação, recriação e de reinvenção da teoria e da práxis de Paulo Freire. A carreira de professora iniciou em 2008, desde então amo o que faço e por este motivo fiz a faculdade de Licenciatura em Artes Visuais. No ano de 2014 tive o primeiro contato com textos e obras de Paulo Freire, na Escola Técnica Estadual - ETEC, onde era professora de cursos técnicos, foi oportunizado através do Instituto Paulo Freire a exposição Memória 2005 - Paulo Freire. Tive a oportunidade de ajudar a organizar a Semana Paulo Freire, foi feita uma programação para a comunidade escolar e o público externo para homenageá-lo. As atividades desenvolvidas foram gratificantes, a práxis foi relevante para todos envolvidos, principalmente estreitou a relação entre professores e alunos, tornou mais humanizada, construiu o sentido do aprendizado e criou conhecimentos. No ano de 2015, na faculdade de Licenciatura de Artes Visuais, na matéria de Filosofia da Educação, foi lido o livro a Pedagogia do Oprimido, pois é um livro de referência para educadores, cientistas, administradores, ou seja, é uma leitura para diversas áreas, onde faz uma leitura da educação, questões de injustiça, sofrimento, as diversas condições de submissão dos oprimidos. O livro traz uma visão da perspectiva do opressor e oprimido e a relação entre professor e aluno, onde os indivíduos devem se tornarem emancipados com pensamento crítico, libertário. A liberdade que é fornecida ao indivíduo, para que possa superar a todos os obstáculos da vida. Melhorando a suas relações humanas e de aprendizado, assim devemos lê a realidade do mundo, compreendê-la e transformá-la. No ano de 2017 conclui a faculdade de Licenciatura de Artes Visuais e no ano subsequente iniciei na educação básica, onde leciono em uma escola situada na periferia. Foi percebido que os alunos não faziam parte da educação e sim era uma educação bancária. Portanto, nas aulas de arte não iria continuar com esse modo de lecionar, porque são nessas aulas que o aluno tem a oportunidade de ser criativo, liberto, senso crítico, ou seja, deixei o caderno e iniciei novos projetos relacionados a Arte. Assim, foi utilizado a Proposta Triangular (conhecer a história, fazer arte e saber apreciar uma obra) de Ana Mae Barbosa e principalmente elementos freirianos,
inicialmente conhecer o território, para embasar a teoria, práxis e dar um sentido no aprendizado. Nas primeiras aulas, os alunos achavam “esquisito”, inclusive alguns perguntavam quando iríamos utilizar o caderno de desenho e indagava: “Vocês realmente querem utilizar o caderno de desenho ou gostaria de continuar com o projeto?” e sem titubear respondiam: “Queremos continuar com o projeto, onde é mais gostoso de aprender”. Portanto, ao ter um sentido na relação de aprendizagem, a boniteza do professor, o opressor e oprimido deixam de existir. Todo esse aprendizado torna os indivíduos criativos, libertários, compreenderam o mundo em que vivem e saberão superar todos os obstáculos da vida, transformando em oportunidades.
Portanto, a Pedagogia do Oprimido é um livro que foi e é revolucionário, além de ser contemporâneo. Paulo Freire acaba sendo mais atual do que nunca, principalmente de acordo com o momento atual que o Brasil está passando. Uma educação de transformação para a vida, onde o Brasil poderá mudar esse cenário, por ser a base de uma Nação emancipadora.